Powered By Blogger
"Não se conhece o homem por sua animação, mais pela quantidade de sofrimento verdadeiro que ele é capaz de suportar!..." (Charles Thomas Studd)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

a segunda vinda de cristo.

http://sheimonphn.blogspot.com

A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

A esperança de que um dia terminarão os nossos sofrimentos

Billy Graham

Título original norte-americano:
TILL ARMAGEDON: A PERSPECTIVE ON SUFFERING
Tradução de ISABEL PAQUET DE ARARIPE
EDITORA RECORD

Por que existe o sofrimento? Por que há tanto mal no mundo?
Que posso fazer para diminuir a minha dor?
Que futuro espera este mundo? Como irá me afetar pessoalmente?
Que posso fazer enquanto esse futuro não chega?

Neste livro útil e de grande oportunidade, o evangelista mais conhecido do mundo proporciona orientação e conforto para responder às dúvidas que nos afligem a todos mais cedo ou mais tarde – dúvidas sobre o sofrimento, o mal ou os planos de Deus para o futuro do homem.
Baseado nos profundos estudos das Escrituras realizados pelo Dr. Graham, A SEGUNDA VINDA DE CRISTO não é apenas mais uma especulação controvertida sobre o "fim do mundo". Ao contrário, é um guia prático e apaixonado sobre a maneira como poderemos viver agora – nos meses, anos ou séculos que nos separam da próxima vinda de Cristo ao mundo. "Um dia toda a dor e sofrimento serão gloriosamente varridos deste mundo", escreve o Dr. Graham. Mas até que chegue esse dia, diz a Bíblia, o sofrimento será uma parte da vida a que ninguém conseguirá escapar – mesmo os cristãos.
O Dr. Graham evita os conselhos piegas para simplesmente levantar o moral. Ele prefere as palavras bíblicas de profundo consolo e esperança, capazes de guiar-nos durante os anos incertos que nos esperam.

SUMÁRIO

Prefácio ................................................................................... 3
1. A Tempestade Vindoura ..................................................... 9
2. Armagedons Pessoais ........................................................ 20
3. Quem É o Responsável por um Mundo que Sofre? .......... 36
4. O Nascimento de um Mundo Sofredor ............................. 53
5. O Salvador que Sofre ........................................................ 67
6. Por que os Cristãos Não Estão Isentos? ............................ 83
7. O Sofrimento Previsto ....................................................... 96
8. O Sofrimento Sutil .......................................................... 110
9. Vivendo Acima de Suas Circunstâncias ......................... 124
10. O que Faço com a Minha Dor? ....................................... 137
11. O Lugar da Oração no Sofrimento .................................. 153
12. Promessas Para Aqueles que Sofrem .............................. 164
13. Como se Preparar Para o Sofrimento .............................. 180
14. Como Ajudar Aqueles que Estão Magoados .................. 192
15. A Morte e Como Enfrentá-la .......................................... 205
16. Depois do Armagedom: A Glória Mais Adiante ............ 219




PREFÁCIO

Deus podia ter deixado Daniel do lado de fora do covil do leão (...) Mas Deus nunca prometeu-nos deixar de fora de situações difíceis (...) O que Ele prometeu foi acompanhar-nos em cada situação difícil e fazer com que saíssemos vitoriosos. MERV ROSELL

UM DOS livros mais antigos do mundo afirma que "o homem nasce para as dificuldades, assim como as faíscas das brasas voam para cima" (Jó 5:7).
Jamais estas palavras foram tão verdadeiras quanto hoje.
O mundo todo está suspirando e sofrendo numa escala talvez desconhecida na história humana: os refugiados, os famintos, os "novos escravos", os problemas psicológicos, os turbilhões emocionais, os casamentos desfeitos, as crianças rebeldes, o terrorismo, os reféns, as guerras e mais mil outras dificuldades que afligem todos os países do mundo. Não existe ninguém, em canto algum, que seja imune. Os ricos e famosos sofrem como os pobres e obscuros. Como disse o falecido ator Peter Sellers, "por trás da máscara de todos nós, palhaços, estão a tristeza e corações partidos".
Parece que a raça humana está se dirigindo para o clímax das lágrimas, mágoas e feridas acumuladas no decorrer dos séculos - o Armagedom!
O sofrimento é o destino comum das pessoas em toda aparte – tanto dos crentes quanto dos descrentes. Porém, os cristãos são vítimas de um sofrimento maior ainda do que o de outras pessoas. Na condição de seguidores de Jesus Cristo, muitas vezes se perguntam, como o salmista: "Será que Deus esqueceu de ser misericordioso? Será que, na sua ira, negou a sua compaixão?" (Salmos 77:9)
É um grito antigo – ecoado hoje por milhões de pessoas no mundo inteiro. Por que existe o mal? Onde tudo começou? Por que Deus permite que o terrível pesadelo do sofrimento e do mal continue na história da humanidade? Por que as preces para a derrubada da maldade e a vitória da justiça e do direito parecem não ter resposta? E por que os cristãos não estão isentos de sofrimento – inclusive da perseguição?
Não são perguntas fáceis de responder e, na verdade, só conheceremos a resposta quando nos encontrarmos face a face com nosso Senhor, no céu. Apesar disso, a Bíblia nos dá algumas respostas para a questão do sofrimento. Neste livro, tentei ver quais as pistas que ela nos oferece para esta pergunta universal.
Mas este estudo da questão do sofrimento não é um exercício acadêmico ou intelectual, tentando responder perguntas filosóficas abstratas que não têm nada a ver com o dia-a-dia. Nós, como veremos nas páginas seguintes, mesmo que nem sempre possamos entender por que Deus permite que cenas coisas aconteçam conosco, sabemos que Ele extrai o bem do mal, e o triunfo do sofrimento.
Assim, ao escrever este livro, tentei ser prático. Vi o que a Bíblia nos ensina sobre o sofrimento, como devemos encará-lo e de que forma podemos nos preparar para ele. E se você fosse avisado de que só teria seis meses de vida por causa de um câncer? Ou se um ente querido fosse acometido de um ataque cardíaco fulminante ou se ferisse mortalmente num acidente de carro? E se você fosse tomado como refém ou feito prisioneiro por causa da sua fé em Cristo? E quanto às mil e uma crises pessoais, grandes e pequenas, que nos afligem ou nos afligirão? Como você deve se preparar para a tragédia, a dor, o sofrimento, seja qual for a natureza ou fonte deles? Como você pode se preparar agora para os armagedons pessoais do futuro, as batalhas que todos enfrentamos e que ameaçam nos esmagar? E como você pode se preparar para o grande e futuro Armagedom, que marcará o clímax do sofrimento do mundo e a derrocada final do mal?
Em A segunda vinda de Cristo, tento lidar com estas perguntas e outras similares, pois creio que elas são de importância fundamental para cada um de nós.
Ninguém escalou o monte Evereste num único dia. Aqueles que tentam escalar as suas encostas traiçoeiras passam meses, até anos, treinando e se exercitando. Cada pequena montanha conquistada prepara a pessoa para uma montanha mais alta e uma escalada mais difícil pela frente. Da mesma forma, a melhor preparação para os tempos difíceis pela frente são as pequenas dificuldades diárias e o modo como reagimos a elas.
Porém, também me preocupei em mostrar uma outra dimensão dos ensinamentos da Bíblia sobre o sofrimento – a dimensão da esperança. Algum dia, toda a dor e sofrimento deste mundo serão gloriosamente banidos. Por causa do que Jesus Cristo fez por nós, através da Sua cruz e Ressurreição, sabemos que temos esperança no futuro. Acreditamos que, no céu, todos os pecados e males serão banidos e que não existirá mais o sofrimento. Disse o apóstolo Paulo: "Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm valor em comparação com a glória que há de ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a manifestação dos filhos de Deus. Pois a criação ficou sujeita à vaidade não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria criação será libertada do cativeiro da corrupção para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus." (Rom. 8:18-21)
Em A segunda vinda de Cristo, tento mostrar um pouco do que será a vida futura. Ao fazê-lo, veremos como a glória que nos espera é bem maior do que quaisquer sofrimentos que tenhamos que suportar aqui.
Mas, nesse meio tempo – A segunda vinda de Cristo –, você e eu temos que aprender o que significa confiar em Deus em todas as circunstâncias e viver para Ele, não importa o que nos aconteça. Oro para que Deus use este livro para nos ajudar a pensar com mais clareza sobre o sofrimento, e para reordenar as nossas prioridades para que, quando o Armagedom chegar – ou nossos armagedons pessoais chegarem –, não sejamos apanhados de surpresa nem estejamos despreparados. Como José, que armazenava os grãos durante os anos de fartura para serem usados durante os anos de escassez que viriam depois, que nós possamos armazenar as verdades da Palavra de Deus em nossos corações o máximo possível, para estarmos preparados para qualquer sofrimento que tenhamos de suportar.
Como disse um oficial do Exército, certa vez: "O tempo na guerra é sempre favorável, se a gente sabe como usá-lo."
Que este livro nos ajude a "usar o tempo", seja ele qual for.
Escrevi este livro, tenho que admitir, com muita relutância. Existem muitas outras pessoas que passaram pelo fogo de sofrimentos muito mais severos do que os que experimentei e, como resultado, conheceram a graça e a força de Deus numa medida bem mais profunda. No entanto, Deus tem me ensinado muito sobre este assunto – através da experiência pessoal, através da vida dos outros e, principalmente, através da Bíblia, a Sua palavra. Oro para que, através deste livro, Deus traga esperança e coragem para você, mas que também seja um desafio, como o foi para mim escrevê-lo.
Muitas vezes, no meio dos problemas e dificuldades da minha própria vida, duas palavrinhas se destacaram: "Não tema." Mas, embora acredite que elas abriguem os filhos de Deus, também descobri que a fé precisa agarrar-se a Cristo e que devemos viver num temor piedoso. Do mesmo jeito que a criancinha se aquieta e dorme no seio da mãe, os filhos de Deus precisam ser acalmados com o "não tema" da Escritura nesses dias de medo e tremor.
Ele ainda tenta nos encorajar por intermédio de Abraão: "Não temas (...); eu sou teu escudo, a tua recompensa será infinitamente grande" (Gên. 15:1); e de Josué: "Não temas, nem te atemorizes" (Josué 8:1); ou "Paz! Não temas: não morrerás" (Juizes 6:23); "Não tenhas medo, (...) pois mais são os que estão conosco do que os que estão com eles" (II Reis 6:16); "Não recearei mal algum, porque tu estás comigo" (Salmos 23:4); "Jeová é a minha luz e a minha salvação; de quem me recearei?" (Salmos 27:1); "Por que hei de temer nos dias de adversidade?" (Salmos 49:5); "Jeová é por mim, não recearei: que me pode o homem fazer?" (Salmos 118:6); "Não temas, porque eu sou contigo" (Isaías 41:10); "Não temas pequeno rebanho; porque é do agrado de vosso Pai dar-vos o reino" (Lucas 12:32); "Não temas: eu sou o primeiro e o último, e o que vivo; fui morto; mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do Hades." (Apocalipse 1:17, 18)
Descobri, à medida que envelheço, que Deus nunca se esquece de nada. Ele conhece todas as coisas e se lembra do Seu povo, de suas aflições, seus sofrimentos e de todas as suas necessidades. A única coisa que Ele esquece são os nossos pecados. "Eu, eu mesmo sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim; não me lembrarei dos teus pecados." (Isaías 43:25)
Nada pode tocar o filho de Deus sem Sua permissão. Então, aceitemos cada mágoa, cada problema, cada dificuldade como que da mão dEle, buscando aprender com elas tudo o que Ele quer nos ensinar – utilizando todos os recursos de Deus ao nosso dispor e pedindo a Ele que faça com que tudo seja para o nosso bem e a Sua glória.
Naturalmente, não fiz sozinho todo o trabalho pertinente a este livro. Sem a ajuda de diversas pessoas, isso teria sido impossível. Nos dois anos que passei (não seguidamente) escrevendo este livro, contei com a ajuda constante de minha mulher, Ruth; de minha secretária, Stephanie Wills; de meu associado, John Akers; de Elsie Brookshire, Lucille Lytle e as outras no meu escritório de Montreat. Além disso, quero agradecer àqueles que leram o manuscrito e fizeram muitas sugestões úteis: minha amiga de longa data, Carole Carlson; o cônego Frank Colquhoun, da igreja Anglicana na Inglaterra; Millie Dienert, nossa amiga de longa data e companheira de férias (juntamente com o marido); meu associado no escritório de Minneapolis, Ralph Williams; Estelle Brousseau, do Montreat-Anderson College; e Al Bryant, de Word, Incorporated.
Ao estudar e escrever sobre este assunto, a minha própria vida se aprofundou, e a redirecionei, dedicando-a a ajudar os que estão sofrendo espiritual, física e psicologicamente. Oro para que este livro não apenas ajude e inspire muitos cristãos sofredores, mas seja utilizado por Deus para fazer com que muitos incrédulos venham a ter um conhecimento salvador de Jesus Cristo.

BILLY GRAHAM
15 de setembro de 1980
Montreat, Carolina do Norte


























A TEMPESTADE VINDOURA

E então eles reuniram os reis no lugar que, em hebraico, se chama Armagedom. APOCALIPSE 16:16

MUITOS ESCRITORES estão prevendo que as manchetes da década de 1980 continuarão sendo as mesmas: guerra, violência, assassinatos, tortura, Terceira Guerra Mundial – a verdadeira guerra, o Armagedom.
Não há dúvida de que os acontecimentos globais estão preparando o caminho para a guerra final da história – o grande Armagedom! À medida que o relógio terreno vai registrando a passagem do tempo e o mundo se aproxima da meia-noite, este planeta, segundo a Bíblia, caminha para um sofrimento horrível demais para se imaginar ou compreender. Não foi apenas o topo do monte St. Helens que explodiu no começo de 1980, transformando-se num dos grandes desastres ecológicos do período. Para a Bíblia, haverá o dia em que Deus abalará toda a Terra. Diz a Bíblia: "Mais uma vez, vou abalar não apenas a terra, mas também as céus." (Hebreus 12:26) Os tremores que sentimos agora não são ocasionais e, muito menos, passageiros. Na verdade, eles estão preparando o maior terremoto de todos os tempos.

Holocausto nos Bastidores

Os antigos profetas previram uma época, lá no fim da história, em que as pessoas diriam: "Paz, paz, (...) quando não há paz." (Jeremias 6:14) Milhares de conferências de paz foram realizadas desde a Segunda Guerra Mundial e, no entanto, as manchetes continuam a destacar as guerras, a violência, a morte e multidões de refugiados. Os governos do mundo são sacudidos por assassinatos e derramamento de sangue.
No entanto, há apenas alguns anos, era moda escrever ou sugerir que o mundo eslava entrando numa grande era de paz. Muitos idealistas nos diziam que a utopia entraria em cena, juntamente com todos os milagres tecnológicos do nosso tempo. O sonho é uma ilusão. Devíamos ter aprendido com a história. Sonhou-se com a paz no começo do século, mas esta aspiração foi destroçada pela Primeira Guerra Mundial. Depois da Primeira Guerra Mundial, mais do que desejada, a paz foi planejada, mas logo se viu que a Primeira Guerra Mundial não passara de uma preparação para a Segunda Guerra Mundial. Agora os sinais estão por toda a parte, mostrando que caminha febrilmente para a Terceira Guerra Mundial. A derradeira! O Armagedom!
Os meios de comunicação fazem um grande espetáculo das catástrofes... Nossos cinemas só passam filmes que tratam de tragédias e desastres. Quanto mais tenebrosos, mais atraentes eles se tornam. É assim em Londres, em Nova York ou em Los Angeles. Em qualquer metrópole, há uma lista interminável de títulos dessa natureza. Infelizmente, no entanto, não se sabe o que é pior: se a própria realidade ou as fantasias que são retiradas dela.
Até mesmo os mais otimistas estão prevendo um aumento no sofrimento de nosso mundo ferido. Um dos programas mais alegres da televisão americana é o Bom dia, América da ABC. Porém, faz algum tempo, Rona Barret entrevistou alguém da CIA e o tema central dessa reportagem foi o perigo de uma guerra bacteriológica. Existem novos vírus, disse o agente da CIA, que podem causar um colapso na saúde da população de um continente inteiro. As guerras química e bacteriológica fazem parte do arsenal de armamentos que está sendo desenvolvido pelo mundo todo. Artigos e filmes documentários estão sendo constantemente apresentados relatando que, antes do fim do século, os insetos podem estar controlando o nosso planeta. Um destacado jornal concluiu um editorial, dizendo: "Tem-se a sensação de que se está vendo o mundo no seu crepúsculo."
Expressões como "suicídio racial", "genocídio racial", "o fim do mundo", e "o fim da raça humana" estão surgindo nas conversas, revistas, e filmes de todo o mundo.
Os grupos terroristas estão ficando cada vez mais audaciosos nos seus ataques. Relatos quase diários de novas atrocidades enchem nossos jornais. A situação chegou a um ponto que, certo dia, havia tanta violência num jornal que sobrou pouco espaço para se notificar que o presidente de um governo da África Ocidental fora assassinado, seu filho decapitado, e muitos membros de sua equipe fuzilados em praça pública. Hoje em dia, só merece manchete quem mata uma população inteira ou então quem assalta uma base militar da CIA.
Armas nucleares, guerra bacteriológica e relacionamentos internacionais precários não são as únicas indicações de uma civilização em rota de colisão. Nossos cientistas estão alertando para o perigo de grandes mudanças climáticas. A calota glacial polar parece estar se deslocando ligeiramente, e isso pode afetar nossa capacidade de produzir alimentos. Se hoje em dia a fome ameaça a população de vários países, a situação ficará muito pior se esse desastre ecológico se confirmar.
As estatísticas sobre o aumento de terremotos quase quebram o computador.
Quanto ao aspecto moral, as coisas parecem extremamente desanimadoras, especialmente se vistas sob a ótica judaico-cristã. A instituição do casamento acabou-se. A rejeição às leis chegou a um ponto que aquele que as segue é ridicularizado pelos amigos. As drogas e o álcool estão destruindo as mentes de milhões. Na América e na Europa cultos satânicos e a bruxaria se espalham rapidamente, com a força de uma praga.
O prazer se tornou a meta de milhões. O hedonismo agora está quase no controle. Um editor inglês me contou que, se censurassem a pornografia, mais de 80% dos romances modernos não seriam publicados. Para todos os lados em que olhamos, só vemos perversão e imoralidade.
Por toda pane, as pessoas estão clamando por "liberação" e justiça social. Parece que os ricos estão cada dia mais ricos e os pobres cada dia mais pobres. Isto se aplica tanto às nações quanto aos indivíduos. A força econômica do mundo se deslocou para os países produtores de petróleo, que não sabem como gastar os bilhões que acumularam. Enquanto a Europa Ocidental e os Estados Unidos se endividam cada vez mais, o Terceiro Mundo vive à beira da inanição.
A teoria de que o mundo está ficando cada vez melhor, e resolvendo os seus problemas políticos, econômicos e sociais, não é mais pregada com muita confiança. Estamos vivendo numa época de sérias tormentas e dificuldades, e a maioria das pessoas conscientes com quem falo acreditam que a tendência seja piorar.

A Raiz do Problema

Hoje em dia, vemos um mundo inquieto em todos os sentidos. A crise é geral. Sofre o homem comum, a situação política dos países é instável, as grandes economias perdem o vigor. Por que tudo isso? Já fui motivo da risada alheia, mas continuo acreditando que o problema seja religioso. A Bíblia o explicou há milênios. As Escrituras deixam bem claro que, quando a lei de Deus é desobedecida, o mundo perde a sua harmonia, desgoverna-se, começa a caminhar sem rumo. A anarquia de hoje é a conseqüência da rejeição a Deus.
Com esta rebelião contra Deus, a humanidade negou o valor da personalidade humana. A vida já não vale mais a pena, perdeu o seu significado. As pessoas crêem em um ser sobrenatural, mas agem como se fossem atéias! Pensamos como ateus! Vivemos e planejamos como se não existisse um Deus. Estamos vivendo num mundo que não reconhece Deus. Quando todos fazem tudo o que pensam e o que querem, não há possibilidade de ordem e paz. Haverá mais confusão e mais tumulto enquanto as pessoas seguirem os seus próprios esquemas perniciosos.
O homem é um rebelde e um rebelde naturalmente é confuso. Vive em conflito com todos os outros rebeldes. Pois um rebelde, pela sua própria natureza, é egoísta. Ele busca o seu bem e não o dos outros. Às vezes, através da racionalização, podem surgir objetivos profanos que parecem ter, por algum tempo, um efeito unificador sobre o homem, criando até interesse e unidade global, porém, tais objetivos são temporários. Não existem profundidade ou significado neles e, dessa forma, esses elementos não podem unificar a sociedade por muito tempo.
A Bíblia indica que, ao rejeitar Deus e Seus princípios para o governo da vida, o mundo está se dirigindo para uma situação de tensão, confusão e tumulto cada vez maior. É dela que surgirá um futuro governante ou sistema mundial malévolo – o Anticristo.

O Anticristo e o Armagedom

Não é só Deus que tem um plano para o homem, o demônio também o tem. Ele conduzirá ao poder um falso governante ou sistema mundial que estabelecerá uma falsa utopia por um período extremamente curto. Aparentemente, os problemas econômicos e políticos do mundo serão resolvidos. Porém, após um breve governo, tudo desabará. Durante o reinado do Anticristo, as tensões aumentarão e, mais uma vez, o mundo explodirá. Então, virá uma guerra gigantesca, feroz, avassaladora, envolvendo conflito e massacre numa escala sem precedentes. Até mesmo o punho de ferro do Anticristo não conseguirá impedi-la. Será a última guerra do mundo – a Batalha do Armagedom.
A Batalha do Armagedom (e os acontecimentos que levarem a ela) fará entrar em cena o sofrimento mais terrível que a humanidade já conheceu. A Bíblia nos diz que a terra será devastada Por crises políticas, econômicas e ecológicas que ficam além do alcance da nossa imaginação. Se não fosse pela misericordiosa intervenção de Deus, reza a Bíblia, o mundo inteiro seria destruído.

Cristo – o Vitorioso

No meio de toda aquela terrível, pavorosa carnificina, descrita em muitas partes da Bíblia, especialmente no Apocalipse, Cristo retornará como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ele próprio derrotará o Anticristo e será o vitorioso na Batalha do Armagedom. No clímax desse momento, Deus instalará o Seu Reino – toda uma nova ordem política e social sob o Seu governo.
Quando Jesus Cristo deixou Seus seguidores, assegurou a Seus discípulos: "Voltarei!" E vai cumprir o prometido. Esta é a nossa esperança.
Lembro-me de ter encontrado Sir Winston Churchill durante seus últimos anos como primeiro-ministro da Grã-Bretanha. Foi em Londres, pouco depois de uma de nossas Cruzadas no estádio de Wembley. Enquanto conversávamos, Sir Winston tinha três jornais vespertinos ao lado e um charuto apagado na boca. E ele disse:
– Meu rapaz, quero lhe fazer uma pergunta. Não creio que o mundo ainda vá se agüentar por muito tempo. Está com problemas demais. – Fez uma pausa e perguntou: – Pode dar um pouco de esperança a um velho?
Peguei o meu Novo Testamento e não apenas lhe falei do plano da salvação, como também lhe contei tudo sobre a volta de Cristo.
Quando eu tinha dezesseis anos, revoltava-me contra a obrigação de ir ao templo. Eu ia porque meus pais esperavam que eu fosse, mas mal podia esperar para voltar para casa e ficar livre da obrigação de ir ao templo ouvir o sermão dominical. Foi aí que apareceu um pregador na nossa cidade. Nossa igreja não costumava colaborar com este tipo de pregador e, a principio, fui totalmente indiferente a sua passagem pela cidade. Contudo, a imprensa noticiara muito as atividades daquele pregador e certa noite, depois que ele já estava na cidade há várias semanas, fui ouvi-lo falar, a convite de um amigo. Ele falou da Segunda Vinda de Jesus Cristo. Este era um dos principais temas de sua pregação. Fiquei absolutamente fascinado. Nunca tinha ouvido tanto a respeito. Não sabia que havia uma esperança daquelas e que Deus tem tantas coisas maravilhosas à espera daqueles que crêem.
Quando vai acontecer? A presente era está se aproximando do fim? O Seu reino está prestes a chegar? Não posso definir nenhuma data, pois o próprio Jesus nos advertiu para que não tentássemos fixá-la. Por outro lado, a História nos prova com que facilidade nos enganamos. Quando Napoleão assolava a Europa no século passado, muitos estudantes da Bíblia achavam que ele era o Anticristo. Muita gente pensou que Mussolini ou Hitler eram o Anticristo. Eles eram anticristãos, mas não eram o grande Anticristo que ainda está por vir. A Bíblia nas ensina que, algum dia, Jesus Cristo vai retornar à terra. Escrituras dão esperança e alerta, a um só tempo.
"Se realmente é justo diante de Deus que de dê em paga tribulação àqueles que vos atribulam, e a vós que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder em chama de rogo. Ele tomará vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao Evangelho de nosso Senhor Jesus, os quais sofrerão a pena, a saber, a perdição eterna, sendo separados da face do senhor e da glória do seu poder, quando ele vier para ser glorificado em seus santos e para se fazer admirável em todos os que creram (...). naquele dia." (II Epístola de Paulo aos Tessalonicences 1:6-10)
O simples fato de que os crentes têm a esperança da vinda de Cristo deve nos fazer viver para Cristo todos os dias, como se Ele estivesse vindo a qualquer momento. Para aqueles que não conhecem Deus, a vinda de Cristo deve levá-los a Ele para o perdão, enquanto ainda há tempo. Esta passagem também indica que os que desobedecem ao evangelho terão um vislumbre de Jesus Cristo em toda a Sua glória e depois serão banidos para sempre da Sua presença. Isto será o inferno dos infernos – uma pessoa levar para a eternidade a lembrança do que perdeu ao rejeitar deliberadamente a oferta de Deus de amor, misericórdia e graça nesta vida atual.

Depois do Armagedom

Uma utopia vem vindo. Oramos em nossos templos: "Venha o Teu Reino. Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu." (Mateus 6:10) Quando da volta de Cristo, essa prece será integralmente realizada.
O que vai acontecer quando o Messias voltar? A Bíblia nos ensina que, após o Armagedom, Jesus Cristo estabelecerá o Seu reinado sobre a terra. Esta será a maior revolução espiritual e moral da história, quando Cristo assumir o controle e estabelecer o Seu reinado de justiça no mundo.
Este não é um livro de profecia. Existem muitos pontos de vista teológicos diferentes sobre o futuro, mas este não é o lugar para debatê-los. Apesar disso, há diversas generalizações que podemos fazer sobre o futuro estado do mundo, sob o reinado de Cristo.
Primeiro, quando Cristo voltar, Satã vai ficar confinado. A Bíblia diz: "Vi um anjo descendo do céu, tendo a chave do abismo e uma grande cadeia na mão. Ele se apoderou do dragão, da antiga serpente, isto é, do Diabo e Satanás (...) e o lançou no abismo para que ele não enganasse mais as nações." (Apocalipse 20:13) Ainda hoje, o demônio engana as nações em grande escala. Ele está fazendo com que elas creiam numa "mentira" – e também está enganando os indivíduos. Está nos dizendo que a "estrada larga" é a correta. Porém, a Bíblia adverte: "Há um caminho que ao homem parece direito, mas no fim guia para a morte." (Provérbios 14:12) O demônio também está dizendo às pessoas que elas têm tempo de sobra para se decidir com relação a Deus, a eternidade e a Cristo. Está dizendo a elas que não precisam de Deus – que podem passar bem sem Cristo. Está nos dizendo que podemos ir para o céu sem nascer de novo. Jesus falou que não podemos. O demônio está dizendo que há mais prazer no mundo do que em seguir Cristo. Não há. Será um dia glorioso aquele em que Satã for confinado. Ele não mais poderá enganar você, sua família e as nações do mundo.
Segundo, durante o reinado de Cristo haverá justiça e paz para todos. Não existe a justiça absoluta no mundo de hoje. As injustiças econômicas e sociais resistem teimosamente aos melhores esforços dos homens e dos governos para erradicá-las. As manchetes diárias nos dizem que não existe a paz duradoura no nosso mundo, a despeito de inúmeras conferências para debatê-la.
Porém, algum dia, a justiça e a paz serão estabelecidas entre todos os povos. A Bíblia promete: "Eis que em justiça reinará um rei." (Isaías 32:1) Ela também nos diz: "E ele tem por nome (...) príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da sua paz não haverá fim." (Isaías 9:6,7)
Certo dia, pouco depois do edifício das Nações Unidas ter sido erigido nas margens do East River, na cidade de Nova York, fui conhecer o prédio com um amigo, que é embaixador. Mostrou-me uma sala vazia. Falou:
– Esta é a sala de orações.
Estava absolutamente vazia. Não havia nenhum símbolo, nada para indicar que havia algum Deus. Quando as Nações Unidas foram fundadas, concordou-se que a palavra Deus ficaria de fora da sua carta. O mundo deixou Deus de fora de seu planejamento.
Mas tudo isso vai mudar. Quando Jesus voltar, não virá como o pobre carpinteiro nazareno, montado num burrico. Virá em majestade divina e poder e glória. Virá como Príncipe, como Rei, cercado por milhares de anjos-guerreiros. Será formado o mais poderoso exército da história do universo. E embora o Anticristo declare guerra a Ele, a vitória será dEle. Emergindo triunfante da fumaça da guerra terrível, pavorosa, derradeira, estará o Messias, o Senhor Jesus Cristo, o Príncipe da Paz.
Quando Jesus voltar, teremos proteção e segurança. Sabem qual era o versículo favorito de George Washington, nas Escrituras? Era Miquéias 4:4, e ele o citava constantemente. "Mas sentar-se-ão, cada um debaixo da sua parreira e debaixo da sua figueira; e não haverá quem os amedronte, porque a boca de Jeová dos exércitos o disse."
Durante o reinado de Cristo, a confusão política se transformará em ordem e harmonia, as injustiças sociais serão abolidas e a integridade substituirá a corrupção moral. Pela primeira vez na história, o mundo inteiro saberá o que é viver numa sociedade governada pelos princípios de Deus. E a influência de Satã não estará presente para atrapalhar o progresso do mundo na direção da paz, unidade, igualdade e justiça. O sonho do homem de uma harmonia global se tornará realidade!
Fina1mente, a Bíblia nos ensina que, quando Cristo voltar, todas as pessoas que já viveram serão julgadas por Deus.
Quando os que se arrependeram do seu pecado de rebeldia contra Deus e aceitaram Jesus como seu Salvador e Senhor de suas vidas aparecerem diante de Deus, Ele os fará entrar no seu novo lar – o céu e todas as suas glórias. Será o Jardim do Éden restituído – os homens verão Deus face a face e viverão com Ele num ambiente livre de lágrimas, fracassos e fadiga.
Porém, os que preferiram rejeitar Deus durante a sua vida na terra serão separados dEle por toda a eternidade. Este não é o desejo de Deus, mas sim a opção do homem. Deus considera cada homem responsável por sua rejeição de Cristo.
Deus não quer que os homens se separem dEle eternamente. Ao mesmo tempo, Deus não forçará um homem a viver no céu contra a sua vontade. Em II Pedro 3:9, o apóstolo diz que Deus é "paciente (...), não querendo que alguns pereçam, mas que todos venham ao arrependimento". João 3:16 diz que "amou Deus ao mundo, que deu seu Filho unigênito, para que lodo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (o grifo é meu). Pagando um grande preço, Deus tornou possível a cada um de nós viver com Ele eternamente. Aqueles que rejeitarem a oferta de Deus de um lar celeste serão mandados para o inferno.
Quando formos chamados diante de Deus para sermos julgados, não haverá mais tempo para reverter a nossa decisão. É durante a nossa vida aqui na terra que decidimos o nosso destino eterno.

Até o Armagedom

Tivemos um vislumbre do futuro – tanto do seu horror quanto da sua esperança. Mas, e quanto ao presente? Como nos preparamos para o sofrimento que possivelmente teremos que enfrentar, à medida que nosso mundo se dirige inexoravelmente para um período de intensa tribulação – que terá seu clímax no Armagedom? E como nos prepararmos para os armagedons diários que cada um de nós enfrenta, os problemas e sofrimentos que são parte de cada vida humana? Se os cristãos terão ou não que enfrentar o período de tribulação da época do Armagedom é um tópico de debate para os estudiosos da Bíblia. Mas não há dúvida de que o sofrimento, de uma forma ou de outra, acontece para todos nós. E podemos ter certeza de que nos dá a força e os recursos de que precisamos para suportar qualquer situação na vida que Ele ordena. A vontade de Deus jamais nos levará aonde a graça de Deus não puder nos amparar. Como veremos nas páginas seguintes, Deus também é capaz de pegar cada situação na vida – não importa o seu grau de dificuldade – e usá-la para nos aproximar ainda mais dEle.
Como o sofrimento é uma parte natural da existência humana, precisamos aprender a lidar com ele. E para os cristãos, em particular, parece haver um conjunto singular de sofrimentos. Deus quer que aprendamos a lidar com nossas provações e tentações na dependência do Seu poder. A Bíblia e a história da igreja demonstram que o caminho de Deus para o sofrimento do Seu povo não tem sido sempre o caminho da fuga, mas o caminho da capacidade de suportar.
Mas como podemos suportar as crises da morte, da perseguição, da doença física? Como lidar com as angústias de rixas familiares, divórcio, problemas financeiros? Como sobreviver às tensões de um mundo cheio de desastres nacionais e injustiças sociais?
É disto que trata este livro. É um livro sobre o sofrimento, e ensina a lidar com ele. Quando Cristo retornar como vencedor em Armagedom, o sofrimento será abolido. Até o Armagedom precisamos aprender a viver triunfalmente entre os traumas e pressões que enfrentamos diariamente. Precisamos preparar-nos para os nossos armagedons pessoais.



ARMAGEDONS PESSOAIS

O Senhor obtém seus melhores soldados nos píncaros da aflição. CHARLES HADDON SPURGEON

O Sofrimento É Universal

NÓS NÃO buscamos as tribulações deliberadamente na vida. Elas chegam. O sofrimento é um fato universal. Ninguém pode escapar das suas garras. A chuva cai sobre o justo e o pecador. Todos enfrentamos armagedons pessoais.
Algumas pessoas acreditam, erroneamente, que se tornar um cristão será um abrigo para as tempestades pessoais da vida. Uma história de muitos de nossos hinos religiosos rapidamente desfará tal mito. Um grande número de nossos hinos e canções espirituais favoritos foram compostos nas situações mais penosas da vida de seus autores.
Podemos dar muitas ilustrações. Charlotte Elliot escreveu Assim como sou quando era uma inválida desamparada, Frances Ridley Havergal, autora de Tome a minha vida e muitos outros hinos, tinha uma saúde péssima. Fanny Crosby era cega, no entanto, do seu sofrimento, nasceram lindas canções, como A salvo nos braços de Jesus. O hino Deus age de uma maneira misteriosa foi composto pelo poeta William Cowper numa hora de grande aflição mental.
Uma das partes mais lindas da Bíblia é o Livro dos Salmos. Por causa da ampla gama de estados de espírito e de experiências que ele representa, nós procuramos o Livro dos Salmos com muita freqüência. Podemos nos identificar com ele e achar consolo nele porque reflete a vida real, com suas alegrias e tristezas. Muitos dos Salmos foram escritos durante períodos de crises pessoais e nacionais.
O Salmo 137 expressa a dor e a agonia de um povo banido da sua terra natal:
"Junto aos rios de Babilônia, ali nos assentamos, nos pusemos a chorar, ao recordarmo-nos de Sião. Nos salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas." (Salmos 137:1,2)
Depois de devastar a terra de Israel, o exército babilônio forçara os seus cativos a marcharem para uma terra estranha e um futuro aterrador. Deprimidos e abatidos, os hebreus abandonaram seus instrumentos musicais. Não sobrara canção alguma em seus corações. Este salmo reproduz com agudeza os sentimentos de um povo refugiado.
Muitos dos salmos refletem as crises pessoais enfrentadas por Davi, o maior rei de Israel. Nós o vemos como um homem de êxitos inacreditáveis – sua vitória juvenil sobre Golias, o gigante filisteu, a sua admirável ascensão de pastor a monarca, suas vitórias notáveis sobre os inimigos de Israel. Porém, Davi também foi um homem de tristezas insuportáveis. Acusado injustamente de traição, foi forçado a viver como fugitivo durante anos. Um de seus filhos morreu quando bebê, alguns eram moralmente corruptos, outros foram implacavelmente assassinados. A certa altura de seu reinado, a sua própria nação se voltou contra ele, quando outro de seus filhos tentou dar um golpe de Estado.
Deus chamou Davi de "um homem que (Me) agrada" (I Sam. 13:14). Embora fosse óbvio que Deus amava Davi, não o isentou do sofrimento.
Ninguém está isento do toque da tragédia: nem os cristãos nem os não-cristãos; nem os ricos nem os pobres; nem o líder nem o seguidor. Cruzando todas as barreiras raciais, sociais, políticas e econômicas, o sofrimento une toda a humanidade.

A Realidade do Sofrimento

É difícil falar sobre o sofrimento ou escrever sobre ele, pois não é algo que possa ser adequadamente examinado fora da esfera da experiência. Ele não é abstrato nem é filosófico. É real e concreto. Deixa cicatrizes. Quando os ventos da adversidade passam, poucas vezes permanecemos os mesmos.
Só compreende o significado do sofrimento quem já passou por alguma crise. E, muitas vezes, é apenas em retrospecto que nos damos conta do propósito e do valor de nosso sofrimento.
Já notou que aqueles que causam o maior impacto sobre a sociedade são, em geral, aqueles que mais sofreram?
O sofrimento na vida fortalece o caráter de uma pessoa, fazendo com que ela procure energias desconhecidas para superá-lo. As pessoas que passam pela vida sem serem marcadas pelo sofrimento ou tocadas pela dor tendem a ser superficiais nas suas perspectivas de vida. O sofrimento, por outro lado, tende a arar a superfície de nossas vidas para deixar à mostra as profundezas que oferecem uma força maior de propósito e realizações. Somente a terra profundamente arada pode dar uma colheita rica.
A dor tem muitas faces. Pode-se sofrer física, mental, emocional, psicológica e espiritualmente. Nossas dificuldades raramente ficam confinadas a apenas uma dessas áreas; elas tendem a se sobrepor em experiências humanas. Os sofrimentos mais intensivos podem ser induzidos psicologicamente e freqüentemente levarem a complicações na esfera física.
Existem tantas feridas invisíveis quanto visíveis, e pode haver dificuldade em diagnosticá-las. Sabemos que a parte invisível do homem é muitas vezes a vítima da mais debilitante das dores. Em certas circunstâncias, um homem pode suportar uma dor física cruciante; e, no entanto, pode ser derrubado por uma palavra cruel. Quando ouvimos a história da tortura infligida a um prisioneiro de guerra, ficamos estupefatos com a sua coragem pessoal e a resistência do corpo humano. Porém, a vida desse mesmo homem pode ser devastada por uma única palavra ou ato perpetrado com perversidade.
As Escrituras têm muito a dizer sobre o poder da língua para infligir crueldade. O salmista escreveu que as palavras amargas são como flechas mortais. Tiago escreveu: "Assim a língua também é um pequeno membro, mas se gaba de grandes coisas. Vede como um pouco de fogo abrasa um grande bosque! E a língua é um fogo, um mundo de iniqüidade colocado entre os nossos membros, a língua, que contamina o corpo todo e incendeia o curso da vida." (Tiago 3:5, 6)
O homem é capaz de grandes vitórias e é suscetível a grandes derrotas. O homem é a um só tempo forte e sensível. Como exclamou o salmista: "Graças te darei, pois sou assombrosa e maravilhosamente feito." (Salmos 139:14)
Precisamos tentar aplicar intensamente esta sensibilidade ao lidar com o sofrimento, em especial ao considerar os sofrimentos dos outros. Não podemos sentir a dor de outrem. Podemos ver a angústia no seu rosto e tentar empatizar com ela. Porém, não temos as suas terminações nervosas. Não podemos conhecer integralmente a magnitude da sua angústia. Jamais devemos minimizar o sofrimento de outrem. A Escritura manda: "Chora com os que choram." (Romanos 12:15)
Nossos sofrimentos físicos expressam uma grande verdade. Como escreveu convincentemente C.S. Lewis: "a dor... finca a bandeira da verdade dentro da fortaleza de uma alma rebelde". A verdade é a seguinte: o corpo do homem é mortal, temporal. O homem precisa enxergar além de si mesmo para encontrar a imortalidade.
O sofrimento é um dos meios de Deus falar conosco. Por intermédio da dor, percebemos a necessidade que temos dEle. Quando estamos em crise, ouvimos as suas chamadas. Citando novamente C.S. Lewis: "Deus sussurra para nós em nossos prazeres, fala na nossa consciência, mas grita nas nossas dores. O sofrimento é o seu megafone para despertar um mundo surdo." Se nosso sofrimento nos conduz a Deus, ele se tornou um amigo abençoado e precioso.
Somos gratos à medicina moderna pela descoberta da cura para tantas doenças e pelos enormes passos dados no controle de outras. Através de muita dedicação, fazem-se progressos diários na descoberta de novas maneiras de aliviar os sofrimentos físicos da humanidade. Muitas vidas foram salvas e agora estão sendo mantidas como resultado desses avanços científicos.
E, no entanto, a dor ainda está conosco. Muitos de vocês conhecem a realidade do câncer, de derrames, infartos, defeitos congênitos, aleijões resultantes de desastres. Muitos de vocês estão acamados e padecendo dores atrozes há anos. Alguns de vocês estão chocados com a descoberta da moléstia terminal de um amigo ou parente. Talvez você próprio esteja enfrentando a perspectiva da morte. Deixe que eu lhe assegure que não precisa enfrentar sozinho essa situação. Deus quer consolá-lo e ajudá-lo.
Certos sofrimentos advêm como resultado natural da deterioração do corpo. Certas formas de sofrimento físico nos são infligidas por outras pessoas.
Por toda a história do cristianismo, os seguidores de Cristo vêm sofrendo perseguições. Num pais africano, um jovem diretor de escola cristão foi arrancado de seu gabinete e levado para a rua, onde seria fuzilado. Os moradores curiosos da cidade amontoavam-se de um lado da rua, os alunos da escola de outro. O jovem diretor perguntou aos seus captores se podiam lhe dar alguns minutos e, quando eles concordaram, ele cantou: "Da minha servidão, tristeza e noite, Jesus, saio eu; Jesus, saio eu." Depois disso, foi morto. O sangue dos mártires é a semente da igreja. Enquanto os cristãos nos Estados Unidos professam a sua crença sem a ameaça de maus tratos físicos, milhares de seus irmãos em Cristo pelo mundo todo foram torturados e martirizados por confessar o nome de Cristo.

Pode chegar o dia em que os americanos tenham que enfrentar uma perseguição intensa por sua fé. Você está preparado para enfrentar o martírio? Jesus deu a Sua vida por você. Pode ser que você seja chamado a dar a sua por Ele. Deus tem muitas promessas preciosas para aqueles que sofrem por Cristo. Nós as examinaremos no decorrer deste livro.

Sofrimento Mental

E. Stanley Jones nos conta a história de um pastor que estava preparando uma série de dez sermões sobre o tema "Como evitar um esgotamento nervoso". Antes que o seu trabalho estivesse completo, ele mesmo teve um esgotamento. A pressão de tentar terminar o trabalho dentro do prazo foi demais para ele.
Todos nós experimentamos alguma forma de ansiedade mental durante nossas vidas. O espectro do sofrimento mental é amplo. Vai da preocupação de um jovem que vai conhecer uma pessoa apresentada por um amigo, até o esgotamento nervoso do executivo de uma grande firma.
Todos somos suscetíveis à depressão. Os cristãos não fogem à regra.
Elias, o dinâmico e dedicado profeta de Deus, defendeu valente e eficazmente a causa de Deus em confrontos aterradores com o paganismo. Elias subiu aos píncaros da fé ao resistir às continuadas ameaças do malvado rei Acabe e de sua perversa mulher, Jezabel (1 Reis 19). Porém, chegou a uma certa altura da vida em que quis desistir completamente. Até mesmo as tarefas mais simples da vida tornaram-se grandes demais para serem suportadas. "Já chega", disse ele. "Agora, Senhor, tira-me a vida." Ele estava assoberbado por uma combinação de exaustão e depressão. Deus não atendeu ao seu pedido, nem o repreendeu. Deus sabia que Elias sofria de exaustão e depressão e deu a ele aquilo de que precisava: sono e comida e a reafirmação de que não estava só. Deus enxergou a raiz do problema de Elias; ele esgotara as suas reservas físicas e mentais. Ele ultrapassara o seu ponto crítico. Alguém já disse: "Muitos problemas são resolvidos por uma boa noite de sono." Porém, os problemas que ainda permanecem conosco quando acordamos necessitam do toque especial de Deus.
Uma outra figura importante na história do cristianismo sofreu de modo semelhante. No final de um ministério popular e florescente, João Batista foi aprisionado por Herodes Ântipas, governador da Galiléia. João, o homem do deserto com a sua amplidão e liberdade, e um pedaço de céu sem fim, estava preso numa masmorra escura e úmida.
Durante o tempo em que esteve preso, a fé de João foi abalada até seus alicerces. Este era o mesmo João que dissera: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo?" (João 1:29) O que o fizera questionar?
Ele compreendera quando alguns de seus discípulos o abandonaram para seguir a Jesus. E então denunciara Herodes por estar vivendo com a mulher do irmão e foi preso. É Mateus quem nos diz: "Como João no cárcere tivesse ouvido falar das obras de Cristo, mandou pelos seus discípulos perguntar-lhe: És tu aquele que há de vir, ou é outro o que devemos esperar?" (Mateus 11:2,3)
O que João ouvira contar? Que obras de Jesus? Ouvira contar que Ele comera com os publicamos e os pecadores? Que Ele tivera compaixão de uma mulher adúltera – o mesmo pecado de adultério que João denunciara e que o levara à prisão? Ou ouvira contar de Seus milagres?
Jesus podia ter salvado João e não o salvou; nenhuma palavra de protesto se erguera contra a gesto de Herodes; a prisão que não se abria – inexplicado. Talvez fosse tudo isso combinado que fizera com que a fé de João fraquejasse.
A resposta de Nosso Senhor ao profeta aflito é notável. Depois de tranqüilizar João quanto à sua identidade, Ele louvou tanto a João quanto ao seu ministério (Mateus 11:1-11). Vance Havner fez a seguinte observação sobre este episódio: "Enquanto João falava o pior sobre Jesus, Jesus falava o melhor sobre João."
As pessoas deprimidas precisam de reafirmação e encorajamento. Jesus sabia disso e agia nesse sentido. Podemos aprender muito com o modo como Deus tratou Elias e como Jesus tratou João Batista. Eles podem servir como modelos para cuidarmos daqueles que sofrem de ansiedades mentais. As pessoas aflitas precisam de uma mão suave e prestativa e de palavras de encorajamento.
Os cristãos são particularmente suscetíveis à exaustão que leva à depressão. Com um sentido de dedicação a Deus que os inspira a trabalhar diligentemente para o Seu reino, eles com freqüência empreendem tarefas imensas e ignoram os sinais de advertência. Sem ninguém para ajudá-los e vendo que o serviço tem que ser feito, eles se excedem no trabalho e acabam nas garras da depressão.
Os que desempenham os papéis de liderança cristã precisam estar alertas para tais casos.
Cada um de nós tem o seu conjunto de capacidades e talentos único e dado por Deus – o seu potencial pessoal de realização. Nem todos trabalhamos à mesma velocidade ou atingimos as mesmas alturas. Deus não quer as pessoas competindo entre si. Ele quer que compitamos contra nós mesmos – para aprender a trabalhar dentro de nossas capacidades individuais.
Jesus narrou uma parábola em que ensinou que chegará o dia em que os feitos de cada cristão serão avaliados por Ele pessoalmente. Jesus explicou que não julgaria um homem pelo que ele faz em comparação com os outros, mas sim pelo que faz com as aptidões que Deus lhe deu.
Deus nos deu a todos capacidades e potenciais especiais e certas limitações. Que desenvolvamos as nossas capacidades e lutemos para trabalhar em direção a nossos potenciais. Mas que aprendamos onde fica o nosso ponto crítico. Às vezes é simplesmente uma questão de seguir em frente, parar para um descanso e depois continuar.
Uma máquina bem ajustada é que tem o seu melhor desempenho. Uma vida cristã bem ajustada e equilibrada é que será a mais produtiva para o reino de Deus.

Sofrimento Emocional e Psíquico

Todos sofremos desapontamentos na vida. Às vezes, o efeito sobre nós pode ser pequeno. Noutras vezes, nossas vidas podem ser devastadas.
A solidão, por exemplo, pode ser tão intensa que o funcionamento adequado como homem ou mulher seja quase impossível. Pouco depois do falecimento do príncipe Alberto, a rainha Vitória confidenciou a seu grande amigo Dean Stanley que estava "sempre desejando consultar uma pessoa que não está aqui, lutando sozinha com uma sensação constante de desolação".
Muitos de vocês estão sendo rejeitados e, por causa disso, estão sofrendo muito. Eis aí uma mágoa que causa grandes danos, pois nos afeta bem lá no fundo. Possivelmente, um namorado ou namorada o/a trocou por outra pessoa. Ou o seu casamento está se desmoronando por causa de terceiros. Ou quem sabe foi entrevistado para um emprego importante e não o conseguiu.
Vemos tanto sofrimento emocional e psicológico hoje em dia entre os nossos jovens. A principal causa de morte entre os estudantes universitários é o suicídio. A geração atual pode enfrentar pressões maiores do que qualquer outra geração dos tempos modernos. Academicamente, os estudantes competem desde o ginásio por posições de elite nas universidades. Uma das principais faculdades de medicina americana, para a qual só entram os alunos mais qualificados, tem uma vaga para cada quatrocentos candidatos. É preciso ser muito forte para suportar esse tipo de competição.
Muitos estudantes se preparam para um futuro em determinada carreira e se defrontam com um mercado de trabalho em declínio.
O custo da instrução está cada vez maior, forçando muitos estudantes a suportarem a responsabilidade de trabalhar enquanto ainda cursam a escola.
De um modo geral, nas últimas décadas, a nossa sociedade vem desencorajando a juventude a procurar ajuda em Deus. Sem Deus como fonte de orientação e força, os jovens começaram a fugir através das drogas, o que criou novos e profundos problemas.
As inseguranças podem ser perniciosas. Temos medos que nos atormentam e nos impedem de viver novas aventuras e realizar novos feitos. Muitas vezes hesitamos em ser agressivos em certas situações porque tememos o fracasso. Pode haver um serviço a ser feito, mas não nos sentimos adequados ou qualificados. Ou achamos que não podemos fazer um serviço tão bom quanto nosso antecessor.
Como você se sentiria tomando o lugar de Moisés, aquele homem milagroso que Deus escolheu para conduzir o povo hebreu na sua fuga do cativeiro egípcio? Aparentemente, Josué, o aprendiz bem treinado de Moisés que conduziria os israelitas à Terra Prometida, experimentou uma grande sensação de insegurança. Durante uma "conversa de estimulo" que teve com o novo líder, Deus teve que lhe dizer três vezes para não ter medo. E, na terceira vez, Deus explicou por que Josué poderia começar confiante as suas novas responsabilidades:
"Não to mandei eu? Sê corajoso. e forte: não te atemorizes, nem te espantes; porque Jeová teu Deus estará contigo por ande quer que andares." (Josué 1:9 – o grifo é meu.)
Deus prometeu a Sua presença. E onde Deus está, lá também encontramos a Sua paz e o Seu poder – um poder que nos permite sobrepujar o desalento e que nos guia através das derrotas na vida. Como veremos, Deus pode até mesmo usar nossos desapontamentos para trazer o bem para nossas vidas. Deus não pede que sejamos bem sucedidos, mas que sejamos obedientes.
Temos que nos lembrar de que somos vasos fracos, através dos quais Deus pode canalizar Seu poder para realizar Seus propósitos. Como costuma dizer um conferencista: "Deus, eu não posso, mas o Senhor pode, então, vamos em frente!"
Os problemas emocionais e psicológicos podem resultar de coisas que surgem em nossas vidas. Mas também podemos ser prejudicados por aquelas coisas que não surgem em nossas vidas.
Algumas pessoas são emocionalmente incapacitadas por causa de uma ausência de amor em suas vidas – em especial na infância. Os que não receberam amor no começo da vida têm dificuldade em dar amor no decorrer da vida. Apesar disso, não importa o quão desordenadas e confusas possam ser as nossas vidas, Deus é capaz de nos dar a paz e Ele pode padronizar de novo nossas vidas.

Sofrimentos Espirituais

Nem toda a dor é destrutiva. Há um sentido no qual a dor age como um sistema de alerta, advertindo-nos de que se faz necessária uma assistência médica. Isso também se aplica ao plano espiritual.
Há vezes em que nos agoniamos por causa de pecados inconfessos em nossas vidas. Nossa culpa explode nos relacionamentos tensos, hábitos nervosos, noites insones. Nossas consciências ficam muito pesadas, até buscarmos a cura com o Grande Médico. "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e para nos purificar de toda a injustiça." (João 1:9)
A luta contra o pecado pode produzir uma forma de sofrimento. A Bíblia se refere a isso como uma batalha. Porém, não entramos indefesos na batalha. Deus nos equipa com a Sua "armadura completa" (Efésios 6:13). Jesus pode nos libertar do poder de Satanás e do pecado. Não somos obrigados a ceder às nossas tentações. Mas Deus espera que lutemos. Deus não promete livrar-nos da batalha, mas sim livrar-nos pela batalha.
Quando nos tornamos cristãos, ganhamos um amigo, o Senhor Jesus Cristo. Mas também ganhamos um inimigo – Satanás. Satanás tenta desviar-nos da trilha do progresso espiritual. E busca destruir aquilo que nos auxilia.
Mas precisamos nos lembrar do seguinte: Primeiro, Satanás não é onipotente. Não é um equivalente de Deus. Ele é um anjo caído, não um deus caído. Segundo, nada pode surgir em nossas vidas sem o conhecimento e a permissão de Deus. Na verdade, Satanás está sob a autoridade de Deus. Ele teve que receber a permissão de Deus para testar Jó. Terceiro, Deus pode extrair o bem das provações e aflições que Satanás tenta colocar no caminho dos cristãos.
O Evangelho registra um episódio na vida de Jesus, no qual Ele estava no meio de uma doutrinação na sinagoga. Inesperadamente, um homem possuído pelo demônio se pôs de pé e começou a berrar. Era Satanás tentando perturbar a sessão, pois não queria que o auditório aprendesse sobre o reino de Deus e as verdades da vida eterna. Imediatamente, Jesus expulsou o demônio, demonstrando, assim, a Sua completa autoridade sobre o mundo espiritual. O auditório, que já estava impressionado com a Sua doutrinação, estava agora duplamente impressionado com Seu poder (Marcos 1:21-27). O que Satanás tentou fazer para prejudicar Jesus, na verdade, o auxiliou.
Satanás deve ser a personalidade mais frustrada do universo! O seu exército de demônios é obrigado a obedecer a Jesus, e qualquer coisa que o demônio faça para deixar desanimado um cristão Deus pode utilizar para o beneficio do cristão. Às vezes, Ele permite que soframos para podermos crescer espiritualmente.
Na maioria das vezes, o sofrimento não pode ser exata ou totalmente entendido, exceto em retrospecto. Só quando o tempo tiver cessado e a eternidade começado, Jó compreenderá por que Deus permitiu que ele fosse testado como foi. Só então o papel desafiador e confortador que ele desempenhou ao longo dos séculos, em inúmeros milhares de vidas, será inteiramente conhecido.

Deus Quer Ajudá-lo

Recentemente, a ciência inventou uma máquina notável, o explorador corporal, que pode detectar no corpo disfunções que escapam até dos raios X. Às vezes, temos feridas que são profundas e sensíveis demais para os outros enxergarem ou ajudarem.
Porém, quem, exceto o próprio Deus, pode explorar o meu eu invisível – meu coração, minha alma, meu espírito? Há feridas em nossas personalidades que são profundas e complicadas demais até para as técnicas modernas mais sofisticadas diagnosticarem ou solucionarem.
Somente o próprio Deus, que nos criou, pode nos compreender inteiramente. Como disse o salmista: "Jeová, tu me sondas e conheces; tu conheces o meu sentar e o meu levantar, de longe entendes o meu pensamento." (Salmos 139:1,2) Somente Deus pode diagnosticar com precisão o nosso problema, e Ele nos mostrará como resolvê-lo. E quando não houver solução, Ele nos dará a graça de viver com o problema. Somente Deus pode responder à nossa pergunta: "Por quê?" E, se não houver resposta, dar-nos a Sua paz e a graça de viver com "o que não tem resposta."
Deus quer nos ajudar quando sofremos. Ele pode dar a Sua presença para o consolo, o Seu poder para a resistência ao sofrimento, o Seu propósito para podermos discernir a nossa situação. E Ele pode produzir dentro de nós qualidades valiosas, que reforçarão e moldarão nossas vidas.
Deus pode nos ajudar porque somente Ele sabe por que estamos sofrendo e aonde o sofrimento pode nos levar.
Ele também pode nos ajudar porque Ele sabe o que significa sofrer. Quando atravessamos épocas difíceis e nos voltamos para alguém em busca de conselho e conforto, procuramos quem possa entender – alguém que já tenha passado por uma situação semelhante e possa sintonizar com nossos sentimentos.
Deus pode nos entender porque sofreu na pessoa de Seu filho.
O Filho de Deus deixou os reinos dos céus, tornou-se homem e viveu 33 anos num mundo de sofrimento. Pregou para os sofredores. Enfrentou todo o tipo de problemas físicos, mentais, emocionais, psicológicos e espirituais – e demonstrou a Sua capacidade de lidar com cada um deles. O seu problema não é novo para o Senhor Jesus Cristo. Ele não fica nem surpreso nem desconcertado com ele.
Jesus não apenas viu os sofrimentos dos outros – Ele próprio sofreu. Experimentou as mesmas provações e tentações que você enfrenta.
Conheceu o sofrimento físico. Às vezes, sentia que seu sacerdócio era fisicamente exaustivo e precisava buscar um alívio. Quanto a conhecer a intensa dor física, suportou uma tortura cruel e uma morte dolorosa: flagelação e crucificação. Conheceu o sofrimento mental, emocional e psicológico. Muitas vezes, experimentou a rejeição pessoal. Seus irmãos zombavam dEle e de Seu ministério. Quando pregou na Sua cidade natal, as pessoas correram com Ele da aldeia e até tentaram matá-lo. Os líderes religiosos da Sua própria nação acabaram por planejar a Sua morte.
E Jesus experimentou a solidão. Às vezes, até os Seus apóstolos O entendiam mal. Quem podia se relacionar integralmente numa amizade com alguém que era, a um só tempo, Deus e homem? Após um longo dia de trabalho exaustivo, Jesus não tinha esposa e família para quem Se voltar e encontrar consolo e encorajamento.
E imaginem o trauma de deixar o ambiente do céu, onde era reconhecido e reverenciado como Filho de Deus por milhares de anjos, e vir para uma terra marcada por pecados onde foi recebido com desprezo e desdém.
Jesus conheceu o sofrimento espiritual. No começo de Seu ministério público, Satanás O tentou impiedosamente por quarenta dias. E Satanás sempre retornou, ao longo do sacerdócio de Jesus, para tentar derrotar o Filho de Deus e desviá-lo de Sua missão. Jesus o enfrentou e venceu a batalha.
E Jesus experimentou um sofrimento espiritual mais intenso do que você ou eu jamais experimentaremos. Durante um certo tempo, enquanto estava na cruz, sentiu o horror da separação de Deus e gritou: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" Para Jesus, esta foi a maior agonia de todas. Ser abandonado pelo Pai que O amava – ver o Pai dar as costas ao Filho –, este foi o sofrimento supremo, a penalidade máxima para o pecado. Você e eu, se tivermos recebido Cristo como Salvador, jamais teremos que nos separar de Deus, porque Jesus pagou a penalidade pelo pecado. É por isso que Paulo pode afirmar, com tanta confiança:
"Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as cousas presentes, nem as futuras, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que é em Cristo Jesus nosso Senhor." (Romanos 8:38,39).
Nada jamais nos separará de Deus! Como Jesus, no Seu sofrimento, foi separado de Deus para o nosso bem, agora temos a vida eterna ao confiar nEle como Salvador.
E assim o Filho de Deus pode relacionar-se conosco na hora do nosso sofrimento. Pode relacionar-se com a nossa dor – pode fazer algo por nós. Como expressa com tanta beleza o hino de Thomas Moore:
Vinde, ó desconsoladas, onde quer que languesçais
Vinde ao centro da misericórdia. ajoelhai-vos fervorosamente
Trazei para cá vossos corações feridos, contai aqui a vossa angústia
A terra não tem tristeza que o céu não possa curar.

Deus quer nos ajudar. Você pode estar passando por dificuldades, nesse momento. Ou talvez a sua vida esteja atualmente isenta de tragédias. A despeito das circunstâncias momentâneas, é importante preparar-se para o sofrimento. O sofrimento raramente faz reservas antecipadas.
Este livro irá explorar as maneiras pelas quais você pode se preparar para os seus armagedons pessoais, pela compreensão das doutrinas bíblicas sobre o sofrimento.
Ora, se você é alguém que encara um relacionamento pessoal com Deus como um conceito novo, se desconhece a realidade do Deus vivo residindo dentro da sua vida, se jamais confessou seus pecados e recebeu Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, eu quero, pessoalmente, convidá-lo a fazer isso agora.
Este é o primeiro passo para obter a ajuda de Deus. Ele quer curá-lo por dentro. Ele quer curar primeiro o seu problema mais profundo – o problema do pecado pessoal.
Confesse o seu pecado, receba Jesus como seu Salvador e então comece uma nova vida com ele. Você encontrará a paz de Deus no seu coração, a orientação dEle na sua vida e o conforto da presença dEle ao longo de seus sofrimentos – ao longo de seu Armagedom pessoal, seja qual for a forma que ele tome.
























QUEM É O RESPONSÁVEL POR UM MUNDO QUE SOFRE?

Deus distribui a aflição segundo a nossa necessidade.
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO

CHEGAMOS a um dilema. O mundo parece se dirigir velozmente para a destruição. Vemos os inocentes sofrendo e as pessoas de bem sentindo dor e angústia. As vozes dos céticos e descrentes perguntam: "Que tipo de Deus permite que tais coisas aconteçam?" Somos arremessados inexoravelmente pelos fatos na direção do nosso destino ou existe um Ser Supremo no controle?
Faz pouco tempo, estávamos vendo algumas fotos que nosso filho trouxe consigo do Camboja. Uma delas mostrava o que parecia ser um canteiro de flores circular, com uma muro de tijolos de 60 cm a cercá-lo. Postes sustentavam um telhado de sapé, como se fosse um pavilhão à moda antiga. Este recipiente gigantesco continha somente crânios humanos – vítimas de algumas das brutalidades mais irracionais que o mundo já viu.
Ele tinha outra foto, de uma linda mocinha, mas, no lugar onde deviam estar seus olhos, havia apenas dois buracos. Eles tinham sido arrancados pelo inimigo.
Quem é o responsável?
Lemos recentemente um livrinho escrito por Laurel Lee, a autora de Walking Trough the Fire (Caminhando Através do Fogo). Essa linda jovem descobriu, no terceiro mês de gravidez, que estava com a moléstia de Hodgkin. Os médicos queriam que ela fizesse um aborto, pois teria que fazer tratamento com cobalto. Ela se recusou a fazer o aborto, mas fez o tratamento. O marido dela, sem poder enfrentar a perspectiva de criar três filhos sem uma esposa, abandonou-a, divorciou-se e casou com outra mulher.
Com sua fé infantil em Deus, a sua mente brilhante e um encantador senso de humor, ela começou a escrever um diário de suas experiências, fazendo também as ilustrações. Um dos médicos o viu e o mandou a um editor em Nova York. Isso levou a uma fase nova da vida dela, um ministério religioso público com contratos para palestras. Logo ela e os filhos puderam ter a sua casinha. A moléstia parecia ter regredido. Passou algum tempo, e a moléstia surgiu de novo. Encarando a morte, Laurel Lee escreveu um novo livro, Signs of Spring (Sinais da primavera). Deve ter havido vezes em que ela se perguntou se Deus estava no controle.
Existem milhões de pessoas pelo mundo todo que estão sofrendo injustiças, opressão política e perseguição, e que devem se perguntar: "Porque isto está acontecendo? Quem está no controle?" Existem milhares de lares com vidas desfeitas e destroçadas. O mundo inteiro parece ser um hospital, uma capela mortuária ou um cemitério, com as pessoas fazendo a mesma pergunta: "Quem está no controle?"
Cientistas e filósofos desde tempos imemoriais vêm debatendo a existência ou a inexistência de Deus. Hoje em dia, contudo, as provas são tão esmagadoras que até mesmo os intelectuais incrédulos estão começando a admitir que existe um Ser Supremo.
A revista Time publicou um artigo chamado Modernizando o Caso a Favor de Deus (07 de abril de 1980, pág. 65). Ele dizia: "Numa revolução tranqüila de pensamento e argumento que mal se podia prever há duas décadas, Deus está voltando. O que é mais interessante é que isso está acontecendo não entre teólogos ou simples crentes – a maioria dos quais jamais aceitou, nem por um momento, que ele estivesse em sérias dificuldades –, mas nos círculos intelectuais cintilantes dos filósofos acadêmicos."
Na Epístola de Paulo aos Romanos a Bíblia diz: "Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu poder eterno e a sua divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis." (Romanos 1:20)

Como É Deus?

Uma resposta simples e direta a esta pergunta básica é difícil de achar – a não ser que simplesmente pensemos que Deus é como Jesus Cristo! Todos os atributos de Deus são vistos em Jesus Cristo: Seu amor, misericórdia, compaixão, pureza, soberania e poder. É por isso que nossa fé em Deus tem que ser sempre centrada em Cristo. Como escreveu o Dr. Michael Ramsey, o antigo arcebispo de Cantuária: "A essência da doutrina cristã é que não apenas Jesus é divino, mas que Deus é semelhante a Cristo, e Nele não existe nada dessemelhante a Cristo."1
A grandeza de Deus desafia as limitações do idioma.
Ao ler a Bíblia, pareço achar a santidade o Seu atributo supremo. Todavia, o amor também é uma qualidade primordial. As promessas do amor e do perdão de Deus são tão reais, tão certas, tão positivas quanto as podem descrever as palavras humanas. Deus é o santo amor.
Por trás do amor de Deus está a Sua onisciência – a Sua capacidade de "tudo saber e compreender". Onisciência é a qualidade de Deus que é exclusivamente dEle. Deus possui o conhecimento infinito e uma percepção que é unicamente dEle. Em todas as horas, mesmo no meio de qualquer tipo de sofrimento, eu me dou conta de que Ele sabe, ama, observa, compreende e mais do que isso, que tem um propósito.
Fui criado no Sul. Minha idéia do oceano era tão pequena que, na primeira vez que vi o Atlântico, não podia entender que um lago pudesse ser tão grande! A vastidão do oceano só pode ser compreendida quando é vista. O mesmo acontece com o amor de Deus. Não basta saber que ele existe. Até o momento em que você realmente o experimenta, ninguém pode descrever para você as suas maravilhas.
Uma boa ilustração disso é uma história que minha mulher me contou sobre um vendedor de cerejas chinês. Veio passando um garotinho que adorava cerejas; quando viu as frutas, seus olhos ficaram cheios de desejo. Mas não tinha dinheiro para comprar as cerejas.
O bondoso vendedor perguntou ao menino:
Quer umas cerejas?
E o garoto disse que sim, O vendedor falou:
– Estenda as mãos. – Mas o garotinho não estendeu as mãos. O vendedor falou de novo: – Estenda as mãos. – Novamente o garoto não o fez. Então, o bondoso vendedor puxou as mãos do menino e encheu-as com dois punhados de cereja.
Mais tarde, a avó do menino soube do que se passara e perguntou:
– Por que você não estendeu as mãos quando o homem mandou?
E o garotinho respondeu:
– As mãos dele são maiores do que as minhas!
As mãos de Deus também são maiores do que as nossas!
Alguns dos peritos modernos em teologia fizeram tentativas para roubar de Deus o Seu calor, Seu profundo amor pela humanidade, e Sua compaixão pelas criaturas. Porém, o amor de Deus é imutável. Ele nos ama apesar de conhecer-nos como realmente somos. Na verdade, Ele nos criou porque queria outras criaturas à Sua imagem e semelhança no universo sobre quem poderia derramar o Seu amor, e que, por sua vez, o amassem voluntariamente. Queria pessoas com a capacidade de dizer "sim" ou "não" no seu relacionamento com Ele. O amor não se satisfaz com um autômato – alguém que não tem outra escolha senão amar e obedecer. Não o amor mecanizado, mas o amor voluntário, satisfaz o coração de Deus.
Se não fosse pelo amor de Deus, nenhum de nós sequer teria uma chance na vida futura!
Há alguns anos, um amigo meu parou no alto de uma montanha na Carolina do Norte. Naquela época, as estradas eram cheias de curvas e não dava para enxergar muito adiante. Esse homem viu dois carros vindo em direção contrária. Deu-se conta de que os motoristas não podiam ver um ao outro. Apareceu um terceiro carro e começou a ultrapassar um dos carros, embora não houvesse espaço para ver o carro que vinha do outro lado da curva. Meu amigo soltou um grito de advertência, mas os motoristas não podiam escutá-lo, e houve uma colisão fatal. O homem na montanha viu tudo.
É assim que Deus nos vê na Sua onisciência. Ele vê o que aconteceu, o que está acontecendo e o que acontecerá. Na Escritura, Ele nos adverte, repetidas vezes, sobre as dificuldades, problemas, sofrimentos e julgamento que nos esperam. Muitas vezes, ignoramos a Sua advertência.
Deus tudo vê e tudo sabe. Mas nós somos muito limitados pela finidade de nossas mentes e o curto tempo que temos na terra para sequer começar a entender o poderoso Deus e o universo que Ele criou.

Ele É um Deus de Amor

Deus não está cego aos apuros do homem. Ele não fica parado no alto de uma montanha, olhando impotente para a colisão da humanidade. Como o homem causou a sua própria colisão rebelando-se contra o Criador, Deus poderia ter permitido que ele despencasse na escuridão e destruição. Isso seria compatível com a santidade e a retidão de Deus. Todavia, esse outro grande atributo de Deus, o Seu amor, não permitiu que Ele o fizesse. Desde o começo daquela colisão, Deus tinha um plano para a salvação, a redenção e a reconciliação do homem. Na verdade, o plano é tão fantástico que acaba por erguer o homem muito além e acima até dos anjos. O amor consumidor de Deus pela humanidade foi demonstrado decisivamente na Cruz, quando a Sua compaixão corporificou-se em Seu Filho Jesus Cristo. A palavra compaixão vem de duas palavras latinas que significam "sofrer com". Deus estava disposto a sofrer com o homem.
Nos 33 anos que precederam a Sua morte, Jesus sofreu com o homem; na cruz, Ele sofreu pelo homem. "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo" (II Coríntios 5:19). E, novamente: "Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores." (Romanos 5:8)
Foi o amor de Deus que enviou Jesus Cristo para a cruz. Foi porque ele estava no controle e era controlado pelo amor que forneceu aquele substituto divino para o nosso pecado.
O amor de Deus não começou na cruz. Começou antes do mundo ser estabelecido, antes que o relógio de ponto da civilização começasse a se mover. O conceito distende a nossa compreensão até os limites máximos de nossas mentes.
Volte, na sua imaginação, para as incontáveis eras antes de Deus ter criado esta terra atual, quando ela era "sem forma e vazia" e a escuridão profunda e silenciosa do espaço exterior formava um vasto golfo entre o brilho do trono de Deus e o vácuo escuro onde existe agora o nosso sistema solar. Imagine o brilho da glória de Deus enquanto o querubim e o serafim, os próprios anjos, cobrem a face com as asas em respeito e reverência para com Aquele, o Ser elevado e sagrado que habita a eternidade!
Já naquela época, Ele previa o que ia acontecer e, no entanto, no Seu amor misterioso, permitiu que acontecesse. A Bíblia nos fala do "Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo" (Apocalipse 13:8). Deus previu o que o Seu Filho ia sofrer. Como já se disse, havia uma cruz no coração de Deus muito antes da cruz ser erigida no Calvário. Somente ao pensarmos nestes termos começaremos a perceber a maravilha e a grandeza do amor dEle por nós.

O Amor DEle, Desde o Começo dos Tempos

Foi o amor que levou Deus a formar uma criatura à Sua imagem e semelhança, e a colocá-la num paraíso de beleza insuperável. Foi o amor dEle que forneceu o plano da salvação, pois Ele sabia antecipadamente que o homem se desviaria do programa divino original.
Foi o amor de Deus que deu ao homem o livre arbítrio e o privilégio da opção, quando Ele falou: "De toda a árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás." (Gênesis 2:16, 17) Somente Deus dá a Seus filhos liberdade de escolha. O homem foi liberado desde o começo dos tempos para fazer o que lhe aprouvesse, mas, fosse qual fosse a sua escolha, haveria conseqüências. Se ele optasse pela rebelião, haveria sofrimentos terríveis, morte e a separação eterna de Deus. Se optasse pela obediência ao plano de salvação de Deus, haveria alegria abundante, vida eterna e a eventual construção de um paraíso neste planeta.
Deus se preocupava tanto com o bem-estar do homem que marcou com cuidado o local de perigo nesse meio ambiente perfeito. "Coma o fruto de qualquer outra árvore", falou Deus, "exceto desta. Nesta existe a morte." Porém, o homem cometeu um erro fatal que afetaria todas as gerações por nascer. A despeito da advertência de Deus, Adão e Eva comeram os frutos daquela árvore. Contudo, foi o mesmo amor que fez com que Deus chamasse Adão: "Onde estás?" (Gên. 3:9) Deus sabia onde Adão estava – mas Ele queria que Adão soubesse. Preparou o caminho para que Adão e Eva voltassem para Ele como companheiros.
Foi o amor de Deus que colocou os Dez Mandamentos nas mãos de Seu servo, Moisés. Foi o amor dEle que gravou aqueles estatutos não apenas na pedra, mas nos corações de todos os povos (nas suas consciências), e os tornou a base de toda lei civil, estatutária e moral, não importa quanto a justiça humana possa ter-se tornado pervertida.
Foi o amor de Deus que soube que os homens eram incapazes de obedecer à Sua lei e foi o amor dEle que prometeu um Redentor, um Salvador, que redimiria o Seu povo de seus pecados.
Foi o amor de Deus que botou palavras de promessa nas bocas e corações de Seus profetas, séculos antes da vinda de Cristo.



O Amor DEle, Quando a Profecia É Cumprida

Assim como predisseram os profetas antigos, numa certa época da história da humanidade, num local específico no Oriente Médio, o Filho de Deus veio para este planeta.
Foi o amor de Deus que preparou as condições políticas para a vinda de Jesus Cristo. A Grécia, como a grande potência durante o período de quatrocentos anos que antecedeu ao nascimento de Cristo, preparou o caminho para a Sua mensagem espalhando um idioma comum (o grego) pelo mundo todo. Depois o grande império Romano tomou o poder e construiu uma rede de estradas e desenvolveu um sistema de lei e ordem. Assim, utilizando a língua comum e mais as estradas e o sistema legal romano, Deus, através dos primeiros cristãos, difundiu a Sua palavra. Assim, diz a Escritura que Jesus nasceu "na plenitude do tempo" (Gál. 4:4).

Uma Vida, um Amor, um Deus

Jesus teve a mesma compaixão altruísta pelos doentes, aflitos e pecadores que Deus, Seu Pai.
Foi o amor de Deus que permitiu que Jesus Cristo fosse pobre, para que nós nos tornássemos ricos. Foi o amor divino que permitiu que Ele suportasse a provação da Cruz. Foi esse mesmo amor que o fez conter-se quando foi falsamente acusado de blasfêmia e levado ao Calvário para morrer com ladrões comuns, sem jamais levantar a mão contra os Seus inimigos.
Foi o amor que o impediu de chamar os 12 mil anjos que já estavam de espada desembainhada para vir em Seu auxílio. Foi o mesmo amor que fez com que Ele, num momento de dor atroz, parasse e desse vida e esperança a um pecador morrendo ao seu lado, que, arrependido, exclamou: "Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino." (Lucas 23:42)
Depois de ter sofrido terríveis torturas nas mãos do homem degenerado foi o amor que fez com que Ele erguesse a voz e orasse: "Pai, perdoa-lhes; pois não sabem o que fazem." (Lucas 23:34)
Do Gênesis ao Apocalipse, da maior tragédia da terra ao maior triunfo da terra, a dramática história das maiores profundezas do homem e das mais sublimes alturas de Deus pode ser expressa em 28 palavras impressionantes: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3:16)

Como Podemos Rejeitar um Amor Tão Grande?

No plano humano, freqüentemente amamos a quem nos ama. Na esfera espiritual, as pessoas não compreendem o amor assoberbante de um Deus sagrado. Tentamos ser "bons o bastante para Deus". O profeta Isaías expressou a verdadeira condição do homem nas palavras: "Todos nós temos andado desgarrados como ovelhas; temo-nos desviado cada um para o seu caminho." (Isaías 53:6) Não importa o pecado que tenhamos cometido, ou o quanto ele possa ser hediondo, vergonhoso ou terrível, Deus nos ama. Se tentamos "viver uma boa vida", segundo nossos próprios padrões, isso é inaceitável por Deus para a Salvação. No entanto, Deus ama a estes, também, quer estejam tentando ser bons ou tentando ser maus. O amor de Deus a tudo abrange.
Todavia, existe uma coisa que o amor de Deus não pode fazer. Ele não perdoa o pecador que não se arrepende. Ao longo de toda a Bíblia conclama-se a raça humana a se arrepender do pecado e da rebelião e se voltar para Deus.
Desse modo, por causa do amor dEle, existe um caminho da salvação, um caminho de volta a Deus através de Jesus Cristo, Seu Filho. Este amor de Deus alcança o homem onde quer que ele esteja, mas pode ser inteiramente rejeitado. Deus não vai Se impor a homem algum, contra a vontade deste. Uma pessoa pode ouvir uma mensagem sobre o amor de Deus e dizer: "Não, isso não é para mim." Deus a deixará seguir pecando para a escravidão e o juízo.
Contudo, se realmente queremos receber o amor de Deus, temos que aceitá-lo para nós mesmos. Foi assim que Ele planejou, desde o começo! Sempre foi a opção do homem. O destino de sua alma está nas suas mãos pela escolha que você faz.
Você confiou a sua vida a Jesus Cristo? Conhece-o como seu Salvador e Senhor pessoal?

Deus Está... em Toda a Parte

Lembro-me de ter lido um livreto intitulado Sem lugar para esconder. Como isso descreve bem a onipotência e a onisciência de Deus. "Pode alguém ocultar-se em lugares escondidos, que eu não o verei?, diz Jeová. Porventura não encho o céu e a terra?, diz Jeová." (Jeremias 23:24) No Salmo 139:1-5, Davi diz: "Jeová, tu me sondas e conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar, de longe entendes o meu pensamento. Esquadrinhas a minha vereda e o meu pouso, estás ciente de todos os meus caminhos. Pois ainda a palavra não está na minha língua, já tu, Jeová, a conheces toda. Por detrás e por diante me cercas e pões sobre mim a tua mão."
Conquanto Davi não soubesse explicar a maneira do amor onisciente (que tudo sabe) de Deus, sabia dizer como ele o afetava: "Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim, elevado é, não o posso atingir." (v. 6)
O salmista prossegue reconhecendo que Deus está mesmo em toda a parte. "Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua presença? Se eu subir aos céus, lá estarás; se fizer a minha cama nas profundezas, lá também estarás." (vv. 7, 8)
Se alguém subisse ao mais alto píncaro ou descesse ao abismo mais profundo, não escaparia à presença de Deus Todo-Poderoso. É isto o que a onisciência (tudo saber) e a onipresença (em toda a parte ao mesmo tempo) de Deus significam para nós em termos práticos. "Se eu tomar as asas da alvorada e me detiver nos confins dos mares, ainda lá a tua mão me guiará, a tua mão direita me sustentará." (Salmos 139:9,10)
Não existe um ponto no espaço, quer seja dentro ou fora dos limites da criação, em que Deus não esteja presente. É por isso que, ao nos perguntarmos quem está no controle, podemos responder sem equívoco: "Deus!"

O que Isso Significa Para Mim?

O que tudo isso tem a ver com o sofrimento? Por causa da Sua onipresença e onisciência, Deus está conosco em todas as nossas lutas e compreende nossas provações. Nada nas nossas vidas pega Deus de surpresa. Não estamos sós no nosso sofrimento. Temos um Deus que nos ama e está conosco em meio a nossos problemas.

Por que um Deus Amoroso Permite o Sofrimento?

Muita gente pergunta: "Por que Deus permite que o medo continue a apertar os corações dos homens, nesta era de esclarecimento?" Muita gente pergunta: "Onde está o poder de Deus? Por que Ele não acaba com toda essa miséria e crueldade que vêm amaldiçoando a nossa era?" Outros perguntam: "Como Deus pode ser bom e misericordioso quando, diariamente, homens e mulheres são esmagados por agonias quase insuportáveis?" Tais perguntas são feitas não apenas pelos ateus e pelos inimigos da religião, mas também pelos cristãos confusos que, tropeçando sob o fardo da angústia, exclamam: "Por que tenho que suportar este sofrimento? Como Deus pode jogar sobre mim tantos padecimentos?"
Durante a guerra da Coréia, conheci dezenas de coreanos cristãos que faziam essas mesmas perguntas, assim como elas estão sendo feitas hoje no Sudeste Asiático, em Uganda e dezenas de outros países.
Um dos primeiros livros da Bíblia, o Livro de Jó, trata dessa dificuldade. Algumas pessoas experimentam a guerra, o terrorismo, casamentos desfeitos, pressões financeiras, e muitas outras tribulações. Mas duvido que tenham sofrido perdas tão grandes quanto as de Jó, quando inimigos traiçoeiros capturaram seus homens e todos os seus rebanhos e manadas. Talvez haja alguém cujo filho ou filha foi mantido como refém, ou que tenha recebido o aviso de que o filho ou filha foi morto em combate. Jó perdeu sete filhos e três filhas num só dia. Outros, talvez, estejam doentes e gemendo de dor. Jó sofria de uma forma de moléstia que transformou o seu corpo numa massa de pústulas e chagas.
Quando Jó não pôde encontrar explicação humana para as suas provações, gritou para Deus: "Faze-me saber por que contendes comigo." (Jó 10:2) Esta pergunta antiquíssima de "por que devem os justos sofrer?" é velha como o tempo. Só há um lugar em que podemos achar uma resposta, a Bíblia. No entanto, na sua cegueira, alguns homens rejeitaram a orientação divina e insistem que tudo na vida provém da chance. A sorte, declaram eles, sorri para alguns, que têm uma vida fácil e serena. A sorte fecha a cara para outros, que sofrem inúmeras dificuldades. Dizem que tudo é questão de sorte, de chance. "Já que somos apenas criaturas dependentes da sorte", concluem, "por que não arrancar da vida cada gota de prazer, enquanto podemos, e usufruir de tudo ao máximo antes que chegue o amanhã, trazendo a morte consigo?"
Conversei com uma professora de uma de nossas escolas. Ela me contou que a mesma atitude é expressa por alguns de seus alunos. Dizem eles: "Vamos acabar tendo que ir para a guerra, de qualquer forma, a bomba atômica vai fazer tudo em pedacinhos – então por que não aproveitar agora?" Que engano chocante! E como essa atitude falha completamente em tempo de crise!
Outros céticos vão ao extremo oposto, afirmando que o homem sofre porque é fraco. Insistem eles: "Aprenda a ser duro e implacável. Aniquile com toda a oposição. Fora a compaixão, a bondade e a misericórdia. Abaixo o amor. O poderoso é o certo. Não seja um fracote, seja um super-homem." Esta foi a delusão de Hitler, e o resultado foi um padecimento incomensurável para milhões de pessoas.
Os secularistas não conseguem oferecer soluções satisfatórias para o dilema do sofrimento do homem. Freqüentemente, as filosofias humanísticas criam uma confusão e um desânimo pessoal ainda maiores.
A questão de por que Deus permite o sofrimento é um dos mistérios mais profundos da vida. É difícil dar-lhe uma resposta. Não podemos consultar uma única passagem da Escritura para encontrar uma abordagem meticulosa e conclusiva desse assunto, mas a Bíblia sugere algumas respostas. Gostaria de partilhar com você algumas das idéias que poderão ser de ajuda.
Primeiro, temos que nos dar conta de que Deus tem trabalhado ativamente na mitigação do sofrimento.
Lembremo-nos de que o sofrimento se originou no Paraíso, como já discutimos anteriormente. Deus deu ao homem liberdade de escolha: a escolha do bem ou a escolha do mal. Parte da constituição humana que distingue o homem de outras criaturas é a sua capacidade de raciocinar e tomar decisões morais. O homem é um agente moral livre. Satanás não dá a seus filhos a mesma escolha.
Adão escolheu seguir os conselhos de Satanás e se rebelou (pecou) contra Deus. A escolha de Adão (seu pecado) abriu uma "caixa de Pandora" de sofrimento para a humanidade. Um estudo cuidadoso do Gênesis revela que a atitude de Adão produziu um amplo espectro de sofrimento: físico, espiritual, social, psicológico e até ecológico. Num sentido muito real, o sofrimento deste mundo foi criado pelo próprio homem. A tendência ao pecado, a natureza pecaminosa, é uma característica humana transferida de Adão e Eva para a segunda geração da humanidade. E foi transferida para todas as gerações seguintes. Faz parte da natureza humana que todos herdamos.
E no entanto foi Deus quem agiu para solucionar o problema. No Jardim do Éden, Ele deu a Adão um raio de esperança – a promessa de que um dia enviaria o Seu Filho (gerado por uma mulher) à terra para destruir a obra do demônio e lidar com os problemas do pecado e do sofrimento do homem.
Vimos esta promessa ser cumprida historicamente, em Jesus Cristo. Por Sua vida, morte e ressurreição, Ele triunfou sobre Satanás e o pecado, e Ele é a chave para a solução do sofrimento. Por Sua morte, liberta-nos da punição do pecado. Por Sua ressurreição, dá-nos o poder sobre a tendência ao pecado, à medida que permitimos que Ele controle as nossas vidas.
As ações pecaminosas do homem (assassinato, roubo, estupro, terrorismo e assim por diante) infligem o sofrimento aos outros. Se todos os homens permitissem que Jesus reinasse em suas vidas, muitos dos padecimentos deste mundo seriam não apenas mitigados, mas abolidos.
Assim, vemos que Deus não esteve passivo com relação à sorte do homem. Ele agiu. Na verdade, a história toda está se dirigindo para uma época em que Cristo estabelecerá o Seu reinado sobre todo o universo. Satanás, pecado e sofrimento serão eliminados inteiramente. Deus promete livrar-nos da punição e do poder do pecado; e um dia Ele criará um ambiente no qual os homens fiquem livres da presença do pecado e do sofrimento associado a ele. Isaías 9:6, 7: "Porque a nós nos é nascido um menino, e a nós nos é dado um filho; o governo está sobre os seus ombros, e ele tem por nome Maravilhoso Conselheiro, Poderoso Deus, Eterno Pai, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da Paz não haverá fim sobre (...) o seu reino." F.B. Meyer disse, cena vez, que, "quando o nosso governo estiver sobre os ombros dEle, não haverá fim para a paz."
Não Podemos esquecer que Deus agiu em nosso nome para livrar o mundo do sofrimento. E o espantoso é que Ele o fez por meio do Seu próprio sofrimento. Ele é um Pai que testemunhou a tortura e morte do Próprio Filho. Deus, que ama o Seu Filho, permitiu que Ele sofresse para que você e eu pudéssemos ser libertados do sofrimento. Devido à paixão e morte de Cristo, aqueles que O aceitaram como seu Salvador estarão livres de um sofrimento mais intenso – a separação eterna de Deus.
É no sofrimento de Deus que vemos o Seu grande amor. Não devemos tentar avaliar o caráter de Deus e julgar se Ele é ou não um Deus de amor, olhando para os nossos sofrimentos. É olhando para a Cruz que passamos a conhecer e experimentar a profundidade do amor de Deus por nós.
Desse modo, vemos que Deus tem um plano para a eliminação do sofrimento.
Mas por que Deus não retira todo o sofrimento do nosso mundo agora? Se Ele tem o poder, por que não o usa agora para o bem da humanidade?
Primeiro, se Deus fosse erradicar todo o mal deste planeta, teria que erradicar todos os homens maus. Quem estaria isento, se "todos pecaram e necessitam da glória de Deus"? (Romanos 3:23) Deus prefere transformar homem mau, ao invés de erradicá-lo.
Há pouco tempo, recebemos uma carta falando de um prisioneiro condenado a morrer na cadeira elétrica. Vinte e quatro horas antes da execução, ela foi adiada. Contudo, por causa da sua proximidade com a morte, ele passou a conhecer Deus de um modo pessoal, através da fé em Jesus Cristo, e tornou-se uma testemunha vocal de Cristo dentro da prisão. Dos outros prisioneiros no corredor da morte, agora há 22 dedicados ao estudo da Bíblia com ele. Todos ficaram abalados com a experiência vivida por ele – a morte de repente tornou-se uma realidade para eles – e, através do seu relacionamento pessoal com Deus e o testemunho deste fato, Ele está sendo utilizado até ali no corredor da morte.
Em Cristo, podemos tornar-nos novas pessoas. "Se alguém está em Cristo, é uma nova criação; passou o que era o velho, eis que se fez o novo!" (II Coríntios 5:17) Deus pode extrair um grande bem de qualquer vida dedicada a Ele.
Segundo, se Deus retirasse todo o mal do nosso mundo (mas deixasse o homem no planeta) isso significaria que a essência e "ser humano" seria destruída. O homem se tornaria um robô.
Deixe que eu explique o que quero dizer com isso. Se Deus eliminasse o mal, programando o homem para realizar apenas atos bons, o homem perderia a sua marca de distinção – a capacidade de fazer escolhas. Não mais seria um agente moral livre. Seria reduzido à condição de robô.
Vamos nos aprofundar mais. Os robôs não amam. Deus criou o homem com a capacidade de amar. O amor se baseia no direito de se optar por amar. Não podemos forçar os outros a nos amar. Podemos fazer com que nos sirvam ou nos obedeçam. Mas o verdadeiro amor se baseia na liberdade que o homem tem de aceitá-lo na sua vida. O homem poderia ser programado para fazer o bem, mas o elemento do amor estaria perdido. Se o homem fosse forçado a fazer o bem, o sofrimento seria eliminado, mas o amor também. Como seria viver num mundo sem amor?
Desse modo, podemos ver que o uso do poder de Deus para eliminar o mal não provaria ser uma solução positiva para o problema do sofrimento. Os resultados dessa ação criariam maiores dilemas. Ou o homem seria reduzido à condição de robô num mundo sem amor, ou ele seria aniquilado.
Na verdade é o amor de Deus pelo homem que O impede de retirar o mal do mundo por meio de uma exibição do Seu poder. O plano de Deus é retirar o mal por meio de uma exibição do Seu amor – o amor que Ele demonstrou no Calvário.
É no amor de Deus que encontramos a chave para a solução final para o problema do sofrimento. A resposta para a antiquíssima questão do sofrimento reside numa compreensão e apreciação do caráter de Deus.
Foi isso o que Jó descobriu. No auge de seus padecimentos e questionamentos, Deus Se revelou a Jó sob vários aspectos de Seu caráter. Jó recebeu uma demonstração espantosa da sabedoria de Deus. Através de sua experiência, ele passou a perceber que Deus merecia confiança com base no Seu caráter. Embora Jó não pudesse compreender o propósito final de todos os atos de Deus, podia confiar em Deus. Porque Deus conhece e compreende todas as coisas. Pode-se confiar nEle para fazer o que é o melhor.
Sempre haverá segredos e motivos de Deus além do alcance do homem. Deus é infinito; o homem é finito. Nosso conhecimento e compreensão são limitados. Porém, baseados no que conhecemos do caráter de Deus, demonstrado supremamente na Cruz, podemos ter confiança que Deus está fazendo o que é melhor para nossas vidas.
Corrie ten Boom descobriu uma boa maneira de explicar a perspectiva de que precisamos ao enfrentar os problemas da vida que nos intrigam: "Imagine um bordado colocado entre você e Deus, com o lado direito voltado para Deus. O homem enxerga as pontas soltas e gastas do avesso, mas Deus enxerga o desenho pranto."

Quem Está no Controle?

Deus está no controle. Não importa o que surja em nossas vidas, não importa o quanto possa ser difícil ou perigoso, podemos dizer confiantes: "Sabemos que, aos que amam a Deus, todas as coisas cooperam para o bem, a saber, aos que são chamados segundo o Seu propósito." (Romanos 8:28)












O NASCIMENTO DE UM MUNDO SOFREDOR

Deus achou melhor extrair o bem do mal do que deixar que nenhum mal existisse. SANTO AGOSTINHO

DESDE tempos imemoriais, a humanidade tem sido atormentada por uma pergunta insistente: "Como pode um Deus de amor permitir a existência do sofrimento?" Quando vemos os problemas, tragédias e tribulações do mundo, até mesmo os crentes sinceros, que enfrentam com honestidade suas dúvidas e temores, são forçados a perguntar: "Por que, Deus?" Em meio às lágrimas ou à raiva, escutamos perguntas como: "Por que, Deus, permitiste que esta tragédia ocorresse?" Ou: "Por que, Deus, permitis que este sofrimento continue?"
Jack Mowday era piloto de helicóptero militar. A mulher dele, Lois, e duas amigas tiveram a idéia especial de dar aos maridos e noivo um presente de Natal de surpresa: um passeio num balão de ar quente. Sabiam que os homens sempre tiveram vontade de andar na barquinha de um balão de ar quente. Então, providenciaram tudo para o dia 15 de dezembro, na Flórida.
O dia amanheceu claro e bonito. Foi um momento emocionante quando os três homens entraram na barquinha. Depois que o balão subiu, Lois e as amigas foram seguindo-o em dois carros. A barquinha passava perto dos telhados das casas e os maridos, empolgadíssimos, cantavam canções de Natal para os moradores lá embaixo. Na sua empolgação, deixaram de notar o cabo de alta tensão em que a barquinha e o balão se enredaram. O que fora um momento de alegria e triunfo transformou-se em tragédia, quando as mulheres viram os seus entes queridos pularem para a morte diante de seu olhos. Como é que uma jovem esposa e a família enfrentam uma crise dessas?
Falando numa de nossas cruzadas, Lois testemunhou que sabia que "a verdade consumidora na cabeça de Jack, enquanto pendia da barquinha em chamas, no dia 15 de dezembro, era que, quando se soltasse, se não sobrevivesse à queda, estaria no céu com o Senhor". Prosseguiu ela:
– Eu sei hoje que, se morresse ainda esta noite, também eu estaria no céu com o Senhor e com Jack. Esta certeza total nem sempre existiu para Jack e para mim. Tive a sorte de ter transferido a minha confiança da minha pessoa para Jesus Cristo quando tinha treze anos. E embora eu não tivesse crescido muito na minha vida cristã, por algum tempo, tinha a certeza de que, se algo me acontecesse, eu estaria no céu.
"Desde a morte de Jack, a minha vida mudou dramaticamente. Mas eu tenho que dizer que a maior mudança foi uma paz realmente sobrenatural e uma ausência de ansiedade. Ainda me preocupo e tenho momentos de apreensão, mas nada parecido com antigamente. E creio que tenho esta paz porque pude ver diretamente que o Senhor realmente vai ao nosso encontro, nas nossas horas difíceis. Embora a dor da perda de Jack seja muito real, a presença reconfortante do Senhor também é muito real.
Não me sinto em condições de responder a perguntas como as que formulei no começo deste capítulo. Só o que posso fazer é examinar com você alguns dos princípios bíblicos básicos, que se referem à origem do mal, a raiz e causa de todos os padecimentos desde que o homem veio ao mundo. O que sei é que a Bíblia diz, sem nenhuma ressalva, a respeito da criação original de Deus: "Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom." (Gênesis 1:31) O processo da criação, inclusive o homem, fora concluído e Deus olhara para tudo o que tinha criado, declarando: "bom". Aquilo que é totalmente "bom" exclui o sofrimento, a dor, o mal e a tragédia.
No entanto, dali a alguns versículos, no capitulo 3 do Gênesis, Deus diz ao homem e à mulher que criara: "Multiplicarei grandemente o teu sofrer e a tua conceição; em dor darás à luz os filhos (...). Maldita é a terra por tua causa; em fadiga tirarás dela o sustento todos os dias da tua vida. Ela te produzirá também espinhos e abrolhos, e comerás as ervas do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra, pois dela foste tomado: porquanto tu és pó, e em pó te há de tornar." (Gênesis 3:16-19)
Nestes versículos, jaz a "semente" do sofrimento, a previsão da dor e da morte, as quais vêm atormentando o homem desde então. Nestas palavras, descobrimos a origem do mal e a causa dos padecimentos do homem. O que aconteceu entre Gênesis 1 e 3?

A Queda do Homem do Plano de Deus

O plano original de Deus para o homem era o Paraíso uma existência tão idílica que não dá para botar em palavras a sua beleza e riqueza. Não apenas estava o homem num meio ambiente perfeito, cercado de beleza natural vinda diretamente da mão do Criador, mas tinha ele o privilégio de um passeio sem interrupção com Deus, pois o propósito de Deus ao criar o homem foi ter alguém com quem pudesse conversar e fazer camaradagem. Na verdade, tornou-se prática diária de Deus caminhar com o homem no "jardim", no frescor das tardes. (Gên. 3:8)
Porém, o homem não estava satisfeito com esse arranjo. Em vez disso, desejava ser como Deus, ter o poder e o conhecimento de Deus. Quando Satanás, sob a forma da serpente, acercou-se dele e perguntou, "É verdade que Deus falou que não podes comer de qualquer árvore do jardim?" (Gênesis 3:1), o homem sucumbiu à sua tentação de desobedecer a Deus – e comeu o fruto proibido. É a este acontecimento que chamamos a "queda" do homem, o pecado original. É a desobediência direta do homem às ordens de Deus.
Foi esta desobediência direta que resultou na sentença que Deus impôs à raça humana, que citamos de Gênesis 3. Foi isso o que aconteceu entre Gênesis 1 e 3 – o começo de toda a dor e sofrimento que conhecemos no nosso mundo. Tanto os cristãos quanto os não-cristãos herdaram essa imperfeição de nossos ancestrais comuns, Adão e Eva: Chamamos a essa imperfeição de "pecado" – e o pecado jaz no centro das caóticas condições mundiais que conhecemos e que existem ao longo dos séculos.
Deixe-me tentar mostrar como todo o processo está ocorrendo hoje em dia.

Revolução no Paraíso

A primeira "revolução mundial" bem-sucedida foi iniciada por Satanás, no Jardim do Éden. Deus criara um ambiente perfeito, um homem perfeito e uma mulher perfeita. Contudo, deu-lhes a liberdade de escolha, o livre-arbítrio. Tinha que testá-los. Advertiu-os de que, se falhassem no teste, sofreriam e morreriam e que, se passassem, Deus, o homem e a mulher construiriam um mundo maravilhoso, a ser desfrutado por gerações e gerações.
Satanás estava no Paraíso sob a forma de serpente. Podemos apenas especular como tudo aconteceu. Várias Escrituras aludem a quem é Satanás, de onde ele veio, e por que queria usurpar a autoridade de Deus e assumir o controle deste planeta. Muito sutilmente, Satanás contradisse a Deus e falou a Eva:
– É claro que não morrerão, se desobedecerem a Deus e comerem o fruto proibido.
Além disso, ele assegurou-lhes, se comessem o fruto, seriam "como Deus, conhecendo o bem e o mal". Desse modo, Satanás colocou-se acima de Deus e conseguiu fazer com que a humanidade duvidasse da Palavra de Deus. Começando no meio da felicidade paradisíaca, trazendo a aflição e o caos atrás de si, ele vem agindo desde então, de todas as maneiras possíveis, para frustrar, atrapalhar e derrotar o trabalho de Deus.
A Bíblia presume que Adão e Eva já foram criados adultos. Logo eles tiveram dois filhos. Caim, o mais velho, ficou com inveja de Abel, o mais moço, e o matou. Esta foi a primeira conseqüência do pecado de Adão e Eva. Transmitindo-o a seus filhos, o pecado começou a ser passado de geração a geração. Desde então, sempre houve, em cada coração, a possibilidade dos piores pecados.
Aparentemente, Caim tornou-se o primeiro seguidor de Satanás depois de Adão e Eva – e seu irmão Abel a primeira vítima. Satanás chacinou, saqueou e abriu o seu caminho brutalmente ao longo dos séculos, manifestando-se em todas as ideologias, seitas e cultos falsos.

As Crises da História

A segunda grande crise na história humana aconteceu diversas gerações mais tarde, quando Deus olhou para a raça humana e viu que era totalmente corrupta e depravada. Resolveu destrui-la e começar tudo de novo. Todavia, havia um homem piedoso a quem Ele não queria destruir: Noé. Deus avisou a Noé do castigo que se avizinhava para o mundo inteiro e disse-lhe que ia salvá-lo e a sua família. Deus falou que ia destruir o mundo por meio de um dilúvio e mandou que Noé construísse uma "arca" ou navio. A Escritura diz que "Noé fez tudo o que Deus lhe ordenou". Trabalhou na arca durante anos. Finalmente, quando ela ficou Pronta, Deus mandou que ele, sua família e os animais entrassem na arca. Quando veio o dilúvio, todos foram salvos e o resto da raça humana foi destruído.
Outra grande crise chegou algumas gerações mais tarde. Naquela época, a terra toda falava uma só língua e um só idioma. (Gên. 11:1) O povo novamente se revoltava contra Deus. Eles resolveram construir uma torre para alcançar o céu. Desafiavam as leis e provisões de Deus. Provavelmente, a torre era um templo pagão destinado a se sobrepor a todas as coisas no mundo. Era aquela, na verdade, a "religião" do povo. Exaltava o homem ao invés de Deus.
Novamente, o castigo caiu sobre a raça humana. As pessoas não mais podiam entender a língua umas das outras, e diz a Bíblia que o Senhor as dispersou por toda a terra. O nome daquele local era Babel. A palavra babel quer dizer "confundir". Desse modo, até mesmo a confusão de idiomas no mundo hoje em dia e a dispersão dos povos pelos vários continentes foi uma punição de Deus para a rebeldia do homem.
Vemos como a semente do pecado é transmitida de uma geração a outra. Hoje em dia, o mundo se dirige para outra grande crise que está sendo chamada, até mesmo pelo mundo secular, de "Armagedom". '

O Logro do Demônio

O demônio é muito apropriadamente chamado de "pai das mentiras". Desde tempos imemoriais, ele vem logrando os homens e mulheres ingênuos de todas as eras.
Um velho clérigo escocês disse que o demônio tem duas mentiras, usando-as em dois estágios diferentes. Antes de cedermos ás suas tentações, ele nos diz que um pecadilho só não tem importância, é uma ninharia e nós poderemos facilmente nos recuperar. A segunda mentira é a seguinte: depois que pecamos, ele nos diz que não tem mais jeito, que já nos passamos para o seu lado e que não há como se reerguer. As duas são mentiras totais e terríveis.
Todos nós caímos em tentação e Deus não considera isso uma ninharia. A condenação paira acima de toda a raça humana por causa de nossa queda, que também é definida como rebelião ou desobediência. Diz a Escritura: "Assim como por um só homem entrou o pecado, e pelo pecado a morte, assim também passou a todos os homens, visto que todos pecaram." (Romanos 5:12) Contudo, porque Jesus Cristo veio e morreu na Cruz e ressuscitou, não estamos numa posição sem esperança. Sempre haverá a possibilidade de nos reconciliarmos com Deus e voltarmos a ter um bom relacionamento com Ele.
Não precisamos crer nas mentiras do demônio. Satanás é o mestre da linguagem de duplo sentido e dos sofismas. Ele chama o mal de bem e continua a confundir os homens com suas falsidades sabiamente disfarçadas.
O homem sempre teve a facilidade de confundir o mal com o bem. Este foi o problema de Adão e Eva, e é o nosso problema hoje em dia. Se não se desse ao mal uma aparência atraente, não haveria a tentação. É na semelhança entre o bem e o mal, o certo e o errado que está o perigo.
A Bíblia diz, nas palavras do profeta Isaías: "Ai dos que ao mal chamam de bem, e ao bem mal; os quais põem trevas por luz e luz por trevas, e mudam o amargo em doce e o doce em amargo." (Isaías 5:20) Hoje em dia, vemos a maldade social, o terrorismo e uma tremenda imoralidade por todo o mundo. A retidão social moderna muitas vezes difere da retidão da Bíblia. Alguém já disse: "Um ato errado é certo se a maioria do povo não o condena." Por este princípio, podemos ver os nossos padrões se alterando a cada ano, seguindo o gosto popular! Essa nova permissividade é aceita por homens e mulheres inteligentes, muitos dos quais no seio das igrejas.
A sociedade antigamente condenava o divórcio, e as leis contra a lascívia e a obscenidade eram cumpridas à risca. Mas agora o divórcio é aceito, até mesmo entre os líderes eclesiásticos. A fornicação, a obscenidade e a lascívia são glorificadas em grande parte de nossa literatura e filmes. A perversão é considerada uma anormalidade biológica, e não um pecado.
Tais coisas são contrárias aos ensinamentos da Palavra de Deus. E Deus não mudou. Seus padrões não foram rebaixados. Deus ainda chama a imoralidade de pecado e a Bíblia diz que Deus vai julgá-la.

Não Tem Problema, Desde que...?

Lembro-me de que, quando eu era criança numa fazenda da Carolina do Norte, a palavra de um homem valia por um contrato. Duvido que meu pai alguma vez tenha assinado algum papel nos muitos negócios que fez, envolvendo vacas, cavalos, mulas e maquinaria. Um aperto de mão lhe bastava. Atualmente, é preciso contratar advogados para formular os contratos mais intrincados e complexos, e até mesmo eles não impedem completamente as fraudes, trapaças e mentiras que prevalecem hoje em dia.
Até alguns anos atrás, a honestidade era a marca do bom caráter de um homem. Mas foi trocada pela filosofia do "não tem problema, desde que você não seja apanhado". Somente nos tribunais exige-se que digamos a verdade, toda a verdade e nada além da verdade.
O mal se esgueira na nossa vida, apresentando uma aparência inofensiva. O que é mais belo do que os anúncios coloridos de página inteira do "homem distinto", impecavelmente vestido, sorvendo um copo de uísque com amigos no calor de um aposento bem decorado? Esses anúncios não mencionam os novos alcoólatras que estão surgindo a cada dia, nem o problema crescente do alcoolismo no âmago da nossa civilização. Claro que não seria de bom gosto mostrar uma foto do "homem distinto" caído na sarjeta, dizendo que ele começou a beber na Quinta Avenida. Não seria de bom gosto, mas seria honesto. "Ai daqueles que chamam ao mal de bem?"
O jovem casal, embora tendo sido avisado dos perigos psicológicos, espirituais e até físicos do sexo pré-conjugal, senta-se dentro de um carro estacionado num cinema drive-in, ou aluga um quarto de motel por algumas horas, e, ao flertar com a tragédia, chama a sua experiência de "divina". Aquilo que é divino no contexto do verdadeiro amor, o elo conjugal, pode-se tornar um inferno de remorso para aqueles que se entregam a ele fora do casamento. Às vezes, nossos atos nos levam a situações onde o sofrimento é inevitável. "Ai daqueles que chamam ao mal de bem!"
Quando se trata da justiça social e da reforma política, parece que quase todos os grupos do mundo estão fazendo coro e clamando por "liberdade". A liberação é a nova palavra de ordem. Viajei por grande parte do mundo e jamais encontrei um país em que houvesse justiça social plena. O que as pessoas não percebem, no entanto, é que só teremos justiça social plena no nosso mundo quando Cristo retornar. Foi aí que Marx errou. Ele achava que o problema era basicamente econômico, mas só estava parcialmente certo. O problema básico está na própria natureza humana: a cobiça, a inveja, a luxúria e orgulho que estão dentro do coração do homem. (Marcos 7:20-23) Muitas pessoas hoje em dia estão se iludindo neste ponto.
Um bispo de um país pequeno engajou-se apaixonadamente numa revolução social e política. Não havia dúvidas de que tal reforma se fazia necessária. Todavia, ele estava cego quanto a seus aliados. Quando a revolução finalmente aconteceu, ele descobriu que seu povo saltara da frigideira para o fogo. Um ano após a revolução, ele falou para um grande auditório, as lágrimas escorrendo pelo rosto:
– Meu Deus, o que fiz? iludi meu povo.
"Ai daqueles que chamam ao mal de bem!"

Queremos o Sucesso Agora

Como confundimos tanto nossos valores? Como caímos nesta armadilha de Satanás? Para começo de conversa, temos pouca visão. Buscamos atalhos para a felicidade. Nossa ânsia de prazer imediato faz com que pensemos no mal como bem.
Num dos livros de John Steinbeck, um de seus personagens diz que, "se isso tiver êxito, eles não serão considerados desonestos, mas espertos". No nosso desejo de fazer sucesso rapidamente, é fácil confundir os valores e chamar ao mal de bem e ao bem de mal.
Modificamos o nosso código moral, adaptando-o ao nosso comportamento, quando, na verdade, deveríamos modificar o nosso comportamento para harmonizá-lo com as leis de Deus. Nada hoje em dia é fixo, não pisamos no chão firme. Milhões de jovens ficam se deslocando de um lado para o outro. São como mísseis desgovernados, cheios de energia e ambição, mas sem direção. Os mais velhos os desencaminharam. As pressões do grupo os desencaminham. A ênfase indevida à violência e ao sexo, e o desprestígio do lar nos filmes e na TV os desencaminham. Às vezes, o sistema educacional os desencaminha intelectualmente. Em milhares de igrejas são desencaminhados teologicamente. Assim, espiritual e moralmente, eles estão à deriva, sem bússola ou guia.
E, no entanto, nas minhas viagens, vejo que a maioria dos jovens realmente quer que ditemos a lei moral. Podem não aceitá-la ou crer nela, mas querem escutá-la, claramente e sem rodeios."
Toleramos com a maior facilidade as promessas falsas dos políticos, as farsas da publicidade, a "cola" nos exames universitários, os exageros nas conversas, e as desonestidades do dia-a-dia do Sr. e Sra. Homem Comum. Não mais nos sentimos chocados com a imoralidade ou a injustiça social que nos cerca. Até mesmo os americanos mais pobres são mais ricos do que a média em muitos países. No entanto, em comparação com outros setores da sociedade, existe a pobreza nos Estados Unidos. Fraude e corrupção estão sendo descobertas em muitos dos nossos programas sociais para as cidades – os problemas urbanos aumentam de hora em hora. O preconceito racial ainda existe, como existia muito antes de Martin Luther King Jr.
Eu estava andando de carro com um homem muito rico. Sentados no banco de trás do seu Cadillac com motorista, nos dirigíamos para a sua casa em Long Island. Passamos pelos limites do Harlem. Contei-lhe que, alguns dias antes, eu fizera uma visita às áreas miseráveis do Harlem e do East Harlem. Ele deu de ombros e disse:
– Isso é uma coisa em que não pensamos.
Se ele fosse cristão, seria seu dever pensar nisso e ver o que poderia fazer a respeito. Num verdadeiro sentido, somos os guardiães de nossos irmãos. Como cristãos, devemos ser Bons Samaritanos. Mas o problema básico ainda é o coração humano.
Quem afirmaria que as pessoas mais ricas, que moram nas zonas elegantes afastadas da cidade, são basicamente mais felizes do que aquelas que moram no centro? A felicidade não vem, do conforto. Vem da paz interna que encontramos no nosso relacionamento com Deus.

O Egocentrismo do Homem

Quando uma coisa nos dá lucro ou prazer, nossa tendência é considerá-la maravilhosa mesmo sabendo que, em alguns casos, ela vai de encontro às leis de Deus. "Mas é o que eu sempre quis" ou "eu gosto, mesmo sabendo que é errado" – são os álibis que fabricamos para justificar o mal e chamá-lo de bem.
Podemos ilustrar o contraste entre o egocentrismo e o altruísmo com as vidas de Pierre e Marie Curie. Depois de descobrir os poderes curativos do rádio, eles chegaram a considerar a idéia de mantê-lo em segredo, patenteá-lo e enriquecer com a descoberta. Marie disse a Pierre as palavras que os levaram á sua decisão:
– Os físicos sempre publicam as suas pesquisas por completo. Se nossa descoberta tem um futuro comercial, então isso é um acidente do qual não podemos tirar lucro. E o rádio vai ser útil no tratamento de moléstias... Parece-me impossível tirar vantagem disso.1
Na noite em que morreu, o papa João Paulo I estava lendo o clássico de Thomas Kempis, Imitação de Cristo. O autor diz: "Se vais daqui para ali buscando a tua própria vontade, nunca serás feliz ou despreocupado."
Que diferença faria se pudéssemos olhar para fora, seguindo as palavras de Jesus: "Buscai primeiramente o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas." (Mateus 6:33) Atualmente, as pessoas encaram o cristianismo com a mesma praticidade com que levam as situações do seu cotidiano, perguntando-se o que podem ganhar com ele. No nosso egoísmo, pensamos em Deus como pensamos em todas as outras pessoas. O que Ele pode contribuir para nós, pessoalmente? Em outras palavras, queremos que Deus seja o nosso servo. Foi esse espírito egocêntrico que abriu a porta do Paraíso para Satanás, fazendo com que ele tenha acesso aos redutos de Deus até hoje.

A Arte da Racionalização

Jogamos a culpa nos outros, arranjamos desculpas para nossos atos e achamos fácil chamar o mal de bem. Desde Adão é assim, como podemos confirmar nessa passagem do Gênesis: ''A mulher que me deste por companheira deu-me da árvore, e eu comi." (Gênesis 3:12) Hoje, há um congressista famoso que se satisfaz com o fato de não fazer "nada que mil outros homens não tenham feito". Nós sempre estamos arrumando desculpas para nós mesmos.
Nosso Senhor impacientava-se com a racionalização. Em Lucas 18, Ele ironizou o fariseu hipócrita que dizia: "Ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, que são ladrões, injustos, adúlteros, nem ainda como este publicano." (v. 11) O fariseu se enganava, colocando-se num plano superior ao de outros homens. Porém, o cobrador de impostos, a quem o fariseu olhava com desdém, enxergou-se como era e disse: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador." (v.13) Jesus falou: "Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado." (Lucas 18:14)
Como podemos ter a noção certa de nossos valores? Como pode o nosso juízo deformado ser endireitado? Há quem ache que a educação é a resposta a essas perguntas. Provam às pessoas que o crime não compensa, que o sexo ilícito é psicologicamente prejudicial, que a bebida excessiva faz mal ao corpo e ao cérebro. Programas de reforma social e pessoal estão sendo continuamente reformulados. Serão a resposta ao mal?
Outros dizem que a ciência é a resposta. A ciência pode fazer uma bomba limpa ou um cigarro inofensivo. Pode enfrentar os problemas das drogas. A ciência, dizem, pode sondar o cérebro do homem e alterar os seus desejos.
Porém, a Bíblia, que suportou os estragos do tempo, nos conta uma história diferente. Diz que temos uma natureza pecaminosa, baixa, que luta contra nós, que deseja destruir-nos. Paulo falou: "Portanto, querendo eu fazer o bem, acho a lei do que está comigo o mal." (Romanos 7:21) O mal está presente para se disfarçar, astutamente, de bem. O mal está presente para nos controlar e enganar. Não estamos em paz conosco ou com Deus. É para isso que serve a Cruz de Cristo: para nos reconciliar com Deus e dar-nos uma nova natureza.
O homem sem Deus é uma contradição, um paradoxo, uma monstruosidade. Em si mesmo, é totalmente inadequado. Paulo achou a cura para a sua natureza violenta, destrutiva, não na universidade ou na cultura da Grécia, mas na estrada para Damasco, na Síria, ao conhecer Jesus Cristo. Mais tarde, escreveu: "Pois a lei do Espírito da vida te livrou em Cristo Jesus da lei do pecado e da morte." (Romanos 8:2)
Antes da sua conversão, Paulo achava que Cristo era o mal maior, mas depois que O encontrou, amou aquilo que odiara tão fervorosamente. Finalmente, pôde enxergar o mal como mal e o bem como bem. "Logo lhe caíram dos olhos umas escamas, e recuperou a vista." (Atos 9:18) Os seus valores foram endireitados, porque sua natureza fora modificada pela graça redentora de Deus. Apesar de sua conversão, contudo, Paulo não se libertou do sofrimento. O cristianismo não é um seguro contra as moléstias e dificuldades da vida.

Por que o Sofrimento, Deus?

Por que sofremos? Uma coisa está clara. A Bíblia insiste que há sofrimento no mundo porque há pecado no mundo. O âmago do problema está no próprio homem, que, desde Adão e Eva, alienou-se de Deus. Se o homem não tivesse desobedecido a Deu, o sofrimento não existiria no mundo.
Então mais uma coisa está clara. O sofrimento não fazia parte do plano original de Deus para o homem. Pela sua desobediência proposital à Palavra e ao mandamento de Deus, o homem trouxe sofrimentos para si mesmo. Ele está colhendo o que plantou ao longo dos séculos.
Porém Deus consegue extrair o bem do mal, e é este o valor positivo sofrimento.
No começo deste capítulo, falamos da aparente tragédia na vida de Lois Mowday. Ao escutarmos a sua história, não temos dúvida de que Deus foi ao seu encontro na hora em que ela mais precisava. Como resultado, ela passou a compreender o significado e o propósito do sofrimento em sua vida.
No restante deste livro, tentarei partilhar algumas dessas lições com você.















O SALVADOR QUE SOFRE

Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. ISAÍAS 53:7

NINGUÉM NA HISTÓRIA sofreu mais do que Jesus Cristo. A culminância do Seu sofrimento foi, na Cruz do Calvário, o símbolo supremo do sofrimento, tanto físico quanto espiritual.

O Ponto de Vista de Deus

Nós, os humanos, enxergamos a vida do nosso ponto pessoal de tempo e espaço, mas Deus nos enxerga do Seu trono celestial à luz da eternidade. Vemo-nos como auto-suficientes, vaidosos e independentes; Deus nos vê como dependentes, egocêntricos e cheios de auto-ilusão. Nossa sabedoria mundana tornou-nos calejados e duros. Nossa sabedoria natural, segundo os ensinamentos da Escritura, não provém de Deus, mas é terrena, sensual e diabólica. (Tiago 3:15)
Existe uma diferença entre a sabedoria e o conhecimento. O temor a Deus é o começo da sabedoria. Toda a verdade vem de Deus, quer seja científica, psicológica, filosófica ou religiosa. A verdade na Bíblia nos aponta a Cruz de Jesus Cristo. É ali que encontramos o perdão de nossos pecados e a solução para os dilemas e problemas com que nos defrontamos, tanto em conjunto quanto individualmente.
A sabedoria deste mundo, encorajada por Satanás, faz pouco da Cruz. Disse o apóstolo Paulo: "Pois a palavra da Cruz é uma estultice para os que perecem, mas para nós que somos salvos é o poder de Deus." (Coríntios 1:18) É impossível para o "homem natural" (aquele que não conhece Jesus Cristo como seu Salvador pessoal) compreender como Deus, na Sua graça e misericórdia, pode perdoar os pecadores e transformar vidas. Também é impossível para o homem natural compreender como essas vidas modificadas podem afetar a sociedade. Os que têm a sabedoria mundana não compreendem os desígnios de Deus. A Bíblia ensina que a Cruz é uma "ofensa" ou entrave para o descrente. (l Coríntios 1:23)
Quando estou na televisão ou numa reunião de qualquer tipo; posso pregar sobre praticamente qualquer assunto e a maioria das pessoas o aceitará. Posso falar da injustiça social e do sofrimento humano e levantar fundos para os pobres, os refugiados ou pessoas aflitas. Mas proclamar Cristo crucificado é diferente. Embora a Cruz de Cristo seja o poder de Deus para a salvação, também é uma ofensa para o mundo – e sempre será. Aqui existe uma tensão – embora a Cruz afaste, também atrai. Ela possui uma qualidade magnética.
Faz algum tempo estive fazendo um trabalho missionário na Universidade de Cambridge. Preguei sobre a Cruz e experimentei, como sempre acontece quando trato deste assunto, grande liberdade e ousadia de espírito. Alguns dos lideres estudantis vieram me procurar e pedir para eu repetir o sermão dali a duas noites.
Orei para tomar a minha decisão e resolvi que faria um outro sermão, que incluía muita pregação sobre o sangue de Cristo. Novamente, senti uma tremenda liberdade de espírito e, nas duas ocasiões, os resultados em vidas dedicadas, ao final do culto, foram dos maiores de toda a missão. O Espírito Santo toma a mensagem da Cruz e faz com que atinja o coração até das platéias mais sofisticadas e acadêmicas.
O apóstolo Paulo falou: "Pois a estultice de Deus é mais sábia que a sabedoria do homem, e a fraqueza de Deus é mais forte que a fortaleza do homem." (l Coríntios 1:25)

O Plano de Deus

Deus diz que não há esperança para o mundo à parte da cruz. Através dos séculos o mundo vem rejeitando o plano de redenção de Deus. Agora, por causa de rejeição e da rebelião do homem, ele permanece no limiar do que o ex-primeiro-ministro Macmillan chamou de "a extinção da civilização por si mesma" (ou Armagedom).
Confuso e hesitante, o homem acha que pode salvar-se por meio de sua própria sabedoria – que de alguma maneira será capaz de escapar desta trilha que o precipita para a destruição. Deus avisa que esta pervertida sabedoria do homem o levará a julgamento.

Glorificando na Cruz

A importância da Cruz tem sido captada por alguns de nossos grandes autores de hinos. Numa colina sobranceira à baia de Macau, na China, colonos portugueses certa vez construíram uma imponente catedral. Mas um tufão provou ser mais forte que o trabalho da mão do homem. Alguns séculos depois, da catedral só restavam as ruínas, exceto a muralha frontal. Bem no alto desta muralha, desafiando os elementos através dos anos, permanece uma grande cruz de bronze.
Quando Sir John Bowring viu isto, em 1825, foi levado a escrever estas palavras agora tão familiares para muitos:
Na cruz de Cristo eu glorifico,
Muito acima dos destroços do tempo
Toda a luz da sagrada história
Reunida em torno de sua cabeça sublime
Enquanto a Páscoa se aproxima, a cada ano, consideramos mais uma vez a importância da morte de Cristo na cruz. Coros e congregações através do mundo cantam:
Quando observo a maravilhosa cruz,
Na qual o Príncipe da Glória morreu,
Meu ganho mais rico vira perda,
E, pobre, eu desprezo todo o meu orgulho.
Isaac Watts
Quando Jesus ergueu Sua voz e gritou "Está acabado!", Ele não quis dizer que Sua vida estava refluindo ou que o plano de Deus tivesse sido derrotado. Embora a morte estivesse próxima, Ele notou que o obstáculo final fora superado e que o último inimigo tinha sido destruído. Plena e triunfantemente, Ele completara a tarefa da redenção do homem.
Através de Seu sofrimento e morte na cruz Ele havia removido a última barreira entre Deus e o homem. Com as palavras vitoriosas "Está acabado!" (João 19:30), Ele anunciou que a estrada que conduzia o homem a Deus estava terminada e aberta ao tráfego.
Pouco após Jesus ter proferido aquelas palavras, Sua cabeça pendeu sobre o peito. Um soldado romano se aproximou, enfiou uma lança em Seu flanco e saíram sangue e água. Os médicos dizem que uma mistura de sangue e água indica que Ele morreu de coração partido. Cristo sofreu no mais alto grau. Ele derramou até a última gota de Seu sangue para nos redimir. Ele não poupou a Si mesmo. Seu sofrimento na Cruz foi completo.
Aqui estava o Filho de Deus morrendo numa cruz que fora feita para o mais desprezível dos pecadores. O Seu foi o ato de substituição elevado ao mais alto grau. Jesus Cristo foi o Cordeiro de Deus que veio livrar-nos do pecado do mundo através de Seu voluntário sofrimento e morte.
Para muitos, a menção do sangue de Cristo é desagradável. O orgulho deles fica ferido ao pensar que um preço desses teve que ser pago por sua maldade. Uma profunda reviravolta acontece dentro deles, quando mencionamos o sangue precioso de Cristo e o Seu supremo sacrifício na cruz. Para o homem natural, como já ressaltamos, o sofrimento e a morte de Jesus foram "uma tolice".
A mensagem do sangue, da cruz e o trabalho da redenção ainda são "uma tolice" para as pessoas que querem crer que o homem pode se salvar por sua própria bondade.

A Dicotomia do Homem e Deus

O homem moderno está em conflito com a verdade de Deus. Deus fala de uma queda e de uma condenação, e a Sua palavra-chave é "graça". O homem moderno fala da tácita bondade da alma, de suas aspirações e boa vontade natural.
A palavra-chave do homem é "obras". Deus fala dos abismos em que o homem caiu e da depravação do homem natural. O homem se vangloria de sua nobreza, seus ideais e seu progresso.
Deus convoca os homens a crer em Cristo ou se perder. O homem diz que basta tentar ser como Cristo. O objetivo do homem é a imitação, não a redenção.
Deus diz que Cristo é o Salvador do mundo. O homem diz que Cristo é apenas um grande exemplo.
Lentamente nos afastamos da verdade bíblica: "Sem derramamento de sangue não há remissão." (Hebreus 9:22) O homem moderno quer fazer da cruz um objeto sentimental, um berloque para ser usado ao redor do pescoço, um ornamento numa torre de igreja ou um emblema gravado a ouro nas nossas Bíblias. Desenvolveu-se um certo interesse romântico pela história da cruz. Porém, são o sofrimento e o sacrifício de Cristo no Calvário que simbolizam a total incapacidade do homem para salvar a si mesmo. A cruz como o símbolo supremo do sofrimento revela dois fatos básicos, que não podem ser negados: a profundidade da depravação do homem e a imensidão do amor de Deus.
Não posso entender a eficácia e o poder do sangue de Cristo. Existe aí um elemento de mistério que não pode ser compreendido com nossas mentes naturais. Porém, eu sei que todos aqueles que testam o seu poder pela fé descobrem que ele pode mudar maravilhosamente a vida deles, erguê-los a um plano mais elevado de vida e trazer a satisfação e a realização que vinham buscando.
O apóstolo Pedro disse que os cristãos são "eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e para a aspersão do sangue de Jesus Cristo". (l Pedro 1:2) Pedro encara as provações da fé como essencialmente produtivas na vida cristã. Para ilustrar este ponto, refere-se à prática comum de sujeitar o ouro a um calor tão intenso que a sua forma inicial é destruída. Ao remodelá-lo, contudo, as impurezas também pereceram nas chamas. Provações e dificuldades podem assaltar a vida de um crente, mas têm também a capacidade de remodelar o seu caráter e banir da sua vida as impurezas que podem prejudicar o crescimento e o serviço.
Um colega meu formou-se em química, enquanto eu me formei em antropologia. Nas suas aulas de química, ele aprendeu como os ácidos agem nas diferentes substâncias. Durante uma experiência, o professor deu à classe um pouco de ouro e mandou que o dissolvessem. Eles o deixaram a noite toda no ácido mais forte que tinham à mão. Ele não se dissolveu. Depois tentaram diversas combinações de ácido. Tudo em vão. Finalmente, disseram ao professor que achavam que o ouro não podia ser dissolvido. Ele sorriu.
– Eu sabia que vocês não podiam dissolver o ouro. Nenhum dos ácidos que vocês têm o afetará, mas experimentem isto aqui.
Com estas palavras, entregou-lhes um recipiente com um ácido especial. Eles derramaram um pouco do seu conteúdo no tubo que continha o pedaço de ouro. E este, que tinha resistido a todos os outros ácidos, desapareceu rapidamente na água-régia. O ouro finalmente encontrara o seu senhor.
No dia seguinte, na sala de aula, o professor perguntou:
– Sabem por que aquele ácido é chamado de "água-régia"?
– Sim – replicaram eles. – É porque ele é o senhor do ouro, uma substância que pode resistir a quase tudo que se derrame sobre ela.
A seguir, o mestre falou:
– Rapazes, deixem que eu lhes diga que existe uma outra substância tão impenetrável quanto o ouro. Não pode ser tocada ou modificada, embora uma centena de tentativas sejam feitas com esse fim. Esta substância é o coração pecador. Provações, aflições, riquezas, honrarias, prisão ou punição não o suavizarão nem o dominarão. A educação e a cultura não o dissolverão nem o purificarão. Só existe um elemento que tem poder sobre o pecado do coração humano: o sangue de Cristo, o Salvador da alma.
O sangue de Cristo é mencionado repetidas vezes no Novo Testamento. Pedro pregou sobre ele, Paulo escreveu a seu respeito e os redimidos nos céus cantam sobre ele. Num certo sentido, o Novo Testamento é o Livro do Sangue.
Em Levítico 17:11, diz a Escritura: "Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo dei sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma; porquanto é o sangue que faz expiação em virtude da vida." Deus ensinou a Seu povo, desde o começo, que podia ser alcançado somente pelo derramamento de sangue. O sangue é feio e repulsivo. No entanto, o sangue simboliza a privação da vida. Todos os animais sacrificados na época do Antigo Testamento eram apenas modelos e símbolos. Esperavam o dia em que o Cordeiro sacrificado no começo do mundo apareceria na pessoa de Jesus Cristo, que seria Ele mesmo morto na cruz e derramaria o Seu sangue para o perdão dos pecados.
Sabemos que cerca de 400 mil americanos por ano sofrem um ataque de coração. Na realidade, não é um ataque de coração, é um ataque sangüíneo. É o sangue que coagula, não conseguindo chegar ao coração, ao cérebro, aos pulmões ou aos rins. Ou talvez seja um coágulo de sangue que escapa. Tudo tem a ver com o sangue. Sem o fluxo adequado de sangue, nós morremos. Desse modo, o sangue representa a vida.
Deus falou que, como resultado de nossa rebelião e pecado, o homem deve morrer. Jesus Cristo tornou-se o nosso substituto. Sofreu a nossa morte na cruz. Cada vez que vamos à igreja e recebemos (ou vemos os outros receberem) o pão e o vinho na Comunhão, lembramo-nos do sangue que foi derramado na cruz. Quando Jesus deu o vinho a Seus discípulos na Última Ceia, Ele falou: "Este é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados." (Mateus 26:28) Aquele sangue é essencial e indispensável para a nossa salvação. Sem a marca dele sobre nós, somos indignos de vir à presença do Deus santo e justo.
Nas páginas seguintes, examinaremos quatro das muitas passagens das Escrituras que revelam o que o sangue de Cristo pode fazer por nós hoje: Romanos 5:9, Hebreus 9:14, 1 Pedro 1:18,19, Mateus 26:28.

Inocentados da Culpa do Pecado

Primeiro o sangue de Cristo nos justifica e salva. "Ora muito mais, sendo agora justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira." (Romanos 5:9) A palavra justificar vem do latim justificare, que significa considerar justo, livrar de culpa ou inocentar.
A palavra justificação quer dizer "como se você nunca tivesse pecado". Significa muito mais do que perdão. Você e eu não podemos justificar a quem nos fez mal. Podemos apenas perdoá-lo. Só Deus pode justificar.
Quando Cristo foi pregado na cruz, esta era para um criminoso notório chamado Barrabás. Há muito, ele temia este dia, pois era o dia da sua execução. Porém, quando as autoridades vieram à sua cela, trouxeram-lhe boas novas. Disseram:
– Barrabás, és um homem de sorte. Jesus de Nazaré vai morrer no teu lugar. Temos ordens para te libertar.
O criminoso foi libertado. Foi absolvido de todas as acusações. Foi salvo da morte que merecia.
Este criminoso era típico da raça humana: rebelde, ímpio e sem coração. Porém, foi salvo pela morte de Cristo. Isso teria sido maravilhoso, mesmo que Barrabás tivesse sido o único a ser salvo. Mas a Bíblia diz: "Como fomos agora justificados por seu sangue, seremos salvos da ira de Deus através dEle" (Romanos 5:9)
Um velho pregador da Inglaterra, que passara a juventude nas pradarias americanas, dedicava-se ao evangelismo nas ruas de pequenas cidades e aldeias. Atraía a sua platéia contando histórias do Velho Oeste, descrevendo como os índios salvavam as suas tendas dos incêndios nas pradarias tocando fogo na grama seca junto ao povoado deles.
– O fogo não pode ir, explicava ele, aonde o fogo já esteve. É por isso que os chamo para a cruz de Cristo. – Continuava a sua analogia explicando: – A hora do juízo já aconteceu e não pode voltar de novo!
Aquele que se coloca diante da Cruz é salvo para todo o sempre. Jamais poderá ser condenado, pois está onde o fogo já esteve. A pessoa salva está na zona de segurança de Deus, purificada pelo sangue de Cristo.

Consciências Purificadas e Vidas Modificadas

Segundo, o sangue de Cristo purifica as nossas consciências. "Quanto mais, então, o sangue de Cristo, que através do Espírito eterno se ofereceu imaculado a Deus, purificará as nossas consciências de atos que levam á morte, para que possamos servir ao Deus vivo?" (Hebreus 9:14)
Cada um de nós tem uma consciência que serve de juiz para cada um de nossos pensamentos, palavras e atos. Ela fala com uma voz silenciosa, acusando ou desculpando, condenando ou absolvendo. Pode ser sensível, crua, subdesenvolvida ou distorcida, dependendo do uso ou abuso que fizermos dela.
A consciência humana é conspurcada pelo pecado, diz a Bíblia. Depois de uma transgressão, todos nós sentimos culpa. Conhecemos bem o tormento do coração, a auto-recriminação que a consciência pode causar, o sofrimento interno que pode advir com o afastamento de Deus. O efeito do pecado pode ser apagado do corpo, mas deixa uma cicatriz permanente na consciência. Nossas consciências estão marcadas e conspurcadas pelo pecado.
A consciência do homem muitas vezes fica fora do alcance de um psiquiatra. Com todas as suas técnicas psicológicas, ele não pode sondar a sua depravação e profundidade. O homem é impotente para se apartar da culpa que corrói um coração oprimido pela culpa do pecado. Porém, onde o homem falhou, Deus teve êxito. A Bíblia diz que o sangue de Cristo tem o poder de purificar a consciência das obras mortas para servir ao Deus vivo. Isto não é mera teoria. A experiência cristã a comprova.
De uma consciência limpa nasce uma vida modificada. O alcoólatra consegue erguer a cabeça com nova honra, dignidade e autocontrole. A prostituta transforma-se numa esposa modesta e mãe amorosa. Quando um delinqüente juvenil encontra a paz de Cristo, entrega as suas energias a serviço de Deus. Se um empresário corrupto descobre a Palavra de Deus, suas transações passam a ser honestas e integras. O sangue de Cristo limpou as suas consciências das obras mortas.

Redimido Pelo Sangue

Terceiro, somos redimidos pelo sangue de Cristo. A Bíblia diz: "Sabendo vós que fostes resgatados das vossas práticas vãs, que por tradição recebestes de vossos pais, não por coisas corruptíveis, como o ouro ou a prata, mas pelo sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro sem defeito e imaculado." (l Pedro 1: 18,19) A palavra resgatar quer dizer "comprar de volta", recuperar mediante um preço. Não apenas o primeiro homem, mas todo o homem desde então, caiu na armadilha de pecado de Satanás. Foi preciso recuperar, salvar e trazer de volta o homem.
A palavra resgatado pode ser ilustrada pela posição de um escravo que foi capturado ou coagido a servir alguém que não era o seu amo legal, mas cujo amo real, decidido a recuperar o amor e os serviços do escravo, compra-o de volta mediante um alto preço. Foi isso o que Deus fez por nós.
Capturada por Satanás e coagida a servi-lo, a humanidade, em sua desobediência e infidelidade, não deixou Deus desanimado nem diminuiu o amor dEle por nós. Em vez disso, na cruz, Ele pagou um preço por nossa libertação, um preço inimaginavelmente maior do que nosso valor real. Ele agiu assim porque nos amava. Fomos resgatados, recuperados, salvos, não com coisas corruptíveis como o ouro ou a prata, mas pelo sangue precioso de Cristo. (1 Pedro 1:18,19)
Certa vez, uma mãe salvou a sua filhinha de uma casa em chamas, mas sofreu queimaduras graves nas mãos e braços. Quando a menina cresceu, sem saber como os braços da mãe tinham ficado daquele jeito, sentia vergonha das mãos marcadas e cheias de cicatrizes e insistia para que a mãe usasse sempre luvas compridas para cobrir aquele fealdade.
Porém, certo dia, a filha perguntou à mãe como seus braços tinham ficado tão marcados. Pela primeira vez, a mãe contou-lhe a história de como lhe salvara a vida com aquelas mãos. A filha derramou lágrimas de gratidão e disse:
– Ah, mamãe, que mãos lindas, as mais lindas do mundo. Não as esconda nunca mais!
O sangue de Cristo pode parecer um tópico sombrio e repulsivo para os que não se dão conta de sua verdadeira importância, mas, para os que aceitaram a Sua redenção e foram libertados da escravidão do pecado, o sangue de Cristo é precioso. O escravo liberto jamais se esquece do alto preço da sua liberdade.
Já viu alguém recebendo transfusão de sangue? O sangue era precioso, vital e, sem dúvida, não era repulsivo.
O sangue de Cristo comprou a igreja – ou seja, toda a companhia daqueles que confiam nEle para a salvação. "Cristo amou a igreja e por ela se entregou a si mesmo." (Efésios 5:25)
Quando Cristo nos comprou, fez de nós um povo marcado. Sobre cada coração que abraça o sangue de Cristo, Deus coloca uma marca invisível como símbolo de sua redenção.
Já carimbaram a mão para entrar num parque de diversões ou num evento esportivo? A marca em si não aparece, exceto quando se joga nela um determinado tipo de luz. A luz de Deus, da mesma forma, brilha sobre nossos corações para determinar quem faz parte da verdadeira igreja de Cristo. Independentemente de cor, raça ou nacionalidade, aqueles que são marcados com o sangue são distinguidos como aqueles que confiaram em Cristo, e só nEle, para a sua salvação.
Deus, hoje em dia, é o mesmo que era antigamente. Quando os israelitas sofriam cruelmente como escravos no Egito, Deus libertou-os de sua escravidão. Na véspera da libertação, todo chefe de família israelita teve ordem de matar um cordeiro e aspergir o batente da porta com o seu sangue. Este era o sinal para que os anjos da destruição respeitassem a casa. Deus falou: "Quando eu vir o sangue, passarei por vós, não haverá entre vós praga para vos destruir, quando eu ferir a terra do Egito." (Êxodo 12:13)
Conta a lenda que, na noite do êxodo, um garoto judeu, primogênito de uma família, estava tão preocupado, no seu leito de enfermo, que não conseguia dormir.
– Pai – perguntou, ansioso – , tem certeza de que o sangue está lá?
O pai respondeu que ordenara que ele fosse aspergido no lintel. Mas o garoto só ficou satisfeito quando o pai o tomou nos braços e o levou até a porta para ver com seus próprios olhos. Mas o sangue não estava lá! A ordem não fora cumprida! Antes da meia-noite, o pai se apressou a botar na porta o símbolo sagrado da proteção.
O sangue do cordeiro aplicado sobre o batente da porta, na noite da libertação de Israel do Egito, distinguiu os obedientes dos desobedientes. Assim como hoje em dia o sangue aplicado do Cordeiro de Deus é a marca diferenciada dos evocados por Deus, a igreja.
Charles Haddon Spurgeon comentou sobre Êxodo 12:13: Deus "não diz quando vires o sangue" passarei por ti, "mas quando eu o vir".1 Quando olho para Jesus, sinto alegria e paz, mas, quando Deus olha para Jesus, é que a minha salvação está assegurada.
Cristo, nosso cordeiro pascal, foi sacrificado por nós (1 Coríntios 5:7). Sofreu supremamente na cruz em nosso lugar. Da mesma forma que a morte chegou para todos os lares do Egito, naquela noite terrível, assim a morte está em toda as almas que não estiverem aspergidas pelo sangue de Cristo.

Atração Universal

Quarto, o sangue de Cristo foi derramado por todos. Quando Jesus serviu a última ceia para Seus discípulos, pegou o cálice de vinho e disse: "Este é o meu sangue para a nova aliança, que é derramado por muitos para o perdão dos pecados." (Mateus 26:28) Muitas das religiões do mundo têm atração para uma determinada raça ou nacionalidade. Uma religião atrai principalmente o mundo árabe. Outra atrai principalmente a mente hindu. Ainda uma outra se inclina para a filosofia oriental.
Mas a mensagem da Cruz significa boas novas para toda a humanidade, para todos que a aceitarem. Ao assestar os povos de toda as raças para Cristo, clamamos como João Batista: "Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (João 1:29) Falando de Sua crucificação, o próprio Jesus disse: "Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos os homens para mim mesmo." (João 12:32) Por "todos os homens", Ele não queria se referir a todos os homens sem exceção, pois existem muitos que se recusam a ser atraídos por Ele. O que Ele queria dizer era todos os homens sem distinção, quer fosse de classe ou cor ou outra coisa qualquer. O Seu convite para o amor é para os judeus e os gentios, igualmente.
A atração da cruz de Cristo é universal. Conheci gente de toda raça e origem que confiou nos méritos de Jesus Cristo e de Seu sangue derramado para a sua salvação. A atração da cruz alcança os antros de ópio do oriente, salvando e redimindo os homens de um inferno em vida. Toca os corações dos favelados e donos de coberturas. Penetra nas mansões da elite, onde homens e mulheres vivem no luxo, trazendo uma paz e uma alegria que o dinheiro não pode comprar. Transforma o caçador de cabeças num salvador de almas. Dá aos homens de todas as nações uma vida dinâmica e cheia de propósito.
Quando um financista famoso faleceu, há alguns anos, descobriu-se que, no ano anterior à sua morte, ele fizera o seu testamento, que consistia em umas dez mil palavras e 37 cláusulas. A cláusula mais importante no seu testamento era a sua prioridade na vida. Disse ele: "Entrego a minha alma nas mãos do meu Salvador, cheio de confiança em que, tendo me redimido e lavado com o Seu precioso sangue, Ele me apresentará impecável diante do trono de meu Pai celeste. Roga a meus filhos que mantenham e defendam, diante de qualquer perigo e a todo o custo pessoal, a abençoada doutrina da completa expiação do pecado através do sangue de Jesus Cristo que foi oferecido, e tão-somente através dEle."
Este homem sabia que a sua imensa fortuna era tão impotente quanto a pobreza do mendigo para lhe dar a salvação. Neste aspecto, ele era tão dependente quanto o ladrão que agonizou no Calvário, dependente da misericórdia de Deus e do sangue derramado de Cristo, assim como todos nós somos, não importa qual seja a nossa situação na vida.

Cristo Crucificado – um Exemplo de Sofrimento

O Novo Testamento, enquanto insiste em que o verdadeiro propósito do sofrimento de Jesus foi livrar-nos de nossos pecados, também nos mostra que o sofrimento do Salvador é um modelo para que nós, como Seu povo crente, devemos suportar os nossos sofrimentos.
Assim o apóstolo Pedro, ao se dirigir aos escravos cristãos, exortou-os a suportar submissamente seus padecimentos, embora nada tivessem feito de errado: "Para isto fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas. Ele não cometeu pecado, nem tampouco foi achado engano na sua boca; sendo injuriado, não injuriava, padecendo, não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente." (l Pedro 2:21-23)
Cristo deixou-nos um exemplo. A palavra grega usada para exemplo é derivada da vida estudantil e refere-se a um padrão de escrita a ser copiada pelas crianças que estão aprendendo a escrever. Cristo é nosso caderno de caligrafia. Olhamos para Ele e aprendemos como se deve suportar o sofrimento.
Na passagem, o apóstolo chama a atenção para quatro coisas sobre o sofrimento do Salvador. Primeiro, a Sua vida santa: "Não cometeu nenhum pecado"; segundo, Sua fala sincera: "nenhuma mentira foi encontrada em sua boca"; terceiro, Seu espírito paciente: "sendo injuriado, não injuriava, padecendo, não ameaçava"; e quarto, a Sua fé implícita: "entregava-se àquele que julga justamente."
O autor da Epístola aos Hebreus também exorta seus leitores, que estavam sendo perseguidos por sua fé, a recordar o exemplo de sofrimento de Cristo. Escreve ele: "Fixemos nossos olhos em Jesus, o autor e aperfeiçoador de nossa fé, que, em troca da alegria que lhe estava sendo proposta, suportou a cruz e sua ignomínia e está sentado à direita do trono de Deus." Depois, acrescenta: "Considerai, pois, aquele que suportou tanta oposição dos pecadores, para que não vos canseis nem desanimeis." (Hebreus 12:23)
Sim, considere-o. Nos nossos padecimentos e tribulações, o próprio Jesus deve ser a nossa principal consideração. Devemos fixar os olhos nEle. Ele, que sofreu por nós, mostra-nos como devemos suportar nossos sofrimentos.
Os homens e mulheres fizeram da cruz, levianamente, uma jóia, um objeto de adorno, mas, para Deus, ela foi o supremo sacrifício que teve que fazer por causa da desobediência do homem. Assim como o sofrimento entrou no mundo por causa da desobediência de um homem (Adão), também o alívio desse sofrimento veio através da obediência de um Homem (Cristo).
Como escreveu Paulo, em Romanos 5:19: "Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores, assim também pela obediência de um só todos serão constituídos justos."
O poder do pecado foi rompido pelo sacrifício de Cristo no Calvário, e completamente derrotado por Sua ressurreição vitoriosa na manhã de domingo que, hoje, chamamos de Páscoa. É por isso que podemos cantar junto com o autor do hino:
Na cruz de Cristo eu me glorifico!
























POR QUE OS CRISTÃOS NÃO ESTÃO ISENTOS?

Depois, papai teve febre reumática... Durante os dez últimos anos de sua vida, só não sentiu dor quando dormia. Creio que sua atitude com relação ao sofrimento deu credibilidade ao seu testemunho cristão.1 ALLAN EMERY

A TENDÊNCIA DOS HOMENS é se perguntar por que a pessoa que ama Deus e tenta viver uma vida cristã exemplar tem que sofrer física, psicologicamente ou de outra forma qualquer durante a sua passagem pela terra.
Desde o princípio o sofrimento dos crentes vem confundindo judeus e cristãos. Jó é o exemplo clássico de um crente sofredor. Houve um motivo extremamente importante para o seu sofrimento. Mas Jó não sabia disso, enquanto passava por sua provação. Jó nem ao menos tinha o Livro de Jó para confortá-lo, como nós temos! Daniel foi posto no covil do leão; Sadraque, Mesaque e Abede-Nego foram amarrados e lançados numa fornalha; José foi aprisionado; Moisés teve que fugir do Egito e viver longe de tudo o que conhecia há quarenta anos.
O motivo para todas essas coisas não era conhecido na época. Tinha que ser visto em retrospecto. Nenhum de nós saberá o motivo total do sofrimento dos fiéis antes de chegarmos ao céu.
Se os crentes que nos antecederam não foram isentos, por que nós o seríamos?
A citação que abre este capítulo foi retirada de um livro de um amigo de longa data, Allan Emery Jr. Ele é um homem dotado de rara percepção individual, juntamente com um grande senso de humor. A sua agudeza espiritual é, em grande parte, resultante de sua herança familiar. Seus pais eram cristãos serenos e corajosos, que partilhavam e viviam a sua fé abertamente diante dos filhos. No seu livro, Allan reconhece a importância de ambos na sua formação espiritual. É interessante notar que, assim como muitos cristãos, os pais dele sofreram muito na velhice, e ambos testemunharam por Cristo sem se queixar, gloriosa e fielmente, durante os seus padecimentos físicos, como Allan narra com profunda afeição.

Porta-Vozes de Deus

O apóstolo Pedro escreveu muito sobre os cristãos sofredores. Sabia, assim como a maioria dos primeiros seguidores de Jesus, o que era sofrer por uma fé. A tradição nos conta que ele morreu pendurado de cabeça para baixo numa cruz romana, porque não se achava digno de morrer da mesma forma que seu mestre. Pedro sofreu de muitas outras formas, tanto físicas quanto mentais, durante o seu percurso com o Senhor, mas em todos os seus escritos o valor positivo do sofrimento é enfatizado. Ao desenvolver este assunto, faz eco às palavras do Salvador registradas no Evangelho, e dos outros discípulos.
Como deve ter sofrido Maria, a mais abençoada das mulheres, e mãe de Jesus? Imagine os insultos dos amigos que achavam que ela era imoral. Ou, anos depois, os seus padecimentos durante a humilhação de Jesus, culminando na cruz. Junto ao pé da cruz, viu o Filho morrer de uma das maneiras mais dolorosas e vergonhosas que o homem jamais inventou. Aos olhos do povo ao seu redor, Ele era um criminoso comum. Ouviu as vaias. Viu o soldado enfiar a lança em Seu flanco.
No entanto, ela acreditou em Deus. Não podia esquecer a visita do anjo que lhe dissera: "Salve! altamente favorecida, o Senhor é contigo... Não temas, Maria; pois achaste graça diante de Deus. Conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, a quem chamarás Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e o seu reino não terá fim." (Lucas 1:28-33)
Ao testemunhar a tragédia aparente da crucificação, Maria deve ter-se perguntado: "Será que me enganei? Tive uma falsa visão? É verdade que Ele é o Rei que reinará para sempre?"
Sendo humana, ela deve ter questionado o passado à luz do sofrimento incrível do presente por parte de quem tanto amava. Na época, ela era incapaz de perceber inteiramente que esta era a realização da profecia. Para que a raça humana tivesse alguma possibilidade de reconciliação com Deus, o Filho dela tinha que morrer exatamente daquela forma. como haviam previsto os profetas.

Os Cristãos Sofrem Porque São Humanos

Podemos enxergar, aqui e ali, na Santa Escritura, o porquê dos fiéis não estarem isentos do sofrimento. Vemos também alguns motivos bem definidos.
Primeiro, os cristãos sofrem porque são humanos. O fato de sermos cristãos não quer dizer que estejamos isentos de doenças, padecimentos, desastres naturais, tragédias, e, por fim, da morte. Naturalmente, ouvimos falar de cristãos que foram milagrosamente salvos ou curados. Da mesma forma, ouvimos falar de outros que passam pelo fogo dos padecimentos, como, por exemplo, o "espinho na carne" de Paulo. Porém, nem tudo é mistério. Ouvimos o Senhor dizer a Paulo: "Existe um motivo para este espinho na carne. É para não seres exaltado além da conta. Mas verás que Minha graça é suficiente para permitir que tu o suportes."
Alguns anos atrás, realizei um serviço fúnebre em memória daqueles que tinham morrido em furacões que quase destruíram uma cidade texana. Cristãos morreram e foram feridos, do mesmo modo que os não cristãos.
Dessa forma, os cristãos não estão isentos de desastres problemas e doenças. Tais coisas são imanentes à humanidade e estamos envolvidos nelas porque partilhamos da experiência humana, assim como Cristo o fez.

Muitas Vezes os Cristãos Sofrem Porque Merecem

Segundo, os cristãos não estão isentos do sofrimento quando pecam e desobedecem a Deus. Se um cristão conta uma mentira, perde a paciência ou comete algum tipo de pecado, ele sofrerá o castigo ou "juízo" de Deus (ver I Cor. 11:28-32 e Pedro 4:17-19). Assim como uma criança necessita ser corrigida, os filhos de Deus precisam ser corrigidos. A Santa Escritura diz: "Filho meu, não menosprezes a correção do Senhor, nem te desanimes, quando por ele és repreendido; pois o Senhor castiga ao que ama, e açoita a todo filho que recebe. É para a disciplina que sofreis (Deus vos trata como a filhos); pois qual o filho a quem não corrige seu pai? (...) Toda correção ao presente, na verdade, não parece ser de gozo, mas de tristeza; depois, porém, dá fruto pacífico de justiça aos que por ela têm sido exercitados." (Hebreus 12:5-11)
Se, através do descuido e da indiferença, nós ignoramos as leis do trânsito, merecemos ser presos e punidos como qualquer um. Se não formos amorosos e fiéis na nossa vida cristã, pagaremos por isso com uma consciência culpada ou castigo de Deus.
Um cristão tem responsabilidades tremendas para com a sua família. Ele ou ela tem responsabilidades de amar a cada membro da família. Maridos e mulheres devem amar-se e submeter-se um ao outro. Devemos treinar nossos filhos no caminho que devem seguir. Se negligenciarmos tais responsabilidades, sofreremos as conseqüências - talvez não imediatamente, porém mais tarde.
Conheço um líder cristão. Há anos que trata mal a mulher, o que terminou fazendo com que ela chegasse a um estado de esgotamento físico e mental completo. Agora está enamorado de sua secretária. Quer continuar sendo um líder cristão na comunidade, mas dois proveitos não cabem num saco só. Está travando uma batalha terrível dentro da própria alma. O sorriso deixou-lhe o rosto, a alegria deixou-lhe o coração. A sua situação agora é tão evidente que outros cristãos, conhecendo as circunstâncias, não apenas estão rezando por ele, mas, infelizmente, também estão revelando o seu pecado. O sofrimento dele é quase insuportável – tudo por causa do seu pecado – mas, até agora, ainda não se arrependeu.

Não Existe Abrigo Contra a Precipitação Radioativa

Terceiro, não existe um "abrigo contra a precipitação radioativa" cristão. Os cristãos não estão isentos do sofrimento porque, se estivessem, os não-cristãos viriam correndo para a porta da igreja como se ela fosse um abrigo contra a precipitação radioativa. Infelizmente, nos últimos anos, vimos pessoas que abraçaram o cristianismo, especialmente nos Estados Unidos, porque parecia ser a única coisa inteligente a fazer.
A popularidade do cristianismo cresceu nos Estados Unidos e em outros países, nos últimos anos. Muitos não-cristãos acham que, por motivos comerciais ou políticos, deviam pertencer à igreja e fazer uma profissão de fé que não está de acordo com a vida que levam. Conseqüentemente, a igreja na América está profundamente infiltrada pelo "mundo", e, dessa forma, está começando a assemelhar-se ao mundo em muitas de suas atividades.
Assim como na época de Cristo, existem hipócritas na igreja – até mesmo no púlpito ou lecionando em escolas e seminários protestantes. Jesus disse: "Ai de vós (...) hipócritas! porque fechais a porta do reino dos céus; pois nem vós entrais, nem deixais entrar os que estão entrando." (Mateus 23:13) Muitos cristãos que professam Cristo não vivem como se O possuíssem.
Todavia, como podemos estar próximos dos acontecimentos que levam aos "últimos dias", o verdadeiro e o falso começarão a se separar. Quando o sofrimento e a perseguição caírem sobre nós, haverá uma diferença. Sem dúvida, quando todos estivermos frente ao trono de julgamento de Cristo, os nossos verdadeiros motivos serão revelados.

Deus Usa o Sofrimento e as Provações Para nos Disciplinar

Quatro, Deus usa o sofrimento e as provações para nos disciplinar. Jesus disse, em Apocalipse 3:19: "A quantos eu amo repreendo e castigo." Nossa vida cristã, para nos tornarmos aquilo que Deus quer que sejamos, tem que ser de fé e sofrimento. Deus tem o Seu plano divino para moldar nossas vidas e esse plano muitas vezes inclui o sofrimento. O fogo do castigo purifica nossas vidas e aprofunda nosso espírito. Se o Salvador alcançou "a perfeição pelos sofrimentos" (Hebreus 2:10), como podemos esperar fugir?
Você já pensou que o aço é ferro mais fogo, que o solo é rocha mais a força da corrosão do tempo e que o linho é fibra mais o pente que separa e o mangual que soca e o tear que tece?
Quando falo em sofrimento, que inclui todos os elementos de dor e angústia conhecidos do homem, não apenas dor física, não sou diferente de vocês. Gostaria de levar uma vida livre de problemas, livre de dores, livre de severa disciplina pessoal, mas tive tantas pressões na minha vida que houve horas em que também tive vontade de "sumir" – ou estive tentado a pedir ao Senhor que me levasse para o céu.
Como escreveu C.S. Lewis, em The Problem of Pain (pág. 93): "Vocês querem saber como me comporto quando sinto dor, não apenas quando estou escrevendo a respeito. Pois não precisam adivinhar, eu mesmo vou contar: sou um grande covarde... Mas, de que vale falar-lhes de meus sentimentos? Vocês já os conhecem, pois são os mesmos que os seus. Não estou discutindo que a dor não seja dolorosa. A dor dói."2
Se Deus nos ama tanto, por que permite coisas como o câncer, tumores, ou inúmeras moléstias e doenças?
Enquanto rescrevia este capítulo, soube que a mulher de um amigo meu na Austrália está com um tumor maligno no cérebro. Soube também que a mulher de um de meus amigos mais queridos, um conhecido evangelista, está com câncer.
Muitas vezes somos tentados a perguntar: por quê?
Recentemente, ouvimos falar de bandidos que estupraram uma missionária, depois de matarem seu marido no jardim de sua casa. Ela ficou dois dias trancada na casa com as crianças, temendo a volta dos bandidos. Só então teve coragem de ir lá fora para enterrar o marido.
Quando minha mulher ouviu esta história, ficou profundamente perturbada durante três dias. Estudou a Santa Escritura. Perguntou a si mesma: "Senhor, onde estavam as promessas?" Então, chegou a Hebreus 11, onde há uma lista de grandes heróis da fé. Muitos deles foram gloriosa e maravilhosamente salvos por causa de sua fé.
Havia pessoas "que pela fé venceram reinos, praticaram justiça, alcançaram as promessas, taparam as bocas dos leões, extinguiram a violência do fogo, evitaram o fio da espada, de fracos tornaram-se fortes, fizeram-se poderosos na guerra, puseram em fuga os exércitos estrangeiros. As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos." (Hebreus 11:33-35)
Mas espere. Será que todos aqueles fiéis de antanho escaparam às provações? Não. No meio do 35º versículo, ocorre uma mudança dramática e drástica. Diz ele: "Uns foram torturados, não aceitando o seu livramento para melhor ressurreição, e outros experimentaram escárnios, açoites e ainda grilhões e prisão; eles foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos ao fio da espada; eles andaram errantes, vestidos de peles de ovelhas e cabras, necessitados, aflitos, maltratados, uns homens (de quem o mundo não era digno) errantes nos desertos, nos montes, nas covas e nas cavernas da terra." (vv. 35.38, o grifo é meu)
Alguns foram salvos, outros não foram salvos, segundo a "vontade e o plano de Deus". Temos aqui a Sociedade Divina da "Medalha de Ouro". Por que esses outros não foram salvos? Os dois últimos versículos de Hebreus explicam: "Todos estes, tendo alcançado bom testemunho pela sua fé, contudo não alcançaram a promessa, tendo Deus provido alguma coisa melhor no tocante a nós, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados (ou seja, antes que pudéssemos nos reunir a eles)." (vv. 39,40) Em outras palavras, a Escritura diz que Deus tem algo melhor para eles. A Santa Escritura indica que as recompensas deles poderão até ser maiores na vida futura, pois, na época em que sofreram, ainda não havia nenhuma promessa para recompensá-los. Acreditaram e confiaram mesmo sem terem sido salvos. Temos que nos dar conta de que, quando Deus permite que tais coisas aconteçam, existe um motivo que acabara sendo do conhecimento do indivíduo – mais provavelmente só quando formos para o céu.

Vantagem da Disciplina

Quinto, há uma vantagem a se tirar da disciplina. Como já vimos, Jó passou por todos os testes que Satanás pôde inventar, com a permissão de Deus. Como resultado, Jó saiu da prova de fogo "como o ouro", sem nenhuma impureza, apenas com o que havia de mais puro no metal. Pode ser difícil entender por que precisamos nos testar, mas não podemos esquecer que o teste vai nos refinar e purificar. O apóstolo Pedro explica a seus leitores o motivo para suas provações e perseguições: "Para que a prova de vossa fé, mais preciosa que o ouro que perece, mesmo quando provado pelo fogo, seja achada para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo." (l Pedro 1:7)
Podemos tirar vantagem da experiência do sofrimento, suportando-o pacientemente e aprendendo com ele, ao invés de lutar contra ele.
Foi isso o que Jó concluiu: "Se Ele me provasse, sairia eu como o ouro." (Jó 23:10) Isso é reagir positivamente ao teste, tirando vantagem dele, ao invés de se lamentar pela interferência no seu cotidiano.
Algumas das flores mais belas que já vi eram artificiais, feitas de seda, plástico ou cera. No entanto, elas nunca atraem os insetos. São as flores vivas que os atraem.
Os cristãos automaticamente atraem demônios, que estão constantemente importunando, perturbando, tentando destruir.
Porém, Deus também usa isso com um propósito. As provações que muitas vezes surgem na vida de um cristão são a concretização do gracioso propósito de Deus, que busca criar Seu filho na fé mais preciosa, desenvolvendo no Seu ente amado o espírito cristão que leva à alegria e ao "ouro".
O Dr. Faris D. Whitesell diz: "Os que sofrem fisicamente, se orientados corretamente com Deus, aprendem que os outros deixam escapar. Chegam a uma avaliação mais precisa daquilo que realmente vale na vida, disciplinando seus espíritos, purificando seus motivos, aprofundando adoçando seus caracteres."
Você já olhou para um quadro de valor inestimável e se perguntou o que lhe dava este valor? Olhando para um Rembrandt, dou-me conta de que ele usava tela e tintas como outro artista qualquer e, no entanto, seus quadros são obras de arte valiosíssimas. A diferença está no próprio artista. Deus é o artista de nossas vidas, usando o Seu pincel para criar uma coisa bela. Porém, nossa tela está incompleta. Deus ainda não acabou conosco.
O Dr. M.R. DeHaan descreveu uma analogia deste princípio: "Dizem que uma barra de aço que vale cinco dólares ao ser transformada em ferraduras comuns valerá apenas dez. Se esta mesma barra de cinco dólares for transformada em agulhas, passará a valer 350 dólares, mas, se for transformada em molas delicadas para relógios caros, estará valendo 250 mil dólares. Esta barra de aço original fica mais valiosa à medida que for sendo trabalhada, levada ao fogo repetidas vezes, martelada e manipulada, batida e socada, acabada e polida, até que finalmente está pronta para sua tarefa delicada."3
Nos dias atuais de inflação, o preço seria bem maior do que as quantias que o Dr. DeHaan usou há muitos anos. Todavia, isso ilustra a verdade de que a disciplina e o castigo de Deus forjam o caráter cristão; e este é um dos motivos pelos quais não estamos isentos dos problemas e dificuldades da vida.
Muitos cristãos, quando são disciplinados por Deus, recaem na autocompaixão e na amargura. Vêem suas vidas soterradas sob os escombros da depressão, mas nossas dificuldades devem ser encaradas como degraus. Nosso testemunho, então, será como o do "papai" Emery, com que abrimos este capítulo. A escolha é nossa! O poder é de Deus!

Para nos Manter Humildes e de Joelhos

Sexto, Deus permite que o fogo da tribulação entre em nossas vidas para nos tornar, e manter, humildes. Ele podia ter livrado Paulo daquele "espinho na carne", mas recusou todos os pedidos de alívio de Paulo, e prometeu-lhe, ao invés disso, a Sua graça.
Deus também não isenta os cristãos de sofrimento porque ele aumenta a sua vida de oração. Nada nos porá de joelhos mais depressa do que os problemas. Às vezes, em nossas orações perguntamos por que a resposta tarda, dando a impressão de que nunca vai chegar. Muitos dos sofredores de Deus oram pedindo alívio, mas a resposta de Deus parece ser "não". A cura pode não chegar, mas Deus atende às nossas preces. Nem sempre as atende da forma que queremos. Podemos não ter orado segundo a vontade de Deus. No Jardim de Getsêmani, na perspectiva da Cruz, Ele orou: "Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice." (Lucas 22:42, o grifo é meu) Nossas preces precisam estar de acordo com a vontade de Deus pelo simples motivo de que Deus conhece melhor do que nós mesmos o que é bom para nós.
Sem a experiência do sofrimento ou de algum tipo de aflição, jamais seríamos os guerreiros da oração que devemos ser. Nossa natureza tende a negligenciar a necessidade da oração até encontrarmos sofrimento ou dificuldades de qualquer tipo. Freqüentemente, precisamos ser levados à verdadeira oração pelas circunstâncias que nos cercam.
Dwight L. Moody gostava de ressaltar que existem três tipos de fé em Jesus Cristo: a fé que luta, que é como um homem apavorado se debatendo em águas profundas; a fé que se agarra, que é como um homem segurando com força o lado de um bote; e a fé que repousa, que é como um homem a salvo dentro do bote – forte e seguro o bastante para estender a mão e ajudar outra pessoa.
Este é o tipo de fé que você e eu temos que adquirir para sermos eficazes como cristãos – e tal fé pode ser nossa através do ministério do sofrimento em nossas vidas.
George Matheson, que percebeu que estava ficando cego aos dezoito anos, superou a sua deficiência e se tornou um dos melhores estudiosos e pregadores da Igreja Escocesa. Escreveu ele: "Tu, Ó Senhor, podes transformar o meu espinho numa flor. E eu quero o meu espinho transformado numa flor. Jó mereceu o sol depois da chuva, mas será que a chuva fora um desperdício total? Jó quer saber, e eu quero saber, se a chuva nada teve a ver com o brilho do sol. E Tu me podes dizer. Tua cruz me pode dizer. Tu coroaste o Teu triunfo. Que seja esta a minha coroa, ó Senhor. Somente triunfo em Ti quando já aprendi a auréola da chuva."

Para nos Ensinar Paciência

Sétimo, o sofrimento também nos ensina a paciência. Estas palavras foram encontradas rabiscadas na parede de uma cela de prisão, na Europa: "Creio no sol, mesmo quando ele não brilha. Creio no amor, mesmo quando não o sinto. Creio em Deus, mesmo quando Ele está calado." Às vezes, Deus parece tão quietinho! Todavia, quando vemos o modo como trabalha nas vidas aprisionadas por paredes ou circunstâncias, quando ouvimos contar como a fé brilha em meio à incerteza, começamos a vislumbrar o fruto da paciência que pode crescer da experiência do sofrimento.
Diz Pedro: "Pois que glória é, se sofreis com paciência, quando cometeis pecado, e sois por isso esbofeteados? Mas se sofreis com paciência; quando fazeis o bem e por isso padeceis, isto é agradável a Deus." (I Pedro 2:20)
As pessoas sofrem algum infortúnio e pedem a Deus uma explicação à luz de Suas muitas promessas. Muitas vezes, citam um de meus versículos prediletos, Romanos 8:28: "Sabemos que aos que amam a Deus todas as coisas lhes cooperam para o bem, a saber, aos que são chamados segundo o seu propósito." Os cristãos perguntarão: "Como isso poderá funcionar para o meu bem?" Somente Deus poderá fazer com que funcione para o bem, e Ele não pode fazê-lo a não ser que cooperemos com Ele. Em todas as nossas preces, devemos pedir-Lhe que se faça a Sua vontade.
Ouvi a história de um homem que morava perto da minha casa e que ia comprar uma vaca. Era cristão e, ao passar por alguns colegas cristãos no caminho, contou-lhes que estava indo comprar uma vaca de um vizinho, que morava a um quilômetro e meio de distância. Os seus amigos cristãos sugeriram para que dissesse: "Vou comprar uma vaca, se Deus quiser." Ele retrucou:
– Não, estou com o dinheiro no bolso e vou comprar uma vaca.
Dali a uma hora, ele voltou pela mesma estrada, ferido, ensangüentado, as roupas rasgadas. Fora atacado por uns ladrões que sabiam que estava com dinheiro no bolso. Os amigos perguntaram:
E aonde você vai agora?
Vou para casa, se Deus quiser.
Com o seu sofrimento, o homem recebeu uma grande lição, que todos nós devemos aprender. Deus está no controle dos acontecimentos, e temos que ser submissos e pacientes à Sua vontade.
Diariamente, recebo em casa vários jornais. Lendo-os, ou assistindo ao noticiário na televisão, tomo conhecimento de sofrimentos terríveis, do terrorismo, do crime e da injustiça que existem em nosso mundo, e às vezes não posso deixar de me perguntar: "Por quê?" À medida que as nações do mundo estão se armando como nunca antes na História, à medida que se aproxima o Armagedom, é um pensamento reconfortante saber que Deus está por detrás de tudo o que toca a minha vida. Acontecem-me coisas que não consigo entender, mas jamais duvido do amor de Deus. Na hora da provação, talvez eu não possa enxergar o Seu desígnio, mas tenho fé de que esteja alinhado com o Seu propósito de amor. Não sei quais os Seus planos, mas sei que Ele sabe, e isso para mim basta.
Elie Wiesel, um dos escritores judeus mais conhecidos, esteve em Auschwitz, e escreveu: "O céu é o lugar onde perguntas e respostas se tornam uma só coisa."
Ruth, minha mulher, escreveu certa vez:
Deposito meus "porquês"
aos pés da Tua Cruz,
adorando de joelhos,
minha mente atordoada
demais para pensar,
meu coração incapaz de sentir.
E, adorando,
percebo que, conhecendo-Te,
não preciso de "porquê".4

A nossa herança pode ser a das promessas não cumpridas. Fomos abençoados através da capacidade de suportar a dor e da fidelidade daqueles que sofreram no passado; e as pessoas à nossa volta, ou aqueles que virão depois de nós, podem ser abençoados por nossas provações e sofrimentos, e pela maneira como reagimos a eles. Porém, só saberemos a resposta total quando chegarmos ao céu. Jesus falou: "Naquele dia nada me perguntareis." (João 16:23) Quando olharmos para trás e virmos todos os fatores envolvidos, diremos que tudo estava planejado.

O SOFRIMENTO PREVISTO

Tereis tribulações neste mundo. Mas, coragem! Eu venci o mundo.
JESUS CRISTO (JOÃO 16:33)

EM ALGUMAS IGREJAS de hoje e em alguns programas religiosos de televisão, vemos a tentativa de tornar o cristianismo popular e agradável. Retiramos a cruz e a substituímos por almofadas.
Como já vimos, não encontramos no Novo Testamento nenhum indício de que os cristãos devam esperar popularidade, conforto e sucesso na era atual. Jesus falou: "Se o mundo vos aborrece, sabei que primeiro do que a vós me tem aborrecido a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas como não sois do mundo, antes vos escolhi eu do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos das palavras. que eu vos disse: 'O servo não é maior do que o seu senhor.' Se me perseguiram a mim, também vos hão de perseguir a vós; se guardaram as minhas palavras, também hão de guardar as vossas." (João 15:18-20)
Assim, Cristo falou que o mundo dominado pelo mal O odiava, e previu que nos odiaria também.
Esta era se interessa pelas medalhas, mas não pelas cicatrizes. Podemos nos identificar com Tiago e João, que queriam assentos privilegiados no reino. Podemos até pedir poltronas reclináveis e música suave. Porém, Cristo respondeu a Seus discípulos e falou que não estava oferecendo lugares de honra, mas sim sofrimento.
Olhe para nosso Senhor. Ele foi desprezado e rejeitado pelos homens. Foi ridicularizado, insultado, perseguido e, finalmente, morto. Mesmo diante da oposição, Ele continuou "fazendo o bem". Até mesmo os Seus inimigos não puderam encontrar defeito nEle. Tornou-se o maior mestre de moralidade que o mundo já conheceu. Todavia, após três anos de ministério público, morreu como um pária. O mundo se voltou rapidamente contra ele, comprovando a passagem da Escritura que diz que "os homens amavam mais as trevas do que a luz; pois eram más as suas obras." (João 3:19)
Um homem "bom", em geral, é uma reprimenda ao mundo. Como já mencionei antes, a Bíblia enumera, em Hebreus 11, os heróis da fé, tanto judeus quanto gentios, que foram torturados, aprisionados, apedrejados, esquartejados, tentados, passados pelo fio da espada. Vestiam-se de pele de ovelhas e cabras, miseráveis. Aflitos e atormentados, esses fiéis de antanho vagavam por desertos e montanhas, escondiam-se em cavernas. Era isso o que significava ser membro do povo de Deus.
Ao assistirmos aos especiais de televisão que focalizam histórias da Bíblia, no conforto de nossas salas, em países como os Estados Unidos, ficamos agradecidos por ser mais fácil e aceitável ser cristão hoje. Mas isso mudará. Em países como o nosso, estamos vivendo um período anormal. É muito mais normal para os cristãos serem repreendidos, criticados e perseguidos do que serem populares. Grandes multidões acompanharam nosso Senhor na parte inicial de seu ministério, quando curou os doentes, ressuscitou os mortos e alimentou os famintos. Todavia, no momento em que começou a falar da cruz e da necessidade de Sua morte, e a dizer a Seus seguidores que também deviam assumir as suas cruzes, "muitos... não andaram mais com ele." (João 6:66) Quando Ele declarou, com todas as letras, o quanto custaria ser discípulo, afastou muitos de Seus seguidores.

Em muitas partes do mundo, ser um verdadeiro crente ainda significa sofrimento. Você pode ser alijado de sua família, de seu lar e seus amigos. Pode transformar-se em "espetáculo" para os outros. O sofrimento tem muitas formas. Você pode ser como o cego de João 9, sofrendo involuntariamente e sem saber pela glória máxima de Deus.
Muitas formas de sofrimento estão na Bíblia. Segue-se uma lista feita pelo Dr. Finis Dake:1
1. Perseguições pela integridade (Mat. 5:10; 13:21; Mar. 10:30; João 15:20)
2. Injúrias e calúnias (Mat. 5:11-12; 10:25; Atos 13:45; I Ped. 4:4)
3. Acusações falsas (Mat. 10:17-20)
4. Flagelos por Cristo (Mat. 10-17)
5. Rejeição pelos homens (Mat. 10-14)
6. Ódio pelo mundo (Mat. 10:22; João 15:18-21)
7. Ódio por parentes (Mat. 10:21-36)
8. Martírios (Mat. 10:28; Atos 7:58)
9. Tentações (Lucas 8:13; Tiago 1:2-16)
10. Vergonha por Seu nome (Atos 5:41)
11. Prisão (Atos 4:3; 5:18; 12:4)
12. Tribulações (Atos 14:22; II Tess. 1:4)
13. Apedrejamentos (Atos 14:19; II Cor. 11:25)
14. Espancamentos (Atos 16:23; II Cor. 11:24-25)
15. Ser um espetáculo para os homens (I Cor. 4:9)
A palavra espetáculo vem da mesma palavra grega de onde tiramos a palavra teatro, demonstrando para homens e anjos o sofrimento de Cristo como se estivéssemos no palco.
Somos idiotas pelo amor de Cristo. (l Coríntios 4:10) A palavra idiota vem de uma palavra grega que traz consigo a idéia de debilidade mental. Também se refere às vaias, apupos, deboche e outros insultos lançados àqueles que estão no palco da arena.
16. Mal-entendidos, necessidades, difamações e desprezos. (l Cor. 4:10-13)
17. Problemas, aflições, tristezas, tumultos, trabalhos, vigílias, e má reputação (II Cor. 6:8-10; 11:26-28)
18. Reprimendas (Heb. 13:13; 1 Ped. 4:14)
19. Provações (Ped. 1:7; 4:12)
20. Oposição satânica (Efés. 4:27; 6:12).

Porém, a Bíblia também ensina que haverá enormes recompensas para aqueles que suportam o sofrimento em nome de Cristo. Dake enumera, no livro já citado:2
1. Maior glória no céu (II Co. 4:11)
2. [Falha do livro]
3. Tornar Jesus conhecido (II Cor. 4:11)
4. Levar vida aos outros (II Cor. 4:12)
5. Tornar a graça manifesta (II Cor. 4:15)
6. [Falha do livro]
7. Reinar com Cristo (II Tim. 2:12)
8. [Falha do livro]
9. Dar glória a Deus (1 Ped. 4:16)
10. Experimentar grande alegria (1 Ped. 4:13, 14)

Em países como os Estados Unidos, as pessoas não passam, necessariamente, por sofrimentos físicos porque crêem. Todavia, existem muitos outros tipos de sofrimento.
E quanto ao homem médio que professa o cristianismo? Viver para o Senhor Jesus Cristo não parece ser prioridade. Às vezes, é difícil diferenciar o cristão do homem do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, ir à igreja tornou-se popular, mas ir à igreja não significa, necessariamente, profundidade na oração, estudos da Bíblia ou uma mudança no estilo de vida.
Diz a Escritura: "Se alguém está em Cristo, é uma nova criação; passou o que era velho, eis que se fez novo." (II Coríntios 5:17)
Espera-se que aqueles que crêem sejam diferentes do mundo que os cerca. Eles serão membros da nova sociedade e da nova comunidade que Deus criou.
Muitos sentam-se em confortáveis bancos de igreja e cantam sem pensar:
Nossos pais, acorrentados em escuras prisões,
Tinham o coração tranqüilo e a consciência livre;
Que doce seria o destino de seus filhos,
Se, como eles, pudessem morrer por vós.
Frederick W. Faber

Paulo disse a Timóteo: "Todos aqueles que querem viver piamente em Cristo Jesus serão perseguidos." (II Timóteo 3:12) Jesus não nos convidou para um piquenique, mas para uma peregrinação; não para uma brincadeira, mas para uma briga. Ele não nos ofereceu uma excursão, mas uma missão. Nosso Salvador disse que teríamos que abdicar do ego, do pecado e do mundo. Desafiou-nos a erguer a cruz e disse que, no mundo, teríamos tribulações.
Muitos programas cristãos de TV e rádio foram criados para agradar, divertir e ganhar as graças deste mundo. A tentação é entrar em acordo, tornar o evangelho mais interessante e atraente. Às vezes, nas cruzadas que conduzimos, olhei para as câmeras e me dei conta de que vários milhões de pessoas estavam me vendo. Sei que muitas das coisas que citei da Santa Escritura são agressivas e, às vezes, me senti tentado a suavizar a mensagem. Porém, com a ajuda de Deus, jamais o farei! Eu me tornaria um falso profeta. Além disso, trairia o meu Senhor. O preço de servir a Cristo não é baixo.
Queremos parecer-nos demais, ao invés de menos, com a era atual. Tentamos argumentar que os tempos mudaram, que a humanidade é mais cristã e que a igreja está numa posição melhor, e que, portanto, não precisamos sofrer como sofreram nossos antepassados. Queremos "fazer parte da turma", seja no clube masculino ou no grupo de bridge feminino. Contudo, quanto mais pertinentes nos tornamos para um mundo dominado pelo pecado, mais impertinentes somos para Deus, embora sem o percebermos.
Em Romanos 12:2, Paulo escreve: "Não vos conformeis mais com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente." J.B. Phillips dá a sua versão para estas palavras: "Não deixe que o mundo o faça à sua maneira, mas deixe que Deus remodele as suas mentes de dentro para fora."
É muito fácil para os cristãos se amoldarem a este mundo. Muitas vezes eles pensam que, não sendo "diferentes", estão se tornando mais aceitáveis aos seus amigos não-cristãos. Porém, este é um grande erro. O mundo realmente não tem muito respeito pelos costumes e idéias adotados pelos cristãos. Tende a encará-los com desdém e a rifá-los como sendo covardes envergonhados de sua fé ou fraudes cuja profissão de fé não é sincera.
Nossa tarefa na vida não é ser popular, mas sim fiel. É mais importante ganhar o "muito bem" do Mestre do que o "aí, meu camarada" do mundo. É melhor ser considerado um homem de Deus do que um homem do mundo. A Bíblia diz: "Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." (Tiago 4:4)

Contando o Custo

A salvação é grátis, mas o aprendizado tem o seu preço. Dois mil anos antes de Cristo, Moisés teve que escolher entre a reprovação de Deus e os prazeres do Egito. O jovem e rico governante conhecia o luxo e a fartura. Não estava interessado em sofrimento e sacrifício, assim como nós não estamos. Hoje em dia, provavelmente poderia pertencer a qualquer igreja. Mas, antigamente, antes que um homem pudesse ingressar numa igreja, Cristo fazia com que ele medisse o custo. Em João 6, vemos que, quando grandes multidões O seguiram, Ele lhes disse, três vezes, que a não ser que estivessem dispostos a pagar o preço, não poderiam ser Seus seguidores.
Nunca se fala "Cristo e...", é sempre "Cristo ou..." Cristo ou Belial, Cristo ou César, Cristo ou o mundo, Cristo ou o Anticristo. Jesus falou: "Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não se ajunta espalha." (Mateus 12:30)
Tornamos o cristianismo fácil demais, especialmente nas partes do mundo em que ele é a religião majoritária. No começo, como acontece na maior parte do mundo hoje em dia, os seguidores de Jesus tinham que medir os custos. Tinham que estar dispostos a negar a si mesmos, erguer a sua cruz e acompanhar Jesus. Porém, hoje em dia, especialmente em alguns países ocidentais, não pedimos tais coisas dos membros da igreja. A igreja perdeu a sua capacidade de castigar os membros que vivem abertamente era pecado. Conseqüentemente, perdemos o nosso testemunho na comunidade.

As Marcas de Cristo ou do Demônio

Aqueles de nós que professamos ser cristãos não precisamos nos perguntar: "Carregamos as marcas de Cristo?"; ou "Carregamos as marcas daquilo que nos escraviza?" O escravo é sempre marcado por seu senhor. Esta geração hedonista faz a sua própria propaganda pelos rostos dissipados, mãos trêmulas e comportamento irrequieto. Todos os sedativos não conseguem aquietá-los, nem os cosméticos podem disfarçar as cicatrizes. Eles carregam as marcas do seu senhor.
Muitas vezes fiquei parado numa esquina, lendo as fisionomias dos transeuntes. Às vezes, podia ver as marcas de um gênio ruim, ressentimentos ocultos ou pensamentos maus; eles aparecem nas rugas, na boca caída, no olhar.
A Bíblia nos ensina que ninguém pode servir (ser o escravo de) a dois amos. O demônio tem seus escravos, e Cristo tem os dEle. Você e eu percebemos as marcas de Cristo ou as marcas do demônio. A Bíblia diz que algumas das marcas do demônio são "a fornicação, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, (...) as facções, as dissenções, os partidos, as invejas, as bebedices, as orgias, e outras coisas semelhantes". Além disso, aqueles que se dedicarem a "tais coisas não herdarão o reino de Deus." (Gálatas 5:19-21)

O Cristão Também Traz Cicatrizes

Nós, cristãos, temos que carregar as marcas de nosso amo de modo tão evidente quanto os seguidores do "deus deste mundo". É por isso que o sofrimento é inevitável para nós – e porque as pessoas piedosas nos dois Testamentos sabiam o que significava sofrer do mesmo modo que sabiam o que significava triunfar.
No livro Liberdade de um Cristão, publicado em 1520, Martinho Lutero declarou: "Quanto mais um homem é cristão, mais maldades, sofrimentos e mortes tem que suportar."3
Em Perfeição Cristã (publicado dois séculos mais tarde, em 1726), disse William Law: "Seria estranho supor que a humanidade fosse redimida pelos sofrimentos do Salvador para viver na tranqüilidade e na comodidade; que o sofrimento fosse a expiação necessária para o pecado e que, no entanto, os pecadores fossem eximidos de sofrer."
As marcas da Cruz não devem ser confundidas com a austeridade auto-infligida ou os rigores da Idade Média atualizados. Não devemos buscar o sofrimento intencionalmente ou infligi-lo a nós mesmos com a idéia errônea de que, dessa forma, ganharíamos um crédito especial com Deus. O ascetismo não é necessariamente uma virtude. Cristo advertiu a Seus seguidores: "Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas; porque eles desfiguram os seus rostos para fazer ver aos homens que estão jejuando." (Mateus 6:16) Isto foi uma clara advertência para não nos vangloriarmos das provações que causamos a nós mesmos.
Suportar a nossa cruz não quer dizer usar saco de aniagem e ter ar de mártir. O que nos é exigido é a humildade, não a humilhação; não pensar mal de nós mesmos, mas simplesmente não pensar em nós mesmos.
Há pessoas que acham que toda dorzinha de cabeça é uma parte da sua cruz. Tornam-se mártires cada vez que ouvem críticas. Às vezes, merecemos as críticas que recebemos. Só somos abençoados quando os homens falam mal de nós, falsamente, pelo amor de Deus.

Luzes Para os Dias de Trevas

Os cristãos devem ser uma influência estranha, um grupo minoritário num mundo pagão. Se a igreja é aceitável à era atual e não está criando confusão ou sofrendo críticas, então não é a verdadeira igreja que o nosso Senhor fundou. Somos a "luz do mundo" – e a luz revela ou mostra as coisas. Se estamos em paz com este mundo, é porque nos vendemos a ele ou então fizemos um acordo com ele.
Moody falou certa vez: "Se o mundo não tem nada a dizer contra ti, cuidado para que Jesus Cristo não tenha nada para dizer a teu favor."
O maior testemunho para este mundo de trevas de hoje seria um bando de homens e mulheres crucificados e ressuscitados, mortos para o pecado e vivos para Deus, suportando em seus corpos "as marcas do Senhor Jesus".

O que a Bíblia Diz dos Crentes Sofredores

Se você crê em Jesus Cristo, você é um "santo". A palavra é mal compreendida hoje em dia. Este termo foi alterado no vernáculo moderno, passando a significar alguém que é uma espécie de "supercristão"; porém, na realidade, todo o povo de Deus é feito de santos – "destacados" e dedicados a Seu serviço.
Aquele que ler a Bíblia e achar que o sofrimento não é a sinal do cristão está lendo a Santa Escritura cegamente e sem compreendê-la. Eis alguns dos versículos que falam claramente do sofrimento que espera os crentes e da oferta positiva de ajuda divina durante as épocas de sofrimento.
Disse o salmista: "Muitas são as aflições do justo, mas de todas elas Jeová o livra." (Salmos 34:19) Repare que a promessa não é de que não haverá aflições, mas que ficarão livres delas. A Bíblia Viva diz: "O homem bom não escapa de todas as tribulações – ele também as tem. Mas o Senhor o ajuda em toda e cada uma delas."
Falando a seus discípulos ao término de Seu ministério e na véspera de Sua morte, Jesus disse: "Eu vos tenho falado estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu tenho vencido o mundo." (João 16:33) Traduza a palavra tribulações como desejar, dificuldades, problemas, pressões, mas Jesus diz, inequivocamente, que os cristãos as terão. Mas Ele também promete a Sua presença conosco nessas tribulações. Neste caso, novamente a promessa implícita não é a de livrar de, mas a de dar o poder para vencer em meio a quaisquer circunstâncias que possam ocorrer. E, no final, nós sabemos, a nossa liberdade das artimanhas do mundo será total, pois virá o dia em que nosso Salvador voltará a assumir o controle do mundo que criou. No momento, Satanás é seu príncipe, mas o Príncipe da Paz tem data marcada para voltar – e a Sua vitória sobre Satanás e suas forças será completa!

Espere a Perseguição

No começo de Seu Sermão da Montanha, Jesus incluiu essas palavras: "Bem-aventurados os que têm sido perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus, pois assim perseguiram os profetas que existiram antes de vós." (Mateus 5:10-12) Segundo o que Jesus diz aqui, não apenas devemos esperar a perseguição como nossa sina ao seguirmos o cristianismo; devemos rejubilar-nos com essas perseguições! Paulo fez eco a essa instrução divina quando escreveu aos filipenses que estavam sofrendo por sua fé: "Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez vos digo, regozijai-vos." (4:4) Eles deviam regozijar-se não apenas quando as coisas iam bem, mas sempre! As circunstâncias não devem colorir as nossas reações à perseguição. Sempre que, como cristãos, encontrarmos provações e tentações devemos regozijar-nos repetidas vezes, até o fim de nossas vidas.
O apóstolo João, ao registrar a mensagem de Cristo à igreja em Esmirna, escreveu: "Não temas o que estás para sofrer; eis que o diabo está para meter alguns de vós na prisão para serdes provados e passareis por uma tribulação... Sê fiel até a morte, e eu te darei a coroa da vida." (Apocalipse 2:10)
Embora possa parecer misterioso, a verdadeira fé e o sofrimento andam de mãos dadas. Não se pode ter um sem o outro.
Novamente, é difícil entender que o sofrimento acontece com a permissão de Deus, e muitas vezes nós mesmos o atraímos. É errado acreditar, por exemplo, que, se você está doente, é porque Satanás o fez adoecer, e que, se tiver fé bastante, a doença irá embora. Às vezes, Deus liberta, mas nem sempre, e quando Ele permite o sofrimento, a Sua graça é suficiente para que você o suporte. Ele lhe dá uma força adicional. Caminha de mãos dadas com você durante o seu sofrimento, mas isso não quer dizer que, necessariamente, vá libertá-lo dele.
Escrevendo para Timóteo, seu jovem filho na fé, disse Paulo: "Ora, todos aqueles que querem viver piamente em Jesus Cristo serão perseguidos". (II Timóteo 3:12, o grifo é meu) Isso é falar com bastante franqueza! Acho que o princípio é declarado com clareza para que você e eu, como cristãos, não tenhamos mais dúvidas. É verdade que alguns parecem sofrer por sua fé bem mais do que outros.
Alguns de nós jamais soubemos o que significa ser fisicamente perseguido por nossa fé, porém, todos os verdadeiros cristãos estão sujeitos a um sofrimento sutil e a uma perseguição insidiosa. Ela pode residir na ridicularização de nossa fé por parte do mundo que nos cerca. Pode também existir na discriminação discreta muitas vezes praticada contra os princípios cristãos na arena sofisticada da economia e da sociedade. Por exemplo, existem com freqüência práticas discriminatórias contra o empresário, líder sindical ou figura política que tenta seguir a ética e a moral bíblicas.
Perseguições sutis podem ocorrer no seu escritório, na escola ou em reuniões sociais. Você pode "não estar com nada" e "não fazer parte da turma".

Palavras de Pedro

Na sua primeira Epístola, o apóstolo Pedro disse a seus leitores: "Amados, não estranheis a ardente provação que há no meio de vós, e que vem para vos pôr á prova, como se vos acontecesse coisa estranha, mas visto que sois participantes dos sofrimentos de Cristo, regozijai-vos, para que também na revelação da Sua glória exulteis cheios de júbilo. Se sois vituperados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois; porque o Espírito da glória e de Deus repousa sobre vós. Nenhum de vós, porém, padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios alheios; mas se padeceis como cristão, não vos envergonheis, antes glorificai a Deus neste nome... Portanto, também aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas ao fiel Criador, praticando o bem." (I Pedro 4:12-19)
Nenhum sofrimento que o cristão suporte por Cristo é em vão. Viver por Cristo, seguir a Sua orientação não é um caminho fácil, mas é o caminho para a paz e o poder. O caminho da Cruz é duro, mas oferece recompensas eternas.
Os princípios bíblicos que dizem respeito à capacidade de suportar a dor e a perseguição ainda são os mesmos da época em que nos foram apresentados na Palavra de Deus. Alguns de nós poderemos morrer, ou pelo menos sofrer, por nossa fé. O século XX viu mais gente sendo torturada e morta por Cristo do que qualquer outro século. Nossa geração conheceu os seus mártires, como Paul Carlson, o missionário no Congo que foi morto tentando salvar outras pessoas. O jovem Jim Elliot foi assassinado, juntamente com quatro amigos, quando tentava levar o Evangelho aos índios auca do Equador. O bispo Luwum era o arcebispo da Igreja Anglicana de Uganda. Foi baleado na cabeça, à queima-roupa.

Sofrimento Vitorioso

No coração do nosso universo, está um Deus que sofre num amor redentor. Experimentamos mais do Seu amor quando sofremos dentro de um mundo mau. Alguém já disse que, se você sofre sem obter êxito, pode ter certeza de que o êxito surgirá na vida de outrem. Se obtiver êxito sem sofrer, pode estar igualmente certo de que alguém já sofreu por você.
Nos contrafortes do Himalaia, há uma bela cidade chamada Kohima. Fica em Nagaland, um dos Estados da índia. Estivemos ali para ajudá-los a celebrar os cem anos de cristianismo. Foi ali que os japoneses foram detidos na sua arremetida na direção da índia, durante a Segunda Guerra Mundial. Enterrados no cemitério estão os corpos de centenas de indianos, britânicos, americanos e os de outras nacionalidades que formaram as forças aliadas que detiveram o avanço japonês. Na entrada do cemitério, existe uma placa fúnebre que diz: "Eles deram o seu amanhã para que vocês pudessem ter o hoje."
Depois de dezesseis anos difíceis como missionário no continente africano, David Livingstone voltou à sua Escócia para dar uma palestra aos estudantes da Universidade de Glasgow. Seu corpo estava consumido pelos estragos de cerca de 27 febres que correram por suas veias, durante seus anos de serviço. Um dos braços pendia inútil ao lado do corpo, resultante do ataque de um leão. A essência de seu recado para aqueles jovens foi:
– Querem saber o que foi que me sustentou no meio das provações da labuta e da solidão de meu exílio? Foi a promessa de Cristo: "Eis que estou contigo sempre, até o fim."
Nós, como David Livingstone, podemos clamar pela mesma promessa de nosso Salvador e Senhor. Ele nos acompanha em nossos padecimentos e nos espera ao sairmos do outro lado do túnel da provação para a luz da Sua gloriosa presença, para viver com Ele para todo o sempre!



















O SOFRIMENTO SUTIL

As tempestades fazem uma árvore forte, as provações fazem um cristão forte. ANÔNIMO

VOCÊ PODE NUNCA ter sofrido fisicamente por acreditar em Jesus Cristo. Contudo, o sofrimento não é apenas dor física e a perseguição não é apenas ser acorrentado.
Se somos seguidores de Jesus Cristo que não estamos comprometidos com os caminhos pecaminosos do mundo, inevitavelmente passaremos por algum tipo de sofrimento, ainda que sutil. O sofrimento, nas suas várias definições, faz parte da vida num mundo pecaminoso.
Perguntaram a dois cristãos recentemente libertados de um país onde o governo era hostil ao cristianismo como se sentiam sendo perseguidos por sua fé. Eles responderam:
– Achamos que era o modo normal de se tratar um cristão.
Os cristãos que esperam escapar das dificuldades da vida têm uma atitude fantasiosa e não compreenderam a Bíblia ou a História da igreja.
Devemos sofrer antes de sermos recompensados.
O concertista ou músico renomado sabe que não pode fugir às horas, dias e meses de ensaios exaustivos e sacrifícios exigidos antes daquela única hora de desempenho perfeito. O estudante não pode fugir aos anos de luta e estudo antes do grande dia da formatura. O astronauta que espera participar do programa espacial sabe que lhe será exigida uma disciplina árdua para se preparar para o dia emocionante do lançamento. O atleta que quer fazer parte da Equipe Olímpica tem que contar com anos de treinamento, disciplina e trabalho duro.
Vários anos atrás, um ginasta japonês, corajoso e determinado, ajudou a sua equipe a ganhar a medalha de ouro fazendo acrobacias quase perfeitas com uma perna quebrada! Qualquer atleta de destaque lhe dirá que é preciso dor e sofrimento para chegar ao sucesso. Porém, como no caso do ginasta japonês, a dor e o sofrimento valem a pena!

Se Você Sofre

O apóstolo Pedro tem uma passagem incrível sobre o sofrimento:
"Amados, não estranheis a ardente provação que há no meio de vós, e que vem para vos pôr à prova, como se fosse coisa estranha (...). Se sois vituperados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois; porque o Espírito da glória, e de Deus, repousa sobre vós. Nenhum de vós, porém, padeça coma homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios alheios; mas se padeceis como cristãos, não vos envergonheis, ames glorifique a Deus neste nome (...). Portanto também aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas ao fiel criador, praticando o bem." (I Pedro 4:12, 14, 15, 16, 19)
A perseguição atravessa a longa história dos judeus, mas, na passagem acima, Pedro estava escrevendo para judeus e gentios, para ajudá-los a compreender o que significa sofrer como cristão.
Nunca é fácil ser cristão. A vida cristã ainda pode trazer solidão, impopularidade e problemas. Faz pane da natureza humana antipatizar com, ressentir-se de e olhar com desconfiança para qualquer um que seja "diferente". Este é um dos grandes problemas do mundo de hoje. Diferenças tribais, diferenças de classe, diferenças étnicas, diferenças culturais – tudo isso separa as pessoas. Tais diferenças levam, muitas vezes, não apenas a desentendimentos, mas a guerras.
Quando os cristãos trazem os padrões de Cristo para pautar a sua vida num mundo materialista e secularista, isso freqüentemente cria desagrado. Como as exigências morais e espirituais de Jesus Cristo são tão elevadas, elas freqüentemente deixam o cristão "isolado". Isso pode acarretar incompreensão, medo e ressentimentos por parte daqueles que pertencem ao grupo cultural e étnico do cristão. Quando as pessoas pregam o Evangelho para uma cultura diferente, devem aprender a usar métodos de apresentar o Evangelho e obedecer ao Evangelho que se encaixem no contexto das vidas dos povos daquela cultura. Todavia, os aspectos redentores, éticos e morais do Evangelho não podem ser nunca contextualizados. São os mesmos em todas as culturas, todos os agrupamentos étnicos e raciais.
A perseguição também é um teste. Uma das respostas aos "porquês" do sofrimento é dada na Bíblia: "Por um pouco de tempo, sendo necessário, haveis sido entristecidos por várias provações para que a prova da vossa fé mais preciosa que o ouro, que perece mesmo quando provado pelo fogo, seja achada para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo." (I Pedro 1:6,7)
No dia 16 de junho de 64 d.C., começou o grande incêndio de Roma. Os cristãos levaram a culpa e foram perseguidos. Porém, Pedro não estava escrevendo, necessariamente, sobre esses cristãos em particular. Ele escrevia sobre aqueles que sofriam com censuras, mentiras e calúnias. Pedro também enxergava adiante e via a intensa e causticante provação que, em breve, se abateria sobre a igreja. Estou convencido de que a atual popularidade do cristianismo evangélico nos Estados Unidos terá vida curta. A Bíblia ensina, e a História o confirma, que nunca fez mal à igreja passar pela fornalha. Pedro menciona que a perseguição não é um acontecimento "estranho", no que diz respeito aos cristãos. Diz a seus leitores: "Não vos surpreendais quando ela vier. Surpreendei-vos se não vier!
Abraão obedeceu a Deus e chegou à Terra Prometida para encontrar a fome. Jacó obedeceu a Deus e sua família se voltou contra ele. Davi obedeceu a Deus e se escondeu em cavernas porque o Rei Saul queria tirar-lhe a vida. Paulo obedeceu a Deus e se viu na prisão. Paulo disse: "Na verdade, todos aqueles que querem viver piedosamente em Jesus Cristo serão perseguidos." (II Timóteo 3:12) A perseguição traz muitos benefícios para os cristãos, como veremos mais adiante neste livro. Leva-nos a orar. Faz com que nos aprofundemos ainda mais na Santa Escritura. E extingue os pecados e as impurezas de nossas vidas. Todas as pessoas significativas na Bíblia tiveram que enfrentá-la. Quando você se identifica com o nome de Cristo, vai ter que enfrentá-la. A Santa Escritura ensina, repetidas vezes, que precisamos ser testados e purificados.
Podemos aceitar a perseguição porque conhecemos o propósito que há nela. O propósito é glorificar a Deus. Na Primeira Epístola de Pedro, o apóstolo fala sobre a glória de Deus 16 vezes. Na verdade, o que ele diz é: Eu lhe direi o que você realmente necessita. Passe pela fornalha, e quando passar pela fornalha para a glória de Deus, o Espírito de Deus descerá sobre você e haverá alegria no seu coração e você glorificará a Deus.
Através da perseguição, também partilhamos dos sofrimentos de Jesus Cristo. Quando um homem tem que sofrer e se sacrificar por sua fé, ele está percorrendo o caminho que Cristo percorreu e partilhando a cruz que Cristo carregou. A Santa Escritura diz: "Realmente padecemos com Ele, para que também com Ele sejamos glorificados." (Rom. 8:17) Em Filipenses 3:10, diz Paulo: "Para O conhecer e o poder da Sua ressurreição e a participação dos Seus sofrimentos, conformando-me como Ele na Sua morte." Muitas vezes Paulo retorna à idéia de que se o cristão tem que sofrer, de uma forma estranha ele está partilhando dos próprios sofrimentos de Cristo e está até preenchendo os sofrimentos de Cristo (II Coríntios 1:5; 4:10,11; Gálatas 6:17; Colossenses 1:24)
Sofrer pela fé não é uma punição, mas um privilégio. Ao fazê-lo, estamos partilhando da obra e ministério de Cristo. Se estivermos unidos com Cristo e Seus sofrimentos, também estaremos unidos com Cristo na Sua ressurreição. Conhecer Cristo é ficar tão identificado com Ele que partilhamos cada experiência dEle. "Significa que partilhamos o modo como caminhou; partilhamos a Cruz que carregou; partilhamos a morte que teve; e, finalmente, partilhamos a vida que vive para todo o sempre."1
Todavia, também é maravilhoso pensar que, em nossa vida cristã, o poder de Sua ressurreição precede o convívio com Seus sofrimentos. Em outras palavras, o poder de Sua ressurreição é acessível para nós dia após dia, através do Espírito Santo. Temos o prazer de sentir a presença de Deus no meio do sofrimento, aqui e agora.
Tenho falado com várias pessoas que estão experimentando profunda dor ou severas dificuldades, e elas sempre dizem: "Sinto que Deus está perto de mim."
Quando Estêvão estava sendo julgado e parecia certo de que seria condenado à morte, seu rosto apareceu para os espectadores como se fosse o rosto de um anjo. (Atos 6:15) Quando os três jovens hebreus foram lançados à fornalha e o rei foi espiar, viu um quarto que era semelhante ao "Filho de Deus." (Daniel 3:25) Nenhum crente jamais sofre sozinho. Jesus está sempre presente com ele.
Existe uma lenda sobre um missionário que foi para uma ilha distante e, lá, conseguiu o seu primeiro convertido a Cristo. Mais tarde, este homem foi torturado e morto pelos outros nativos. Muitos anos depois, quando o próprio missionário tinha morrido e ido para o céu, encontrou-se com o convertido martirizado e perguntou-lhe como se sentira sendo torturado até a morte por causa do seu amor a Cristo. O homem olhou para ele por um momento e depois replicou:
– Sabe que nem me lembro!
Sofrer como cristão assume muitas formas diferentes. Algumas perseguições podem ser de tipos mais sutis.
Disse Jesus, no Seu Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os que têm sido perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus." (Mateus 5:10) O que queria Ele dizer? Jesus podia estar incluindo a "controvérsia" que os cristãos encontram no mundo, simplesmente porque há as pessoas mundanas que vêem um estilo de vida diferente que distingue os crentes como alienígenas na sociedade moderna. Isso faz com que o não-cristão se sinta culpado ou hostil.
O quão diferente você é? Existe algo que o distinga do secularista, do agnóstico, do ateu? Na sua parábola do semeador, Jesus descreve aqueles que não conseguem manter a sua posição íntegra: "Mas não tem em si raiz, antes é de pouca duração; e sobrevindo tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo sé escandaliza." (Mateus 13:21, o grifo é meu)
No entanto, Jesus deixa claro que há uma recompensa pela fidelidade, face à perseguição ou à privação. "Em verdade vos digo", falou Jesus a Pedro, "que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e por amor do Evangelho, que não receba já, no presente o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, e com eles perseguições e no mundo vindouro a vida eterna." (Marcos 10:29, 30)
Em termos muito simples, Jesus lembra a Seus discípulos, em João 15:20: "Lembrai-vos das palavras que eu vos disse: O servo não é maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão de perseguir a vós." Quando somos perseguidos por nossa fé, estamos em boa companhia!

Perseguição por Insultos

Jesus também advertiu a Seus seguidores: "Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa." (Mateus 5:11) Da mesma forma, escreveu o apóstolo Pedro: "Se sois vituperados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois; porque o Espírito da glória, e de Deus, repousa sobre vós." (l Pedro 4:14) Muitas vezes, os insultos ocorrem como resultado do estilo de vida cristão, que é diferente daquele do mundo secular.
O que se quer dizer com estilo de vida? No mundo todo, a igreja está dando muita atenção a esse assunto. Um cristão britânico, em Oxford, um homem idoso, contou-me que, quando rapaz, era considerado pecado um cristão jogar, beber, dançar, ir ao cinema, ou para uma moça cristã se maquiar. Ele disse que aquele era o "legalismo" daquela geração. Prosseguiu dizendo que o novo legalismo desta era compreende um "estilo de vida". A nova voga diz que, se você possui um carro decente, usa boas roupas ou aprecia alguns dos confortos básicos da vida, a sua postura cristã pode ser "julgada" por outros cristãos. Creio que isto é tão legalístico quanto dizer que uma moça cristã não deve se maquiar.
Eu acredito que estilo de vida, no sentido bíblico, significa que o cristão não pratica coisas como a mentira, a desonestidade, a cobiça, o ciúme, o orgulho, o preconceito. Não tolera a injustiça social. É dominado pelo amor, alegria e paz na sua vida interior. Ama o próximo genuinamente. Defende posições impopulares em questões morais e sociais. Deus lhe dá a graça de perdoar os que o tenham ofendido. Sabe ser firme nos seus conceitos teológicos, morais e éticos, mas é tolerante para com aqueles que têm outra opinião sincera. Creio que este é o estilo de vida básico a que se refere a Escritura.
Os estilos de vida exteriores são "relativos" de um país para o outro e de cultura para cultura. Temos que permitir aos outros cristãos uma liberdade de consciência nas questões morais sobre as quais a Bíblia não é bem clara.
Um grande amigo meu, um cristão que pertence aos "Plymouth Brethren" (Irmãos de Plymouth) na Europa, recebia em sua casa alguns amigos cristãos americanos que não bebiam álcool. Ele serviu vinho e refrigerantes. Comentou, risonho:
– Sirvo vinho para a glória de Cristo e vocês o recusam para a glória de Cristo, e estamos todos certos.
Existem costumes e tradições diferentes nas diferentes partes do mundo e nós não devemos nos meter a julgar essas coisas.
Lembro-me de que, quando fomos à Irlanda pela primeira vez, em 1946, alguns cristãos irlandeses ficaram abismados porque a minha mulher usava um pouco de maquiagem. As cristãs usarem maquiagem era contra o legalismo da época, entre certos grupos de cristãos.
Se os insultos resultam de convicções e atitudes interiores, então temos motivo para nos regozijarmos. Se, todavia, criticamos ou insultamos uns aos outros por causa de diferenças culturais sobre as quais a Bíblia não é explícita, então não estamos reconhecendo a liberdade de escolha dos outros.

Perseguidos com Boatos e Calúnias

Da sutileza dos insultos para os boatos e calúnias é só um passo. Estou falando aqui das atitudes dirigidas contra os cristãos pelos não-cristãos. A discriminação pode ser forte contra o cristão que "vive ativamente" as suas crenças. "Nenhum de vós, porém, padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios alheios; mas se padeceis como cristão, não vos envergonheis, antes glorificai a Deus neste nome." (l Pedro 4:15,16)
Jesus falou: "Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?" (Mateus 10:25) Se Jesus sofreu perseguição e tormentos, como podemos nós, Seus seguidores, esperar fugir a isso?
Paulo soube o que era encontrar a inveja e o ódio do povo em Antioquia. Quando a multidão se reuniu para ouvi-lo pregar, os líderes religiosos "encheram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava". (Atos 13:45)
Pedro profetizou o mesmo tipo de tratamento para o cristão. "Nisto estranham que não concorrais com eles no mesmo excesso de dissolução, falando mal de vós." (I Pedro 4:4).
Será que existe um estudante cristão numa faculdade ou universidade que não tenha sofrido injúrias verbais porque não quis se unir aos colegas numa "festinha de embalo"? Será que existe um empresário cristão que nunca perdeu uma conta porque não aceitou "algum" por baixo dos panos? Será que existe um operário cristão que não tenha sido ridicularizado por alguns de seus colegas por não trapacear no serviço, preferindo viver só com o seu salário? Será que existe um caixeiro-viajante que seja honesto que não tenha sido alvo de risadas ou algum tipo de chacota por seus colegas vendedores, devido à sua honestidade? Paga-se o preço por ser um verdadeiro discípulo de Cristo de mil maneiras sutis.

Falsas Acusações

Jesus disse a Seus discípulos: "Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa." (Mateus 5:11) Repare na palavra "mentindo". Já nos acostumamos com o desprezo das pessoas que não são cristãs, pois, como nossa vida deve corresponder à nossa profissão, torna-se incompatível uma convivência harmoniosa com esse mundo degenerado. Mas Jesus está se referindo a falsas acusações.
O próprio Jesus foi vítima de falsas acusações no seu julgamento. Foi acusado de blasfêmia diante do Conselho Judaico e sedição ao enfrentar Pôncio Pilatos. Ambas as acusações eram falsas.
Os apóstolos Pedro e João foram falsamente acusados quando os levaram perante o Conselho (ou Sinédrio). Foram chamados de "malfeitores" quando, na verdade, seu único "crime" tinha sido curar um aleijado em nome do Senhor Jesus. (Atos 4:12-18).
Estêvão, o primeiro mártir cristão, enfrentou acusações falsas quando, também ele, foi citado perante o Conselho (Atos 7). Em Filipos, Paulo e Silas também foram acusados injustamente, espancados e lançados à prisão (Atos 16). A mesma coisa voltou a acontecer com Paulo repetidas vezes, nas suas viagens missionárias posteriores.
Se os apóstolos e outros dos primeiros líderes religiosos foram falsamente acusados por causa de sua fé, como podemos nós, cristãos de hoje, esperar fugir às falsas acusações e à mágoa que tais ataques podem trazer a nossas vidas?

Rejeição por Parte dos Outros

Uma das formas de perseguição que provavelmente mais nos magoa é a rejeição. Basicamente, todos queremos ser aceitos e amados. Em vez disso, podemos sentir-nos desprezados e alijados. O próprio Jesus é o exemplo supremo da experiência da rejeição. "Ele foi desprezado e rejeitado pelos homens." (Isaías 53:3) "Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. (João 1:11)
Em Mateus 10:14, Ele disse a Seus discípulos: "Se alguém não vos receber bem, nem ouvir as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés." Muitas vezes, Paulo e seus missionários foram perseguidos ao entrar em diversas cidades, nas suas viagens evangélicas. Todavia, Paulo seguiu os conselhos do Mestre sobre como lidar com a rejeição, e devemos fazer o mesmo. Sacuda o pó dos pés e siga o seu caminho. A rejeição não deve levar ao desalento, mas à ação.
Samuel Rutherford, o santo pastor e teólogo escocês, disse certa vez: "É através de muitas aflições que entramos no reino de Deus... É loucura pensar em esgueirar-se para o céu sem um arranhão."

Ódio da Parte dos Outros e Até da Família

Os cristãos não devem se preparar apenas para enfrentar a rejeição e o ódio no mundo, mas também no seio da sua família. Em Mateus 10:21-23, Jesus falou a seus discípulos:
"Irmãos entregarão à morte a irmãos, e pais a filhos: filhos se levantarão contra seus pais, e os farão morrer. Sereis odiados de todos por causa do meu nome, mas quem persevera até o fim, esse será salvo. Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra."
Esta previsão provou ser verdadeira muitas vezes, ao longo da História. Como descreve bem a situação de cristãos em regimes ateus opressivos, onde os pais atraiçoam os filhos e o irmão delata o irmão!
Samuel Rutherford estava se referindo a este tipo de sofrimento, quando escreveu: "Não penso muito numa cruz, quando todos os filhos da casa choram comigo e por mim; e sofrer quando apreciamos a comunhão dos santos não é muito; mas é duro quando os santos se rejubilam com o sofrimento dos santos e os redimidos magoam (é verdade, chegam até odiar) os redimidos."
Os membros da família não convertidos, assim como a sociedade de um modo geral, às vezes odeiam aquele que abraçou o Evangelho.
Em minhas viagens, conheci muita gente que sofreu ante a hostilidade amarga de parentes consangüíneos. Eu estava num avião no Extremo Oriente, quando um dos comissários de bordo perguntou se podia falar comigo. Exibia um amplo sorriso, quando falou:
– Há dois anos que sou cristão. Venho de família não-cristã, pertencente a uma seita que se opunha ao cristianismo. No entanto, há anos que eu vinha buscando alguma coisa, que não sabia ao certo o que era. Certo dia, ouvi um pastor falando de Jesus Cristo. Era isso o que eu vinha buscando a minha vida toda. Aceitei Cristo, fui para casa e falei a meus pais, irmãos e irmãs sobre a minha fé recém-descoberta. Eles me espancaram e me puseram para fora de casa. Todavia, continuei a testemunhar para eles e agora, folgo em dizer, são todos cristãos.
Em João 15:18-21, Jesus descreve por que o mundo, e até mesmo a família descrente do cristão, toma esta atitude para com o fiel seguidor de Cristo. Pode alguém perguntar o que quero dizer com "mundo". Esta palavra tem diversos significados na Bíblia. No presente contexto, quer dizer o sistema mundial, a ordem política e social organizada longe de Deus e muitas vezes dominada pelo mal.
Disse Jesus a Seus discípulos:
"Se o mundo vos aborrece, sabei que primeiro do que a vós me tem aborrecido a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era vosso; mas como não sois do mundo, antes vos escolhi eu do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos das palavras que vos disse: O servo não é maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão de perseguir. Se guardaram as minhas palavras, também hão de guardar as vossas. Mas todas estas cousas vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem Aquele que me enviou."
Todavia, não há necessidade de ficarmos deprimidos pelas provações que teremos que enfrentar ou pelo medo da perseguição. Como cristãos, acho que, às vezes, tendemos a esquecer que temos um companheiro em nossas lutas.
Isso me faz lembrar de uma história que Ann Landers publicou na sua coluna, que é reproduzida em vários jornais do país:
Certa noite, sonhei que estava passeando na praia com o Senhor. Muitas cenas da minha vida eram projetadas no céu. Em cada cena, reparei nas pegadas na areia. Às vezes, havia dois pares de pegadas, outras vezes apenas um. Isso me incomodou porque notei que, nos períodos mais difíceis da minha vida, quando estava sofrendo de angústia, pesar ou derrota, podia enxergar apenas um par de pegadas. Então, falei para o Senhor:
– Senhor, vós me prometestes que, se eu vos acompanhasse, caminharíeis sempre comigo. Mas eu reparei que, nos períodos mais difíceis da minha vida, havia apenas um par de pegadas na areia. Por que, nas horas em que mais precisei de vós, não estáveis ao meu lado?
E o Senhor replicou:
– As vezes em que viste apenas um par de pegadas, minha filha, é porque eu estava te carregando no colo.

As Irritações de Paulo

O apóstolo Paulo foi exortado a sofrer por Cristo, mas, ao longo de todo o seu sofrimento, só resistiu porque teve o apoio do Espírito Santo. Não apenas foi exortado a sofrer fisicamente, mas também conheceu o sofrimento mais sutil de bancar o idiota diante dos outros homens. Ele descreve as suas experiências em 1 Coríntios 4:9-13:
"Pois penso que Deus nos tem posto a nós, os apóstolos, pelos últimos, como sentenciadas à morte; somos feitos espetáculo ao mundo, tanto a anjos como a homens. Nós somos estultos por amor de Cristo, mas vós sábios em Cristo; nós somos fracos, mas vós forres; vós honrados, mas nós desprezadas. Até esta padecemos fome, e sede, e nudez, e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e fatigamo-nos, trabalhando com as nossas próprias mãos; quando vilipendiadas, bendizemos; perseguidos, sofremos; difamados, rogamos; somos feitos como refugo do mundo, como escória de tudo até agora."
Paulo nos fala, em II Coríntios, das tribulações, dificuldades, espancamentos, insônia e outros sofrimentos que os servos de Deus eram exortados a suportar. Ao pensar em suas responsabilidades como missionário cristão, disse ele: "Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, o cuidado de todas as igrejas." (II Cor. 11:28)
Como a preocupação de Paulo com as igrejas ressalta vividamente a grande pressão que sofrem as lideranças cristãs! As responsabilidades do ministério muitas vezes podem ser esmagadoras. Falando humanamente, podem levar à solidão, depressão e, muitas vezes, ao desânimo. Porém, no meio disto tudo, está a graça ilimitada de Deus e Sua paz, que ultrapassa toda a compreensão.
Ser um clérigo famoso numa época dominada pelos meios de comunicação acarreta pressões que o cristão comum nem sequer imagina. No meu caso em particular, houve épocas em que as pressões mentais, físicas e espirituais tornaram-se tão grandes que quase desejei que o Senhor me levasse logo para casa. Já tive vontade de fugir ou sumir. Mas sei que Deus me chamou para as minhas responsabilidades, e devo ser fiel. Como exemplo do que estou dizendo, existe o problema de ser citado continuamente na imprensa. Mais perigoso do que fazer um pronunciamento infeliz é a possibilidade de você ser mal-interpretado. As pessoas colocam os cristãos famosos num pedestal, mas, ao menor erro, eles são imediatamente culpados e muitas vezes ridicularizados pelos outros cristãos. Isso é parte do que Paulo quis dizer quando falou do "cuidado de todas as igrejas" repousando sobre ele. Esta pressão foi ainda maior do que os sofrimentos físicos que ele suportou. Muitas vezes me perguntei o que teria acontecido no ministério do Senhor Jesus Cristo, se a televisão existisse naquela época. O que teriam feito, por exemplo, com a ressurreição de Lázaro ou a cura de Bartimeu ou a alimentação dos cinco mil?
Podemos nunca ser exortados a sofrer como Paulo. Mesmo assim, podemos bem nos jubilar com uma atitude como a dele: "Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados; perseguidos, mas não abandonados; derribados, mas não destruídos." (II Coríntios 4:8, 9)
Deus nunca enviou nenhuma dificuldade para a vida de Seus filhos sem as ofertas conjuntas de ajuda nesta vida e recompensa na vida futura.
Sejam quais forem as aflições que cheguem à nossa vida, nosso Senhor entra no vale conosco, levando-nos pela mão, até mesmo nos carregando, quando é necessário.

Eis aqui um versículo para decorar e repetir:
"Não vos tem sobrevindo tentação que não seja comum aos homens; mas Deus é fiel, o qual não permitirá que sejais tentado além das vossas forças, mas também com a tentação proverá o meio de saída para poderdes suportá-la." (I Coríntios 10:13)








VIVENDO ACIMA DE SUAS CIRCUNSTÂNCIAS

Não oro pedindo um fardo mais leve, mas sim costas mais fortes. PHILLIPS BROOKS

PARA AQUELES que enxergaram, a cegueira pode ser uma deficiência esmagadora. Durante a maior parte de seus 95 anos na terra, Fanny Crosby foi cega. No entanto, teve a profunda percepção espiritual para compor hinos cristãos clássicos como "Salva pela Graça", e centenas de outros hinos e canções evangélicas que inspiraram e confortaram os cristãos por uma centena de anos.
Mais recentemente, Ken Medema, o cantor e compositor cego cujas melodias extravagantes e letras felizes o tornaram querido em todos os Estados Unidos, transformou a sua deficiência numa celebração alegre da bondade de Deus.
John Milton escreveu o imortal Paraíso perdido como resultado da desgastante experiência da cegueira. Esse clássico glorifica e exalta a grandeza de Deus.
O famoso missionário para os índios americanos, David Brainerd, e o destacado pastor escocês Robert Murray McCheyne sofriam de moléstias pulmonares e morreram antes de completar 30 anos. No entanto, embora tão jovens, firmaram-se na vanguarda do serviço cristão e foram reconhecidos por sua vida santa.
Louis Pasteur, o químico francês que descobriu o processo de eliminação de germes chamado de "pasteurização", era semiparalítico e sujeito a ataques epilépticos. Nunca desistiu da sua busca de soluções para as moléstias que grassavam na época em que vivia. É possível que, se tivesse gozado de boa saúde, tivesse trocado suas pesquisas por um trabalho mais lucrativo.
Devido à surdez progressiva, Beethoven foi forçado a abandonar sua carreira de pianista e concentrar-se na composição musical. Como resultado, tornou-se um dos maiores compositores de todos os tempos.
Estou convencido de que existe uma bênção no sofrimento. Nem sempre é possível enxergar a bênção no problema determinado que estamos enfrentando, mas o sofrimento pode e deve servir a um propósito positivo. A despeito de suas deficiências e dores, as pessoas a quem acabamos de nos referir alcançaram grandes coisas para o benefício da humanidade porque aprenderam a viver acima de suas circunstâncias, superando-as. Com a ajuda de Deus, podemos fazer o mesmo.
Todos temos problemas na vida, em escala maior, ou menor. Como disse o music man, "há encrencas em River City". As provações deixam umas pessoas amargas, e outras melhores. Qual a diferença?
O salmista oferece a resposta no Salmo 43:5. A diferença é a fé em Deus. "Por que estás abatida, minha alma? Por que estás perturbada dentro de mim? Espera em Deus."

A Estrada da Esperança

O apóstolo Paulo era um grande expoente de esperança. "Cristo em ti, a esperança da glória." (Col.1:27) Ao escrever tais palavras, ele coloca nossas esperanças em Cristo. E que melhor esperança do que o Cristo "em você"? Se Ele está no seu coração, traz Consigo todas as bênçãos do Seu Espírito: amor, alegria, paz e os outros frutos positivos que serão aparentes na vida daquele que crê (Gál. 5:22,23). Ao escutar a mensagem dos versículos da Santa Escritura, o cristão pode vislumbrar como sua vida pode ser, se for verdadeiramente entregue ao controle de Cristo.
Pense em algumas implicações de ter Cristo com você:
1. Você jamais ficará sozinho de novo;
2. Poderá lançar "sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" (1 Pedro 5:7);
3. Poderá contar com os frutos do Espírito crescendo na sua vida;
4. Poderá contar com um ou mais dons do Espírito para utilizar, visando o avanço do reino de Deus.
Desse modo, você terá não apenas "esperança no céu", mas terá também "esperança" para cada dia desta vida terrena, a despeito das circunstâncias externas e das dificuldades que possam ser criadas por sua situação.
Isto é apenas uma parte do legado espiritual que é nosso, quando "esperamos em Deus" e experimentamos a realidade do "Cristo em ti, a esperança da glória". O amplo panorama de vida vitoriosa para o qual se abre esta porta da "esperança" é vasto demais para se contemplar, profundo demais para se compreender. Porém, ele aguarda o crente que obedece a ordem de "ter esperança".

O Espinho na Carne de Paulo

O apóstolo Paulo conheceu o sofrimento na própria carne Quando contava para o povo de Corinto algumas de suas experiências pessoais engrandecedoras com o Senhor ressuscitado, confessou que tinha um problema físico real: "Para que eu não me engrandecesse demais, foi-me dado um espinho na carne, mensageiro de Satanás para me esbofetear." (II Cor.12:7)
Não sabemos exatamente o que era o tal "espinho na carne", mas deve ter sido uma enfermidade física. Podia ter sido alguma espécie de doença de olhos, ou epilepsia; ou, como Sir William Ramsay achava provável, malária. Houve quem sugerisse que poderia ser uma insônia crônica, mas eu acho isso pouco provável. Seja como for, sabemos como ele lidou com esse problema e qual foi a sua atitude subseqüente para com ele: "
"Acerca disto, três vezes implorei ao Senhor que o espinho se apartasse de mim. E disse-me: Basta-te a minha graça, pois a minha força se aperfeiçoa na fraqueza. Portanto, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, para que a força de Cristo repouse sobre mim. Por isso folgo em fraquezas, em afrontas, em necessidades, em perseguições, em angústias por amor de Cristo; pois quando estou fraco, então estou forte." (II Cor. 12:8-10)
É claro que Paulo não gostava do espinho na carne. Mas quando soube que não era possível livrar-se dele, parou de gemer e começou a glorificá-lo. Sabia que era a vontade de Deus e que o tormento era uma oportunidade para que ele provasse o poder de Cristo em sua vida.
Paulo também sabia o que era sofrer com circunstâncias externas. Ele literalmente se vangloria do sofrimento que suportou nas mãos daqueles que o perseguiam. Foi chicoteado, espancado com varas, apedrejado e naufragou; passou frio e fome; foi atraiçoado pelos amigos. Qualquer uma dessas circunstâncias teria derrotado a maioria de nós. Todavia, Paulo conclui o seu catálogo de sofrimentos com essas palavras triunfantes, que deveríamos imprimir em nossos corações: "Quando estou fraco, então estou forte."
Você conseguiria viver acima de suas circunstâncias, como Paulo viveu? Resistir a um sofrimento tão severo como o dele, por nossa conta, seria impossível. No entanto, juntamente com o apóstolo, podemos dizer: "Tudo posso naquele que me fortalece." (Filipenses 4:13)

Estêvão, o Primeiro Mártir

Como pode uma bênção advir de um assassinato? Estêvão foi outro personagem do Novo Testamento que sofreu e morreu pela causa de Cristo, e o seu martírio resultou em progresso para o Evangelho.
Estêvão foi escolhido dentre os primeiros dos discípulos em Jerusalém para cumprir a tarefa de diácono. No seu ministério, assim como no dos próprios apóstolos, "divulgava-se a palavra de Deus, e se multiplicava muito o número dos discípulos em Jerusalém; também muitos dos sacerdotes obedeciam à fé." (Atos 6:7)
Estêvão era "um homem cheio da graça e poder de Deus", cujo testemunho logo começou a fazer efeito. Como resultado, começou a enfrentar oposição. Qualquer pessoa que assuma audaciosamente o Senhor Jesus Cristo encontrará uma forte resistência. "Disputavam, com Estêvão; e não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito pelo qual ele falava." (Atos 6:9, 10)
O resultado de tudo isso foi que os líderes religiosos instigaram o povo a levar Estêvão para ser julgado pelo Conselho. Testemunhas mentirosas lhe lançaram acusações falsas e ele foi sentenciado á morte por apedrejamento.
Quando estava morrendo, Estêvão ergueu os olhos e declarou que via Jesus à mão direita de Deus. Isso enfureceu a turba de tal modo que apedrejaram Estêvão com mais violência ainda.
"Apedrejavam a Estêvão que invocava o senhor e dizia: 'Senhor Jesus, recebe o meu espírito.' Ele, ajoelhando-se, clamou em alta voz: 'Senhor, não lhes imputes este pecado.' Tendo dito isto, adormeceu." (Atos 7:59, 60)
Temos algo de interessante a acrescentar a esta história. Um homem chamado Saulo viu acontecer esse assassinato sangrento. Tornar-se-ia mais tarde, é claro, o apóstolo Paulo. Creio que a conduta de Estêvão durante o seu julgamento, seu sermão emocionante, e o seu martírio corajoso, podem ter sido os fatores que depois influenciaram Saulo a se voltar, ele mesmo, para Cristo.

Jó: Não É um Santo das Horas Boas

Dos muitos santos sofredores do Antigo Testamento, dois se destacaram para mim: um deles é quase uma ilustração clássica do sofrimento. É comum falarmos em "paciência de Jó" e com isso estamos nos referindo à maneira paciente como suportou o sofrimento cruciante que foi exortado a experimentar. A sua atitude triunfante é ainda mais espantosa quando nos damos conta do que aconteceu a ele. O seu sofrimento era mais do que simplesmente físico:
1. Ele perdeu a saúde;
2. Perdeu a fortuna;
3. Perdeu os filhos.
Jó ficou reduzido a sentar-se em meio aos escombros da sua vida, antes próspera. E depois da perda de tudo que valia a pena na sua vida, ele ainda pôde dizer: "Eis que me matará; não esperarei. Contudo, defenderei os meus caminhos diante dele." (Jó 13:15) Mais tarde, fez essa declaração impressionante: "Sei porém que o meu Redentor vive, e o que vem depois de mim se levantará em pé sobre o pó." (Jó 19:25) Tais palavras saíram da boca de um homem esmagado mental e fisicamente pelo sofrimento que suportara nas mãos de Satanás.
Depois dos piores de seus padecimentos, a sua mulher lhe disse:
– Conservas tu ainda a tua integridade? Renuncia a Deus e morre.
A despeito dessas palavras fortes, Jó replicou:
– Estás falando como fala uma mulher tola. Quê? Receberemos o bem da mão de Deus, e não receberemos o mal?
Continuamos lendo a Bíblia, e vemos que, "em tudo isso, não pecou Jó com os seus lábios." (Jó 2:9,10) Jó não era perfeito. Repare que a Bíblia diz que ele não pecou "com os seus lábios"! Todavia, ele é um modelo impressionante para seguirmos em nossa atitude para com o sofrimento. A despeito de suas dificuldades, podia dizer: "Jeová deu, e Jeová tirou; bendito seja o nome de Jeová." (Jó 1:21)
O Livro de Jó não resolve o problema do sofrimento, mas ensina lições valiosas. Primeiro, torna claro que os inocentes sofrem juntamente com os culpados, e que a virtude nem sempre é recompensada aqui na terra. Os sofrimentos de Jó eram imerecidos. Ele rejeitou as acusações de seus três amigos e manteve a sua integridade. Deus tampouco o acusou de ter agido mal.
Depois, a história nos ajuda a distinguir entre o sofrimento de retribuição e o disciplinar. Deus não estava punindo Jó, mas sim testando a sua fé e apurando o seu caráter. Jó saiu da sua provação um homem melhor e mais sábio.
A história de Jó tem uma conclusão gloriosa. Você pode achá-la no capítulo 42 de Jó, mas eis aqui os pontos altos: Depois que Jó orou por seus amigos (aqueles que o difamaram durante a sua provação), o Senhor o tornou próspero de novo e deu-lhe o dobro do que possuía antes. Todos os seus irmãos e irmãs... confortaram-no e consolaram-no pelos padecimentos que o Senhor lhe enviara... O Senhor abençoou a última parte da vida de Jó mais do que a primeira. (vv.10-12)
Que testemunho é Jó da fidelidade máxima de Deus a Seus próprios filhos! No seu livro Where Is God When It Hurts? (Onde está Deus quando dói?), escreve Phillip Yancey: "Satanás provocara Deus com a acusação de que os humanos não são verdadeiramente livres, porque Deus reforçara as recompensas de Jó para que ele escolhesse a Seu favor. Será que Jó era fiel porque Deus lhe concedera uma vida tão próspera? O teste provou que não. Jó é um exemplo eterno daquele que se manteve fiel a Deus, embora o seu mundo tenha desabado e parecesse que o próprio Deus se voltara contra ele. Jó se apegou à justiça de Deus quando, aparentemente, era o melhor exemplo na história de uma pretensa injustiça de Deus. Ele não buscou o Doador por causa de seus dons; quando todos os dons foram retirados, ele ainda buscava o Doador."1

Da Prisão ao Palácio

Existe um outro personagem do Antigo Testamento que nos oferece uma ilustração do sofrimento: José. Seus irmãos tramaram a sua morte e o venderam como escravo. Ainda criança foi separado de sua família e mandado para um país estranho. Quando era rapaz, foi acusado falsamente de tentar seduzir a mulher de seu senhor, e, como conseqüência, foi lançado à prisão. Esses acontecimentos eram o bastante para levar qualquer homem ao desespero.
Disse alguém: "Deus não usa ninguém além dos seus limites, a não ser depois que o tenha feito em pedaços." José passou por mais tristezas do que todos os filhos de Jacó, no entanto, foi fiel. A sua fidelidade no sofrimento levou-o a ser o primeiro-ministro do Egito. Como resultado de sua posição e poder, conseguiu salvar a sua família da fome. Por este motivo, disse dele o Espírito Santo: "José é um ramo frutífero, um ramo frutífero junto à fonte; e seus raminhos se estendem sobre o muro." (Gên.49:22) É preciso o sofrimento para ampliar a alma.

O Sofrimento em Nosso Mundo Moderno

É interminável a lista dos que sofreram por Cristo, desde os dias da primeira igreja. Lemos histórias tanto de católicos quanto de protestantes que, em séculos passados, padeceram terrivelmente por lealdade à sua fé. A maioria desses valentes cristãos morreu sob tortura e foi submetida a tratamentos desumanos que vão além da imaginação.
Mas não é preciso irmos muito longe na História. O século XX foi testemunha de alguns dos exemplos mais espantosos de sofrimento em massa na história da raça humana. Milhões sofreram e morreram em duas catastróficas guerras mundiais, com milhões mais perecendo em diversas outras guerras e revoluções.
Vários anos atrás visitei o notório campo de concentração nazista em Auschwitz, onde vários milhões de pessoas (tanto judeus quanto gentios) foram impiedosamente chacinados. Nem consigo descrever o horror e a revulsão que me dominaram enquanto caminhava por aquele terrível monumento à desumanidade do homem para com o homem.
Além disso, o nosso século tem testemunhado, repetidamente, cenas incríveis de fome e inanição em massa em muitas partes do mundo. Nenhum cristão sincero pode ficar indiferente a acontecimentos tão trágicos. A sina desesperada dos pobres e famintos, a tolerância de tantos para com a injustiça social e econômica, o aumento descabido de armas de destruição em massa – estes e inúmeros outros problemas demonstram vividamente que vivemos num mundo em que a maldade e o sofrimento não apenas são reais, como crescem a cada momento. Esses problemas também desafiam todos os cristãos a orar e trabalhar para mitigar o sofrimento e a combater as causas desses problemas, sempre que possível.
Como cristãos, sabemos que todo o sofrimento e a maldade jamais serão eliminados de nosso mundo antes do retorno de Cristo. Mas também sabemos que Cristo ordena que façamos tudo o que for possível para demonstrar o Seu amor por todos aqueles que sofrem. Devemos lutar contra o mal e a injustiça e trabalhar em nome de Cristo pelo bem dos outros.
Porém, o sofrimento afeta todos os tipos e classes de indivíduos, todos os dias. Podemos encontrar à nossa volta o sofrimento sob dezenas de formas. Basta ir aos cortiços de Nova York, aos hospitais de qualquer cidade, ou aos lares tragicamente desfeitos. Converse com os milhões de crianças que estão vivendo com apenas um dos pais, ou sem nenhum dos dois. Converse com as dezenas de milhares de pacientes que foram avisados que estão com câncer ou moléstias cardíacas. Converse com as vítimas de assaltos, estupros e outros crimes que ocorrem diariamente em quase todas as cidades. Vá às prisões e fale com os prisioneiros que estão pagando o preço amargo por seus erros. Converse com os pastores que estão de coração partido porque os membros de sua congregação professam uma coisa e vivem outra. O mundo todo está pedindo socorro.
Uma pessoa cujo nome é sinônimo de "sofrimento vitorioso" é a prendada e corajosa tetraplégica Joni Eareckson. Vive numa cadeira de rodas, incapaz de fazer qualquer coisa por si mesma e, no entanto, é um dos seres humanos mais vibrantes e belos que já vi.
Dividiu conosco o palanque cm muitas de nossas cruzadas, e o seu testemunho do que o Senhor fez por ela, em e durante sua provação, nunca cessa de me espantar e me tornar humilde. Joni emergiu do fogo de sua provação com uma percepção incrivelmente ampla e sensível não apenas quanto ao significado do sofrimento, mas também quanto a todas as grandes verdades teológicas inerentes a este tópico. Joni já teve o seu próprio Armagedom.
Sua capacidade de captar as verdades mais profundas e verbalizá-las em termos simples me assombra e inspira. Conheço pouca gente, inclusive alguns de nossos maiores teólogos, que possua uma noção tão prática e abrangente de quem é Deus e do que está fazendo em Seu mundo. Os livros dela e o filme sobre a sua vida, suas apresentações na televisão e sua história publicada na imprensa tocaram milhares de vidas. O seu serviço para Deus é muitas vezes maior do que se jamais tivesse sofrido aquele acidente, ao mergulhar na Baia de Chesapeake.
Kim Wickes, que comparece à maioria de nossas cruzadas, ficou cega na infância porque as retinas de seus olhos foram destruídas quando ela olhou para a explosão de uma bomba. Seu pai tentou matá-la, jogando-a no rio. Desesperado e sem saber mais o que fazer por causa da guerra e da fome, o pai acabou deixando-a num asilo para crianças cegas e surdas em Taegu, Coréia. Mais tarde, foi adotada por uns americanos e começou os anos de estudo e treinamento que resultaram num testemunho em letra e música que encantou milhões. Seus estudos levaram-na às melhores escolas do mundo, inclusive a Viena. Os acontecimentos da vida de Kim podiam ter destruído muitas pessoas, porém, pela graça de Deus, ela triunfou sobre a adversidade.
Hoje em dia, existem milhares de cristãos no mundo todo que estão enfrentando diariamente a dor, a perseguição e a oposição por sua fé. Ficamos sabendo agora de seus triunfos e sobrevivência em muitas partes do mundo. A sua fé em Cristo é profunda e forte. A disposição com que enfrentam a perseguição nos deixa envergonhados.
Não compreendo como o corpo humano pode suportar uma perseguição do tipo que estão sofrendo hoje em dia alguns de nossos irmãos e irmãs em Cristo – como, por exemplo, em Uganda. Sei apenas que, quando Jesus Cristo está com uma pessoa, esta pode suportar os padecimentos mais profundos e emergir um cristão ainda melhor e mais forte. A questão de como devemos suportar o sofrimento será abordada no capítulo seguinte.

O Sofredor Supremo: Jesus Cristo

Será que olhamos para nós mesmos, nossas provações, nossos problemas, quando estamos sofrendo? Será que vivemos segundo as circunstâncias, em vez de acima das circunstâncias? Ou será que olhamos para Aquele que sofreu mais do que podemos conceber?
Em Table Talk (Conversa à mesa), Martinho Lutero disse: "Nosso sofrimento não é digno do nome de sofrimento. Quando considero minhas cruzes, tribulações e tentações, quase morro de vergonha, pensando no que são em comparação com o sofrimento de meu abençoado Salvador, Jesus Cristo."
Existem várias coisas na vida de Cristo que revelam o Seu papel como o "servo sofredor", Messias. É impossível reconstituir cada aspecto desta busca por toda a Sua vida, mas considere estas verdades:
Em Isaías 53, os sofrimentos do Salvador são descritos com tanta minúcia que o texto pode ser lido quase como se fosse algo escrito por uma testemunha ocular, ao invés de ser a previsão de um homem que o escreveu oitocentos anos antes do fato.
Observe que a vida de Jesus começou em meio à perseguição e ao perigo. Ele veio numa missão de amor e misericórdia, enviado pelo Pai. Um anjo anunciou a Sua concepção e deu-Lhe Seu nome. Todos os anjos cantaram um hino glorioso quando Ele nasceu. Por meio da "estrela" ou meteoro extraordinário, o próprio céu indicou a Sua vinda. Por Si mesmo foi a criança mais ilustre que já nasceu – o santo filho de Maria, o Filho divino de Deus. No entanto, mal Ele entrou no nosso mundo e já Herodes decretou a Sua morte e fez de tudo para consegui-ta.
Repare, também, que Ele assumiu um papel de profunda degradação. Filho do pai Eterno, Ele tornou-se um bebê feito à semelhança do homem. Assumiu nossa natureza humana com todas as suas enfermidades e fraquezas e capacidade para o sofrimento. Veio como o filho de pais paupérrimos. Toda a Sua vida foi de humilhação voluntária. Veio para servir e ministrar, não para ser servido.
Outro aspecto de Seu sofrimento são as suspeitas vis e as deturpações que teve que suportar. "Ele veio para o que era seu, e os seus não o receberam." (João 1:11) Em vez disso, zombaram dEle e O trataram com desdém. Foi "desprezado e rejeitado" pela maioria deles. Trataram-no como um transgressor da lei de Deus, alguém que desrespeitava o Sábado, uma pessoa pecaminosa – um beberrão, um alcoólatra, alguém associado a marginais e pecadores notórios.
Repare também que Ele esteve constantemente exposto à violência pessoal. No começo de Seu sacerdócio, Seus próprios conterrâneos de Nazaré tentaram jogá-lo montanha abaixo. (Lucas 4:29) Os líderes religiosos e políticos muitas vezes conspiraram para prendê-Lo e matá-Lo. Finalmente, acabou sendo preso e levado a julgamento ante Pilatos e Herodes. Muito embora fosse inocente das acusações, foi denunciado como inimigo de Deus e do homem, e indigno de viver.
Os sofrimentos de Jesus também incluíram as ferozes tentações do demônio. Isto foi vividamente descrito em Mateus 4:1: "E então foi levado Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo."
Lembre-se, também, que Ele sabia, antecipadamente, o que O esperava, e isto aumentou ainda mais o Seu sofrimento. Conhecia o conteúdo do cálice que tinha de beber; conhecia a trilha de padecimentos que tinha que percorrer. Podia enxergar claramente o batismo de sangue que O esperava. Falou claramente a Seus discípulos da morte próxima pela crucificação. Jesus, o sofredor supremo, veio para sofrer por nossos pecados. Como resultado de Seus padecimentos, nossa redenção ficou assegurada.

O que o sofredor divino exige de nós? Apenas nossa fé, nosso amor, nosso louvor agradecido, nossos corações e vidas consagrados. Será demais para se pedir? O Cristo vivendo em nós permitirá que vivamos acima de nossas circunstâncias, não importa o quão dolorosas sejam. Talvez você que está lendo estas palavras encontre-se quase esmagado pelas circunstâncias que está enfrentando no momento. Pergunta-se quanto ainda poderá agüentar. Mas não se desespere! A graça de Deus é suficiente para você e permitirá que supere as suas provações. Que esta seja a sua confiança:
"Quem nos separará do amor de cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? (...) Em tocas estas coisas somos mais do que vencedores por aquele que nos amou." (Rom. 8:35-37)





















O QUE FAÇO COM A MINHA DOR?

A dor, o megafone de Deus, pode me afastar dEle. Posso odiar a Deus por permitir tal miséria. Por outro lado, pode me levar a Ele. PHILIP YANCEY1

NEM SEMPRE somos consistentes em nossas reações ao sofrimento pessoal. Com um tipo de aflição, somos capazes de agüentar firme e seguir em frente. Com um outro golpe da vida, parecemos desmontar.

Nossas Reações São o Resultado de Nossas Convicções

Lorde George Gordon Byron e Sir Walter Scott foram talentosos escritores e poetas que viveram no fim do século XVIII e começo do século XIX. Ambos eram mancos. Byron se ressentia amargamente de sua deficiência e vivia se queixando da sua sina. Nunca se ouviu Scott reclamar do seu problema. Certo dia, Scott recebeu uma carta de Byron que dizia: "Daria a minha fama para ter a sua felicidade."
O que fez a diferença nas suas reações ao sofrimento e suas atitudes para com suas deficiências? Byron era um homem que se orgulhava do seu estilo de vida dissoluto. Os seus padrões morais eram duvidosos. Scott, por outro lado, era um fiel cristão, cuja vida corajosa exemplificava os seus padrões e valores cristãos.
Para o cristão, a reação ao sofrimento deve ser influenciada por seu conceito do que Jesus Cristo suportou por ele na cruz e na sua compreensão da vontade de Deus para ele em sua dor, não importa qual a sua fonte ou intensidade.
A vida cristã é uma vida livre da penalidade do pecado no que diz respeito ao julgamento, mas não é livre dos resultados do pecado. Por causa da desobediência no Paraíso, o pecado invadiu o universo perfeito de Deus e daí o sofrimento inevitável que encontramos durante a nossa peregrinação humana – o sofrimento que terminará, no que diz respeito ao cosmos, no Armagedom. Nesse meio-tempo, não estamos livres de aflições, doença, transtornos emocionais, problemas financeiros e todo o espectro do sofrimento humano.

Cristo Nunca Prometeu Uma Vida Fácil

Jesus Cristo falou francamente a Seus discípulos sobre o futuro Nada ocultou deles. Ninguém pode acusá-lo de logro ou de fazer falsas promessas.
Em linguagem inconfundível, Ele lhes disse que o discipulado significava uma vida de abnegação, carregando uma cruz. Pediu-lhes que contassem os custos com cuidado, para que depois não dessem meia-volta ao encontrar o sofrimento e a privação.
Jesus disse a Seus seguidores que o mundo os odiaria. Eles seriam presos, flagelados, e levados perante governadores e reis. Até mesmo os seus entes queridos os perseguiriam. Como o mundo O odiava, trataria mal a Seus servos. Ele também advertiu: "Ainda mais vem a uma hora em que todo o que vos mata julgará oferecer um culto a Deus." (João 16:2)
Sendo assim, o cristão deve esperar conflito, não uma vida fácil e gostosa. Ele é um soldado e, como já foi dito, o seu capitão jamais lhe prometeu imunidade dos percalços da batalha.
Muitos dos primeiros seguidores de Cristo ficaram desapontados com Ele, pois a despeito de Suas advertências, esperavam que Ele subjugasse seus inimigos e instalasse um reinado político no mundo. Quando se viram face a face com a realidade, "se retiraram, e não andavam mais com ele". (João 6:66) Porém, os verdadeiros discípulos de Jesus sofreram por sua fé.
Sabemos que os primeiros cristãos rejubilavam-se quando iam ser mortos, como se estivessem indo para um banquete de núpcias. Banhavam as mãos no fogo aceso para queimá-las e gritavam de alegria. Um dos historiadores da época, ao testemunhar o heroísmo deles, escreveu: "Ao amanhecer o dia da vitória, os cristãos marchavam em procissão da prisão para a arena como se estivessem marchando para o céu, com fisionomias alegres marcadas pelo contentamento, e não pelo medo."
Tácito, um historiador romano, escrevendo sobre os primeiros mártires cristãos, falou: "Acrescentavam-se à sua morte zombarias de todo o tipo. Cobertos com peles de animais, eles eram feitos em pedaços pelos cães e pereciam, ou eram pregados em cruzes, ou lançados às chamas e queimados, para servir de iluminação noturna, quando o dia terminava. Nero oferecia seus jardins para o espetáculo."
Como eram verdadeiras as palavras de Paulo aos primeiros cristãos: "Por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus." (Atos 14:22)
Alguém já disse que estas são as "contradições permitidas" de Deus em nossas vidas. Todavia, existe uma diferença drástica entre a vontade permissiva de Deus e a Sua vontade perfeita para nossas vidas. Nós nos desviamos daquela vontade perfeita quando Adão escolheu a desobediência a Deus no Paraíso.
Quando a vida nos desfecha seus golpes, podemos reagir com ressentimento, resignação, aceitação ou boas-vindas. Somos os exemplos vivos de nossas reações.

Ressentimento: A Culpa É Sua, Deus

Se vivemos vidas egocêntricas e algo acontece para alterar ou perturbar os planos que fizemos com tanto cuidado, a nossa tendência natural é reagir com impaciência ou ressentimento. Temos a tendência de culpar a Deus quando as coisas dão errado e a assumir o crédito quando tudo parece estar indo bem. Reagir com ressentimento pode se tornar um meio de vida para nós, e o resultado não é muito atraente.
O ressentimento pode estrangular um ser humano. Diz a Bíblia: "A insubmissão mata o tolo e o apaixonamento tira a vida ao simples." (Jó 5:2)
Como se desenvolve o ressentimento? Desenvolve-se dentro de um clima de resistência à vontade de Deus para nossas vidas. Os cristãos que têm uma fé forte crescem à medida que aceitam o que quer que Deus permita que entre em suas vidas. Curvam-se à Sua vontade boa e perfeita e tornam-se mais maduros. Num verdadeiro sentido, o caráter cristão é um crescimento, não um dom.
Alexander Maclaren, um ilustre pregador de Manchester (1826-1910), escreveu: "O que nos perturba neste mundo não são as dificuldades, mas a nossa oposição às dificuldades. A verdadeira fonte de tudo que aborrece e irrita e desgasta as nossas vidas não está nas coisas externas, mas na resistência de nossas vontades à vontade de Deus expressa pelas coisas eternas."
Ressentir-se e resistir à mão disciplinadora de Deus é perder uma das maiores bênçãos espirituais que nós cristãos podemos ter aqui na terra.
Seja lá o que for – aflições, dificuldades, adversidade, irritação, oposição – nós só "aprendemos Cristo" quando descobrimos que a graça de Deus é suficiente para todos os testes. Um poeta desconhecido pergunta:
Se todos os meus anos fossem verão,
como eu poderia saber
O que meu Senhor quer dizer com
Sou "tornado branco como a neve"?
Se todos os meus dias fossem ensolarados,
como eu poderia dizer
"na Sua bela terra Ele enxuga todas as lágrimas"?
Se eu jamais me cansasse, como guardaria
junto ao coração "Ele dá o sono àqueles que ama"?
Se não tivesse padecimentos, será que não consideraria
a vida eterna apenas um sonho sem fundamento?
Meu inverno e minhas lágrimas e meu cansaço,
até meus padecimentos podem ser o jeito dEle abençoar.
Eu os chamo de males, no entanto, sem dúvida não passam
de amor que mostra o Senhor aos meus olhos.

Embora Jó tenha sofrido como poucos homens sofreram, ele jamais perdeu de vista a presença de Deus ao seu lado, em meio ao sofrimento. Emergiu vitorioso do outro lado da dor e da provação porque jamais permitiu que o ressentimento toldasse o seu relacionamento com Deus.
A atitude que pode vencer o ressentimento é expressa pelo autor aos Hebreus: "Toda correção ao presente, na verdade, não parece ser de gozo, mas de tristeza; depois, porém, dá fruto pacífico de justiça aos que por ela têm sido exercitados." (12:11)
O ressentimento é uma das reações às provações e aflições da vida, e nos deixa com uma personalidade amargurada. Existe uma outra reação, que é de piedade aparente.

Resignação: Enfrentando a Vida com um Suspiro

Todo um gênero de literatura religiosa se desenvolveu a partir deste tipo de atitude "espiritual". Na verdade, a maioria dos cristãos se encontra nesta categoria, numa ou noutra época. Às vezes, achamos que há algo de piedoso em nos resignarmos aos duros golpes da vida. A resignação não é uma virtude que distingue os cristãos. Poderíamos aprender com os escritores pagãos, como os estóicos da Grécia antiga, a aceitar a calamidade com resignação. Em geral, é a maneira mais fácil de reagir, uma espécie de fatalismo ou analgésico – anestesia onde deveria existir ação.
A vitória cristã autêntica não está no caminho da mera resignação. Em vez disso, o cristão que cresce vê, como Jó viu, que, embora Deus possa nos ferir (ou permitir que sejamos feridos), "as suas mãos também curam." (Jó 5:18)
Ainda bem que o rei Davi não vivia permanentemente "numa boa". Pense só nos Salmos que não conheceríamos, se fosse este o caso. Nos seus escritos, ele deixa ver um lado da sua natureza que nos intriga e inspira. Em vez de se resignar ao sofrimento, ele falou coisas como: "Por que estás abatida, minha alma? Por que estás perturbada dentro de mim?" (Salmos 42:5)
Como ele respondeu a essas perguntas retóricas? Prosseguiu ele: "Espera em Deus, pois ainda lhe darei graças pelo auxílio do seu rosto." (vv. 5, 6) Continua a raciocinar consigo mesmo: "De dia Jeová ordenará a sua benignidade, e de noite estará comigo o seu cântico, a saber, uma oração ao Deus da minha vida. Direi a Deus, minha rocha: Por que te esqueceste de mim?"
"Por que estás abatida, minha alma? Por que estás perturbada dentro de mim?" Ele mesmo se responde, triunfante: "Espera em Deus, pois ainda lhe darei graças pelo auxílio do seu rosto." (vv. 5-6)
Davi recusava-se a resignar-se às derrotas que, às vezes, ameaçavam derrubá-lo. Mais de uma vez, tanto na sua vida pessoal quanto na pública, ele parecia ter sido vencido – mas sempre olhava para além do obstáculo ou problema tentando enxergar o próprio Deus. "Elevo os meus olhos para os montes: de onde há de vir o meu socorro? O meu socorro vem de Jeová, que fez o céu e a terra." (Salmos 121: 1,2) Embora Davi possa ter se mostrado triste, confuso ou desanimado em alguns salmos, ele sempre termina numa nota de esperança ou confiança em Deus.
Como já ressaltamos, a tristeza, as dificuldades, os sofrimentos e até a perseguição, de uma forma ou de outra, chegam à vida de todo cristão. Não temos um escudo mágico para nos proteger dos problemas. Porém, a resignação pura e simples pode levar-nos a um estado de abatimento. No final das contas, é a nossa atitude que conta – a nossa atitude para conosco e para com Deus. Podemos transformar os fardos em bênçãos, ou deixar que os fardos nos enterrem.

Aceitação: Tirando Proveito da Adversidade

Às vezes, nossos fardos parecem grandes demais para qualquer um suportar. Jesus tem um grande convite para nós: "Vinde a mim todos os que andais em trabalho e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Pois meu jugo é suave, e o meu fardo é leve." (Mat. 11:28-30, o grifo é meu)
Vinde. Tomai. Aprendei. Que palavras poderosas! Contêm um convite para aceitar e tirar proveito de nossos fardos e problemas.
O orador, escritor e estadista irlandês Edmund Burke (1729-1797) disse: "Nosso antagonista é nosso ajudante. Aquele que luta conosco fortalece nossos músculos e aguça nossas habilidades."
Um músculo que não é usado se atrofia. Para atingir a sua força máxima, o músculo tem que se opor a alguma coisa. Para atingir o ápice como indivíduo, a pessoa tem que aprender a tirar proveito de uma dificuldade.
Fico pensando nos negros americanos que, por muitos anos, foram considerados cidadãos de segunda categoria. Porém, a despeito de suas extremas desvantagens, muitos negros tiraram proveito de suas dificuldades para desenvolver todo o seu potencial humano. Como resultado de seu trabalho e de sua luta pelo reconhecimento, temos muitos atletas, cantores e atores negros extraordinários. Outros negros, também, alcançaram grande destaque porque encontraram na adversidade aquilo que nós, no privilégio e na afluência, deixamos escapar.
A pérola é outro exemplo da grandeza que nasce da adversidade. De onde vem essa bela jóia? Ela começa como incômodo grão de areia, que deu um jeito de entrar pelas dobras da concha da ostra. A pérola emerge como resultado da reação da ostra ao incômodo. Alguém já disse: "Uma pérola é uma ostra que foi ferida."
O conforto e a prosperidade jamais enriqueceram o mundo como a adversidade o fez. Foi da dor e dos problemas que nasceram as mais doces canções, os poemas mais pungentes, os contos mais impressionantes. Do sofrimento e das lágrimas nasceram os maiores espíritos e as vidas mais abençoadas.
J.R. Miller escreveu: "Muitos de nós acham a vida dura e cheia de dor. Não podemos evitar tais coisas. Mas não devemos deixar que as experiências difíceis amorteçam a nossa sensibilidade ou nos façam ficar estóicos ou azedos. O verdadeiro problema da vida é manter os corações doces e meigos nas condições e experiências mais duras."
Nossa filha mais velha casou-se com um suíço. Eles têm seis filhos e geralmente passam o verão na Suíça e o inverno nos Estados Unidos. Às vezes, quando os visitamos na Suíça, pegamos as crianças e subimos até o alto dos Alpes de teleférico. Passamos por sobre quilômetros de terra, vendo lá embaixo algumas das flores mais belas que se pode encontrar em qualquer parte do mundo. Essas flores sobreviveram às nevascas do inverno. A carga de gelo, neve e tempestades de inverno apenas aumentou o seu brilho, beleza e desenvolvimento. É difícil acreditar que, apenas algumas semanas antes, essas flores estavam enterradas sob muitos metros de neve. Nossos fardos podem ter o mesmo efeito em nossas vidas.
Quando os cristãos enfrentam os ventos da adversidade e as tormentas dos problemas, eles alçam vôo como a cotovia. São como as árvores que sobrevivem à tempestade porque suas raízes estão profundamente enterradas. São como as árvores que crescem nas cristas das montanhas da Carolina do Norte – árvores castigadas pelos ventos e, no entanto, árvores nas quais encontramos a madeira mais forte.
A pérola, a cotovia, a flor, as árvores – todas elas ilustram as palavras de Jó: "Se ele me provasse, sairia eu como o ouro." (Jó 23:10) O cristão que compreende este aspecto da natureza de Deus pode achar conforto no seu sofrimento. Assim como uma criança disciplinada é uma criança feliz, a Bíblia diz: "Eis que é feliz o homem a quem Deus reprova, portanto não desprezes a correção do Todo-Poderoso. Pois ele faz a ferida e a trata; ele machuca, e as suas mãos curam." (Jó 5:17,18)
Quando nossos corações estão inteiramente entregues à vontade de Deus, então nos deliciamos ao ver que Ele nos usa de qualquer maneira que deseje. Nossos planos e desejos começam a combinar com os dEle e aceitamos a Sua orientação em nossas vidas. Nosso senso de alegria, satisfação e realização na vida aumenta, não importa quais as circunstâncias, se estamos no centro da vontade de Deus.

O Sofrimento Bem-Vindo: Alegria a Despeito da Fornalha

O ressentimento ou a resignação não são a resposta ao problema do sofrimento. E ainda há um outro passo para além da aceitação. É aceitar com alegria. Precisamos escutar as palavras de Tiago: "Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo quando passardes por diversas tentações, conhecendo que a provação da vossa fé produz a fortaleza. A fortaleza deve completar a sua obra, para que sejais perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma." (Tiago 1:2-4)
A vida cristã é uma vida plena de alegria. O cristianismo jamais se destinou a ser algo para fazer as pessoas infelizes. O ministério de Jesus Cristo foi um ministério de alegria. A Bíblia ensina que uma vida de repouso interior e vitória exterior é um direito inato de um cristão.
"Que testemunho para o mundo seriam os cristãos", escreveu Amy Carmichael, "se fossem pessoas evidentemente mais felizes." A alegria é uma das marcas do verdadeiro crente. A Srta. Carmichael cita o prebendário Webb-Peploe como tendo dito: "A alegria não é exuberância; a alegria não é jovialidade. A alegria é simplesmente a perfeita aquiescência à vontade de Deus, porque a alma se deleita no próprio Deus."1
A capacidade de se regozijar com qualquer situação é um sinal de maturidade espiritual.
Cristo disse a Seus discípulos que não deviam considerar uma aflição o fato de serem injuriados e perseguidos. Deviam encarar aquilo como um favor e uma bênção. Deviam "rejubilar-se e ficar contentes" quando perseguidos. (Mat. 5:12) Deviam ser "mais do que vencedores" em meio à sua privação. (Rom. 8:37) Deviam rejubilar-se no seu sofrimento. (Rom. 5:3)
Paulo passou por suas dificuldades cantando e gritando, e as suas maiores vitórias nasceram das perseguições que sofreu. Escreveu aos romanos: "E não só isso, mas também nos gloriemos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz fortaleza... Quem nos separará do amor de Cristo? As tribulações, ou angústia, ou a perseguição? (...) Na esperança, sede alegres, na tribulação, pacientes na oração, perseverantes" (Rom. 5:3; 8:35; 12:12)
Quando foram chicoteados e receberam ordens para não mais falar em nome de Jesus, Pedro e João partiram "regozijando-se por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus (...) não cessavam de ensinar e pregar a Jesus, o Cristo." (Atos 5:41, 42)
Em todas as eras foi possível aos cristãos manter o espírito de alegria na hora da provação. Em circunstâncias que derrubariam a maioria dos homens, eles superaram de tal modo as suas dificuldades que acabaram por usá-las para servir e glorificar a Cristo.

O Segredo da Alegria do Cristão

Quando Jesus Cristo é a fonte de Alegria, não existem palavras para descrevê-la. É uma alegria "inexprimível e gloriosa." (l Ped. 1:8) Cristo é a resposta à tristeza e ao desânimo, à discórdia e à divisão em nosso mundo.
Cristo pode retirar o desalento e o abatimento de nossas vidas, conhecê-lo nos faz otimistas e bem-humorados.
Diz a Bíblia: "O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido seca os ossos." (Prov. 17:22) Se o coração está em harmonia com Deus através da fé em Cristo, então ele transbordará otimismo e bom humor.
Havia um velho pastor de ovelhas no oeste que possuía um violino, mas este estava desafinado. Ele não tinha como afiná-lo, então, desesperado, escreveu para uma das estações de rádio e pediu para que, em determinada hora de determinado dia, tocassem a nota "lá". Os funcionários da estação resolveram agradar o velho e, naquele dia combinado, um "lá" bem afinadinho foi transmitido. O pastor conseguiu afinar o seu violino e, mais uma vez, a sua cabana ecoou com melodias alegres.
Temos que estar afinados com Deus. Jamais nos livraremos do desânimo e do abatimento até conhecermos o verdadeiro manancial da alegria, e caminharmos ao seu lado.
O próprio Cristo é o segredo da alegria do cristão: "A quem, sem o terdes visto, amais; no qual, sem agora o verdes, mas crendo, exultais com gozo indizível e cheio de glória." (l Pedro 1:8)

O Pecado: a Barreira Para a Alegria

Como já vimos, mas nunca é demais repetir, a Bíblia mostra que todos os problemas do mundo derivam do fato de que os homens desrespeitaram as leis de Deus: "Porque todos pecaram e necessitam da glória de Deus." (Romanos 3:23)
Existe um castigo para quem desrespeita a lei de Deus e este castigo é o banimento de Sua presença. Como é que alguém que é parte de um tal mundo pode conhecer a alegria? Existe um muro entre esta pessoa e Deus.
Todavia, a Santa Escritura diz que, em Cristo, "temos a nossa redenção pelo seu sangue, a remissão dos nossos delitos, segundo a riqueza da sua graça." (Efésios 1:7)
Por meio da Cruz, Cristo rompeu a barreira construída pelo pecado para que possamos conhecer a alegria da salvação de Deus. Diz a Bíblia: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e para nos purificar de toda a injustiça." (I João 1:9)
Os padecimentos podem ser um meio de refinamento e purificação. Muitas vidas renasceram da fornalha dos padecimentos, como já mostramos anteriormente (por exemplo, nos capítulos 6 e 9). Milhares de cristãos aprenderam o segredo do contentamento e da alegria através da provação. Alguns dos cristãos mais felizes que conheci beberam até o fim do cálice da provação e do infortúnio. Alguns sofreram a vida toda. Tiveram todos os motivos para suspirar e se queixar, tendo-lhes sido negados tantos privilégios e prazeres que vêem os demais usufruindo; no entanto, encontraram maiores motivos para gratidão e alegria do que muitos que são prósperos, vigorosos e fortes.
Um pai visitava o filho na universidade. Estavam conversando no pátio do campus quando, de repente, apareceu um rapaz muito jovial, manobrando uma cadeira de rodas elétrica. O filho falou:
– Papai, quero que conheça o amigo mais feliz que eu tenho. Ele é cristão.
Meu amigo ficou atônito ao conhecer um jovem muito positivo e alegre, porque o novo amigo do filho não tinha pernas e tinha apenas cotos no lugar dos braços.
Enquanto estava rescrevendo este capítulo, visitei um senhor idoso que passara a maior parte da vida na China como missionário. Sempre gozara de boa saúde e tivera uma extraordinária força física, admirada por muitos. Porém, as pessoas o amavam por causa da sua profunda dedicação a Cristo e o amor entre ele e a esposa. Agora ele está com câncer em várias partes do corpo. Fui dar-lhe assistência, e no entanto foi ele quem me assistiu. Havia nele uma alegria e uma radiância e uma felicidade que raramente tenho visto. Ele se levantou da cama e me acompanhou até o carro quando fui embora; depois, com um aceno de mão e um grande sorriso, falou:
– Continue pregando o Evangelho. Quanto mais velho fico, melhor é Cristo para mim.
Não nos surpreende que os antigos cristãos se rejubilassem, a despeito de seu sofrimento, já que o encaravam à luz da eternidade. Quanto mais próximo da morte, mais próximo de uma vida de amizade eterna com Cristo. Quando Inácio estava prestes a morrer por sua fé, em 110 d.C., ele exclamou: "Quanto mais próximo da espada, mais próximo de Deus. Na companhia de animais selvagens, na companhia de Deus."
O apóstolo Paulo escreveu: "Os sofrimentos da vida presente não têm valor em comparação com a glória que há de ser revelada em nós." (Rom. 8:18)
Nas minhas viagens, conclui que aqueles que não perdem de vista o céu se mantêm serenos e alegres mesmo nos dias mais negros. Se as glórias do céu fossem mais reais para nós, se vivêssemos menos para as coisas materiais e mais para as coisas eternas e espirituais, a vida presente nos perturbaria bem menos.

Como É que Você Reage?

Como é que você reage ao se aproximar do seu próprio Armagedom ou, quiçá, do Armagedom final? Será que a dor o aproximará de Deus ou o afastará dEle?
Podemos nos ressentir do sofrimento, resignar-nos a ele ou o aceitarmos com alegria, porque sabemos que Deus está no controle de nossas vidas. A palavra rejubilar-se se refere ao júbilo extremo, ao júbilo hilariante, ao júbilo triunfal. Amy Carmichael (1867-1951) escreveu:
Antes que cessem os ventos que sopram
Ensina-me a viver dentro de Tua calma.
Antes que passe a dor em paz,
Dá-me, meu Deus, um salmo para cantar.
Que eu não perca a chance de provar
A plenitude de um amor permitido.2
Quando o Espírito Santo de Deus estiver fazendo o que quer na minha vida, eu serei capaz de cantar esta canção vitoriosa com Amy Carmichael. Por causa de um acidente, ela passou vinte anos numa cama, sentindo dores quase constantes, mas continuou a ministrar através de seus escritos e poemas religiosos; trabalhando na Associação Dohnavur, na Índia. A sua percepção vivida e escritos encantadoramente espirituais revelaram a profundidade de sua caminhada com Cristo. Ela permanece como um exemplo impressionante de uma cristã, cujo sofrimento físico permitiu-lhe que refletisse o caráter de Cristo. Viveu uma vida de júbilo em meio às suas tribulações. Seu rosto irradiava o amor de Cristo e a sua vida era a epítome da estatura da santidade que pode alcançar o cristão rendido, se reage ao sofrimento rejubilando-se nele.
Durante os anos de dor física, Amy Carmichael escreveu os muitos livros que abençoaram um número incontável de pessoas em todo o mundo. Sem a "bênção" de ficar confinada ao leito, ela talvez estivesse ocupada demais para escrever.
Conta-se uma história sobre Martinho Lutero, em que ele passava por um período de depressão e desalento. Durante vários dias, o seu ar sombrio entristeceu a mesa da família e o dia-a-dia da casa. Certa dia, a mulher dele veio tomar o desjejum toda vestida de preto, como se fosse a um enterro. Quando Martinho lhe perguntou quem morrera, ela respondeu:
– Martinho, do jeito que você anda se portando ultimamente, pensei que Deus tivesse morrido, e então vim preparada para ir ao Seu enterro.
A sua reprimenda gentil, mas eficaz, foi direta ao coração de Lutero e, como resultado dessa lição caseira, o grande Reformador resolveu jamais voltar a deixar que as preocupações do mundo, o ressentimento, a depressão, o desânimo ou a frustração o derrotassem. Jurou que, pela graça de Deus, submeteria a sua vida ao Salvador e refletiria a Sua graça num espírito de júbilo, sem se importar com o que viesse. Com Paulo, ele gritaria: "Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo." (I Coríntios 15:57)
Deus nos dá tarefas difíceis para enfrentar na vida e depois nos pede que as enfrentemos com alegria. No seu Diário da campanha do Sinai o general Moshe Dayan escreveu: "Os oficiais escolhidos para comandar as unidades de combate eram homens cuja reação natural a uma tarefa difícil jamais era um 'mas...' Eles compreendiam o significado total da minha ordem inicial de advertência. No entanto, não fugiam de suas implicações; ao contrário, recebiam-nas com prazer."3

Ricas Recompensas

Nestes dias de escuridão espiritual e turbulência política, o cristão que olha para adiante permanece otimista e alegre, sabendo que Cristo deve reinar e que, "se perseverarmos, reinaremos também com ele." (II Tim. 2:11)
Para cada homem, mulher e criança neste mundo que está sofrendo, o Senhor tem estas palavras do Sermão da Montanha: "Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que existiram antes de vós." (Mateus 5:11.12)
Nas circunstâncias em que você se encontra, talvez esteja passando por sofrimentos psicológicos tão reais quanto os sofrimentos físicos. Pode ser um sofrimento que você não consiga expressar nem mesmo para o seu amigo mais querido – um sofrimento íntimo, devastador, avassalador. No meio de tudo isso, há a promessa da vitória. Cristo venceu o mundo e você, através da fé, pode vencer o mundo por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. (l João 5:5)
Pode-se descobrir a alegria em meio ao sofrimento. Às vezes, nós o encontramos em nossa peregrinação terrena. Tão logo admitamos essa possibilidade, ficaremos espantados com a facilidade com que se pode "ser surpreendido pela alegria", nas palavras de C.S. Lewis.
Billy Sunday descreveu-o bem, quando falou:
"Se você não encontra alegria na sua religião, então existe uma fenda qualquer no seu cristianismo!"

Rejubile-se! A exortação ao júbilo é feita nada menos do que 70 vezes no Novo Testamento. Existe uma vasta diferença entre o prazer e a alegria cristã. O prazer depende das circunstâncias, mas a alegria cristã independe totalmente de saúde, dinheiro ou condições externas. Quando as circunstâncias lhe são contrárias, quando todo o conforto moderno é retirado, ainda assim você pode experimentar o milagre da alegria produzida pelo Espírito Santo que vive no interior.



















O LUGAR DA ORAÇÃO NO SOFRIMENTO

Muitas vezes fui forçado a cair de joelhos pela convicção esmagadora de que não tinha mais para onde ir. A minha própria sabedoria e a de iodos que me cercavam parecia insuficiente para aquele dia.1 ABRAHAM LINCOLN

AO PROCURARMOS o modelo supremo de uma pessoa devotada à oração, precisamos apenas consultar a vida de nosso Senhor. Jesus estava constantemente em atitude de oração, quer estivesse ou não face ao sofrimento.
Na noite em que foi preso, orava no Jardim de Getsêmani Levara consigo seus discípulos, mas Ele próprio estava tão convicto do que O esperava, que pediu a Pedro, Tiago e João para O acompanharem na vigília. "Adiantando-se um pouca prostrou-se com o rosto em terra e orou: Meu pai, se é possível, passe de mim este cálice. Todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres." (Mat. 26:39)
Nessas palavras, Jesus nos ensinou como orar. Todas as vezes em que oro por uma pessoa doente, uma pessoa aflita ou uma pessoa em dificuldades, sempre encerro a oração dizendo: "Se for a Tua vontade". Conquanto seja a vontade de Deus salvar a todos que se arrependem do pecado e que recebem o Seu Filho como Salvador, não é a vontade de Deus livrar-nos de todas as adversidades. Como já vimos, o sofrimento muitas vezes nos fortalece e, como cristãos, não podemos pedir isenção de todos os males da vida.
A oração era tão natural quanto a respiração para nosso Senhor, e devia ser da mesma forma para nós. Se a oração é uma parte integral de nossas vidas, quando chega uma crise já temos preparadas as linhas de comunicação.
No começo, o homem foi feito para viver uma vida de oração em amizade com Deus e em humilde dependência dEle. Ao orarmos, estamos cumprindo o propósito de Deus para nossas vidas, realizando o nosso potencial espiritual. Como já disse alguém, "a oração é o uso mais elevado que se pode fazer da palavra".
O autor britânico William Ernest Henley escreveu o poema Invictus, que tem sido estudado por alunos da escola secundária há gerações, e que expressa sentimentos que parecem tão nobres:
Não importa quão estreitos os portões,
Quão cheio de castigos o pergaminho,
Sou o dono do meu destino:
Sou o comandante da minha alma.2
Tudo isso parece muito corajoso no papel, mas, quando a morte levou a filha de seis anos de Henley, Margaret, ele ficou desolado. E começou a se dar conta de que não era o dono do seu destino. Quando ela ficou às portas da morte, toda a bravata dele desapareceu completamente.
Este tipo de atitude não pode ser a postura do cristão em qualquer situação, especialmente face ao sofrimento. Nós não somos os donos de nosso destino, quer como indivíduos, quer como nação. Como é que os homens podem se jactar de controlar o próprio destino, quando não conseguem resolver os problemas de guerra, racismo, pobreza, doença ou sofrimento?

Não Há Liberdade sem a Ajuda de Deus

Como já enfatizamos, o mundo está sendo levado de roldão Por uma torrente de acontecimentos que fogem ao controle do homem. O Armagedom parece estar chegando, de uma forma ou de outra. Todavia, existe um poder disponível para modificar o curso dos acontecimentos e para nos sustentar nas grandes crises da vida, e este é o poder da oração por homens e mulheres tementes a Deus.
Adaptando as palavras de Benjamin Franklin, na Convenção Constitucional: É provável que uma nação não possa sobreviver em liberdade sem a ajuda do Deus Todo-Poderoso. No entanto, hoje em dia, chegamos a um ponto em que Deus é bastante ignorado e encaramos a oração na vida nacional como mera tradição venerada. Não temos o sentido de ir a Deus, ansiosa e esperançosamente; simplesmente usamos a oração como uma formalidade.

A Oração É Eficaz

De uma a outra extremidade da Bíblia, vemos o registro daqueles cujas preces foram atendidas – pessoas que mudaram o curso da História pela oração, homens que oraram com fervor e a quem Deus atendeu.
Elias orou quando desafiado por seus inimigos, e o céu mandou o fogo para consumir a oferenda no altar que ele erigira na presença dos inimigos de Deus.
Eliseu orou, e o filho da mulher Sunamita se ergueu dentre os mortos.
Davi orou e alguns de seus salmos podiam servir como "padrões de oração" para outros que estão passando por dificuldades ou como exemplos de como louvar ao Senhor em meio às tribulações.
"Quando eu clamar, responde-me, Deus da minha justiça; na angústia tens-me dado folga; compadece-Te de mim e ouve a minha prece." (Sal. 4:1)
"Jeová já ouviu a minha súplica, Jeová receberá a minha oração." (Sal. 6:9)
"Na minha angústia invoquei a Jeová, e clamei por socorro ao meu Deus. Ele ouviu do seu Templo a minha voz, e o clamor que Lhe fiz entrou nos seus ouvidos." (Sal. 18:6)
"Jeová, Deus meu, a Ti clamei por socorro e me saraste." (Sal. 30:2)
"Em Ti, Jeová, me refugio; não seja eu jamais envergonhado: livra-me na Tua retidão, inclina para mim os Teus ouvidos, livra-me depressa; sê para mim uma rocha fortificada, uma casa de defesa que me salve." (Sal. 31:1,2)
Daniel orou, e conheceu o segredo de Deus para salvar a sua vida e a de seus companheiros, e para mudar o curso da História.
Jesus orou no túmulo de Lázaro e aquele que estava morto há quatro dias ressuscitou. Orou no Jardim de Getsêmani e encontrou forças para suportar o Seu sofrimento.
O ladrão orou na cruz, e Jesus lhe assegurou que, naquele mesmo dia, estaria com Ele no paraíso.
A igreja primitiva orou e Pedro foi salvo milagrosamente da prisão.
Pedro orou e Dorcas ressuscitou para servir a Jesus Cristo durante anos.
Os discípulos vieram a Jesus e pediram: – Senhor, ensina-nos a orar.
Ele, então, atendeu ao seu pedido, dando-lhes o Pai Nosso como oração modelo. O Pai Nosso, todavia, era apenas o começo de Seus ensinamentos sobre este assunto. Em dezenas de outras passagens, Cristo ofereceu mais orientação e, como Ele praticava o que pregava, toda a vida dEle foi uma série de lições sobre como a oração prevalece em todos os aspectos da vida.

O Exemplo de Cristo

Uma das coisas mais espantosas da Santa Escritura é o tempo que Jesus passou orando. Teve somente três anos de sacerdócio público, no entanto nunca estava apressado demais para passar horas orando. Orava antes de cada tarefa difícil e em cada crise de seu ministério. Orava com regularidade. Podemos ter certeza de que nunca um dia começava ou terminava sem que ele ficasse em comunhão com o Seu Pai.
Por contraste, como oramos descuidada e displicentemente! Dizemos rapidamente uns versículos memorizados pela manhã; depois despedimo-nos de Deus pelo restante do dia, até o fim da noite, quando fazemos mais algumas súplicas apressadas.
Não é este o programa de orações que Jesus exemplificou. Ele orava longa e repetidamente. Certa vez, passou uma noite inteira orando a Deus. (Luc. 6:12)
As Escrituras dizem: "Orai sem cessar" (I Tess. 5:17). Este deve ser o lema de todo verdadeiro seguidor de Jesus Cristo. Nunca pare de orar, não importa o quão sombrio e sem esperanças possa parecer o seu caso. Jesus nos ensinou que devíamos continuar orando e jamais desistir. (Luc. 18:1)
Há alguns meses, uma mulher me escreveu contando que, durante dez anos, ela suplicara pela conversão do marido, mas que ele continuava cada vez mais empedernido. Eu a aconselhei que continuasse a orar. Tive notícias dela de novo, recentemente. Contava que o marido fora gloriosa e milagrosamente convertido no décimo primeiro ano de suas preces. E se ela tivesse parado depois de apenas dez anos?
Nosso Senhor freqüentemente orava sozinho, separando-Se de todas as distrações terrenas. Eu o aconselho veementemente a selecionar um local – um quarto ou canto da sua casa, no local de trabalho, ou em seu quintal ou jardim – onde poderá se encontrar sozinho regularmente com Deus.
Ao observarmos a vida de orações de Jesus, podemos notar com que veemência Ele orava. O Novo Testamento recorda que, no Getsêmani, na intensidade de Suas súplicas, Ele caiu ao chão e agonizou junto com Deus até que Seu suor se transformasse em "gotas de sangue". (Lucas 22:24) Que exemplo de "oração no sofrimento" Ele é – e como prova a promessa de que aqueles que estão sofrendo precisam buscar a Deus ainda mais veementemente.
São tantas as lições que Jesus nos ensinou sobre a oração, que não consigo apresentá-las todas num só capítulo. Todavia, uma que devemos recordar especialmente durante estes dias de preconceito, ódio e hostilidade é a seguinte: "Ora por aqueles que te perseguem." (Mat. 5:44) Ele manda que supliquemos por nossos inimigos, pedindo a Deus que os conduza a Cristo e que os perdoe, em nome dEle. Até mesmo aqueles que nos perseguem devem figurar em nossas preces.
Jesus reforçou este ensinamento com Seu próprio exemplo, como já vimos. Nas primeiras palavras que pronunciou na cruz, os cravos já enfiados em Suas mãos e pés, Ele começou a interceder por Seus crucificadores, dizendo: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem." (Luc. 23:34) Muitas vezes já pensei que veremos no céu os homens que pregaram Jesus na cruz, graças à Sua oração. Nenhuma oração que Jesus fez ao Pai ficou sem resposta.
Com Deus nada é impossível. Nenhuma tarefa é árdua demais, nenhum problema é difícil demais, nenhum fardo é pesado demais para o Seu amor. O futuro, com todas as incertezas, é do conhecimento integral dEle, embora fique oculto de nós.
Ele compreende quanta aflição e tristeza você necessita a fim de que a sua alma possa ser purificada e preservada para a eternidade. Volte-se para Ele e poderá dizer, como Jó: "Ele sabe o caminho por que ando; se ele me provasse, sairia eu como o ouro." (Jó 23:10)
Jesus considerava a oração mais importante do que o alimento, pois a Bíblia diz que, horas antes do desjejum, "levantando-se antes da madrugada, saiu e foi a um lugar deserto, e ali orava." (Marcos 1:35)
Para o Filho de Deus, a oração era mais importante do que a reunião e a cura de grandes multidões. Diz a Bíblia: "Grandes multidões afluíam para ouvir e ser curadas de suas enfermidades; mas ele costumava retirar-se para os lugares desertos e orar." (Lucas 5:15,16)
As horas preciosas de companheirismo com o Seu Pai celeste significavam muito mais do que o sono para o Salvador, pois diz a Bíblia: "Naqueles dias retirou-se para o monte a orar, e passou a noite, orando a Deus." (Lucas 6:12)
Ele orava em funerais, e os mortos voltavam à vida. Orou sobre os cinco pães e os dois peixes, e alimentou uma multidão com a refeição de um garotinho. Na contemplação do Seu sofrimento iminente na cruz do Calvário, Ele orou: "Não a minha vontade, mas a Tua." (Luc. 22:42) Assim, foi aberto um caminho para que o pecador pudesse se aproximar de Deus.
A oração, no verdadeiro sentido, não é um grito fútil de desespero nascido do medo e da frustração. Muita gente ora somente quando está sob grande tensão ou em perigo ou enfrentando alguma crise. Já estive em aviões quando um motor parou; então, as pessoas começaram a orar. Já voei em meio a grandes tempestades, quando as pessoas à minha volta, que talvez nunca tivessem pensado em orar antes, passaram todas a orar. Conversei com soldados que me contaram que nunca oraram antes de estar no meio de uma batalha. Parece haver um instinto no homem para orar nas horas de perigo.
Sabemos que "existem poucos ateus nas trincheiras", mas esse tipo de cristianismo não alcança o nosso dia-a-dia, e é superficial demais para ser genuíno.
Os mestres cristãos de todos os tempos sempre insistiram em que a oração devia ter um lugar de destaque na vida dos fiéis. Um sábio anônimo falou: "Se os cristãos passassem tanto tempo orando quanto passam clamando, não teriam nada do que reclamar."
Eis aqui algumas reflexões sobre a oração:
Pela manhã, a oração é a chave que nos abre os tesouros das misericórdias e bênçãos de Deus; à noite, é a chave que nos isola sob a Sua proteção e amparo.
"O modo de Deus atender à prece do cristão que pede mais paciência, experiência, esperança e amor, muitas vezes, é colocá-lo na fornalha da aflição." – Richard Cecil (1748-1810).
"Nossa prece e a misericórdia de Deus são como dois baldes num poço: quando um sobe, o outro desce" – Mark Hopkins, educador americano (1802-1887).
Meu amigo de muitos anos, o grande missionário humanitário e homem de oração Frank C. Laubach, falou: "A oração, na sua elevação máxima, é uma conversa de parte a parte – e, para mim, o mais importante é escutar as respostas de Deus."
"Satanás treme quando vê o santo mais fraco de joelhos." – William Cowper (1731-1800).
Se houver lágrimas derramadas no céu, serão derramadas pelo fato de orarmos tão pouco.
O céu está cheio de respostas a orações que ninguém se deu ao trabalho de pedir!

O Poder e o Privilégio da Oração

Na era moderna, aprendemos a dominar a força da poderosa Niágara e usar essa potência de modo benéfico. Aprendemos a armazenar o vapor em caldeiras e libertar a sua tremenda energia para girar nossas máquinas e impulsionar nossos trens. Aprendemos a conter os vapores da gasolina num cilindro e a explodi-los no segundo certo para mover nossos automóveis e caminhões pelas estradas. Até mesmo descobrimos o segredo de libertar a energia do átomo, que é capaz de iluminar cidades, operar grandes indústrias ou de destruir cidades e civilizações inteiras.
Porém, pouquíssimos de nós aprendem a desenvolver integralmente o poder da oração. Ainda não aprendemos que um homem é mais poderoso quando está orando do que quando está no controle das armas militares mais poderosas jamais inventadas.
A oração eficaz se faz com fé. Disse Jesus: "Por isso vos afirmo: tudo quanto suplicais e pedis, crede que o tendes recebido, e tê-lo-eis." (Mar. 11:24) Tiago escreveu: "Mas se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que dá a todos liberalmente e não impropera, e ser-lhe-á dada. Pede-a, porém, com fé, nada duvidando; porque quem duvida é semelhante à vaga do mar, que o vento subleva e agita." (Tiago 1:5,6) Se nossas orações não têm objetivo nem sentido e misturam-se à dúvida, não serão atendidas. A oração é mais do que um desejo voltado para o céu: é a voz da fé voltada para Deus.
Que privilégio é o seu – o privilégio da oração! Á luz dos acontecimentos vindouros, examine o seu coração, reconsagre a sua vida, entregue-se sem reservas a Deus, pois apenas aqueles que oram através de um coração limpo serão ouvidos por Ele. Diz a Bíblia: "Muito pode a súplica fervorosa do justo." (Tiago 5:16)
Devemos orar não apenas por nossas necessidades, mas pelas necessidades dos outros. Devemos orar nas horas de adversidade, para que não nos tornemos infiéis e descrentes. Devemos orar nas horas de prosperidade, para que não nos tornemos arrogantes e orgulhosos. Devemos orar na hora do perigo, para que não nos tornemos temerosos e cheios de dúvidas. Precisamos orar nas horas de segurança, para que não nos tornemos descuidados e auto-suficientes.
"Mais coisas são conseguidas por meio da oração do que sonha este mundo." As famosas palavras de Tennyson não são apenas um mero clichê, são a expressão da verdade. Os ensinamentos da Bíblia, a história da igreja, a experiência cristã, tudo isso confirma que a oração realmente funciona. Mas como estamos relacionando a oração ao assunto específico do sofrimento, precisamos ter em mente várias coisas que já afirmamos e que agora vamos resumir.
Primeiro, é preciso lembrar que a prece não funciona automaticamente, nem é um caso de magia espiritual. Não é como apertar um botão elétrico e esperar uma resposta imediata. Não podemos manipular a Deus nem Lhe ditar ordens. Ele é soberano, e temos que reconhecer Seus direitos soberanos.
Isso significa, como já enfatizamos várias vezes, que nossas orações estão sujeitas à vontade dEle. E devemos ficar contentes com isso, pois tira o fardo de cima de nós e o coloca sobre o Senhor. Dizer "seja feita a Tua vontade" não é um suspiro, mas sim uma canção, porque a vontade dEle é sempre o melhor – tanto para nós quanto para aqueles por quem oramos. Como já disse Dante, "na Sua vontade está a nossa paz". Como crentes, não podemos encontrar a verdadeira paz fora da vontade de Deus.
Depois, podemos ter certeza de que Deus cumpre a Sua Palavra e atende a todas as orações sinceras oferecidas em nome do Senhor Jesus Cristo. Porém, a resposta dEle não é sempre a mesma. Como é tantas vezes ressaltado, a resposta dEle pode não ser necessariamente "sim". Pode ser "não" ou "espere". Se for "não" ou "espere", não temos o direito de dizer que Deus não atendeu à nossa oração. Isso simplesmente quer dizer que a resposta é diferente daquela que esperávamos. Precisamos nos livrar da idéia de que, se orarmos muito e por bastante tempo, Deus sempre nos acabará dando aquilo que pedimos.
Como já vimos, quando pedimos ajuda nas dificuldades, ou cura na doença, ou alívio na perseguição, Deus pode não nos dar aquilo que pedimos, pois essa pode não ser a Sua vontade sábia e amorosa para nós. Porém, Ele atenderá as nossas orações, à Sua maneira. Ele não nos desapontará em nossa hora de angústia. Ele nos dará paciência, coragem e forças para suportar o nosso sofrimento, a capacidade para superá-lo, e a certeza de Sua presença em todas as situações por que teremos que passar.
De qualquer forma, não nos esqueçamos de que a oração não é apenas pedir coisas a Deus. É muito mais e melhor do que isso. No seu nível mais profundo, a oração é a amizade com Deus: é apreciar a Sua companhia, aceitar a Sua vontade, agradecer-Lhe por Suas misericórdias, entregar-Lhe as nossas vidas, conversar com Ele sobre outras pessoas tanto quanto falamos sobre nós mesmos, e escutar, no silêncio, o que Ele tem para nos dizer.
Isso é o que torna a oração uma coisa tão real e preciosa, especialmente nas horas de angústia e tensão. Quando chegamos ao fim de nós mesmos, estamos chegando ao começo de Deus. Como já foi dito, nossas pequenas coisas são todas grandes para o amor de Deus; nossas grandes coisas são todas pequenas para o Seu poder.

Você está negando a si mesmo um privilégio maravilhoso, se não orar. O caminho da oração está sempre aberto, não importa o que você precise. Tome este caminho até o Senhor!





























PROMESSAS PARA AQUELES QUE SOFREM

Nas horas de aflição, em geral conhecemos as mais doces experiências do amor de Deus.1 JOHN BUNYAN

A BÍBLIA É o livro de promessas de Deus e, ao contrário dos livros dos homens, não modifica ou fica ultrapassado. Em Tito 1:2, diz Paulo que nós temos "uma fé e um conhecimento que se apoiam na esperança da vida eterna, que o Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos eternos" (o grifo é meu). Venho pregando a Bíblia e proclamando a Palavra de Deus há muitos anos (nosso programa semanal de rádio internacional, A Hora da Decisão, começou em 5 de novembro de 1950 e, desde então, nunca sofreu interrupções) e a mensagem que venho pregando durante todo esse tempo é basicamente a mesma – porque Deus não mente!
Nesses anos todos, ocorreram muitas modificações em nosso mundo. Na verdade, não é mais o mesmo mundo; é totalmente diferente. Nós agora estamos pregando para uma nova geração de pessoas – pessoas que cresceram numa nova sociedade e são desafiadas por novas idéias. Porém, uma coisa é certa – Deus não mudou. Disse Ele: "Eu, o Senhor, não mudo." (Mal. 3:6) Isto é um conforto incomensurável para o crente nas horas de sofrimento. Deus é imutável em Sua compaixão e cuidado por Seus filhos aflitos.
John Bunyan nos diz: "As aflições são governadas por Deus, tanto na duração quanto no número, na natureza e na medida. Nosso tempo, e as nossas condições no tempo que temos, estão nas mãos de Deus, sim, do mesmo modo que nossas almas e corpos, para serem mantidos e preservados do mal enquanto o cajado de Deus está sobre nós.". Deus se interessa e se preocupa com todos os aspectos de nossas vidas – físico, mental, emocional e espiritual. A Bíblia deixa claro que nada que nos preocupe deixará de preocupá-Lo. E esta verdade é o que vamos explorar juntos neste capítulo.
Como a Bíblia é tão cheia de promessas, seria impossível citá-las todas num só capitulo. Na verdade, eu até hesitaria em tentar tratar de todas as promessas da Bíblia num só livro, embora o Dr. Herbert Lockyer tenha feito um trabalho primoroso nesse sentido, no seu livro All the Promises of The Bible (Grand Rapids, Zondervan, 1962). As estimativas quanto ao número de promessas na Bíblia variam desde 8 mil até 30 mil.
Existem várias maneiras para se abordar esse assunto. A mais óbvia seria dividir as promessas segundo a sua localização na Bíblia, quer apareçam no Antigo ou no Novo Testamento. Na verdade, ambas as partes da Bíblia estão cheias de promessas, como veremos no decorrer deste capítulo. Poder-se-ia escrever um livro inteiro, por exemplo, apenas sobre as promessas que aparecem no Livro dos Salmos.
Um outro enfoque seria classificar as promessas em "gerais" ou "específicas". Muitas das promessas são de uma natureza geral, enquanto que muitas outras dizem respeito a áreas específicas da vida. Neste capítulo, todavia, vamos limitar nossas discussões a trechos da Escritura que tratam diretamente do sofrimento afetando a vida do cristão.
Primeiramente, vamos examinar algumas das promessas do Antigo Testamento dirigidas aos que enfrentam sofrimentos e perseguições e depois passaremos às promessas do Novo Testamento.

Deus É Nosso Escudo

Da bênção que Moisés deu aos filhos de Israel, vejamos a de Benjamim: "O amado de Jeová habita seguro junto a ele. Jeová o cerca o dia todo, e ele habita entre seus ombros." (Deut. 33:12, o grifo é meu).
Todo cristão perseguido pode aplicar a si próprio essas palavras. Todos os filhos de Deus Lhe são queridos e estão igualmente seguros sob Seus constantes cuidados. O cristão mais débil está tão seguro na proteção de Deus quanto o santo mais antigo e experiente. O próprio Senhor os cobre o dia todo. Como disse o compositor:
Sob Suas asas, Sob Suas asas,
Quem pode se separar do Seu amor?
Sob suas asas, minh'alma residirá
Residirá em segurança eternamente.2
A figura aqui é a de uma águia-mãe protegendo o seu rebento ao abrigo de suas asas.
Que ilustração da maneira com que Deus cuida de seus filhos! O Salmo 91:4 amplia esta imagem: "Cobrir-te-á de suas penas, e sob as suas asas encontrarás refúgio: pavês e escudo são a sua verdade."

Deus É Nosso Refúgio

"Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia." (Salmos 46:1) A imagem aqui não é de alguém que se esconde passiva e apavoradamente por trás de um muro protetor ou embaixo de um telhado. Ao invés disso, é a imagem de alguém que está envolvido ativamente no mercado da vida, pois o salmista diz que Deus não é apenas um refúgio, mas é "um socorro bem presente na angústia" (o grifo é meu). Nosso Deus é um Deus para a arena da vida. Ele vai com o Seu povo para o local do sofrimento e para a plataforma da dor, não necessariamente para livrá-lo dos seus problemas, mas para sustentá-lo em meio a eles.
No Livro dos Salmos 91:15, Deus promete: "Clamará a mim, e lhe responderei; com ele serei na angústia." A Escritura volta a dizer: "Confiai nele, ó povo, em todo o tempo; derramai diante dele o vosso coração; Deus é para nós refúgio." (Salmos 62:8)
Em outro local, diz o salmista: "É tempo de Jeová entrar em ação." (Sal. 119:126)
J.R. Stam conta a história de uma garota chinesa que fazia serviços domésticos para os missionários John e Betty Stam, que morreram na China por causa de sua fé, há muitos anos. Ela veio para o Senhor através do testemunho deles. Certo dia, inesperadamente, a empregada se viu em circunstâncias muito difíceis, e saiu correndo para orar no quarto. Os Stams ficaram muito emocionados ao ouvir a sua prece apaixonada, que terminou com as palavras: "Eis a sua chance, Senhor! Agora è a sua chance!" O pensamento urgente do salmista foi posto em prática por uma garota chinesa analfabeta. Ela pode ser uma imagem de todos nós, quando vamos impotentes à presença de nosso Pai celeste para buscar o seu auxílio.
Deus é uma ajuda bem presente nas dificuldades, mas, às vezes, permitimos que a amargura o conserve a distância, e assim nós perdemos a Sua ajuda.
O jovem imigrante irlandês Joseph Scriven (1820-1886) estava profundamente apaixonado por uma jovem, e já fizera os planos para o casamento. Pouco antes do casamento, contudo, ela morreu afogada. Scriven ficou amargurado durante meses, em profundo desespero. Finalmente, ele se voltou para Cristo e, por intermédio de Sua graça, achou paz e consolo. Baseado na sua experiência, ele escreveu o conhecido hino religioso que trouxe consolo a milhões de corações aflitos: "Que Amigo temos em Jesus, que suporta todos os nossos pecados e sofrimentos!"
Às vezes, o nosso caminho é ensolarado. Era assim com Joseph Scriven, ao se aproximar o dia do seu casamento. Porém, como ele, podemos descobrir que nosso caminho também passa pelas sombras escuras da perda, do desapontamento e da tristeza. É nessas horas que está em nosso poder transformar nossos sofrimentos numa oportunidade para maior entrosamento com Deus, abrindo canais para que a esperança mais viva e mais segura possa fluir para nossas almas.
Perdas comerciais, aposentadorias que não dão para pagar as contas, desemprego, inflação, as doenças que nos derrubam, as tristezas que roubam a luz de nossos lares, filhos que se rebelam – tudo transformado em bênçãos por aqueles que, por meio disso, ficam menos ligados à terra e mais ligados a Deus.
As tribulações não nos ferirão a não ser que façam o que muitos de nós, tantas vezes, permitimos que façam, deixando-nos empedernidos, azedos, amargos e céticos. As tribulações que suportamos com confiança trazem-nos uma nova visão de Deus, e, dessa forma, descobrimos uma nova maneira de encarar a vida.
Se fazemos de nossa tristeza e nossas aflições uma ocasião para aprender ainda mais sobre o amor de Deus e Seu poder para ajudar e abençoar, então isso nos ensinará a ter uma confiança mais firme na Sua providência. Como resultado disso, a luz viva do Seu amor preencherá nossas vidas. Confie em Deus com uma dependência infantil e problema algum poderá destrui-lo. Mesmo na última hora sombria da morte, quando a sua carne e seu coração falharem, você será capaz de depender em paz dAquele que "é a força do meu coração e minha herança para sempre." (Salmos 73:26)

Deus É Nossa Força

No livro dos Salmos 28:7, diz Davi: "Jeová é a minha força."
O homem primitivo acreditava que, se alguém comesse a carne de um animal forte, adquiriria a força daquele animal. Nós obtemos força da carne – força física. Mas precisamos de força espiritual, tanto quanto de força física. Deus é o alimento e a bebida da alma. Alimente-se dEle, de Sua palavra, de Sua verdade, e você será forte no Senhor e no vigor de Seu poder.
Quando foi tentado pelo demônio no deserto, Jesus falou: "Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus." (Mateus 4:4)
Minha esposa acredita piamente em vitaminas. Toma várias por dia e insiste comigo para que faça o mesmo. Cada vez que espirro, ela diz:
– Tome vitamina C!
Se corto a mão, ela diz:
– Esfregue um pouco de vitamina E no corte.
Hoje em dia ouvimos falar muito na força e no vigor que vitaminas e alimentos enriquecidos com vitaminas dão. É importante dar atenção a isso. Temos que nos manter fisicamente em forma. Mas também precisamos nos manter espiritualmente em forma. Isso requer vitaminas espirituais e, para obtê-las, temos que alimentar nossas almas com alimentos enriquecidos com verdade espiritual.
Neste mundo, somos assediados por muitas tentações e problemas. Estamos constantemente sob tensão e estresse. Precisamos retirar forças de uma fonte acima e além de nós mesmos. Deus é esta fonte.
Buscando a Deus e confiando nEle, abrindo para Ele nossos corações, Ele nos dará toda a força que temos capacidade de receber. Não devemos pensar em nós mesmos e em como somos fracos. Em vez disso, devemos pensar em Deus e em como Ele é forte, focalizando a nossa atenção na Sua força disponível e nos dirigindo a Ele pela oração.
"Os que esperam em Jeová renovarão as suas forças; subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; andarão e não desfalecerão." (Isaías 40:31) Esta foi a maneira de Isaías expressar a sua crença no poder fortalecedor de Deus.
Se Deus é nossa força, podemos enfrentar o mundo com felicidade no coração e uma canção de vitória nos lábios. "Jeová é a minha força e meu escudo; nele tem confiado o meu coração e sou ajudado. Por isso exulta o meu coração, e com o meu cântico o louvarei." (Salmos 28:7)
Uma velha tradução do Salmo 68:28 tem algo a acrescentar à nossa compreensão deste ponto: "O teu Deus ordena que sejas forte." O Senhor é a fonte da força de caráter primordial que torna possível superarmos os sofrimentos que a vida nos oferece. Paulo ora por seus leitores para que pelo senhor "sejais robustecidos com poder pelo seu Espírito no homem interior." (Efésios 3:16) A força que é dada desse modo é contínua e inexaurível. Como Moisés disse aos filhos de Israel, em Deut.33:25, "como os teus dias, assim seja a tua força". Esta promessa inclui força para todas as áreas da vida – física, mental e espiritual. Deus promete forças para que sobrevivamos ao sofrimento, seja de que tipo for.
"O Senhor é nossa força" para prosseguir. É a fonte da força para a luta do dia-a-dia. É Ele que dá gosto aos nossos dias e vigor ao nosso passo. Sem ele, a rotina diária seria cansativa e tediosa, deprimente e entorpecente, uma lida a ser suportada e não apreciada.
Conheço muita gente que morre de tédio trabalhando em fábricas. Fazem exatamente a mesma coisa dia após dia, até que grande parte de sua vida parece ser absolutamente sem sentido, dando a impressão de que não está chegando a parte alguma. Todavia, conheci outros que aceitaram a Cristo e estão enfrentando o mesmo tipo de tarefas, mas, com estes, o tédio do dia-a-dia se transformou numa existência significativa. Eles agora têm um propósito. A sua fidelidade, quer como executivo, quer como operário, glorifica a Deus.
Estive recentemente num país socialista da Europa Oriental. Um dos lideres da nação me contou que estavam descobrindo que os cristãos eram os operários melhores e mais dedicados, pelo fato de não estarem apenas "existindo": eles estavam vivendo para Deus. A sua dedicação ao trabalho tinha um significado no plano global de Deus para as suas vidas.
Ele é "minha força" para prosseguir. Diz o salmista: "Com o auxílio do meu Deus salto uma muralha." (Sal. 18:29) Os obstáculos à minha frente seriam montanhas de dificuldades, se Ele não ajudasse a fornecer forças para a escalada.
Moramos nas montanhas da Carolina do Norte. Escalei-as muitas vezes. Quase diariamente minha mulher e eu levávamos as crianças para subi-las, quando elas eram mais jovens. Aprendemos que tínhamos que lhes ensinar a subir colinas bem pequenas, antes que pudessem dar conta de uma montanha grande. Depois de termos vindo para Cristo, Deus pode começar mandando que subamos uma colina pequena, antes de nos mandar subir as montanhas. Contudo, seja qual for a nossa necessidade, Ele prometeu que Seu poder está à disposição. Sem ele, seria impossível para nós fazer a viagem e, principalmente, subir os locais íngremes da dor e da tensão.
O Senhor também é "minha força" para descer. Muitas vezes, descer é mais difícil do que subir.
Certa vez, minha mulher e eu estávamos na Suíça visitando os netos. Eles nos levaram de teleférico até uma montanha muito alta e, depois, sugeriram que fôssemos a pé até um pequeno restaurante mais abaixo. Ficava a cerca de um quilômetro e meio. Mas era muito íngreme, quase vertical. Consegui descer, mas minhas pernas ficaram doendo por quase uma semana!
Descer ao Vale da Humilhação (como o chamou Bunyan) ou ao "vale da sombra da morte", seria impossível sem Ele. Na verdade, meu coração desfaleceria de medo e eu estaria sem fôlego se não fosse pelo maravilhoso companheiro ao meu lado, o Senhor Jesus Cristo.
Eis um outro ponto que, em geral, não consideramos: o Senhor é "minha força" simplesmente para ficar quieto. "Aquietai-vos e sabei que sou Deus." (Sal. 46:10) "Aguardo a Jeová, a minha alma o aguarda e na Tua palavra espero." (Sal. 130:5) Nosso desejo natural é estar fazendo alguma coisa, mas existem horas na nossa vida em que é mais sensato esperar e ficar quieto.
"O Senhor é minha força!" Nossa suficiência é de Deus, como diz Paulo – ou como prefere a versão moderna: "Não que sejamos capazes por nós mesmos, de julgar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus." (II Cor. 3:5)

Deus É Nosso Pastor

A maravilhosa imagem de Deus como nosso Pastor encontra-se em muitos lugares do Antigo Testamento. Assim começa um dos Salmos: "Escuta-nos, ó pastor de Israel; tu, que conduzes a José como a um rebanho." (Sal. 80:1) É formidável pensar que o Deus Eterno, o Criador Todo-Poderoso, digna-se a ser o Pastor de Seu povo.
Davi faz com que o relacionamento se torne pessoal, num dos Salmos mais conhecidos. "Jeová é o meu pastor", gritou ele, exultante, "nada me faltará." (Salmos 23:1, o grifo é meu) O restante do salmo nos fala do que não nos faltará. Fala da provisão do pastor enquanto nos conduz aos verdes pastos, da Sua orientação pelos caminhos da retidão (ou seja, dos caminhos certos, retos), de Sua presença conosco no vale escuro. Não é de admirar que Davi assim testemunhe: "Minha taça transborda" (v.5), tantas são as bênçãos ilimitadas de Deus.
Isaías acrescenta um outro toque ao quadro, quando diz: "Como pastor ele apascentará o seu rebanho; entre os seus braços ajuntará os cordeirinhos, e os levará no seu seio, e guiará meigamente as paridas." (Isaías 40:11) Aqui, a imagem indica o cuidado e o carinho com que o Senhor sustenta o Seu povo em suas viagens e o amor forte com que os envolve.
No Novo Testamento, Jesus usa esta mesma imagem e a aplica a Si próprio. Diz ele: "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. O que é mercenário, e não pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as arrebata e dispersa. (...) Eu sou o bom pastor, conheço as minhas ovelhas, c as que são minhas me conhecem a mim." (João 10:11-14)
Repare em quatro coisas sobre Jesus, o Bom Pastor. Ele é o dono das ovelhas: elas pertencem a Ele. Ele protege as ovelhas: jamais as abandona quando chega o perigo. Ele conhece as ovelhas, conhece cada uma pelo nome e as conduz. (ver v.3) E Ele dá a vida pelas ovelhas, tal é a imensidão do seu amor.
Como devemos ser gratos, fracos, errantes e tolos que somos, de termos um tal pastor. Vamos aprender a ficar perto dEle, a escutar a Sua voz, e a segui-Lo. Isto é importante especialmente nas horas de perigo espiritual. Jesus nos diz para não nos enganarmos com a voz dos estranhos e existem muitas vozes estranhas sendo ouvidas no mundo religioso, hoje em dia. Não se deixe enganar pelos falsos mestres. Jesus é o Bom Pastor: confie nEle. E Jesus é a porta da salvação: entre por essa porta e você encontrará a vida plena e abundante que Ele veio trazer. (vv. 7-10)

A Provisão Superabundante de Deus Para Seus Filhos

Para encorajar os outros cristãos com a realidade do interesse de Deus por eles e sua provisão para eles, escreveu o apóstolo Paulo em Efésios 3:16-21:
"Para que ele nos conceda, conforme as riquezas da sua glória, que sejais robustecidos com poder pelo seu Espírito no homem interior; que habite Cristo pela fé em vossos corações, sendo vós arraigados e fundados em amor, a fim de poderdes compreender... Ora, aquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quando pedimos ou pensamos, segundo o poder que opera em nós, a esse seja glória na igreja e em Cristo Jesus por todas as gerações do século dos séculos. Amém."
A frase "infinitamente mais do que tudo" é tão emocionante e formidável que ultrapassa a nossa compreensão e explicação.
Faz-me lembrar de um poço que cavamos em nossa casa. Atingimos uma camada de água a 30 metros e outra camada a 90 metros e ainda outra a 180 metros. Perguntamos aos operários quanta água eles achavam que havia ali. Responderam que não havia como calcular, mas que duraria para sempre. No poço, há água bastante para servir a uma cidade inteira.
Li recentemente sobre um dono de poços de petróleo no Texas, que andou dizendo que, mesmo com os computadores mais modernos, ele não conseguia calcular a quantidade de reservas de petróleo que controlava. Falou ele:
– Podemos chegar perto, mas não podemos dizer com precisão.
Existem aqueles que acham que os Estados Unidos são auto-suficientes em petróleo e que temos carvão para mais de 600 anos.
Os computadores estão praticamente dirigindo as nossas vidas. Tudo agora é calculado por computadores. Mas existe uma coisa que os computadores mais modernos não podem medir, que é o poder inexaurível de Deus, que ele colocou à nossa disposição como um recurso para nossas vidas.

A Presença de Deus É Prometida

Tiago escreve: "Chegai-vos para Deus, e ele se chegará para vós." (Tiago 4:8) Que promessa e provisão abençoadas! Isso significa que cada um de nós pode se aproximar de Deus com a certeza de que Ele se aproximará de nós – se aproximará tanto que nos tornaremos conscientes de um relacionamento íntimo e pessoal com Ele.
Esta é a maior experiência que podemos conhecer, ter este sentido de um relacionamento pessoal entre Deus e nós mesmos. Essa concepção é plena de um rico significado.
Toda vida cristã está intimamente ligada à vida de Deus, porque nEle vivemos e nos movemos e temos a nossa existência. Ele nos deu o sopro da vida. Colocou algo dentro de nós que é como Ele, algo capaz de se desenvolver até chegar à rica qualidade de um caráter semelhante a Cristo.
Porque Deus é o doador e a fonte da nossa vida. Ele tem um direito legítimo sobre nossas vidas. Ele é nosso Pai, e tem o direito de esperar que sejamos filhos leais e amorosos. Porque sou Seu filho, Ele anseia por ser meu companheiro.
A história do filho pródigo é uma revelação do desejo de Deus pelo companheirismo humano. Ele quer que os filhos que se afastaram dEle voltem para casa e fiquem perto dEle.
Por toda a Bíblia, vemos a paciência e a perseverança de Deus enquanto Ele vai no encalço de homens e mulheres transviados e obstinados – homens e mulheres que nasceram para um destino mais elevado, como seus filhos e filhas, e se desgarraram do Seu lado. Do Gênesis até o Apocalipse, Deus está dizendo constantemente para eles: "Voltai para mim, que voltarei para vós."
Por incrível que pareça, Deus quer o nosso companheirismo. Ele nos quer perto de Si. Quer ser um pai para nós, proteger-nos, amparar-nos, aconselhar-nos e orientar-nos em nosso caminho pela vida afora.
Quando nos tornamos cristãos, podemos dizer "Nosso Pai", pois aqueles que recebem a Cristo têm o direito de se tornar filhos de Deus. (João 1:12) Então podemos encarar a Deus como nosso Pai. Devemos confiar nEle e passar a conhecê-Lo no relacionamento íntimo de pai e filho. Podemos ter um sentido pessoal do Seu amor e Seu interesse por nós, pois Ele se preocupa conosco como um pai se preocupa com os filhos.
Como disse, certa vez, Peter Marshall: "Deus não permitirá que passemos por dificuldades, a não ser que tenha um plano especifico para que grandes bênçãos nasçam dessa dificuldade."
É através do sofrimento, dos testes e provações da vida que podemos nos aproximar de Deus. Certa vez, A.B. Simpson ouviu um homem dizer algo de que nunca se esqueceu: "Quando Deus o testar, é uma boa hora para você testá-Lo também, fazendo com que cumpra as Suas promessas e reivindicando dEle tudo o que suas provações tornaram necessário."
Existem duas formas de se livrar de uma provação. Uma delas é simplesmente tentar se livrar da provação e ficar grato quando ela acaba. A outra é reconhecer a provação como um desafio de Deus para que reivindiquemos uma bênção maior do que jamais tivemos.

Deus Suprirá Todas as Suas Necessidades

Disse Paulo aos filipenses: "Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades conforme as suas riquezas na glória em Cristo Jesus." (Filip. 4:19) Que promessa isto é para os cristãos! A fonte é Deus – "meu Deus", como O chama o apóstolo. O suprimento é inesgotável – "conforme as suas riquezas na glória". E o Salvador é o canal através do qual essas riquezas chegam até nós. A equação é totalmente a meu favor. As minhas necessidades são contrabalançadas com as riquezas dEle. Não há arranjo melhor do que este, para mim. Não importa do que eu precise, Ele é mais do que capaz de me satisfazer. Não devemos tratar a Deus como disse um escritor anônimo: "Algumas pessoas tratam a Deus como tratam a um advogado – só O procuram quando estão em apuros."
Eu percebo que preciso mais de Cristo nas minhas horas de regozijo do que nas de dificuldades, problemas e adversidade. Muitas vezes, cometemos o erro de pensar que a ajuda de Deus só é necessária nos quartos de doentes ou em horas de tristeza e sofrimento esmagadores. Isto não é verdade. Jesus quer penetrar em cada estado de ânimo e em cada momento de nossas vidas. Ele foi ao casamento em Caná do mesmo modo que à casa de Maria e Marta, quando Lázaro morreu. Ele chorava com os que choravam e se regozijava com os que se regozijavam. Alguém já disse: "Há tantas estrelas no céu ao meio-dia quanto à meia-noite, embora não as possamos ver à luz do sol."
Duvido seriamente que algum dia compreenderemos nossas provações e adversidades, antes de estarmos na segurança do céu. Então, quando olharmos para trás, ficaremos absolutamente espantados ao ver como Deus cuidou de nós e nos abençoou mesmo nas tormentas da vida. Enfrentamos diariamente perigos de que nem nos damos conta. Freqüentemente, Deus intervém a nosso favor por intermédio do uso de Seus anjos maravilhosos. Não creio que coisa alguma aconteça a um cristão obediente por acidente. Tudo faz parte do propósito de Deus. "Sabemos que aos que amam a Deus todas as coisas lhes cooperam para o bem, a saber, aos que são chamados segundo o seu propósito." (Romanos 8:28)
Novamente, o apóstolo Paulo falou:
"Tudo isso é por amor de vós, para que a graça, sendo multiplicada por muitos, faça abundar a ação de graças para a glória de Deus. Por isso não desanimes; mas ainda que pereça o homem exterior, o homem interior renova-se de dia em dia. Pois a nossa leve aflição momentânea para nós produz cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória." (II Cor. 4:15-17) Ainda outra vez escreveu aos coríntios: "Todas as coisas são vossas, (...) ou o mundo, ou a vida, ou a morte, ou as coisas presentes ou as futuras; é tudo vosso." (1 Cor. 3:21,22)

A Graça de Deus É Suficiente

Baseado na sua profunda experiência de sofrimento físico, seu "espinho na carne", como ele o chamou, Paulo pôde escrever aos coríntios: "Ele [Deus] assim me falou: 'Basta-te a minha graça, pois a minha força se aperfeiçoa na fraqueza."' E Paulo prosseguiu: "Portanto de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, para que a força de Cristo repouse sobre mim." (II Cor. 12:9) Que atitude estranha e invulgar perante o sofrimento essas palavras revelam! À primeira vista, faz-me lembrar do homem que estava batendo com a cabeça na parede do quarto do hospital e, quando o médico lhe perguntou por que agia assim, ele replicou: – Porque é tão gostoso quando eu paro!
Não era isso o que Paulo estava querendo dizer. Uma palavra do grande "príncipe dos pregadores", Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), me fez entender melhor o sentido das palavras de Paulo:
Noutra noite, eu estava voltando para casa depois de um dia de trabalho duro. Eu estava me sentindo cansadíssimo, e bastante deprimido, quando súbita e inesperadamente, como um relâmpago, este texto veio à minha cabeça: "Minha graça é suficiente para ti." Cheguei em casa e fui procurar o texto no original e, finalmente, ele chegou a mim desse jeito: "A MINHA graça é suficiente para ti." Eu falei: "Mas claro que é, Senhor." E desatei a rir. Eu jamais compreendera totalmente o que significava o riso santo de Abraão até aquele momento. Parecia tornar a descrença tão absurda. Era como se um peixinho, sentindo muita sede, estivesse preocupado em secar o rio de tanto beber.



Deus É o Deus de Todo o Consolo

Certa vez, no final da minha adolescência, me apaixonei por uma garota. Podia ser apenas uma paixão própria da idade, mas era muito real para os dois adolescentes. Ficamos noivos, embora fôssemos ambos jovens demais para tal passo. Todavia, ela se sentia insegura e achava que o Senhor a estava conduzindo para um outro rapaz, que era um de meus melhores amigos e já um jovem ministro experimentado. Fiquei de coração partido, e me lembro de ter ido procurar um outro ministro meu amigo, para que me ajudasse. Ele me fez ler II Coríntios 1:3, 4, 6:
"Bendito seja o Deus e Pai de nossa Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de todo o conforto, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para podermos confortar aqueles que se acham em qualquer tribulação, pelo conforto com que nós mesmos somos confortados por Deus.(...) Mas se somos atributados, é para o vosso conforto, o qual opera no suportar com fortaleza os mesmos sofrimentos que nós também sofremos."

Ganhei o consolo para as minhas dificuldades pessoais por intermédio dessas palavras do apóstolo, assim como muitos outros também ganharam. Mas não se limita a isto. Essa passagem de Paulo ofereceu uma nova percepção para o sofrimento. Resumidamente, é a seguinte: não apenas somos consolados em nossas provações, mas nossas provações podem nos equipar para consolar os outros.
É um fato inegável que, em geral, são aqueles que mais sofreram os que melhor sabem consolar os outros que estão padecendo. Conheço pastores cujo ministério religioso foi enriquecido pelo sofrimento. Através de suas provações, aprenderam a vivenciar as dificuldades de seus paroquianos. Conseguiram não apenas simpatizar, mas empatizar, com as aflições dos outros, por causa do que eles próprios tinham experimentado em suas vidas.
Nossos sofrimentos podem ser grandes e difíceis de suportar, mas nos ensinam lições que, por sua vez, nos equipam e nos permitem ajudar aos outros. Nossa atitude para com o sofrimento não deve ser "trinque os dentes e agüente", esperando que tudo passe o mais depressa possível. Ao invés disso, a nossa meta deve ser aprender o máximo que pudermos daquilo que temos que suportar, para que possamos cumprir um ministério de consolo – como fez Jesus. "Pois naquilo em que ele mesmo sofreu, sendo tentado, pôde socorrer aos que são tentados." (Hebreus 2:18)
O sofredor se torna o consolador ou o ajudante no serviço do Senhor.



















COMO SE PREPARAR PARA O SOFRIMENTO

Numa crise é impossível obter energia espiritual dos outros. Armazene-a antecipadamente. GEORGE WILLIAMS

O QUE VOCÊ FARIA se as principais cidades do seu pais fossem subitamente arrasadas por mísseis teleguiados ou bombardeiros inimigos? Como você reagiria à apreensão de todas as principais indústrias, instalações, escolas? E se você fosse feito refém por um grupo de terroristas? Se você nunca experimentou o impacto de tais horrores, provavelmente não saberá dar resposta a essas perguntas.
Face a uma catástrofe nacional, o que faz o cristão? Qual deve ser a sua atitude? Para onde se voltaria? E se a igreja nos Estados Unidos passasse a ser perseguida, como o é em muitos outros países?
Como um todo, os Estados Unidos em comparação com muitas outras áreas do mundo não sabem o que é privação. Pouco concebemos, como nação, o que significam o verdadeiro sacrifício e sofrimento.
A imunidade à perseguição que os cristãos, em certas partes do mundo, vêm experimentando, nos últimos duzentos ou trezentos anos, é incomum. Vivemos um período anormal, especialmente nos últimos anos. O cristianismo tem sido quase popular, e nos Estados Unidos certamente o é, ao menos na época em que estou escrevendo. Vejam só as centenas de livros cristãos que são publicados todos os anos. Temos filmes cristãos, assim como programas de rádio e TV cristãos. Uma das mais antigas e prestigiosas revistas americanas adotou recentemente um tom cristão. Todavia, na minha opinião, essa época de popularidade será encurtada à medida que o materialismo secular destrói as partes vitais do país.
Em outras partes do mundo, ser cristão automaticamente expõe a pessoa a dificuldade, se não a uma verdadeira perseguição. Cristo advertiu com veemência a Seus seguidores que acreditar nEle não traria popularidade e que, por isso, deveriam estar preparados para enfrentar sofrimento e aflições em Seu nome.

O Sofrimento Não É Anormal

A Bíblia diz que todos aqueles que quiserem "viver piamente em Cristo Jesus serão perseguidos" (II Timóteo 3:12). Jesus falou que, à medida que se aproxima a hora do Seu retorno, "hão de te prender e perseguir." (Lucas 21:12) Não temos bases bíblicas para acreditar que vamos escapar para sempre de uma perseguição física em nome de Cristo. O fato de não estarmos sendo perseguidos é uma condição anormal. A condição normal para os cristãos é que devem sofrer perseguição.
Como experimentamos pouca perseguição religiosa neste país, é provável que, sob pressão, muitos cristãos neguem a Cristo. É inteiramente concebível que a perseguição dos crentes cristãos que ocorre em outras partes do mundo também chegue à Europa, à Austrália, ao Canadá e à América.
O Dr. Donald Coggan, o antigo arcebispo de Cantuária, numa palestra feita em Londres referiu-se a uma visita recente feita a um determinado país e contou que vira, com seus próprios olhos, cristãos serem perseguidos. Disse ele:
– A fé dos cristãos está sendo testada no fogo. Que testemunho é o deles! Como nos sairíamos, eu me pergunto, em circunstâncias semelhantes? Será que somos acomodados demais na Grã-Bretanha? Será que levamos uma vida mansa e confortável demais para sermos capazes de enfrentar a perseguição? Será que desertaríamos? Ou será que, como tantos deles, triunfaríamos?
Este é um assunto para ser visto com seriedade. Se a perseguição viesse, o que você e eu faríamos? Provavelmente, a maioria não faria nem mais nem menos do que está fazendo agora. Talvez, os primeiros a se renderem sejam exatamente os que mais se vangloriam de sua fé. Muitos que se gabam de coragem seriam os mais covardes. Muitos, como Pedro, que dizem: "Embora todos os outros neguem a Cristo, eu jamais o negarei", seriam os primeiros a aquecer as mãos ao calor do fogo dos acampamentos inimigos.
Ao falar dos últimos tempos, disse Jesus: "Então sereis entregues à tribulação, e vos matarão; sereis odiados por todas as nações por causa do meu nome." (Mat. 24:9) Ele também disse: "E por se multiplicar a iniqüidade, resfriar-se-á o amor da maior parte dos homens." (Mat. 24:12) Paulo, referindo-se ao conflito com as "forças espirituais do mal", escreveu: "Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, tendo feito tudo, ficar firmes." (Efésios 6:13)
Eis aqui cinco itens para serem verificados na determinação da força plena da sua "armadura completa". Anote-os, consulte-os diariamente e aja de acordo com eles.

Olhe na Direção de Deus

Primeiro, é preciso nos certificarmos de nosso relacionamento com Deus. Quando Amós, o profeta, viu o dia do juízo se aproximando rapidamente para Israel, avisou ao povo que se preparasse para o encontro com Deus. (Amós 4:12) A expressão estar preparado deve ser uma palavra-chave para todos.
É estranho que nos preparemos para tudo, menos para o encontro com Deus. Preparamo-nos para o casamento e para uma carreira. Preparamo-nos para competições de atletismo. Uma pessoa que pretenda entrar para a equipe olímpica, em qualquer parte do mundo, treina o seu esporte várias horas por dia, às vezes durante anos, antes de se considerar preparada. Mas nós não nos preparamos para encontrar a Deus. Muito embora a maioria de nós veja as nuvens se acumulando no horizonte, de um modo geral, estamos fazendo poucos preparativos para encontrar a Deus. Esta é a hora de arrependimento e fé. É a hora de olharmos para dentro de nossas almas, e hora de vermos se nossa âncora está firme.
Caminhe com Deus

Segundo, temos que aprender a caminhar com Deus em nosso dia-a-dia.
Abraão caminhou com Deus e foi chamado de amigo de Deus. (Isa. 41:8; Tia. 2:23). Caminhe com Deus, como o fez Noé; quando veio o dilúvio, Noé foi salvo. Caminhe com Deus, como o fez Moisés na solidão do deserto; quando a hora do juízo chegou para o Egito, Moisés estava preparado para guiar o seu povo para a vitória. Caminhe com Deus, como o fez Davi quando era um jovem pastor; quando foi chamado a governar o seu povo, estava preparado para esta tarefa. Daniel e seus três jovens amigos caminharam com Deus na Babilônia e, quando chegou a hora das tribulações, Deus estava ao lado deles – quer fosse no covil do leão, quer na fornalha acesa.
Todavia, a Bíblia ensina que Deus nem sempre livra os Seus santos da adversidade. Como já vimos, uma leitura cuidadosa de Hebreus 11 mostra que "outros" foram tão fiéis quanto Abraão, Moisés, Daniel ou Davi; também eles caminharam com Deus, mas mesmo assim, pereceram. Deus não prometeu livrar-nos da tribulação, prometeu acompanhar-nos durante a tribulação.
Estêvão era um jovem "cheio de fé e do Espírito Santo" (Atos 6:5). Foi apedrejado até a morte, mas teve uma entrada triunfal no céu. Se você não está fortalecendo o homem interior agora, por meio da companhia diária de Deus, quando chegar a crise, você tremerá de medo e cederá, pois não terá forças para ir em apoio de Cristo.

Trabalhe com a Palavra

Terceiro, precisamos nos fortalecer com a Palavra de Deus. Comece a ler, a estudar e a memorizar a Escritura, mais do que em qualquer outra época de sua vida.
Diz Paulo: "Estais, portanto, firmes, tendo os vossos lombos cingidos de verdade, e sendo vestidos da couraça da justiça." (Efés. 6:14) A verdade é a Palavra de Deus. Diz ele, também: "Tome a (...) espada do Espírito, que é a palavra de Deus." (v. 170) Temos que estar preparados para a ação, de couraça e espada, com a Palavra. Para chegar a isso, é preciso lê-la, assimilá-la, alimentar-se dela. Temos que deixar que seja nosso bastão e nossa força. Ela é rápida e poderosa – o baluarte da alma.
Para muitos, a Escritura não passa de um livro de referências de fatos bíblicos. Raramente é aberto e apreciado como o bastão espiritual da vida que é. Muitos cristãos estão anêmicos, pois deixaram de se alimentar com a Palavra de Deus. Estão totalmente despreparados para uma hora de crise ou de conflito. Precisamos fazer da Bíblia uma parte diária de nossas vidas, armazenando a Palavra de Deus em nossos corações e mentes. Então, se alguma vez a nossa Bíblia for tirada de nós, sempre poderemos recordá-la, alimentar-nos dela e digeri-la internamente.
Ouvimos contar inúmeras histórias de cristãos que foram presos sem a sua Bíblia, mas que sabiam de cor grandes trechos da Escritura. Que conforto, bênção e força eram esses trechos, repetidos vezes sem conta para eles mesmos. Um cristão, que passou três anos numa cadeia, me contou que, durante o seu tempo de prisão, o que mais lamentava era não ter guardado de memória mais trechos da Bíblia.

Treine a Oração

Quarto, precisamos fortificar-nos com a oração. A Bíblia, referindo-se ao "dia mau", diz: "Com toda a oração e súplica orando em todo o tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos". (Efés. 6:18) Se vamos ficar ao lado de Cristo, sem concessões, quando chegar uma crise nacional, então temos que redescobrir o poder da oração. Jesus nos ensinou que devemos "orar sempre e nunca desanimar". (Lucas 18:1)
A igreja primitiva conhecia o valor e a necessidade da oração. Orações fervorosas e dedicadas antecediam a cada triunfo importante. A oração antecedeu ao Pentecostes.
A igreja em Jerusalém orava nas horas de perseguição e, como resultado, "todos ficaram cheios do Espírito Santo, e falavam com liberdade a palavra de Deus". (Atos 4:31) Quando o apóstolo Pedro foi aprisionado pelo rei Herodes, os fiéis em Jerusalém oraram e ele foi milagrosamente libertado. (Atos 12:1-17)
Paulo e Silas oraram na prisão; o carcereiro filipense encontrou a Deus e os prisioneiros foram libertados. (Atos 16:25-34)
Para o cristianismo sobreviver num mundo ímpio e materialista, nós temos que nos arrepender de nossa falta de orações. Temos que fazer da oração a nossa prioridade. O encontro da oração deve ser o culto mais importante e significativo de qualquer igreja.
No Antigo Testamento, lemos a história de um rei pagão perverso e poderoso, chamado Senaqueribe. Este líder assírio anunciou que dominaria pela força o povo de Deus, e que possuiria as suas terras. Pôs em funcionamento a sua máquina de propaganda. Mandou mensagens a Israel, dizendo: "Qual foi, de todos os deuses daquelas nações que meus pais destruíram, o que pôde livrar o seu povo da minha mão, para que possa o vosso Deus livrar-vos da minha mão?" (II Crônicas 32:14)
A Assíria construíra uma máquina de guerra vasta e fantástica, que arrasara implacavelmente as nações de Judá e Israel. Na corrida armamentista de sua época, os assírios estavam definitivamente em vantagem! Os seus soldados armados policiavam os países subjugados e conquistados da mesma forma que acontece em certos países, hoje em dia. O mundo todo tremia quando Senaqueribe falava!
Ezequias, o rei de Israel, deu-se conta de que, a nível puramente humano, os assírios podiam fazer valer as suas palavras orgulhosas. Eram superiores em número de soldados e em armas; nenhuma nação fora capaz de resistir a eles. Ezequias sabia muito bem que, sem a ajuda de Deus, o seu povo seria dizimado da face da terra. Confiou em Deus irrestritamente – e sua arma secreta era a oração.
Diz a Bíblia: "O rei Ezequias e o profeta Isaías, filho de Amós, oraram juntos e clamaram aos céus." (II Crônicas 32:20) Imaginem esta cena dramática: um rei e um profeta de Deus de joelhos diante de Deus, orando fervorosamente. E então um milagre aconteceu!
Continua a narrativa: "Jeová mandou um anjo que exterminou no arraial do rei da Assíria todos os homens ilustres em valor e os guias e os capitães. Voltou o rei envergonhado para a sua terra. (...) Assim salvou Jeová a Ezequias e aos habitantes de Jerusalém da mão de Senaqueribe, rei da Assíria, e da mão de todos, guiando-os de todos os lados." (li Crônicas 32:21, 22).
Milagres aconteceram na História quando o povo de Deus se voltou para Ele em oração. A palavra dEle para nós ainda é a seguinte: "Invoca-Me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás." (Sal. 50:15)
É preciso uma convocação urgente para o arrependimento nacional e individual, hoje, ou o juízo certamente chegará. Creio que estamos preparados como nação, que somos fortes e que dificilmente nos atacarão. Mas nenhuma dose de preparação militar poderá tomar o lugar da preparação espiritual. Precisamos da força interior que advém de um relacionamento pessoal e vital com Deus, através de Seu Filho Jesus Cristo.
Li, recentemente, um artigo num jornal inglês que perguntava na manchete: "A Grã-Bretanha sobreviverá?" O autor prossegue dizendo que, dentro de cinco anos, a não ser que a Grã-Bretanha tenha um novo despertar moral e espiritual, estará nas mãos de um novo tipo de governo ateu e materialista.
A primeira coisa que Ezequias e Isaías fizeram quando irrompeu uma crise na sua terra foi cair de joelhos diante do Deus Todo-Poderoso. Não oraram para que Deus estivesse do lado deles, mas sim para que eles pudessem estar do lado de Deus. Em resposta a suas súplicas ansiosas e por causa do seu modo de vida consistentemente justo, Deus enviou um batalhão de guerreiros celestes para livrá-los.
Porém, não é sempre que Deus livra seus filhos de crises e catástrofes. Por exemplo, durante as provações e tribulações dos anos 70, muita gente em Uganda orou ansiosamente para que o Senhor os livrasse. O regime perverso daquele pais tirou a vida de muitos crentes. O Senhor os livrou, mas não da maneira como esperavam. Cabe a nós, cristãos, aceitarmos o que quer que Deus nos envie, e estarmos preparados em nossos corações e mentes para a mudança e a revolução – e até mesmo para a tortura e a morte.
Corrie ten Boom nos conta como, em meio aos horrores do campo de prisioneiros de Ravensbruck, ela aprendeu a orar. A oração era o seu refúgio constante. Através da oração, ela conheceu a realidade de Cristo na sua vida, mesmo quando os fardos eram esmagadores. Ela orava: "Senhor, ensina-me a jogar todos os meus fardos sobre Ti e a prosseguir sem eles. Somente o Teu Espírito pode me ensinar esta lição. Dá-me o Teu Espírito, ó Senhor, e eu terei fé, tanta fé, que não mais carregarei um fardo de cuidados."

Pratique a Presença de Cristo

Quinto, precisamos fortificar-nos pela percepção da proximidade do Senhor em todas as horas. Spurgeon disse, certa vez: "Nunca passei mais de quinze minutos na minha vida sem sentir a presença de Cristo." Lamento não poder dizer isto. Precisamos aprender novamente a praticar a presença de Cristo, não apenas nos dias de provações e sofrimentos, mas sempre.
Somos encorajados a agir assim pela promessa final de Cristo a seus discípulos, depois que lhes havia ordenado que partissem e fizessem discípulos de todas as nações. Disse Ele: "Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo." (Mateus 28:20) É uma promessa para discípulos obedientes, e é maravilhosamente abrangente.
O Dr. Handley Moule, ex-bispo anglicano de Durham, Inglaterra, e renomado estudioso de grego, insiste em que o sempre pode ser parafraseado para significar: "Estou convosco todos os dias, o dia todo." Isso quer dizer que podemos contar com a presença de Cristo não apenas todos os dias, mas em todos os momentos de cada dia. Do fato de Sua presença não pode haver dúvidas, pois Sua Palavra não pode falhar. O que precisamos é cultivar o sentido de Sua presença, todos os dias, todas as horas, todos os momentos.
Há alguns anos a minha mulher sofreu um tombo terrível. Teve uma concussão, ficou inconsciente durante quase uma semana, quebrou o pé em cinco lugares e feriu o quadril. Ao recobrar a consciência, percebeu que tinha perdido boa parte da memória. O que a perturbava mais era ter esquecido tantos trechos da Bíblia que aprendera ao longo dos anos. Os versículos de uma vida inteira eram mais preciosos para ela do que todos os seus bens materiais.
Certa noite, quando estava orando, porque estava tão aflita, um versículo lhe surgiu do nada: "Eu te amei com um amor eterno..." Ela não se lembrava de ter memorizado este versículo, mas o Senhor fez com que se recordasse dele. Aos poucos, outros versículos começaram a lhe voltar à lembrança. Porém, é interessante notar que, enquanto ainda estava tentando recobrar a memória, memorizou Romanos 8:31-39 e ficava repetindo os versículos vezes sem conta:
"Que diremos, pois, à vista destas cousas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou a seu própria Filho, mas, por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as cousas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que os condena? Cristo Jesus é o que morreu, ou antes, o que foi ressuscitado; o que está à mão direita de Deus; o que também intercede por nós! Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo ou espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas cousas somos mais do que vencedores por aquele que nos amou. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem os principados, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor."
Insisto para que você memorize esta passagem. Oculte-a dentro do seu coração. Quando a perseguição, os problemas e a adversidade irromperem, estes versículos voltarão à sua cabeça milhares de vezes.
Cristo deve ser vitalmente real para nós, para que permaneçamos fiéis a Ele na hora da crise. E quem sabe o quanto esta hora está ou não próxima? As engrenagens do juízo de Deus já podem ser ouvidas pelas pessoas esclarecidas na ONU, nas conferências de líderes políticos, nos escritórios dos editores de grandes jornais ou nas grandes redes de TV no mundo todo – e nos povos de todas as nações. As coisas estão acontecendo depressa! Nunca foi tão urgente a necessidade de nos voltarmos para Deus.
As palavras de Isaías, a quem Deus usou para confundir um agressor antigo e ímpio, são apropriadas para nós, hoje em dia: "Buscai a Jeová enquanto se pode achar; invocai-o enquanto está perto. Deixe ao iníquo o seu caminho, e ao injusto os seus pensamentos: volte-se para Jeová, porque se compadecerá dele; e para o nosso Deus, porque muito perdoará." (55:6,7)
Davi provou que a armadura externa não é tão importante quanto o homem que há por dentro da armadura. A não ser que os homens de propósito, integridade e fé se unam em lealdade inabalável a Jesus Cristo, o futuro do mundo será realmente sombrio.

Fortaleça a Família

Para nos prepararmos para o sofrimento e perseguição que parecem tão inevitáveis, também precisamos favorecer e fortalecer o movimento do pequeno grupo, o conceito de "células cristãs". Obviamente este processo deve se realizar na família. Nos Estados Unidos de hoje em dia, assim como em outras partes do mundo, estamos testemunhando a ruptura e a erosão da unidade familiar. O divórcio está desenfreado, e "morar junto" sem a formalidade de uma cerimônia de casamento está cada vez mais comum. Somente a unidade familiar cristã forte será capaz de sobreviver ao próximo holocausto mundial.
Para nos prepararmos para a crise que se aproxima temos que nutrir e armar a unidade familiar. Os itens que mencionei anteriormente podem ser aplicados à nossa vida familiar. Primeiro, temos que colocar a Deus no centro de nossa vida familiar, e torná-Lo também a circunferência. Segundo, como família, temos que caminhar diariamente com Deus. Terceiro, consultar e memorizar a Bíblia em família é vital. Não deve se passar nem um só dia sem uma reunião familiar em torno da Palavra de Deus. Juntos, os membros da família devem "ler, marcar, aprender e assimilar internamente" a Escritura como uma preparação essencial para a perseguição que os espera.
A oração em família é o quarto elo vital na corrente de força espiritual – uma força que estamos tentando construir para nos proteger de um mundo que enlouqueceu. O hábito de orar juntos em família é um dos fatores mais fortalecedores na unificação e energização dos membros daquela família que enfrentam um mundo conturbado. Somente pelo contato direto com Deus, através da oração, podemos esperar ter a serenidade e a segurança que nos permitirão testemunhar por Cristo no mundo exterior. A prática da oração em família também equipa os seus membros individuais para orarem eficazmente em meio ás pressões do dia-a-dia. O lar é o melhor lugar para aprender estas lições espirituais.
O que falei sobre a unidade familiar também se aplica ao valor de pequenos grupos íntimos que estão brotando dentro e fora da igreja organizada, hoje em dia. Quando irmãos e irmãs em Cristo se unem no laço comum da Palavra de Deus e da oração, ficam fortalecidos na sua fé e testemunho. O apoio dos outros é especialmente útil quando chega o sofrimento. A Escritura nos insta a suportar "as cargas uns dos outros, e, assim, cumprireis a lei de Cristo" (Gál. 6:2); "consolai-vos reciprocamente e edificai-vos" uns aos outros (1Tess. 5:11). Isto pode ser feito da melhor forma em pequenos grupos cristãos; e, quando feito, coisas espantosas podem acontecer.
Por exemplo, estamos sabendo que a igreja na China sobreviveu a mais de 25 anos de severas restrições. Como? Por intermédio da saúde e existência de "igrejas domésticas". Elas consistem em pequenos grupos de crentes que, embora lançados à clandestinidade durante a revolução cultural, ainda assim deram um jeito de se encontrar regularmente em torno da Palavra. A despeito do esforço combinado para se destruir todas as Bíblias na China, alguns exemplares sobreviveram e em torno destes, ou dos versículos e até passagens que os crentes tinham memorizado, reuniram-se pequenos grupos de cristãos. Os cristãos chineses, na prisão e nos campos de trabalhos forçados, permitiram que a chama de sua fé ardesse vivamente e foram utilizados para conduzir outros chineses para o Senhor.
E quanto a nós mesmos? O desafio é pessoal e diz respeito a cada um de nós. No fim das contas, a melhor maneira de nos prepararmos para qualquer tipo de sofrimento é buscando aprofundar continuamente nossas vidas espirituais – e o que quero dizer é aprofundar a nossa vida no Espírito.
A exortação do apóstolo Paulo aos cristãos da sua época era "enchei-vos do Espírito." (Efésios 5:18) Não era um mero conselho, era uma ordem. E o verbo em grego está no presente, dando a idéia de continuidade. "Continuai enchendo-vos do Espírito" – é o que Paulo está dizendo aqui. Não é um acontecimento único, mas sim uma experiência ininterrupta. Nós devemos ser cisternas para a plenitude de Deus. Como uma fonte fresca, devemos transbordar e deixar que nossas vidas toquem as vidas daqueles que nos cercam.
É assim que devemos nos preparar para o que quer que nos espere nas épocas críticas de provação que estão por vir. Quando chegar o "dia mau", não poderemos depender das circunstâncias que nos cercam, mas dos recursos ocultos dentro de nós. E estes recursos não são nossos, mas de Deus. Encha-se do Espírito!


COMO AJUDAR AQUELES QUE ESTÃO MAGOADOS

Foi através dos que sofreram que o mundo progrediu.
LEON TOLSTOI

A MAIOR PARTE deste livro tratou do sofrimento no sentido mais geralmente aceito – o tipo de sofrimento associado à dor física e à doença, e à hostilidade e á perseguição. Mas existem outros aspectos do sofrimento que não podem ser ignorados ou esquecidos num livro deste tipo. É o sofrimento causado pelas "mágoas" da vida que causamos aos outros com a maior facilidade, ou das quais nós mesmos somos as vítimas.
Pode haver quem se incline a considerar tais mágoas sem importância, se comparadas às outras. Porém, elas são bem reais e nada triviais. Dizem respeito a nós todos em nosso dia-a-dia. Dizem respeito a você, que está lendo este capítulo.
A sua vida é intimamente entrelaçada ás vidas de dezenas e centenas de outros que o cercam. Considere a variedade de vidas que você influencia em um dia: os membros de sua família e seus amigos, as relações comerciais, vizinhos, empregados de armazém, bombeiros do posto de gasolina, garçonetes, motoristas de ônibus, o seu pastor, os outros paroquianos da sua igreja. Quer esses relacionamentos sejam superficiais ou profundos, dentro de cada um deles existe o potencial para muita mágoa ou muita ajuda.
Dentro do seu círculo de contatos alguém está sendo magoado. Você tem ciência disso? O que pode fazer para ajudar a essa pessoa? Será que é você a fonte da mágoa dessa pessoa? Ou será que é você quem está sendo magoado? Como você deve reagir?
Neste capítulo, queremos explorar estas questões. Deus quer que estejamos cada vez mais preocupados com os sentimentos e necessidades daqueles que nos cercam. E Ele quer que aprendamos a lidar direito com nossas próprias mágoas.

Como Magoamos os Outros

Às vezes, magoamos os outros deliberadamente, outras vezes, inadvertidamente. No seu livro recentemente publicado Por favor, não atire! Já Estou Ferida, "Hansi" (Maria Ann Hirschmann) nos conta o que aconteceu quando o seu marido a deixou. Ela admite ter sido uma mãe dura e exageradamente rígida, que afastou os filhos de si. Na devastação que experimentou após ter sido abandonada tanto pelo marido quanto pelos filhos, ela foi ainda mais magoada pelas críticas e atitudes de antigos amigos cristãos. Depois que o Senhor a tratou amorosa e carinhosamente, ela enfrentou com sinceridade as suas falhas e permitiu que o Senhor a modificasse.
Falando a um grupo de mulheres, certo dia, ela sentiu necessidade de partilhar a sua experiência e ficou pasma com a resposta delas. Descobriu que dezenas de mulheres foram profundamente magoadas, como ela, e encontraram da parte dos cristãos reações de desagrado, crítica, condenação e até crueldade. Aos poucos, à medida que Hansi permitia que o Senhor cuidasse de si e a modificasse, ela se reconciliou com cada um de seus filhos e, finalmente, chegou ao ponto em que se achou capaz de orar pelo ex-marido e a nova mulher dele. Espero que o livro dela ajude os cristãos a se darem conta de que julgar e condenar não faz parte dos dons do Espírito.
Vemos também a história da mãe de Somerset Maugham. Dizem que foi uma mulher extraordinariamente bela, casada com um homem extraordinariamente feio. Certo dia, passados alguns anos, um amigo chegado lhe perguntou, de brincadeira, como conseguira ficar casada com um homem tão feio, sendo ela tão linda. Ela pensou por um momento, depois respondeu, com toda a seriedade:
– Ele nunca me magoou, nem uma só vez.
Como demonstram estas histórias, nós magoamos os outros quando não somos bondosos. Poucos cristãos agem assim deliberadamente. Talvez simplesmente não percebam as conseqüências de suas atitudes, seu tom de voz ou que as palavras que dizem estão incomodando um determinado indivíduo.
Um de nossos filhos teve a experiência de ter uma professora bondosa num ano e outra que não era bondosa, no ano seguinte. Isto se repetiu durante vários anos. Era interessante ver como ele florescia com as mestras bondosas e regredia com as outras.
Creio que isso também se aplica à minha própria vida. Muitas vezes, a única coisa que uma criança consegue se lembrar num adulto, anos mais tarde, quando já cresceu, é se essa pessoa foi ou não bondosa.
"A melhor coisa que podemos fazer por nosso pai celeste", disse alguém, "é ser bondoso para um de Seus filhos". Isto é verdade, eu sei, porque me sinto profundamente agradecido quando alguém é bondoso para um filho meu.
Mexericar é outra maneira de magoar os outros. "Que o ausente sempre se sinta seguro conosco" – eis um lema a ser lembrado.
Existem pais que fizeram o possível para criar os seus filhos segundo os preceitos do Senhor, somente para que mais tarde eles rejeitassem não apenas o que lhes fora ensinado, mas também os próprios pais.
Você tem um amigo com um filho assim? E você, o que fez a respeito? Julgou, criticou, mexericou, quem sabe "contou vantagem" porque os seus filhos são fiéis totalmente dedicados ao Senhor?
Este pequeno poema aborda vividamente o assunto:
Eles sentiam olhares bons sobre si
e se encolhiam por dentro – destruídos;
bons pais tinham bons filhos e eles – um filho errante.
Aquela boa gente não pretendia
bancar a convencida ou condenar;
mas ter filhos pródigos não era uma coisa que "ficasse bem".
Lembra a eles docemente, Senhor,
como Tu
tens problemas com Teus filhos, também.1
Não devemos nos esquecer de que Deus odeia o pecado, mas também é verdade que Ele é doce e compassivo com o pecador. É freqüente deixarmos de fazer essa diferença.
E quanto às críticas? As críticas, em geral, desanimam. Já notou como, ao ler a Bíblia, você depara com Deus lhe dizendo todos os seus erros, pecados e falhas, sem desencorajá-lo nem uma vez? Isso é porque, ao mesmo tempo, o Seu amor resplandece e, com ele, a promessa de Sua presença e poder para nos ajudar a vencer. A crítica vinda das pessoas, em geral, tem um efeito contraproducente. Isso é especialmente verdadeiro, creio eu, ao lidarmos com nossos filhos. Eles precisam de orientação e correção, mas se, ao mesmo tempo, pudéssemos ser também mais animadores! Se eles são bagunceiros, encoraje-os quando arrumam os quartos. Se são habitualmente retardatários, elogie-os quando chegam na hora. No Salmo 72, está a oração de Davi para seu filho Salomão. Diz o versículo 15: "Roguem por ele continuamente e bendigam-no em todo o tempo." Que sugestão para os pais! Ore continuamente – louve diariamente. Se não fizermos isso, causaremos mais danos ainda, ao invés de repará-los.
Deixar de encorajar é uma das maneiras mais comuns de magoar os outros. "Mais pessoas falham pela falta de encorajamento", já disse alguém, "do que por qualquer outro motivo." Outra maneira de magoarmos os outros é estando ocupados demais. Ocupados demais para prestar atenção em suas necessidades. Ocupados demais para mandar um bilhetinho de consolo ou de ânimo ou de confirmação de amor. Ocupados demais para ouvir quando alguém precisa conversar. Ocupados demais para nos importarmos.
Quando Alan Redpath era pastor de The Moody Church, em Chicago, mandou pendurar na parede de seu gabinete estas palavras: "Cuidado com o vazio de uma vida ocupada."
A mulher que deixa de dar apoio ao marido pode magoá-lo como indivíduo, e também prejudicar o seu trabalho. Isso também se aplica ao marido que deixa de dar apoio à mulher. Até mesmo uma coisa aparentemente insignificante como um tom de voz pode ter um efeito devastador. Já foi dito que mais tensão e atritos são causadas em família pelo tom de voz do que por qualquer outro motivo.
Os psicólogos nos falam da necessidade das pessoas terem a um só tempo segurança e significação. Conquanto somente Deus possa oferecer a segurança máxima e permitir que uma pessoa perceba a sua verdadeira significação, nós, como pais, se falharmos no esforço de fazer nossos filhos se sentirem seguros de nosso amor e de fazer com que eles percebam a sua significação e valor individuais, podemos deixá-los marcados por toda a vida.
A seguir, vem aquele que tem autoridade e reprime excessivamente. Pode ser um marido que não permite que a mulher tenha opiniões próprias e discorde dele. Todo homem precisa de alguém que discorde dele, ocasionalmente. Conheço um homem desse tipo que, embora possa parecer incrível, deixou bem claro à mulher, logo que se casaram, que ela não poderia nunca discordar dele. Mais tarde, quando já estavam casados há algum tempo, eles receberam um conhecido líder cristão para jantar. No meio da conversa, o convidado discordou de algo que o dono da casa dissera, e a mulher deste, prontamente, o expulsou de casa.
– Ninguém discorda do meu marido na minha casa! – exclamou a mulher.
Isso pode parecer ficção, mas é verdade. O tal homem, embora extremamente talentoso e capaz, acabou se tornando desagradavelmente arrogante.
Em Eclesiastes 8:9, vemos este comentário interessante: "Há uma época em que um homem tem domínio sobre os outros homens para magoar a si mesmo."
Jamais ganhamos na vida magoando os outros. Às vezes, tentamos elevar os nossos egos inseguros degradando e diminuindo os que nos cercam. No entanto, isso produz apenas um falso sentido de auto-estima.
Pelo contrário, a Escritura nos ensina que devemos nos preocupar mais com as necessidades e sentimentos dos outros do que com os nossos. Devemos encorajar a autoconfiança em nossos entes queridos, nossos amigos e associados. Devemos encorajar o seu crescimento como indivíduos e aplaudir os seus êxitos. Alguém já disse que o verdadeiro servo de Deus é aquele que ajuda o outro a ter êxito.
Muitas vezes sentimos maior satisfação e alegria pelos feitos de outras pessoas, do que por nossos próprios feitos. Uma boa definição de alegria (JOY) que vale a pena lembrar é formada pelo acróstico seguinte:
Jesus first. (Jesus em primeiro lugar)
Others second. (Os outros em segundo)
Yourself last. (Você em último)

Como Reagimos ao Sermos Magoados

Conheço um homem que foi incrivelmente torturado por sua fé em Cristo. Quando estava sofrendo a tortura, ele fez questão de orar pelo indivíduo (ou indivíduos) que o torturavam. Ao recobrar a liberdade, ele voltou para a civilização como um homem normal, humano, compassivo. Li sobre um outro que passou por circunstâncias semelhantes, mas que saiu da sua provação um homem espiritualmente ferido – amargo e cheio de ressentimentos.
A maneira como reagimos às mágoas e desapontamentos influi na formação de nossas personalidades, podendo também afetar profundamente nossas famílias e amigos.
Às vezes, ficamos recalcados, defensivos ou vingativos.
Embora possa parecer estranho, freqüentemente, as crianças que foram maltratadas quando crescem se tornam pais pouco carinhosos. Poder-se-ia imaginar que o efeito seria o contrário – que uma criança que tivesse passado por mágoas e sofrimento estaria resolvida a ser o tipo de pai ou mãe que jamais tivera.
Alguns anos atrás, ganhamos uma cadelinha São Bernardo na Suíça. Na primeira semana que passou conosco, ela caiu da varanda do segundo andar e quebrou a perna. Ainda tenho no dedo a cicatriz deixada pela mordida dela, quando fui socorrê-la. Muitas pessoas magoadas mordem a mão estendida para ajudar.
Podemos reagir à mágoa negativa ou positivamente, egocentricamente ou voltando-nos para Deus. Os últimos nos darão uma nítida perspectiva da situação e promoverão o desenvolvimento de uma personalidade mais sadia.
Deixe-me partilhar com você algumas idéias sobre como Deus quer que reajamos às mágoas.

Confiando na Soberania de Deus

Um prisioneiro recentemente libertado, depois de anos de trabalho forçado, sem uma Bíblia, alimentou-se espiritualmente das passagens da Escritura que ele decorara desde a sua conversão, quando rapazinho. Uma que ele mencionou em particular foi o Salmo 66. Ao ler este salmo, fiquei impressionado pelo fato de o salmista não reconhecer causas secundárias. Começando com o versículo 10, diz ele: "Pois Tu, ó Deus, nos tens posto à prova; tens nos afinado, como se afina a prata." Versículo 11: "Fizeste-nos entrar no laço do caçador; pesada carga puseste sobre as nossas costas." Versículo 12: "Tu fizeste que os homens cavalgassem sobre as nossas cabeças; passamos pelo fogo e pela água, mas nos trouxeste para a abundância." (O grifo é meu.)
Na Escritura, vemos que isso também se aplica ao caso de Jó. Ele não sabia que Satanás tinha que obter permissão de Deus para poder tocar nele e nos seus bens. No entanto, quando Jó perdeu tudo, não disse ele "Jeová deu e o demônio tirou", mas sim "Jeová deu e Jeová tirou; bendito seja o nome de Jeová". (Jó 1:21)
Assim, quando somos magoados, é importante lembrar que o próprio Deus o permitiu, com algum propósito.



Perdoando Aqueles que nos Magoam

Quando somos magoados pelas palavras ou atos descuidados ou deliberados de outrem, Deus nos pede para que lhe demos o nosso perdão. Isso ajudará a melhorar o relacionamento que temos com a pessoa e impedirá que nos envenenemos com nossa própria amargura. "Tornai-vos, porém, bondosos uns com os outros, compassivos, perdoando-vos aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou " (Efésios 4:32)

Sendo Paciente

Escrevendo aos cristãos que sofriam por sua fé, disse Tiago:
"Tende, pois, paciência, irmãos, até a vinda do Senhor. Vede como o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber esta as primeiras e as últimas chuvas. Tende vós também paciência; fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima." (Tiago 5:7,8 – o grifo é meu.)
A paciência não é simplesmente suportar complacentemente e de "dentes cerrados" uma determinada situação. É uma atitude de expectativa. O lavrador pôde fitar com paciência a sua terra aparentemente estéril porque estava certo de que seus esforços seriam compensados. Ele podia ter paciência com seus esforços porque haveria produtos de seus esforços.
O mesmo acontece na esfera espiritual. Como já vimos, Deus pode produzir qualidades valiosas em nossas vidas através das mágoas e sofrimentos que experimentamos. Podemos sofrer com paciência, pois nosso sofrimento produzirá uma colheita espiritual.
E podemos sofrer pacientemente nesta vida, pois sabemos que, na hora escolhida por Deus, o Seu filho retornará como a maior recompensa para o crente que age e espera.


Dando Graças

Em 1 Tess. 5:18, diz-se ao cristão: "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Jesus Cristo para convosco." (o grifo é meu).
Um membro do corpo docente escreveu, no Boletim da Faculdade Montreat-Anderson, recentemente (primavera de 1980):
Em meio às situações da vida, devemos dar graças. O ato de dar graças não depende das circunstâncias que enfrentamos, mas é baseado na integridade do caráter de Deus e na infalibilidade de Seus propósitos.

O que o ato de dar graças faz pelo crente? Dá-lhe
Um Novo Foco...
...dele mesmo para Deus.
Uma Nova Perspectiva...
...dos problemas e perplexidades
para os propósitos e prioridades de Deus.
Uma Nova Atitude...
...da ansiedade para a confiança. Calmo é o coração que se apóia
na certeza do controle de Deus.
Uma Nova iniciativa
...Deus pode usar o crente em qualquer situação
determinada para dar continuidade a Seus propósitos e trazer a glória a Seu nome.
Além do mais, o ato de dar graças promove um Corpo sadio. Encoraja e edifica os demais crentes. Dar graças é um exercício que vale a pena cultivar e serve como antídoto para a complacência. E, ainda mais, é contagiante! "Por ele, pois, ofereçamos constantemente a Deus sacrifícios de louvar, isto é, a fruto dos lábios que confessam o seu nome." (Hebreus 13:15)

Deus quer que Seus filhos sejam felizes e sadios. E Ele pode mostrar a cada um de nós como reagir ás mágoas para que elas se tornem degraus para uma vida mais produtiva e satisfatória.


Como Ajudar Aqueles que estão Sofrendo

Deus mandou: "Ama a teu próximo como a ti mesmo". Testemunhamos este princípio supremamente demonstrado na vida e morte de Seu filho e, dessa forma, precisamos levar a sério o nosso chamado para cuidar do nosso próximo que sofre.
A primeira coisa a fazer é pedir ao Senhor que nos dê amor, sensibilidade para a situação e a Sua sabedoria.
É da máxima importância que sejamos sensíveis a cada indivíduo, a cada situação, a fim de determinar as prioridades imediatas.
Nosso filho, Franklin, passou alguns dias num barco no mar da China, procurando fugitivos do regime opressor do Vietnã. A bordo, o imediato Ha Jimmy contou como, na semana anterior, tinham salvo um barco de fugitivos. Fora atacado por piratas, que roubaram os passageiros e estupraram as mulheres. O navio pirata estava abalroando o barco menor para destruir todas as provas, quando apareceu o navio de resgate, e eles fugiram.
Primeiro, foi preciso cuidar dos feridos. Depois, foi preciso alimentar e banhar todos os que foram salvos, e permitir que descansassem. Mais tarde, falou-se a eles de Jesus e Seu amor.
A bordo, uma mãe com diversos filhos pequenos viu morrer o seu bebê. Não havia nada a fazer senão deitar ao mar o pequeno corpo e vê-lo ir se afastando. Mais alguns dias se passaram e mais uma criança morreu. Mais uma vez a mãe teve que ficar olhando o corpinho que se afastava mar adentro.
Ha Jimmy olhou para Franklin, os olhos sombreados de fadiga, e perguntou:
– Franklin, depois de tudo por que ela passou, se eu não lhe tivesse dado Jesus, o que teria realmente feito por ela?
Deus pode utilizar um cristão sensível para ser uma bênção maravilhosa na vida daquele que está conhecendo a dor e a tristeza. A Escritura oferece orientação para aqueles que estão em posição de ajudar a quem sofre.
1. "Chorai com aqueles que choram." Mesmo que não sejam lágrimas de fato, isso quer dizer que devemos sofrer junto com eles.
Os amigos de Jó estavam certos indo à casa do pobre homem para lhe fazer companhia. Confortaram Jó até a hora em que abriram a boca. Às vezes, o maior sermão é o silêncio! Uma pessoa que sofre não precisa de um palestrante – precisa de um ouvinte. Precisa de alguém a quem possa abrir o coração ou alguém que compartilhe o seu silêncio. Principalmente, precisa de alguém que compartilhe a sua dor.
Jesus era agudamente sensível aos que viviam situações de sofrimento. Ao ver a viúva de Naim acompanhando o enterro do filho, Jesus "teve compaixão". Seu coração sofreu por ela. Jesus sentia grande compaixão perante a morte. Nesta ocasião em particular, Ele não fez nenhum sermão. Atendeu à necessidade mais profunda da mulher, a necessidade de saber que Deus estava cônscio da sua situação e que se importava. Jesus deu uma poderosa demonstração disto ao fazer o menino ressuscitar.
Quando Lázaro, o bom amigo de Jesus, morreu, Ele foi até a casa dele e chorou. Ele sabia que era vitorioso sobre a morte. Sabia que, em breve, realizaria o milagre de ressuscitar Lázaro, provando desta forma que podia vencer o maior medo do homem – o pavor do túmulo.
No entanto, chorou. As irmãs de Lázaro estavam desoladas – e Jesus lhes fez companhia na sua dor.
É difícil enfrentar a morte. Às vezes, não é que fiquemos tão chocados pelo falecimento de alguém, ficamos atordoados pela finalidade da morte. Embora confiemos nas promessas de Deus para uma vida após a morte e a certeza de um lar celestial, ainda assim é preciso enfrentar a realidade da morte.
Jesus chorou com aqueles que sofriam – e nós devemos fazer o mesmo.

2. "Suportai os fardos uns dos outros." Além de partilhar nossos corações e nossos ouvidos com alguém que sofre, devemos também, dentro de nossas possibilidades, estar dispostos a partilhar nossos bens materiais e nosso tempo. Temos um belo exemplo disso na parábola do Bom Samaritano. Ao encontrar um homem que fora roubado, espancado e deixado como mortal o samaritano não continuou o seu caminho para "comunicar o acidente". Tampouco, pagou a outra pessoa para voltar e cuidar do ferido. O samaritano se envolveu pessoalmente.
Ergueu carinhosamente o homem ferido, colocou-o no lombo do seu próprio burro e continuou cuidadosamente a sua viagem até Jericó. Ao chegar à cidade, buscou hospedagem. Durante a noite, ele cuidou do paciente, tratando de suas feridas com carinho. No dia seguinte, disse para o taberneiro que pagaria todas as despesas em que o paciente pudesse incorrer.
É assim que Deus quer que tratemos dos que sofrem.
Em Gálatas 6:2, diz o autor: "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo." Todos têm a capacidade de assumir as suas próprias responsabilidades e de suportar as pressões. Porém, quando a carga ultrapassa o ponto crítico, que outro venha ajudar... e, às vezes, essa ajuda pode ser dada através dos bens materiais.
Que Deus possa nos dar a sensibilidade de reconhecer essas necessidades naqueles que nos cercam.
3. Ore por aqueles que estão magoados e, sempre que possível ou aconselhável, também ore com eles e compartilhe a Escritura.
Pode ser um grande conforto quando alguém ora conosco e nos conduz ao "trono da graça", para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos em tempo oportuno. (Hebreus 4:16) Em vez dos amigos cristãos nos ficarem dando conselhos pessoais em meio a uma crise, muito melhor seria que partilhassem conosco as promessas amorosas de Deus. É um conforto escutar as palavras de Deus nas horas de tensão. O Espírito Santo pode pegar a palavra da verdade de Deus e aplicá-la às nossas necessidades mais profundas.
Tenha cuidado ao deixar uma pessoa numa situação de sofrimento. Faça com ela uma pequena prece, e até mesmo partilhe um pequeno trecho da Escritura.
Essas são apenas algumas sugestões para ajudar aos que sofrem. Para concluir, lembremo-nos de três coisas:
1. Aqueles que sofreram são os que melhor consolam. Quando estamos em dificuldades, voltamo-nos para aqueles que já sofreram e que sabemos que compreenderão: o próprio nosso Senhor, o salmista, Paulo, o "prisioneiro de Jesus Cristo", e, por todos os séculos, aqueles que sofreram e que, por seus sofrimentos, serviram a um mundo sofredor – não apenas escritores, mas pintores, músicos, escultores e assim por diante. A lista cresce e termina na memória de Deus. Pois apenas Deus conhece todos os que, por uma infinidade de meios pequenos e logo esquecidos, suavizaram o fardo de outrem.
Quando meu sogro morreu, os que trouxeram mais conforto à viúva não foram necessariamente os que citavam a Escritura, porém outras viúvas, suas amigas, que não disseram uma só palavra; simplesmente a abraçavam enquanto choravam juntas.
2. Nossa ajuda deve transcender o nosso círculo social. Acho que, aqui, um bom exemplo seria o do Bom Samaritano, que, sendo samaritano, era odiado e desprezado pelos judeus e que, no entanto, quando encontrou um judeu em dificuldades, fez de tudo para lhe demonstrar bondade.
3. Expressamo-nos para o mundo através de nossos corpos físicos. Somos o corpo de Cristo. Ele se expressa para o mundo através de nós. Como Ele veio não para ser servido, mas para servir, também nós precisamos ir em busca daqueles que possamos ajudar em nome de Jesus – não necessariamente de uma forma impressionante, mas de qualquer forma que pudermos.



A MORTE E COMO ENFRENTÁ-LA

Qual a homem que pode viver e não ver a morte, ou se salvar do poder do túmulo? SALMO 89:48

QUANDO SIR WILLIAM Russell, o patriota inglês, ia ser executado em 1863, tirou o relógio do bolso e entregou-o ao médico que o assistia na hora da sua morte.
– Por gentileza, quer ficar com o meu relógio? – pediu. Não tenho mais necessidade dele, agora vou lidar com a eternidade.
A Bíblia tem muito a dizer sobre a brevidade da vida e a necessidade de nos prepararmos para a eternidade. Embora a maioria de nós viva como se fosse indestrutível, precisamos de uma nova consciência do fato de que a morte se acerca rapidamente para todos nós. A Bíblia tem muitas advertências sobre como devemos nos preparar para encontrar a Deus. O rico, com toda a sua fortuna, não consegue obter o perdão da sentença de morte que pende sobre todos os homens. O pobre não consegue mendigar nem um só dia extra de vida da "Dona Morte" que persegue todos os homens, do berço à sepultura.
Diz a Escritura: "O que é a tua vida? Tu és uma névoa que aparece por pouco tempo e logo se desvanece." (Tiago 4:14)
A tanatologia tornou-se uma matéria popular em muitas faculdades e universidades americanas. Ela é não apenas um estudo da morte em si, mas de como se preparar para a morte. Na maior parte, estão ensinando aos estudantes a como se prepararem para a morte, sem qualquer referência a Deus. Nos últimos anos, livros da Dra. Elizabeth Kübler-Ross, do Sr. Raymond A. Moody e do Dr. Maurice Rawlings têm recebido muita publicidade. Devido ao terrorismo no mundo todo, e às muitas mortes causadas por moléstias terríveis como o câncer e os ataques cardíacos, há um novo interesse pela morte.
Se você escutar algumas das canções populares que os jovens estão cantando, perceberá que, dificilmente, as gerações mais velhas entenderão as letras. Mas o jovem entende o recado. Se você comprar um livro e estudar as letras, como eu fiz, verá que muitas das canções tratam de sofrimento e morte.
Muitas pessoas cínicas e seculares têm-se dedicado, na verdade, a pensar profundamente na vida e na eternidade. A pessoa, que é a alma da festa, também pode ser aquela que está usando uma máscara. Por baixo dela existe um medo, um pavor profundo da morte e da eternidade. Numa pesquisa recente descobriu-se que os jovens pensam mais na morte do que em qualquer outro assunto, exceto o sexo. Estou convencido de que, se as pessoas se dedicassem a pensar mais na morte, na eternidade, no juízo e no inferno, haveria vidas mais santas e uma maior consciência de Deus.
Há cristãos em demasia que tentam ignorar a idéia da morte e de ter que, um dia, passar pelo juízo final de Cristo para prestar contas de como passaram os seus dias aqui na terra.
A Bíblia diz que os dias do homem são "mais velozes do que a lançadeira da tecelão." (Jó 7:6, o grifo é meu) Tanto nos Estados da Carolina quanto na Inglaterra, eu visitei as fábricas têxteis e observei os gigantescos teares que fazem os tecidos do mundo. As lançadeiras se movem com a velocidade de um raio, mal são visíveis a olho nu. A Bíblia diz que é assim a vida do homem aqui na terra.
Ponha a mão sobre o coração e sinta-o bater. Ele está dizendo: "Depressa! Depressa! Depressa!!" Somente alguns breves anos, no máximo.

É Como Uma Sombra Fugaz

Lemos regularmente nos jornais sobre o orçamento desta ou daquela nação. Agora estamos acostumados ao termo bilhões. Será que muitos de nós realmente param para pensar no que é um bilhão? Alguém me sugeriu:
– Antes de fazer novamente uso da expressão "Um bilhão de obrigados", pense bem no exagero que representa. Pouco mais de um bilhão de segundos atrás estávamos na Segunda Grande Guerra e a bomba atômica ainda não explodira. Um bilhão de minutos atrás Cristo ainda estava na terra. Pouco mais de um bilhão de horas atrás ainda estávamos na era da cavernas.
Todavia, em termos de gastos governamentais, um bilhão de dólares está apenas algumas horas atrás, porque em breve o orçamento do governo americano será de cerca de um trilhão de dólares.
Já parou para calcular quantos dias ainda lhe restam? Você o pode fazer facilmente, na sua máquina de calcular de bolso. Se você chegar aos 70, terá aproximadamente 25 mil dias de vida. Se está agora com 35 anos, isso quer dizer que lhe restam apenas pouco mais de 12 mil dias.
A Bíblia também ensina que a vida é como uma sombra, como uma nuvem fugaz passando por sobre a face do sol. Diz o salmista: "Porque eu sou para contigo um peregrino, um forasteiro como todos os meus pais." (Salmos 39:12) O mundo não é um lar permanente, é apenas uma moradia temporária. "Somos estrangeiros diante de ti e peregrinos como o foram todos os nossos pais; os nossos dias sobre a terra são como a sombra, e não há permanência." (I Crônicas 29:15)
O tempo está se escoando para cada um de nós. O falecido presidente Kennedy não poderia imaginar, naquela sexta-feira de manhã em 1963, enquanto tomava o desjejum, que, às duas da tarde, estaria na eternidade. Nunca sabemos quando vai chegar o nosso momento. Tragédias como a morte dele e a de seu irmão, Bobby, devem nos ajudar a perceber a incerteza da vida, a brevidade do tempo e a nossa necessidade de estarmos prontos para ir ao encontro de Deus a qualquer momento.
A Escritura ensina que Deus sabe o exato momento em que cada pessoa vai morrer. (Jó 14:5) Jamais passaremos dos limites demarcados por Ele.
Estou convencido de que, quando uma pessoa está preparada para morrer, também está preparada para viver. E se soubéssemos tudo o que há para saber, escolheríamos morrer na hora em que Deus planejou que morrêssemos.
Portanto, uma das metas primordiais da vida deve ser preparar-se para a morte. Todo o restante deve ser secundário.

As Pequenas Folhas da Oportunidade

A Bíblia também nos lembra que nossos dias são como a relva. (Sal. 103:15) São recheados de pequeninos minutos dourados pela eternidade. Somos exortados a redimir o tempo porque os dias são maus. (Efés, 5:16) Como escreveu C.T. Studd, o missionário pioneiro e famoso jogador de críquete de Cambridge, enquanto ainda era estudante ali:
Apenas uma vida, logo será passado
Apenas perdurará o que por Cristo foi realizado.
A vida é uma oportunidade gloriosa, se for usada para nos condicionar para a eternidade. Se falharmos nisto, embora possamos ter êxito em todo o restante, a nossa vida terá sido um fracasso. Não há escapatória para o homem que desperdiça a sua oportunidade de se preparar para seu encontro com Deus.
Nossas vidas também são imortais. Deus fez o homem diferente das demais criaturas. Ele o fez à Sua imagem, uma alma viva. Quando este corpo morrer e a nossa existência terrena estiver terminada, a alma ou espírito viverá para sempre. Daqui a cem anos você estará mais vivo do que está neste momento. A Bíblia prega que a vida não termina no cemitério. Existe uma vida futura com Deus para aqueles que confiam em Seu Filho, Jesus Cristo. No futuro também existe um inferno, separado de Deus, para o qual estão indo todos os que recusaram, rejeitaram, ou deixaram de receber o Seu Filho, Jesus Cristo.
Vítor Hugo disse, certa vez: "Sinto em mim mesmo a vida futura." Fala-se que Ciro, o Grande, declarou: "Não concebo que a alma viva apenas enquanto permanece neste corpo mortal." Nada, exceto a nossa esperança em Cristo, retirará o travo amargo da morte, lançando um arco-íris de esperança ao redor das nuvens da vida futura. Nossa âncora é Jesus Cristo, que aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade, através do Evangelho.

Morte Para o Cristão

A maioria de nós sabe o que significa ficar atordoado pelo falecimento súbito de um amigo dedicado, um pastor piedoso, um missionário devoto ou uma santa mãe. Já ficamos de pé junto à cova aberta com as lágrimas escorrendo pelas faces e perguntamos, em total confusão:
– Por que, ó Deus, por quê?
A morte do justo não é nenhum acidente. Você acha que o Deus cuja vigília atenta nota a queda do pardal e que sabe o número de fios de cabelo em nossa cabeça daria as costas a um de Seus filhos na hora de perigo? Com ele não existem acidentes, tragédias ou catástrofes, no que diz respeito a Seus Filhos.
Paulo, que viveu a maior parte de sua vida cristã no limiar da morte, expressou uma certeza triunfante sobre a vida. Testemunhou: "Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro." (Filipenses 1:21) A sua fé forte e inabalável enfrentava sem hesitar as tribulações, a perseguição, a dor, os planos frustrados e os sonhos desfeitos. Nunca se encolerizava com cinismo indagador e perguntava: "Por que, Senhor?" Sabia, sem a menor sombra de dúvida, que sua vida estava sendo moldada à imagem e semelhança de seu Salvador; e a despeito do seu desconforto, jamais se questionou durante o processo.

Paulo Tinha Certeza

Nem sempre as coisas saíam de acordo com os planos e idéias dele, porém, Paulo não murmurava nem questionava. A sua certeza era a seguinte: "Sabemos que aos que amam a Deus todas as coisas lhes cooperam o bem, a saber, aos que são chamados segundo o seu propósito." (Romanos 8:28)
Quando o seu corpo cansado e machucado começou a fraquejar sob o fardo, disse ele em triunfo: "Sabemos que se a nossa casa terrestre deste tabernáculo for desfeita, temos de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus." (II Coríntios 5:1)
O mundo o chamou de tolo por causa de sua crença de que os homens poderiam partilhar da vida eterna por intermédio da fé. Porém ele empinou o queixo e falou, exultante: "Sei a quem tenho crido e estou persuadido de que ele pode guardar o meu depósito até aquele dia." (II Timóteo 1:12)
Cada uma dessas afirmações triunfantes ressoa cheia de esperança e certeza numa vida imortal. Embora o cristão não tenha imunidade contra a morte e não reivindica a vida perpétua neste planeta, a morte para ele é uma amiga, ao invés de uma inimiga; o começo, ao invés do fim; mais um passo na trilha para o céu, ao invés de um salto para o desconhecido sombrio.
Para muita gente, os ácidos corrosivos da ciência materialista desgastaram a sua fé na vida eterna. Mas, vamos e venhamos, a equação de Einstein E=MC2 não é um substituto satisfatório para Fé + Entrega = Esperança?
Paulo acreditou em Cristo e se entregou todo a Cristo. O resultado foi que ele sabia que Cristo poderia cuidar dele para sempre. Uma fé forte e a esperança viva são o resultado da entrega incondicional a Jesus Cristo.

Os Cristãos Têm Uma Esperança Gloriosa

Um dos bônus de ser cristão é a esperança gloriosa que se estende para além do túmulo, indo para a glória do amanhã de Deus.
A Bíblia abre com uma tragédia e se encerra com um triunfo.
Em Gênesis, vemos a devastação do pecado e da morte, mas, no Apocalipse, vislumbramos a gloriosa vitória de Deus sobre o pecado e a morte. O Apocalipse 14:13 diz: "Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos; porque as suas obras os acompanham."
Mas qual é a base da esperança do cristão para a vida eterna? Será que nossa esperança de vida após a morte é apenas a racionalização de um desejo ou otimismo cego? Será que podemos ter alguma certeza de que existe vida após a morte e que virá o dia em que aqueles que conhecem a Cristo estarão com Ele por toda a eternidade?
Sim! Existe um grande fato que dá aos cristãos a certeza diante da morte: a ressurreição de Jesus Cristo. É a ressurreição física e corporal de Cristo que nos dá confiança e esperança. Porque Cristo ressurgiu dentre os mortos, nós sabemos, sem sombra de dúvida, que a morte não é o fim, mas é meramente a transição para a vida eterna.
Nunca se esqueça de que a ressurreição de Cristo é, em muitos aspectos, o acontecimento central de toda a história. Disse Paulo: "Se Cristo não foi ressuscitado, a vossa fé é vã, estais ainda em vossos pecados. (...) Se nesta vida temos unicamente esperado em Cristo, somos de todos os homens os mais dignos de lástima. Mas agora Cristo foi ressuscitado dentre os mortos." (l Coríntios 15:17-20) A ressurreição de Cristo faz toda a diferença! Porque Ele ressurgiu dentre os mortos, nós sabemos que era, na verdade, o Filho de Deus que veio para nos salvar através da Sua morte na cruz, como afirmava.
Porque Cristo ressurgiu dos mortos, nós sabemos que o pecado e a morte e Satanás foram decisivamente derrotados. E porque Cristo ressurgiu dentre os mortos, nós sabemos que existe uma vida após a morte e que, se pertencermos a Ele, não precisamos temer a morte ou o inferno. Jesus disse: "Eu sou a ressurreição e a vida. O que crê em mim ainda que esteja morto, viverá; e todo o que vive e crê em mim nunca jamais morrerá!" (João 11:25-26) Ele também prometeu: "Na casa do meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar; depois que eu for e vos preparar lugar, voltarei e tomar-vos-ei para mim mesmo, para que onde eu estou, estejais vós também." (João 14:2,3) Sabemos que essas palavras são verdadeiras porque Jesus morreu na cruz e ressurgiu dentre os mortos. Que esperança gloriosa nós temos por causa da ressurreição de Jesus!
"As cousas que o olho não viu, E o ouvido não ouviu, E não entraram no coração do homem, tudo quanto preparou Deus para os que o amam." (I Coríntios 2:9)
Nossa confiança no futuro baseia-se firmemente no fato do que Deus fez por nós em Cristo. Não importa qual seja a nossa situação, jamais precisaremos nos desesperar, pois Cristo está vivo. "Mas se já morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele; (...) Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor. " (Romanos 6:8,23)

As Palavras Derradeiras dos Cristãos

Para o justo, a morte é bem diferente do que é para o descrente. Não é algo para se temer, nem para se evitar. É o limiar ensombrecido do palácio de Deus. Não admira que Paulo tenha declarado: "Desejo partir e estar com Cristo, pois é muitíssimo melhor." (Filipenses 1:23)
Quero partilhar com você algumas das declarações que li, que eu mesmo experimentei ou que são colocadas na Bíblia sobre a morte de um crente em contraste com a morte de um descrente (alguém que se recusa a ou deixa de acreditar em Jesus Cristo). Existe uma vasta diferença entre a morte dos dois. Conversei com médicos e enfermeiras que seguraram as mãos de moribundos, e eles dizem que, muitas vezes, há tanta diferença entre a morte de um cristão e a de um não-cristão como há entre o céu e o inferno.
A maioria dos cristãos enfrenta a morte com um espírito triunfante. Algumas das declarações feitas e registradas quando morriam são emocionantes:
"Nosso Deus é o Deus de quem vem a salvação. Deus é o Senhor pelo qual escapamos à morte" – Martinho Lutero.
"Viva em Cristo, morra em Cristo, e a carne não precisa temer a morte" – John Knox.
"O melhor de tudo, Deus está conosco" – John Wesley.
"Tenho dor... mas tenho paz, tenho paz" – Richard Baxter.
Augustus Toplady, o autor de Rock of Ages, estava cheio de júbilo e triunfo na hora de sua morte, aos 38 anos.
– Já estou desfrutando o céu em minha alma – declarou ele – minhas orações estão todas convertidas em louvor.
Quando Joseph Everett estava morrendo, disse:
– Glória! Glória! Glória!
Continuou a exclamar glória por mais de 25 minutos.

Na minha própria vida, tive o privilégio de saber o que alguns dos santos moribundos disseram antes de irem para o céu. A minha avó sentou-se na cama, sorriu e disse:
– Vejo Jesus, e Ele está me estendendo a mão. E lá está o Ben, com os dois olhos e as duas pernas. (Ben, o meu avô, perdera uma perna e um olho em Gettysburg.)
Havia um velho quitandeiro galés que morava perto de nós, e meu pai estava ao seu lado quando ele estava morrendo. Ele falou:
– Frank, está ouvindo a música? Nunca ouvi uma música dessas em toda a minha vida – as orquestras, os coros, os anjos cantando...
Logo a seguir, morreu.

As Palavras Derradeiras dos Descrentes

Compare essas expressões de fé com as palavras finais dos ateus, infiéis e agnósticos.
"Estou abandonado por Deus e pelo homem! Irei para o inferno! Ó Cristo, ó Jesus Cristo!" – Voltaire, o infiel.
"Quando vivi, me preveni para tudo, exceto para a morte; agora devo morrer, e estou despreparado para morrer" – César Bórgia.
"Que sangue, que assassinatos, que conselhos perversos eu segui. Estou perdido! Vejo-o bem!" – Carlos IX, rei da França.
Dizem que Thomas Paine exclamou:
"Eu daria mundos, se os tivesse, se A Idade da Razão nunca tivesse sido publicado. Ah, Senhor, ajude-me! Cristo, ajude-me! Fique comigo! É um inferno ficar sozinho!"

A Morte Para o Cristão: uma Coroação

Na Bíblia, diz-se que a morte é uma coroação para o cristão. A imagem é a de um príncipe que, depois de lutas e conquistas numa terra estranha, vem para a corte no seu país natal para ser coroado e homenageado por seu feito.
Já assisti a uma coroação e a pompa e a grandiosidade são magníficas. Minha imaginação alça vôos ilimitados para começar a compreender como será a nossa coroação no céu?
Diz a Bíblia que, enquanto estamos aqui na terra, somos peregrinos e forasteiros numa terra estranha. Este mundo não é nosso lar; nossa cidadania está no céu. Para aquele que é fiel, Cristo dará uma coroa de vida.
Disse Paulo: "Desde agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas também a todos aqueles que têm amado a sua vinda." (II Timóteo 4:8)
A morte é a coroação do cristão, o fim do conflito e o começo da glória no céu.

A Morte É um Descanso da Labuta

A Bíblia também fala na morte, para o cristão, como o descanso da labuta. Diz a Bíblia: "Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. (...) Para que descansem dos seus trabalhos." (Apocalipse 14:13) É como se o Senhor da colheita dissesse ao trabalhador cansado:
– Foste fiel na tua tarefa, vem e senta-te na varanda coberta do meu palácio e descansa da tua labuta. Entra agora no júbilo do teu Senhor.
Os santos de Deus não desfrutam de muito descanso aqui na terra. Estão incessantemente ocupados para o Senhor. Alguns deles realizam mais em poucos anos do que outros numa vida inteira. Porém, seu trabalho e labuta chegarão ao fim um dia. Diz a Bíblia: "Portanto, resta um sabatismo para o povo de Deus." (Hebreus 4:9) Este repouso só pode começar depois que o anjo da morte os tomar pela mão e os conduzir à gloriosa presença de seu Senhor.
O apóstolo Paulo declarou: "Temos bom ânimo, digo, e antes queremos estar ausentes do corpo e presentes com o Senhor." (II Coríntios 5:8)

A Morte É Uma Partida

A Bíblia fala da morte como uma partida. Quando Paulo se aproximou do vale da sombra da morte, ele não tremeu de medo; ao contrário, anunciou com uma nota de triunfo na voz: "O tempo da minha partida se aproxima." (2 Timóteo 4:6)
A palavra partida quer dizer içar âncoras e zarpar. Tudo o que acontece antes da morte é uma preparação para a viagem final. A morte marca o começo, não o fim. É um passo solene e decisivo na nossa viagem para Deus.
Muitas vezes, me despedi da minha mulher ao partir para algum país distante para proclamar o Evangelho. A separação sempre traz consigo uma ponta de tristeza, mas sempre nos separamos um do outro na esperança segura de que nos veremos de novo. Nesse meio-tempo, a chama do amor arde vivamente nos nossos corações.
Assim também é a esperança do cristão fiel ao pé do túmulo de um ente querido que está com o Senhor. Ele sabe que a separação não é para sempre. É uma verdade gloriosa que aqueles que estão em Cristo nunca se vêem pela última vez. Dizemos adeus aos nossos entes queridos somente até quando o dia nascer e as sombras se desvanecerem. Não é adeus, mas, como dizem os franceses, au revoir... até mais ver.

A Morte Como Transição

Além disso, a Bíblia fala da morte do cristão como uma transição. Paulo escreveu: "Sabemos que se a nossa casa terrestre deste tabernáculo for desfeita, temos de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus." (2 Coríntios 5:1) A palavra "tabernáculo" quer dizer "tenda" ou "moradia temporária".
Para os cristãos, a morte é a troca de uma tenda por uma construção. Aqui somos peregrinos ou turistas, vivendo num lar frágil e tênue, sujeitos a moléstias, dor e perigo. Porém, na hora da morte, trocamos esta tenda ou corpo que desaba e se desintegra por uma casa que não é construída com as mãos, eterna, nos céus. O peregrino errante se encontra na morte e recebe o título de propriedade de uma casa que jamais se deteriorará, pois que é eterna.

A Morte Como Êxodo

Na Bíblia também se diz que para o cristão a morte é um êxodo. Falamos de falecer como se fosse o fim de tudo, mas a palavra "falecer" significa um êxodo, uma saída. A imagem é a dos filhos de Israel deixando o Egito e sua antiga vida de servidão, escravidão e tribulações para ir para a Terra Prometida.
Assim, a morte para o cristão é um êxodo das limitações, dos fardos e da servidão desta vida.
Vítor Hugo disse, certa vez: "Quando eu baixar ao túmulo, poderei dizer, como tantos outros, que terminei o meu dia de trabalho; mas não posso dizer que terminei a minha vida. Um outro dia de trabalho começará na manhã seguinte. O túmulo não é um beco sem saída – é uma via de comunicação, que fecha ao entardecer e abre ao alvorecer."

Portanto, a morte não é apenas uma saída. É também uma entrada. Como diz o hino da Páscoa: "Jesus vivei De hoje em diante a morte é a entrada para a vida imortal."

Um Local Preparado

Você acha que Deus, que providenciou tantas coisas para a vida, não iria tomar nenhuma providência para a morte? Não se esqueça do seguinte: a esperança da vida eterna repousa única e exclusivamente na sua fé em Jesus Cristo! Pode ter a certeza disto.
Antes de ter falado a Seus discípulos das muitas "mansões" ou locais de repouso, e antes de lhes ter dado a esperança do céu, Jesus falou: – Crede em Deus, crede também em mim. – A seguir, continuou Ele: – Pois vou preparar-vos um lugar. – E ainda acrescentou, como garantia: – Eu sou o caminho e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai se não por mim. (João 14:1-6)
A vida eterna é por e através do Senhor Jesus Cristo. Nas palavras exatas da Bíblia, eis o segredo da esperança bendita: "O que crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida." (João 3:36)
Quando um verdadeiro crente morre, vai direto à presença de Cristo. Ele vai para o céu para passar a eternidade com Deus. Num contraste terrível, aquele que rejeitar a oferta de Deus do perdão é separado de Deus, indo para um lugar que Jesus chamou de inferno.
Minha mulher, Ruth, expressou-o bem num poema que escreveu há alguns anos:
Quando a morte chegar,
chegará suavemente
– esgueirar-se-á –
como após um dia duro
e cansativo a gente se deita
e anseia pelo sono –
terminando a velhice e a tristeza
ou a juventude e a dor?
Quem morre em Cristo
tudo tem a ganhar –
e um Amanhã!
Por que chorar?

A morte pode ser selvagem.
Não podemos ter certeza;
os piedosos podem ser chacinados,
os perversos resistir.
Não importa como a morte possa atacar
ou a quem,
aquele que conhece o Senhor ressuscitado
conhece também o túmulo vazio.1











DEPOIS DO ARMAGEDOM: A GLÓRIA MAIS ADIANTE

Não é concebível que exista ainda uma outra dimensão possível, um mundo no qual a questão do sentido final do sofrimento humano tivesse uma resposta?1 VIKTOR E. FRANKL

A MORTE NÃO é o fim da história para o cristão, pois somos apenas "peregrinos" passando por este mundo com sua dor e sofrimento. Existe uma vida além da morte! Esta é a promessa explícita da Escritura. O homem moderno tem um medo inerente e uma curiosidade insaciável com relação ao que existe além do túmulo. Mas os cristãos podem saber com certeza o que lhes espera do outro lado. O apóstolo Paulo fitou o espectro da morte e exultou: "Onde está, ò morte, a tua vitória? Onde está, ò morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a lei; mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo." (I Coríntios 15:55-57)
Diz-se que um jovem sofrendo de moléstia incurável falou:
– Acho que eu não teria medo de morrer se soubesse o que esperar depois da morte.
Evidentemente, este jovem não ouvira falar do céu que Deus preparou Para aqueles que O amam. O homem tinha dentro de si o medo da morte. E, no entanto, para o cristão, não é preciso haver medo. Cristo nos deu esperanças. Jesus falou: "Vou preparar-vos lugar; depois que eu for, (...) voltarei e tomar-vos-ei para mim mesmo, para que onde eu estou, estejais vós também." (João 14:2,3) E esse lugar, segundo Paulo, é muitíssimo melhor do que qualquer outra coisa na terra. Escreveu ele: "Desejo partir e estar com Cristo, pois é muitíssimo melhor."(Filipenses 1:23)
Para o cristão, o túmulo não é o fim, nem a morte é uma calamidade, pois ele tem uma esperança gloriosa – a esperança do céu. Garantimos a nossa entrada no céu no momento em que entregamos as nossas vidas a Cristo.
O céu foi representado de muitas maneiras, em livros e filmes. Todavia, a Bíblia nos dá um vislumbre de sua glória que nenhum autor de ficção poderia imaginar.

O Céu É um Lar

Primeiro, o céu é um lar. A Bíblia toma a palavra lar com todas as suas associações ternas e lembranças sagradas, aplica-a ao além e nos diz que o céu é o lar.
Pouco antes de Cristo ir para a cruz, Ele reuniu Seus discípulos no quarto superior e falou sobre um lar. Disse ele: "Na casa de meu Pai há muitas moradas." (João 14:2) Quando Jesus falou do céu como "a casa de meu Pai", estava se referindo a ele como um lar. A casa do Pai é sempre o lar dos filhos. Paulo falou que os crentes que partiram desta vida estavam "em casa" com o Senhor. (II Coríntios 5:8)
Segundo, o céu é um lar permanente. Uma das tristes realidades sobre as casas que os homens constróem para si mesmos é que não são permanentes. As casas não duram para sempre. Isso se aplica à casa propriamente dita e também à família. Como as crianças logo crescem e saem de casal
Embora nossos lares e famílias possam ser maravilhosos, não são permanentes. Às vezes, olho para meus próprios filhos e mal posso acreditar que estão todos crescidos e vivendo as suas vidas – e que já me fizeram ser avô muitas vezes. Minha mulher e eu estamos sós numa casa vazia que já ressoou com o riso de cinco crianças.
Quando Jesus falou "na casa de meu Pai há muitas mansões", encontramos um sentido muito interessante para a palavra mansão. A palavra grega usada não quer dizer uma casa imponente, mas sim um local de repouso. A expressão é traduzida na margem da Versão Americana Padrão como "locais de moradia". Em inglês, isso vem do mesmo radical que a palavra remain (permanecer).
Durante o ministério de Cristo na terra, Ele não teve um lar. Certa vez, Ele disse: "As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça." (Mateus 8:20)
O Seu lar no céu, todavia, não é transitório, mas permanente.
Os primeiros discípulos que, por amor a Cristo, abandonaram suas casas, terras e entes queridos pouco sabiam das alegrias de um lar e uma vida em família. Os peregrinos cristãos sofrem de muitas formas e Jesus sabia disso, pois Ele sofreu muito mais do que qualquer um de Seus seguidores. Era como se Jesus tivesse dito para eles:
– Não temos um lar permanente aqui na terra, mas a casa de meu pai é um lar onde ficaremos juntos por toda a eternidade.
Em meio a todas as mudanças que, mais cedo ou mais tarde, virão desfazer o lar terreno, temos a promessa de um lar onde os seguidores de Cristo ficarão para sempre. Disse Paulo, certa vez: "E assim ficaremos sempre com o Senhor." (I Tessalonicenses 4:17) Nosso lar permanente não é aqui na terra. Nosso lar permanente é o céu.
Às vezes, quando as coisas não vão bem por aqui, sentimos saudades do céu. Muitas vezes, em meio ao pecado, sofrimento e tristeza desta vida, sentimos um repuxão na alma. Isso é a saudade mesclada à expectativa.
Alguns crentes jazem hoje num leito de hospital, outros estão em hospícios, alguns estão sofrendo de moléstias terríveis ou perdas financeiras, ou padecem em prisões, campos de trabalhos forçados, ou ainda estão como reféns. Estão cansados da terra, com todos os seus problemas e tribulações, e estão ansiando pelo lar. O lar que os espera é o céu.
Terceiro, a Bíblia ensina que o céu é um lar bonito. Quase todo o mundo gosta de embelezar o seu lar. Falta alguma coisa num lar onde não haja flores, nem quadros nas paredes, onde não se tenha feito esforço algum para torná-lo atraente.
Poucos de nós aqui têm casas tão lindas como gostaria, mas todos no céu o acharão mais belo do que jamais podiam imaginar. O céu não poderia deixar de ser assim, porque é a casa do Pai e Ele é um Deus de beleza.
Olhe o mundo ao nosso redor. Deus o fez! Quer vivamos em meio à neve e gelo do Alasca ou sob as palmeiras da Califórnia e da Flórida, temos beleza. Viajei por todos os Estados Unidos e muitas partes do mundo. Eu nunca vi um lugar que não tivesse algum encanto ou beleza, exceto quando foi estragado pelo homem.
Até mesmo um deserto árido ou um topo de montanha isolado têm o seu encanto. Parece que toda a natureza é bela, e apenas a obra do homem é feia.
Nada feito pela mão do homem conseguiu ser tão bonito quanto a luz das estrelas sobre a água ou o luar sobre a neve. E a mesma mão que fez as árvores e os campos e flores, os mares e as colinas, as nuvens e o firmamento fez um lar para nós chamado céu.
É um lugar tão lindo que, quando o apóstolo João o vislumbrou, a única coisa a que pôde compará-lo foi a uma jovem no momento máximo de sua vida: o dia de seu casamento. Ele falou que a cidade santa era como "uma noiva adornada para o seu noivo." (Apoc. 21:2)
Quarto, a Bíblia prega que a céu será um lar feliz. Conheço muitas casas lindas que não são felizes. São lindas devido a tudo que a cultura e a fortuna podem oferecer, no entanto, falta-lhes alguma coisa. Essas casas me fazem pensar nas palavras do sábio: "Melhor é um bocado de pão seco com tranqüilidade, do que uma casa cheia de festins com rixas." (Provérbios 17:1)
A casa de Deus será um lar feliz porque nela nada haverá para impedir a felicidade. (Apoc. 21:4) Este mundo oferece muita felicidade para aqueles que sabem como encontrá-la – mas é, basicamente, um planeta infeliz, onde prevalecem o sofrimento e a dor. Pense num lugar onde não haverá pecado, nem tristeza, nem brigas, nem incompreensões, nem mágoas, nem dor, nem doenças, nem sofrimento, nem morte.
A casa do Pai será feliz porque é um lugar de música e canções. Cantamos quando estamos felizes. No céu, todo o mundo está cantando. Os seus habitantes cantam "uma nova canção", atribuindo a glória a Ele que foi morto e que resgatou os homens para Deus com Seu sangue. (Apoc. 5:9) Depois, escutamos a voz de uma grande multidão, como o som de muitas águas, gritando: "Aleluia! Pois o nosso Senhor Deus Todo-Poderoso reina." (Apoc. 19:6) Parece que o céu é um longo coro de Aleluia!
A casa do Pai será um lar feliz porque também haverá serviço a ser feito. Sem dúvida, isso se aplica a todo lar bem organizado da terra. Mas será um tipo de trabalho que jamais experimentamos na terra. Trabalharemos sem fracassos, frustrações ou fadiga.
O Apocalipse 22:3 nos diz que, no céu, não haverá "maldição". Isso é uma referência ao julgamento de Adão por Deus, no Jardim do Éden. Depois do Pecado Original, o trabalho de Adão tornou-se duro e desgastante. Sem dúvida, isso era uma medida de precaução por parte de Deus, criada para manter o rebelde Adão "na linha". Deus ordenou que o trabalho dele exigisse mais tempo e esforço, deixando-lhe menos tempo para pecar.
Porém, no céu, o nosso trabalho será criativo, estimulante e produtivo.
Em Apocalipse 22:3, João escreveu: "Seus servos o servirão." Cada um receberá a tarefa que se adapta a suas forças, gostos, e talentos. Talvez Deus nos dê novos mundos para conquistar. Talvez nos mande explorar algum planeta ou estrela distante, para ali proclamar a Sua mensagem de amor eterno. O que quer que façamos e aonde quer que vamos, a Bíblia diz que O serviremos.
Pense em trabalhar para sempre em algo que você adora, para alguém que ama de todo o coração, sem jamais se cansar! Jamais conheceremos o cansaço no céu.
E a casa do Pai será um lar feliz porque os amigos estarão presentes. Já esteve num lugar estranho e sentiu o prazer de enxergar um rosto conhecido? Nenhum de nós que entre na casa do Pai se sentirá sozinho ou estranho, pois nossos amigos também estarão ali.
Muitas pessoas me escrevem perguntando: "Será que nos reconheceremos no céu?" Claro que nos reconheceremos no céu. No Monte da Transfiguração, não se reconheceram Elias e Moisés? E na história que Jesus contou do rico e de Lázaro, não reconheceu o rico a Lázaro e Abraão, depois da morte?
Se você crê, irá rever aqueles que aceitaram a Cristo. Famílias e amigos serão reunidos no céu.
A casa de Deus será um lar feliz porque Cristo estará presente. Ele será o centro do céu. Para Ele, todos os corações se voltarão e sobre Ele todos os olhos pousarão.
O que fará o céu tão aprazível? Não serão os portões perolados; não serão os muros de jaspe; será o fato de que iremos ver o Rei em toda a Sua beleza, face a face.
Em Apocalipse 22, ficamos sabendo que "veremos o Seu rosto." (v.4) O nosso relacionamento com Cristo será íntimo.
Você já esteve em meio de uma multidão numa parada ou numa convenção, esforçando-se para enxergar um ilustre dignitário? Ou já compareceu a uma palestra ou conferência e desejou que, de alguma forma, o principal orador pudesse reparar em você?
Embora haja milhões de cristãos no céu, não teremos que nos contentar em ver de relance aquele que amamos. Jesus conhecerá cada um de nós, pessoalmente, e nós O conheceremos de uma maneira mais profunda do que nunca. "Agora vemos como por um espelho em enigma, mas então face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, assim como fui plenamente conhecido." (I Cor. 13:12)
A Bíblia também diz que o céu será um lar feliz porque seremos imunes ao sofrimento.
Durante o movimento pelos direitos civis, Martin Luther King costumava exclamar que esperava ansiosamente pelo céu, onde seria, "enfim, livre". Esta é a inscrição no seu túmulo, em Atlanta.
Em Apocalipse 7:17 e 21:4, escreve João: "Porque o Cordeiro que está no meio do trono os pastoreará e os conduzirá às fontes da água da vida, e Deus enxugará toda a lágrima dos olhos deles.(...) Não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem choro, nem dor, porque as primeiras coisas são passadas." Quando chegarmos ao céu, todo o nosso sofrimento cessará.
Também ficaremos imunes ao pecado, que nos trouxe inicialmente o sofrimento. Nós, que fomos perturbados e tentados pelo pecado em nossa peregrinação por este mundo, não mais seremos afetados por esse problema de inspiração satânica. Nosso inimigo será lançado ao inferno, para ficar eternamente separado de Deus e Seu povo. Porque Jesus venceu Satanás definitivamente na cruz, nós viveremos num ambiente em que o pecado estará permanentemente afastado de nossas vidas.

O Céu – Um Lugar de Imortalidade

Deus nos prometeu novos corpos para nosso novo lar. O céu será um lugar de imortalidade.
Disse Paulo aos Coríntios: "Pois é necessário que este corpo corruptível se revista de incorruptibilidade, e que este corpo mortal se revista da imortalidade. Mas quando este corpo corruptível se revestir da incorruptibilidade, este corpo mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita. Tragada foi a morte na vitória." (l Cor. 15:53,54)
O que isso quer dizer é que, tão logo cheguemos ao céu, não mais seremos incomodados ou inibidos por limitações físicas ou corporais. Pode imaginar uma coisa dessas? Os corpos aleijados, doentes, desgastados serão fortes e belos e vigorosos.

Era uma vez uma viúva e o filho que moravam num sótão infecto. Anos atrás, ela se casara contra a vontade dos pais e fora morar com o marido num país distante.
Ele provou ser irresponsável e infiel, e, depois de alguns anos, morreu sem deixar nada para ela ou para a criança. Era com a máxima dificuldade que ela conseguia arranjar o suficiente apenas para sobreviverem.
As horas mais felizes da vida da criança eram quando a mãe a punha no colo e lhe contava sobre a casa do pai dela na sua terra natal. Ela falava do relvado, das árvores imponentes, das flores silvestres, dos belos quadros e das deliciosas refeições.
A criança jamais vira a casa do avô, mas para ela era o local mais lindo de todo o mundo. Ansiava pelo dia em que fosse morar ali.
Certo dia, o carteiro bateu à porta do sótão. A mãe reconheceu a letra da carta que ele trazia e, com os dedos trêmulos, rompeu o lacre. A carta continha apenas um cheque e um pedaço de papel com três palavras: "Venham para casa."
Algum dia, teremos uma experiência semelhante... uma experiência partilhada por todos aqueles que conhecem a Cristo. Não sabemos quando virá o chamado. Pode ser quando estivermos no meio do nosso trabalho. Pode ser depois de semanas ou meses de doença. Mas um dia uma mão carinhosa será colocada sobre nosso ombro e esta breve mensagem será dada: "Venha para casa."
Todos nós que conhecemos a Cristo pessoalmente não precisamos ter medo de morrer. A morte para o cristão eqüivale a "ir para casa."

O Céu – Uma Cidade Santa

O Livro do Apocalipse descreve o céu como uma cidade, a nova Jerusalém - um ambiente perfeito, no qual reside uma sociedade perfeita.
"Vi um novo céu e uma nova terra: porque o primeiro céu e a primeira terra já se foram, e o mar já não é. Vi também a Cidade Santa, a nova Jerusalém, descendo do céu da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para seu noivo." (Apoc. 21:1,2)
As características da nova Jerusalém estão descritas nos capítulos 21 e 22. Elas revelam que o céu será um lugar cujos habitantes serão livres dos temores e inseguranças que nos perseguem e atormentam nossas vidas atuais.
No céu, não haverá o medo de uma crise de energia. Os recursos naturais do céu jamais serão esgotados. E não haverá competição quanto à distribuição desses recursos. Ficamos sabendo que, na "rua principal" da Nova Jerusalém, se situará a árvore da vida. Todas as nações terão acesso a ela. João a descreve como "a árvore da vida, que dava 12 frutos, produzindo em cada mês o seu fruto; e as folhas da árvore servem para a cura das nações." (22:2) A harmonia reinará entre a população do céu, e não haverá medo de inquietação política e tumultos.
Os habitantes da cidade estarão livres das pressões econômicas e financeiras que nos oprimem, aqui na terra. Muitos de vocês estão lutando para sustentar a família. Você não precisará se preocupar em arranjar um segundo emprego para poder alimentar a família, quando chegar ao céu. A Bíblia diz que Deus nos convidará para "beber gratuitamente da fonte da água da vida." (21:6) Não teremos que trabalhar para sobreviver. É claro que seremos ativos. Mas trabalharemos apenas pelo puro prazer de criar e produzir. Num certo sentido, o nosso trabalho será a nossa recreação.
No céu, estaremos livres do medo dos danos físicos. Isso pode ser deduzido de vários fatores. Não haverá noite. (22:5) O mal espreita quando a escuridão cai sobre uma cidade. A maioria de nossos crimes ocorre depois do pôr-do-sol. Mas na Nova Jerusalém não haverá noite e, sem ela, os incendiários, ladrões e estupradores não poderão agir. Na verdade, não haverá gente má no céu para nos assustar e ferir. (21:8,27)
E os portões dessa cidade jamais se fecharão. (2l:25) As cidades antigas eram fortificadas por meio de muros altos e portões, que eram fechados e trancados à noite, protegendo, desse modo, os seus habitantes de bandos de ladrões e inimigos. Não haverá a quem temer na cidade celestial, portanto, os portões permanecerão abertos. Poderemos entrar e sair da cidade em segurança completa. É preciso lembrar que as cidades antigas dependiam da luz natural, do sol e da lua, para sua fonte de iluminação. Porém, na Nova Jerusalém, a glória de Deus iluminará todas as ruas e becos. Caminharemos na paz e segurança da Sua presença.
Uma das maiores inseguranças do homem é o seu medo do fracasso pessoal. Às vezes, em nossos diversos empregos, responsabilidades, relacionamentos e atividades existem obstáculos ao nosso sucesso. Falhamos, por um motivo ou outro. Somos tomados de culpa, vergonha e uma sensação de insegurança ainda mais profunda. Porém, no céu, não conheceremos o fracasso. Teremos êxito no que nos propusermos fazer, pois não haverá "maldição". (22:3)
Como já ressaltamos anteriormente, o julgamento do homem por Deus será suspenso. Nosso trabalho será livre de frustração, e não haverá nenhuma sensação de fracasso. Nosso trabalho será revigorante e inspirador.
Espiritualmente, não haverá medo de separação ou sentimento de distância de Deus. Nosso relacionamento com Ele será íntimo e direto. Não haverá templos na nova Jerusalém. (21:22) As cidades antigas estavam cheias de templos, construções nas quais os homens tentavam chegar a Deus. No céu, não haverá necessidade de templos, pois o povo de Deus viverá na Sua presença e O louvará continuamente. Não haverá "períodos de seca" na nossa existência espiritual, pois viveremos em comunhão ininterrupta com o Senhor.
Você já se perguntou se não se teria saído bem melhor na escola, se tivesse realmente se aplicado aos estudos? Às vezes, acha que, se tivesse sido mais disciplinado nos seus treinos, poderia ter chegado à equipe principal de atletismo da escola? Como seria se você pudesse ser consistente no exercício de virtudes piedosas, como a paciência, a meiguice e autocontrole? Quais são os talentos e capacidades latentes que você possui que poderiam beneficiar a si mesmo e aos outros?
Acho que, quando chegarmos ao céu, teremos o nosso potencial totalmente realizado. Saberemos o tipo de pessoa que realmente poderemos ser, quando Deus obtiver o controle integral de nossas vidas. O Apocalipse descreve os habitantes celestiais, a nova sociedade, como gemas preciosas irradiando a sua beleza na presença de uma grande luz. Fala da "cidade Santa, Jerusalém, descendo do céu da parte de Deus, e tendo a glória de Deus. O seu brilho era semelhante a uma pedra preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina". (21:10,11)
Quando uma noiva quer exibir o seu anel de brilhantes é comum que ela leve a sua platéia para junto de uma janela ou de um abajur. A pedra preciosa fica mais linda refletindo a luz. Isso bem poderia expressar como Deus fará ressaltar o que há de melhor em cada um de nós. Não haverá pecado para desfigurar a beleza de Seu povo, e nós refletiremos a Sua Glória.
Segundo a Bíblia, o céu é uma cidadela na qual moraremos em segurança, libertados dos temores que nos oprimem. Seremos livres para nos tornarmos o povo integro, produtivo e feliz que Deus quer que sejamos.

O Céu – Um Jardim Glorioso

O Apocalipse também representa o céu como sendo um jardim, onde a árvore da vida e o rio da vida refrescarão abundantemente os seus habitantes. Deus caminhará com o Seu povo em perfeito companheirismo. Em Gênesis, lemos que o meio ambiente perfeito do homem foi destruído. No Apocalipse, lemos que o Jardim do Éden será recuperado.
Ao ladrão penitente na cruz, disse Jesus: "Ainda hoje estarás comigo no paraíso." (Lucas 23:43) Paraíso é derivado de uma palavra persa que significa um jardim. Jesus estava prometendo ao ladrão um lugar no jardim de Deus.
Eis uma outra bela imagem do que é o céu, dita por Isaac Watts num de seus hinos: "Ali moram fontes eternas e flores que nunca fenecem." Nesse ambiente aprazível, moraremos com Cristo em perfeita harmonia e felicidade.

O Céu – Uma Bela Noiva

A sociedade celeste também é representada como uma noiva paramentada para o dia de seu casamento. (21:2,9) Por que Deus chama o Seu povo de noiva? Esta é uma descrição especialmente preciosa e significativa do nosso relacionamento com Deus e as responsabilidades associadas a ele.
1. A noiva é um objeto do amor do marido. Na cultura oriental (a cultura na qual foi escrito o Apocalipse), os casamentos, muitas vezes, são arranjados muitos anos antes da sua realização em si. Isso é uma imagem do amor de Deus por nós. Em 1 João 4:19, lemos que "Amamos (a Deus) porque ele primeiro nos amou." (o grifo é meu). Em Efésios, ficamos sabendo que o amor de Deus por nós se estende até mesmo antes do início dos tempos. Isso nos diz que somos especiais para Deus, que somos preciosos para Ele, que aos Seus olhos temos valor. Você se dá conta de que Deus o ama?
A noiva é levada para um relacionamento amoroso com o marido. O noivado solidificou o relacionamento. É por intermédio de Cristo que nosso relacionamento com Deus se estabelece.
Você já convidou Cristo para a sua vida e estabeleceu um relacionamento permanente com Deus? Tem certeza do seu futuro lar? Sabe, sem sombra de dúvida, que a glória mais adiante está garantida para você?
A Bíblia nos diz que o céu nos dará uma nova experiência com Deus, igual a uma noiva que começa uma nova vida com o marido. A vida cristã é uma vida muito emocionante. E o céu revelará aventuras totalmente novas para nós.
2. A noiva se prepara para o dia do casamento. Você já viu uma noiva entrar na igreja usando um vestido sujo? Raramente! Deus nos dá a responsabilidade de nos prepararmos para viver com Cristo no céu, para que sejamos apresentados ao noivo "santos e sem defeito." (Efésios 5:27) O apóstolo Pedro, ao escrever sobre o novo céu e terra que virão, exortou a seus leitores: "Por isso, amados, visto que estais esperando estas cousas, procurai diligentemente que por ele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz." (II Pedro 3:14, o grifo é meu) "Vos convém ser em santo procedimento e piedade, esperando e desejando ardentemente a vinda do dia de Deus." (vv. 11,12)
3. A noiva convida os amigos para o casamento. Deus quer que convidemos os outros para o grande banquete de núpcias que está preparando. Ao seu redor, existem muitas pessoas que não conhecem a Cristo – amigos, vizinhos, colegas de trabalho, membros da família. Eles não têm esperança do céu ou garantia da presença e ajuda de Deus nesta vida.
Você está orando por eles? Está buscando partilhar Cristo com eles? Está sendo testemunha da realidade do amor e poder de Deus em sua própria vida? Lembre-se de que a tarefa do evangelismo não diz respeito apenas a algumas pessoas chamadas por Deus para serem evangelistas ou pastores – é o privilégio e responsabilidade de todo o crente. Disse
Paulo, referindo-se aos cristãos tessalonicenses: "Pois de vós fez-se ouvir a palavra do Senhor não somente na Macedônia e na Acaia, mas também em todos os lugares divulgou-se a vossa fé para com Deus." (l Tess. 1:8) Que isso possa se aplicar a cada um de nós, à medida que convidamos os outros a virem a Cristo pela fé.
Creio que estamos vivendo na geração mais desafiadora da história. À medida que o mundo se arremessa na direção do Armagedom, nossa atenção deve centrar-se em contar a todos sobre Aquele que está esperando para nos trazer alívio deste mundo de sofrimento.
Na Bíblia, Deus nos dá uma visão de como será o céu para aquele que crê. Ele terá as características de um lar feliz, uma cidade santa, um jardim glorioso e uma bela noiva. Isso chega a atordoar a imaginação!

Deus preparou um lugar que nos dará alívio do sofrimento e uma vitalidade renovada para servir ao Salvador. Como escreveu Paulo, com tanta habilidade: "Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm valor em comparação com a glória que há de ser revelada em nós." (Romanos 8:18)
Um autor religioso desconhecido escreveu:
O céu é um lugar de completa vitória e triunfo. Aqui é o campo de batalha; lá é a procissão triunfal. Aqui é a terra da espada e da lança; lá é a terra da grinalda e da coroa. Ah, que emoção e alegria atravessarão os corações de todos os bem-aventurados quando suas vitórias estiverem completas no céu, quando a própria morte, o último dos inimigos, for abatida; quando Satanás for arrastado, cativo, preso às rodas da carruagem de Cristo; quando de tiver vencido o pecado; quando o grande grito de vitória universal se erguer dos corações de todos os redimidos.

Sim, no mundo atual estamos em meio a um campo de batalha. Freqüentemente experimentamos (como Paulo) o que significa ser "atribulado por todos os lados; combates fora, sustos dentro." (II Cor. 7:5) Porém, Deus estará conosco se tivermos entregue nossas vidas a Cristo. Cristo nos fez Seus e nada "poderá nos separar do amor de Deus, que é em Cristo Jesus nosso Senhor." (Rom. 8:39) O Espírito Santo mora dentro de nós e "o Espírito ajuda a nossa fraqueza." (Rom. 8:26) E, como já vimos, Deus é capaz de santificar o sofrimento e a adversidade que enfrentamos e usá-lo para nos aproximar ainda mais dEle e nos moldar nas pessoas que quer que sejamos.
Porém, mais adiante está a procissão triunfal – a gloriosa vitória e realidade do céu. Algum dia, veremos "um novo céu e uma nova terra, nos quais habite a justiça."(II Pedro 3:13) Algum dia, "a trombeta soará, os mortos serão ressuscitados, incorruptíveis, e nós seremos mudados." (I Coríntios 15:52) Algum dia, receberemos "uma herança incorruptível, imaculada e imarcescível, reservada no céu para vós." (I Pedro 1:4) Algum dia, quando "ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque veremos como ele é." (I João 3:2) Algum dia, o sofrimento e a dor deste mundo terminarão, e nós estaremos com Deus para sempre no céu.
Até esse dia glorioso – "Até o Armagedom" – vivamos para Cristo. Confiemos nEle. Voltemo-nos para Ele em nossas horas de aflição. E caminhemos jubilosamente de mãos dadas com nosso Senhor Jesus Cristo – independente de nossas circunstâncias – até nos reunirmos com Ele pessoal e fisicamente, por toda a eternidade!

"Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm valor em comparação com a glória que será revelada em nós."
ROMANOS 8:18

Nenhum comentário:

Postar um comentário